Empresas portuguesas já emitiram dez mil milhões em dívida sustentável
Desde a emissão inaugural da EDP em 2018 que as empresas já colocaram dez mil milhões de euros em dívida sustentável no mercado português. Ausência do Estado é notória.
O montante de dívida sustentável emitido pelas empresas em Portugal já atingiu 10,2 mil milhões de euros, de acordo com cálculos da BA&N, uma empresa de assessoria. A marca foi alcançada “já nesta reta final de 2021”, face ao “aumento do número de operações, mas também dos montantes envolvidos em cada uma delas”.
Segundo a consultora, contabilizam-se no mercado português “16 diferentes entidades que recorreram” a este tipo de dívida, que visa dar resposta à “cada vez maior consciência da necessidade de as empresas darem o seu contributo para um futuro mais sustentável”. O número de investidores dispostos a adquirir estes títulos também tem crescido, gerando um ciclo virtuoso que contribui para o aumento da chamada “dívida verde”.
Este caminho foi iniciado em Portugal em outubro de 2018, ano em que a EDP avançou com uma emissão inaugural de 600 milhões de euros em green bonds com maturidade em sete anos, pagando um juro de 1,959%. A elétrica tem dado, de longe, o maior contributo para o aumento dos financiamentos em obrigações indexadas a critérios de sustentabilidade, tendo colocado 6,8 mil milhões de euros desde esse ano, dos quais dois mil milhões só em 2021. Segue-se a CGD, o BCP, a Galp Energia e a REN.
Este ano, o montante já captado pelas empresas portuguesas em dívida sustentável ultrapassa 4,5 mil milhões de euros, o que compara com os mais de três mil milhões colocados em 2020. O valor total angariado através destas operações tem vindo a crescer desde 2018.
O relatório da empresa de assessoria salienta ainda que, apesar de a dívida sustentável cativar emitentes nos mais variados setores, é notória a recente entrada da banca.
“A dívida sustentável chamou, recentemente, a atenção do setor financeiro, com a CGD a abrir este mercado para os restantes bancos nacionais”, refere o documento. O banco público emitiu 500 milhões de euros que serão usados ao longo dos próximos anos para financiar operações de crédito “nos domínios ambientais e de desenvolvimento económico”. Também o BCP já emitiu dívida sustentável, assim como o Crédito Agrícola.
Mas a operação mais fresca é mesmo a da Mota-Engil, que colocou 110 milhões de euros esta semana também junto dos pequenos investidores. “Através de uma emissão destinada a investidores de retalho, a construtora define metas de reduções de emissões de CO2, mas também a valorização de resíduos, a pensar no ambiente”, refere a BA&N.
A companhia faz ainda mira ao fator social, “visando a promoção da igualdade de género e a redução dos acidentes de trabalho, até alcançar as zero mortes”. Vai pagar aos obrigacionistas um juro de 4,25% ao longo dos próximos cinco anos, bem como um valor fixo por cada título se não conseguir cumprir as metas a que se propôs.
Por fim, a ausência mais evidente nesta altura é a do Estado, destaca a empresa de assessoria. “Há anos que o recurso a esta ferramenta está em estudo” no setor público, “mas continua sem sair do campo das possibilidades”, refere o relatório. Países como Reino Unido, Alemanha e Espanha já emitem dívida sustentável e “até a União Europeia usa esta dívida ‘verde’ para financiar a chamada ‘bazuca’ europeia”, remata.
“A ideia já tem alguns anos. Foi ainda em 2017 que o então ministro das Finanças, Mário Centeno, lançou a ideia de uma emissão de dívida pública ‘verde’, que permitiria diversificar fontes de financiamento ao mesmo tempo que traria juros mais baixos para um país com uma dívida pública que ascende a 130% do PIB. Centeno não avançou, João Leão [atual ministro das Finanças] também ainda não, mas o Ministério das Finanças diz agora que [o IGCP] está a trabalhar com os bancos de investimento para preparar uma operação que poderá ascender aos três mil a quatro mil milhões de euros”, conclui o relatório.
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