Altice dá mandato à Lazard para avaliar venda da Altice Portugal
A Altice está a preparar a venda da antiga Portugal Telecom, avança o Expresso. A empresa de Patrick Drahi contratou o banco Lazard, apurou o ECO. A Altice Portugal diz que são rumores.
O negócio da Altice em Portugal pode estar em vias de mudar de dono, seis anos depois da empresa de Patrick Drahi e do português Armando Pereira ter completado a compra da antiga Portugal Telecom à Oi. O Expresso avança esta sexta-feira que a venda está a ser preparada. Ao que o ECO apurou, foi mesmo contratado o banco de investimento Lazard para encontrar potenciais compradores, da indústria e fundos de private equity. A empresa, em comunicado divulgado esta tarde, diz que “trata-se de rumores e especulações”.
Malo Corbin, administrador financeiro da Altice Europe, afirmou esta semana, na apresentação dos resultados do primeiro trimestre, que a empresa está muito agradada com a operação em Portugal, “porque é uma infraestrutura com escala nacional, onde vemos um perfil de crescimento”. E acrescentou também que “não há neste momento um processo ativo de venda dos ativos portugueses”. Uma resposta genérica que mantém tudo em aberto. Contactado pelo ECO, o banco de investimento Lazard não fez qualquer comentário.
A Altice Portugal reagiu esta tarde, através de um comunicado: “Trata-se de rumores e especulações que, como é do conhecimento público, têm sido recorrentes nos últimos cinco anos, não só relativos à operação do Grupo Altice em Portugal, mas também relativamente a outros ativos do Grupo”. A empresa liderada por Alexandre Fonseca atribui as notícias às dificuldades regulatórias que tem enfrentado.
“Face ao ambiente regulatório adverso, hostil e imprevisível que vivemos em Portugal há mais de 2 anos, não deixa de ser ‘normal’ o aparecimento deste tipo de rumor”, escreve no email enviado às redações, acrescentando que “é previsível que grandes operadores possam equacionar diversos cenários para fazer face à pressão do setor”.
A relação entre o Lazard e a empresa de Patrick Drahi é antiga, inclusive nos negócios em Portugal. O banco já tinha sido, em 2019, o assessor financeiro da Altice Europe na venda de 49,99% da Altice Portugal FTTH, detentora da rede de fibra do Meo, por até 2,3 mil milhões de euros à Morgan Stanley. Cerca de um ano antes, ajudara, com o JP Morgan, à venda de torres de telecomunicações em França e Portugal.
As torres nacionais foram arrematadas por 660 milhões de euros a um consórcio composto pela gestora americana e a Horiozon Equity Partners, liderada por Antório Pires de Lima e Sérgio Monteiro. Na altura a Altice ainda ficou com 25% da nova empresa, que foi totalmente alienada à Cellnex em janeiro de 2020, com a operadora a encaixar mais 200 milhões.
"Estas transações sublinham o nosso compromisso de desalavancagem e em gerir proativamente o nosso balanço”
Patrick Drahi construiu, em poucos anos, um império nas telecomunicações, que vai de França aos Estados Unidos, recorrendo a um forte endividamento nos mercados, que se tornou numa pesada sombra sobre a empresa. Portugal tem contribuído, nos últimos anos, para a redução do passivo com a venda de ativos. “Estas transações sublinham o nosso compromisso de desalavancagem e em gerir proativamente o nosso balanço, realçando o valor significativo do negócio da Altice Europe”, afirmou o milionário franco-israelita após a venda das torres.
A Altice Europe tinha uma dívida líquida de 28,5 mil milhões no final do terceiro trimestre de 2020, equivalente a 4,9 vezes o EBITDA, segundo as últimas contas disponíveis no site da empresa que consolidam a atividade em França com a dos outros países, à exceção dos EUA. Na altura, o grupo apontava como objetivo reduzir a alavancagem para entre 4 e 4,5 vezes.
A decisão de testar o apetite pela Altice Portugal no mercado surge numa altura em que se aproxima um ciclo de elevado investimento por causa do lançamento do 5G, um processo que em Portugal tem sido muito contestado pela operadora. Um estudo do Boston Consulting Group, divulgado em abril pela agência Lusa, estimava que as operadoras em Portugal terão de investir 2,3 mil milhões de euros até 2027 só para o “rol-out” da infraestrutura. Uma fonte do setor confirmou ao ECO que sabia deste movimento, sem revelar-se surpreendida. “Estão a testar as águas“, referiu.
Este passo em relação à Altice Portugal surge num momento em que o grupo atravessa um período de transformação na Europa. Patrick Drahi completou, através da Next Private, a retirada de bolsa da Altice Europe a 27 de janeiro, depois de pagar 3,12 mil milhões de euros para comprar as ações da empresa que não detinha.
A gestão da Altice Portugal tem feito também um esforço para aumentar os fundos de caixa libertos, reduzindo custos, nomeadamente com pessoal. Até porque o esforço de investimento tem também sido grande. A empresa recuperou este ano o “Programa Pessoa”, lançado originalmente em 2019, para saídas por pré-reforma (acima dos 55 anos) ou rescisão voluntária. Em meados de março, a operadora dava conta de 1400 adesões. E do ponto de vista operacional, a operadora recuperou nos últimos trimestres.
A Altice Portugal fechou o primeiro trimestre com receitas de 549,1 milhões de euros. Apesar de ter sido um período marcado por um novo confinamento por causa da pandemia, a dona da Meo conseguiu aumentar os proveitos, beneficiando do desempenho dos diferentes segmentos de negócio. O EBITDA caiu, mas a gestão, liderada por Alexandre Fonseca, assumiu compromisso de manter o investimento, apesar das críticas ao processo do 5G.
(Notícia atualizada às 17h40 com comunicado da Altice Portugal)
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