“Não vão ser tempos fáceis para a TAP”, diz Paes Mamede. Cortes são “necessidade indiscutível”
Economista é um dos candidatos a administrador não executivo nomeado pelos trabalhadores da TAP. Ao ECO, explica ter ficado "surpreendido" pela escolha e aponta a "responsabilidade" das funções.
Ricardo Paes Mamede poderá vir a representar os trabalhadores da TAP no conselho de administração da empresa. No dia em que oficializa a candidatura, o economista diz ao ECO que ficou “surpreendido” com o convite dos sindicatos e rejeita qualquer peso político. Sobre a situação que a companhia aérea vive, admite que virão tempos difíceis e que, por isso, os cortes de custos são inevitáveis.
“O plano de reestruturação era uma inevitabilidade. Estes próximos anos serão muito difíceis para a TAP“, diz Ricardo Paes Mamede em declarações ao ECO, lembrando que, segundo as projeções das entidades internacionais, “não é de esperar uma recuperação de níveis anteriores à pandemia” antes de 2024. “Não vão ser tempos fáceis para a TAP, vão ser muito complicados e em que a redução geral dos custos se tornou uma necessidade indiscutível”.
O corte de custos no âmbito do plano de reestruturação — que ainda espera aprovação da Comissão Europeia, mas que já avançou com algumas medidas — implica uma redução de 1,3 mil milhões de euros na operação (otimização de custos operacionais e ajustes financeiros com frota) e 1,4 mil milhões de euros na massa salarial (não renovação de contratos a prazo, rescisões por mútuo acordo e outras medidas voluntários).
"O plano de reestruturação era uma inevitabilidade. Estes próximos anos serão muito difíceis para a TAP. Segundo as projeções das entidades internacionais, não é de esperar uma recuperação de níveis anteriores à pandemia antes de 2024. Não vão ser tempos fáceis para a TAP, vão ser muito complicados e em que a redução geral dos custos se tornou uma necessidade indiscutível.”
Devido à importância de medidas voluntárias como reduções salariais, trabalho a tempo parcial ou reformas antecipadas, Paes Mamede realça a “posição de procurar participar no esforço de recuperação” que está a ser adotada pelos trabalhadores.
São estes que o economista poderá vir a representar enquanto administrador não executivo da TAP. Economista, doutorado, professor associado de economia política no ISCTE e membro do Conselho Económico e Social (desde 2017), Ricardo Paes Mamede foi o primeiro nome indicado para o lugar recentemente anunciado. Tem o apoio do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) e do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava).
De acordo com comunicados das duas estruturas sindicais, foi escolhido devido ao currículo académico e à posição pública que tem assumido de defesa das empresas públicas e dos seus trabalhadores. Questionado pelo ECO, Paes Mamede diz ter sido “apanhado de surpresa” e sublinha que vê com bons a criação do cargo.
"É uma inovação que não é totalmente original em Portugal, mas que é pouco comum. E é algo que tem sido discutido a nível europeu para melhorar a democracia na economia. Já há algum tempo que sou favorável e fico muito contente com a proposta. Nunca me ocorreu que viesse a ser escolhido. Mas vejo com muito bons olhos a eleição em si de um administrador não executivo.”
“É uma inovação que não é totalmente original em Portugal, mas que é pouco comum. E é algo que tem sido discutido a nível europeu para melhorar a democracia na economia. Já há algum tempo que sou favorável e fico muito contente com a proposta. Nunca me ocorreu que viesse a ser escolhido. Mas vejo com muito bons olhos a eleição em si de um administrador não executivo”, diz.
Já sobre o seu posicionamento político — nunca se vinculou a nenhum partido, mas é assumidamente de centro esquerda — rejeita que tenha importância. “O que é relevante são as posições públicas que tenho tomado que passam por assumir que a TAP é uma empresa que tem um papel estratégico fundamental para a economia portuguesa e que a sua dissolução seria uma péssima notícia a curto, médio ou longo prazo”.
Na semana passada, o ministro das Infraestruturas e da Habitação informou os trabalhadores da companhia aérea que, a partir do próximo mandato dos órgãos sociais, vão poder eleger um dos administradores não executivos. Esta quinta-feira é o último dia para que sejam apresentados candidatos à eleição por parte de um sindicato, comissão de trabalhadores ou grupo individual de funcionários, desde que represente 2% da força de trabalho (ou 165 pessoas).
"É uma responsabilidade dupla de manter os trabalhadores a par do que são os desenvolvimentos da companhia e por outro lado de levar para o seio do conselho de administração aquilo que são as preocupações e convicções dos trabalhadores.”
Após a validação das candidaturas, o lote final será fechado na sexta-feira e os cinco dias seguintes serão de “campanha” para que sejam apresentadas propostas. A eleição decorrerá a 3 de junho e o candidato mais votado será indicado pela República Portuguesa como administrador não executivo na assembleia geral de acionistas.
“Tenho a responsabilidade — caso seja eleito — de ter sido eleito pelos trabalhadores. É uma responsabilidade dupla de manter os trabalhadores a par do que são os desenvolvimentos da companhia e por outro lado de levar para o seio do conselho de administração aquilo que são as preocupações e convicções dos trabalhadores”, acrescenta.
O economista não conhece ainda a composição do conselho de administração. O mandato dos órgãos sociais da TAP terminou a 31 de dezembro de 2020, mas a empresa continua sem marcar uma assembleia geral eletiva pois está a aguardar a escolha de um novo CEO (o que só deverá acontecer após ter “luz verde” da Comissão Europeia para avançar com o plano de reestruturação). A data indicativa para a reunião magna é junho.
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