Banco de Portugal avalia envolvimento de Vítor Fernandes no caso Vieira
O supervisor diz que vai analisar as informações da Operação Cartão Vermelho. O nome do chairman do banco de fomento aparece no processo em que o Ministério Público investiga Luís Filipe Vieira.
Poderá a Operação Cartão Vermelho tramar Vítor Fernandes no Banco Português de Fomento? De acordo com a Sábado e o Observador, o antigo administrador do Novo Banco terá alegadamente favorecido Luís Filipe Vieira na dívida de 54 milhões de euros da Imosteps.
Como o ECO avançou, Vítor Fernandes já passou no processo de fit and proper do Banco de Portugal para assumir funções de chairman no novo banco de fomento. Agora, o supervisor diz que vai analisar as novas informações trazidas com o caso que levou à detenção do presidente do Benfica esta semana. Admitindo-se que possa ter de reavaliar a idoneidade do gestor.
“Toda a informação será devidamente ponderada pelo Banco de Portugal no exercício das suas competências”, respondeu o supervisor bancário à questão do ECO sobre as suspeitas envolvendo Vítor Fernandes (ex-Novo Banco), o empresário Luís Filipe Vieira e a compra da dívida da Imosteps pelo empresário e amigo José António dos Santos.
Vítor Fernandes está referenciado pelo Ministério Público, mas não é arguido e nem lhe é imputado qualquer alegado ilícito criminal, conta o Observador.
Ainda assim, há suspeitas de que o antigo administrador do Novo Banco tenha ajudado o presidente do Benfica, com quem tinha “uma relação privilegiada”. Vieira conseguiu o apoio de Vítor Fernandes “para, além do acesso a informação sobre o procedimento de venda, tentar convencer o Fundo de Resolução a aceitar a venda em separado dos créditos da Imosteps”, refere o despacho do juiz Carlos Alexandre, citado pela revista Sábado.
Cresap decide em 10 dias
Vítor Fernandes foi o nome escolhido pelo ministro da Economia para liderar o novo banco de fomento. Siza Vieira já teve de vir a público defender a sua escolha, depois das dúvidas com a sua passagem pela Caixa Geral de Depósitos. “O doutor Vítor Fernandes tem uma carreira inteira na banca”, disse o ministro em fevereiro. Na véspera, o ministro das Finanças lembrou o “cv relevante” de Vítor Fernandes.
Falta ainda o parecer da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (Cresap) para a conclusão do processo de nomeação da nova equipa de gestão do Banco Português de Fomento. Ao ECO, fonte oficial deste organismo disse que “já recebeu os nomes e tem dez dias para se pronunciar”.
O estatuto de gestor público, que a Cresap avalia, diz que “os gestores públicos são escolhidos de entre pessoas com comprovadas idoneidade, capacidade e experiência de gestão, bem como sentido de interesse público.
O que está em causa?
Agora, são levantadas novas dúvidas com a Operação Cartão Vermelho. Contam as duas publicações que Vieira fez uma primeira tentativa de adquirir o crédito, mas terá sido avisado por Vítor Fernandes de que o seu nome nunca poderia aparecer como comprador da sua própria dívida (até porque tinha avales pessoais).
Na segunda tentativa, o presidente do Benfica fê-lo através do amigo José António dos Santos, designadamente através de um fundo subscrito pelo “Rei dos frangos”. O Novo Banco aprovou a proposta, mas o processo foi travado pelo Fundo de Resolução devido aos conflitos de interesse entre Luís Filipe Vieira e o fundador da Valouro.
Foi então que Vítor Fernandes terá informado Vieira que a dívida da Imosteps iria ser vendida na carteira Nata II. Esta carteira acabou por ser comprada pelo fundo Davidson Kempner, que revendeu logo a seguir o crédito da Imosteps a um fundo de José António dos Santos. Vieira contou no Parlamento que foi ele quem recomendou o negócio ao seu amigo de longa data.
“Apareceu aquele fundo americano a falar com o José Gouveia [diretor financeiro da Promovalor], que me contou o que se estava a passar. Quando [o fundo] fez a oferta de oito milhões, eu disse ao Zé [António dos Santos] que estava aqui um bom negócio e disse-lhe que só queria as garantias para este lado. Queria libertar os avales”, afirmou Luís Filipe Vieira aos deputados da comissão de inquérito ao Novo Banco.
A dívida de 54 milhões da Imosteps acabou por ser comprada pelo fundo Davidson Kempner ao Novo Banco por seis milhões, tendo sido comprada por José António dos Santos por nove milhões.
(Notícia atualizada às 17h43 com reação da Cresap)
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