Portugueses endividam-se ao ritmo mais rápido em 12 anos
O montante de empréstimos dos portugueses cresceu 3,1% em setembro deste ano, o ritmo mais elevado desde março de 2009. Porém, o stock continua longe dos valores da crise financeira.
O endividamento dos particulares cresceu 3,1% em setembro, em termos homólogos, o ritmo mais elevado desde março de 2009 (3,38%). Os números divulgados pelo Banco de Portugal esta segunda-feira mostram que o ritmo a que os portugueses têm contraído mais dívida acelerou desde que acabou o confinamento do início deste ano.
Apesar de ter acelerado, a taxa de crescimento do endividamento dos particulares ainda não atingiu os níveis registados durante a anterior crise financeira de 2008/2009. O primeiro valor do banco central registado nesta série é o de dezembro de 2008 e nessa altura a taxa era de 5,1%. Não é possível recuar mais na série do Banco de Portugal.
Desde então, o indicador registou uma forte desaceleração até junho de 2011, altura em que Portugal pediu ajuda financeira internacional. Nesse mês a taxa de crescimento foi negativa, ou seja, o volume de empréstimos dos portugueses começou a cair — houve mais reembolsos do que nova dívida a ser contraída — e assim se manteve durante seis anos, até 2017, ano em que inverteu.
Até à pandemia o ritmo foi crescendo, mas nunca chegou a valores expressivos. No final de 2019, mesmo antes do impacto da crise pandémica, os empréstimos dos particulares estavam a crescer 1%, em termos homólogos. Foi já com a Covid-19 em terreno nacional que o ritmo acelerou para 2% e agora para 3%, como mostra o gráfico.
Endividamento dos portugueses cresce ao ritmo mais rápido em 12 anos
Ainda que este crescimento dos empréstimos a particulares seja expressivo em termos históricos, o stock de dívida dos particulares continua bem abaixo dos valores registados em 2011. Atualmente, os portugueses têm uma dívida de 146,6 mil milhões de euros, o valor mais elevado desde setembro de 2014 (146,5 mil milhões de euros).
Porém, está longe dos 165,8 mil milhões de euros registados em junho de 2011, o primeiro mês para o qual o banco central apresenta estes dados. É ainda uma diferença de quase 20 mil milhões de euros. Face ao valor mais baixo dos últimos anos, que foi de 138 mil milhões de euros em 2017, a diferença face ao valor atual é de oito mil milhões de euros.
Stock de empréstimos dos portugueses está em máximos de 2014
Os dados do banco central indicam que é o crédito à habitação, num ambiente de subida generalizada do preço das casas em Portugal, que está a dar gás ao endividamento dos particulares. Os empréstimos para a compra de casa cresceram 3,74% em setembro, em termos homólogos, atingindo o valor mais elevado desde dezembro de 2008 (4,3%).
Porém, mais uma vez, o stock de crédito à habitação dos portugueses não se assemelha aos valores registados no passado. Após ter atingido os 96,7 mil milhões de euros em dezembro de 2019, o valor mais baixo da série, o stock subiu até aos 100 mil milhões de euros em plena pandemia. Contudo, este volume continua a cerca de 25 mil milhões de euros do que se registava em junho de 2011.
Peso dos empréstimos no PIB está longe dos valores do passado
A evolução do stock de empréstimos dos particulares em percentagem do PIB mostra uma conclusão semelhante. O indicador é mais sensível à evolução da economia, a qual contraiu muito em 2020 para agora recuperar em força. Como resultado, o peso no PIB atingiu os 72,5% no primeiro trimestre de 2021, mas já aliviou para 70,95% no terceiro trimestre.
Este valor fica a cerca de cinco pontos percentuais dos 65,35% registados no quarto trimestre de 2019 — o valor mais baixo da série do Banco de Portugal que arranca em 2007 –, antes da pandemia, mas o PIB também ainda não recuperou totalmente do impacto da Covid-19.
O valor atual, praticamente 71%, é o mais elevado desde o quarto trimestre de 2017, mas será preciso esperar pelos próximos trimestres para perceber se o ritmo de crescimento dos empréstimos dos particulares é consistentemente superior ao crescimento do PIB. Acresce que o rácio continua longe dos 94% — a cerca de 24 pontos percentuais — registados no quarto trimestre de 2009.
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