Marcelo pede que o “Estado vá mais longe em medidas de emergência e em apoios ao futuro arranque”
O Presidente da República falou ao país depois de a Assembleia da República ter dado "luz verde" a mais uma renovação do estado de emergência até 16 de março.
O Presidente da República dirigiu-se esta quinta-feira aos portugueses por causa da renovação do estado de emergência, numa altura em que os números de infetados da pandemia estão baixos, mas os internados (e nos cuidados intensivos) continuam elevados. Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que é “tentador” desconfinar já, mas pediu para se aprender com os erros do passado e que os portugueses aguentem mais umas semanas de “sacrifício”. “Temos de ganhar até à Páscoa o verão e o outono”, disse a partir de Belém.
Este prolongamento do confinamento iniciado em janeiro significa, para Marcelo, que o Estado terá de ir “mais longe em medidas de emergência e em apoio ao futuro arranque”. Porém, o custo de reabrir mais cedo e voltar à situação de janeiro seria maior, argumentou o Presidente, explicando no seu curto discurso os prós e contras de um desconfinamento em breve. A conclusão em Belém é de que a prudência deve reinar e é melhor desconfinar com certezas, mesmo que isso cause maior “mobilidade por saturação”, do que voltar a ser o país do mundo com a pior situação pandémica como ocorreu no início do ano.
No início da comunicação aos portugueses, o Presidente da República foi direto ao pensamento que passará pela cabeça de muitos portugueses: “É muito tentador defender uma abertura o mais cedo possível“, disse, assinalando a descida dos casos e a “crise profunda” em que está a economia e a sociedade, em particular a restauração, hotelaria, comércio e a cultura, além da “saúde mental crescentemente abalada” e um segundo ano letivo “atropelado”.
Tal poderia ser possível com uma “vacinação antecipada nas escolas” e uma maior capacidade de “testagem e rastreio virado para o mais urgente”, algo que tem sugerido por alguns especialistas. Ou seja, com estas medidas no terreno, “seria possível desconfinar por fases sem os riscos do passado”, o que seria o “mais sedutor perante o cansaço destas semanas”.
Contudo, Marcelo logo afastou essa possibilidade: por causa dos atrasos na produção das vacinas, não é possível vacinar nas escolas atempadamente e o reforço dos testes e rastreio “em poucas semanas” poderá ser “complicado”, mesmo que só nas escolas. Além disso, o número de internados ainda é “quase o dobro do recomendado” e o número de doentes nos intensivos é “mais do dobro do recomendado”.
“Pior do que [o impacto na] economia (…) só mesmo se tivermos de regressar ao que acabamos de viver“, disse, referindo-se ao facto de Portugal ter sido o país do mundo com a pior situação pandémica em janeiro. Foi há apenas “três semanas”, fez questão de recordar. No fim do discurso alertou para o facto de “os números subiram sempre mais depressa do que descem” e para a necessidade de não se cometer os mesmos erros. “Se formos sensatos, o pior já passou“, declarou.
"Não se confunda estudar e planear com desconfinar.”
E o que implica essa sensatez? Em suma, “temos de ganhar até à Páscoa o verão e o outono”. Na prática, Marcelo pediu mais umas semanas de esforço aos portugueses e sinalizou que não quer desconfinamento antes e até durante a Páscoa. Para o Presidente da República esse “é um tempo arriscado para mensagem confusas e contraditórias” caso a opção fosse desconfinar antes da Páscoa, depois apertar as regras nesse período e voltar a aliviar a seguir. “Quem levaria a sério o rigor pascal?”, questionou.
A Páscoa não deixa, porém, de ser um “marco essencial para a estratégia em curso”. O discurso sugere que o desconfinamento poderá arrancar após essa festividade religiosa que se realiza a 4 de abril. Para tal, Marcelo Rebelo de Sousa exige “que se estude e prepare o dia seguinte“, um pedido que repetiu no texto do estado de emergência, e que “se escolha esse dia sem precipitação para não se repetir o que já aconteceu”. Contudo, deixou um recado aos portugueses: “Não se confunda estudar e planear com desconfinar“. Até ao momento o Governo tem resistido em falar publicamente do plano de desconfinamento por ser “demasiado cedo” para tocar no assunto, temendo o sinal que daria à população.
(Notícia atualizada às 20h42 com mais informação)
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