Siza Vieira iliba administração pela crise na Efacec
O ministro da Economia reconhece dificuldades no acesso a matérias-primas e diz que o Estado vai "assegurar que a empresa mantém tesouraria disponível para funcionar" até ser vendida no final do ano.
O ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, defendeu esta quarta-feira que a administração da Efacec não tem responsabilidades na situação de impasse que a empresa atravessa enquanto não é concluído o processo de reprivatização.
“Francamente, acho que não é a administração atual que tem responsabilidades na situação que se está a viver. De facto, há dificuldades no acesso a matérias-primas, estamos a trabalhar no sentido de assegurar que a empresa mantém tesouraria disponível para funcionar nestes próximos tempos“, disse Pedro Siza Vieira, à margem da apresentação do programa Empresas Turismo 360, que decorre no Observatório Astronómico de Lisboa.
O ministro da Economia reconheceu aos jornalistas que “o processo de reprivatização tinha-se estimado concluir em menos tempo, vai demorar mais algum tempo, e já está a demorar”.
“Como disse, antes do final do ano é que é o nosso objetivo. É preciso assegurar os meios financeiros para isso se continuar a fazer, e estamos a aguardar propostas dos interessados para podermos encontrar aquilo que é essencial, que é que a Efacec encontrar alguém que tenha capacidade de gestão e recursos financeiros”, frisou o governante.
O objetivo, insistiu Pedro Siza Vieira, é que “a empresa continue a servir o país e a ser um polo de excelência na nossa engenharia e na eletrificação da nossa economia”.
A paralisação dos trabalhadores da Efacec realizada esta quarta-feira registou uma “adesão maciça” e levou à paragem total da produção, segundo fonte sindical, que interpreta a participação inédita de alguns setores da empresa como “um ato de grande responsabilidade”.
“Houve uma adesão maciça dos trabalhadores, nunca vi nada igual. Conseguimos abrir [o protesto] a trabalhadores que nunca participavam, como pessoal de escritório, administrativos, engenheiros e chefias”, avançou Miguel Moreira, em declarações à agência Lusa no final da greve.
Assegurando que “a fábrica não trabalhou, parou completamente” durante as duas horas da greve, entre as 14:00 e as 16:00, o dirigente sindical considera que o nível de adesão registado representa “um ato de grande responsabilidade por parte dos trabalhadores”.
Em 28 de outubro, os trabalhadores decidiram, em plenário, avançar para a greve, após uma paragem forçada de vários setores da empresa, que atua nos setores da energia, engenharia e mobilidade, por falta de verbas para adquirir matérias-primas.
Dias antes, em 22 de outubro, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte) tinha já reclamado a intervenção do Governo, enquanto “dono da Efacec”, para garantir que a empresa dispõe das matérias-primas necessárias para retomar a atividade com normalidade.
“O Estado, como dono da empresa, deve assumir o controlo da empresa com transparência e deve comprar matérias-primas para pôr a Efacec a trabalhar e a satisfazer as encomendas que tem em carteira”, defendeu o dirigente do Site-Norte Miguel Moreira, em declarações à agência Lusa, no dia 4 de novembro.
De acordo com o dirigente sindical, a “falta de dinheiro para pagar aos fornecedores e para comprar matérias-primas é uma situação recorrente na Efacec, que se vem arrastando há muito tempo, mas nos últimos meses agravou-se”, levando à paragem de vários setores da empresa.
“Isto é algo que nós estranhamos bastante, porque não pretendemos que o Governo ponha lá dinheiro e que não queira saber para onde ele vai. Isto é uma empresa do Estado e o que nós defendemos é que a Efacec deve continuar na esfera do Estado e o Governo disponibilizar uma verba para comprar matérias-primas, mas ter o controlo dessa verba e fiscalizar para onde vai o dinheiro”, afirmou Miguel Moreira.
O Governo pretende que o processo de reprivatização dos 71,73% do capital social da Efacec atualmente nas mãos do Estado esteja concluído antes do final do ano, tendo a resolução do Conselho de Ministros que aprovou a terceira fase do processo de reprivatização, admitindo a participação dos dois grupos que apresentaram propostas vinculativas – DST SGPS e Sing – Investimentos Globais – sido publicada em 08 de setembro em Diário da República.
Ao jornal Público, a Parpública adiantou que a terceira fase de negociações “iniciou-se no passado dia 28 de setembro, com diversos encontros com os investidores interessados na aquisição da referida participação social, devendo as propostas finais ser recebidas dentro de cerca de três semanas”.
A aprovação em Conselho de Ministros do decreto de lei para nacionalizar 71,73% do capital social da Efacec decorreu da saída do capital de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, na sequência do envolvimento no caso Luanda Leaks, no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária.
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