No “comprar agora e pagar depois”, a prudência é um bom conselho

A Klarna chegou a Portugal e permite aos jovens pagar as compras mais tarde. Dois especialistas em crédito explicam os riscos e benefícios e ensinam a prevenir deslizes nas finanças pessoais.

Comprar agora, pagar depois. Esta é a proposta de valor por detrás da Klarna. O nome ainda diz pouco aos portugueses, mas promete dar que falar. Lá fora, a fintech sueca, avaliada em 45,6 mil milhões de dólares, é conhecida por ser um dos maiores casos de sucesso entre as startups de ADN europeu.

A partir desta semana, também os portugueses passaram a ter acesso aos serviços financeiros da Klarna, principalmente o “pague em três”. Na prática, é a possibilidade de se fazer uma compra online e pagar em três prestações, sem taxas nem juros: 1/3 no momento em que o comerciante confirma a transação, outro ao fim de 30 dias, e o terceiro e último ao fim de 60 dias.

Na mira da empresa estão os jovens, aqueles que mais usam este tipo de aplicações e menos temem encomendar produtos e adquirir serviços através da internet. Ao aceder ao site da Klarna, o público-alvo é evidente. “Com o nosso navegador de compras na aplicação, podes procurar qualquer marca e pagar os teus favoritos em três prestações”, lê-se na página principal.

O serviço da Klarna não é pioneiro, nem mesmo em Portugal. Mas dá maior visibilidade aos créditos rápidos e imediatos, explica André Pedro, responsável de crédito e cartões do ComparaJá, uma plataforma que também é intermediária de crédito. Em mercados como a China, aplicações de “compre agora, pague depois” estão entre as favoritas dos mais jovens, uma geração esmagada pelo peso do endividamento naquele país asiático.

“Este modelo não é uma coisa recente, mas traz aqui mais facilidade na concessão de crédito às pessoas, especialmente os jovens”, acrescenta. É por isso avisado ter algumas precauções no momento de optar por fazer uma transação e pagar a prestações.

Ponderar bem a compra

Natália Nunes concorda. A coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco, uma associação de defesa do consumidor, aconselha “planeamento”. “Apesar de não haver encargos adicionais para o consumidor, porque é uma compra sem juros e os custos da operação serão suportados pelos comerciantes, a verdade é que, para o comprador, há aqui alguns riscos no que concerne à gestão dos seus encargos”, sublinha a responsável.

Comprar agora e pagar depois não significa nunca pagar. “O facto de estar a fazer uma compra fracionada significa que, nos próximos dois meses, vai ter de fazer pagamentos. É necessário ter isto em conta e fazer planeamento”, reforça Natália Nunes. Já para André Pedro, o “ideal” é sempre pagar a pronto. Ainda assim, em aquisições “mesmo necessárias”, pode dar jeito ter “acesso ao crédito”. “No ComparaJá apelamos sempre a uma gestão conservadora e responsável”, destaca.

Mas a coordenadora da Deco também vê aspetos positivos nos serviços financeiros de parcelamento das compras, como este que é oferecido pela Klarna: “Claro que é um incentivo a consumir, mas sendo uma decisão ponderada, pode também ser uma forma de adquirir um bem, pagando de forma fracionada, sem custos adicionais”. “O consumidor tem de ser muito responsável. Tem de ser ponderado na decisão de adquirir e não se deixar seduzir”, reforça Natália Nunes.

Já o responsável de crédito do ComparaJá admite que este serviço “pode ser visto como um apelo ao crédito” e sinaliza algum cuidado sobre “a quem é destinado”. “Para pessoas com trabalhos mais precários ou desempregados, o acesso a crédito imediato tem alguns perigos”, recorda. Por serem créditos mais imediatos, é feita uma análise mais “superficial” da vida financeira dos clientes em comparação com a que seria feita no momento de contratar um crédito ao consumo num balcão.

A Klarna entrou este mês no mercado portuguêsKlarna

André Pedro reforça que, ao comprar agora e pagar mais tarde, os clientes estão, na prática, a “incorrer num pequeno crédito pessoal, semelhante a um cartão de crédito”. No caso concreto da Klarna, se o cliente falhar os pagamentos nos dias definidos, é dado um “período de tolerância de dois a sete dias úteis”, lê-se nos termos e condições da empresa.

Caso o cliente continue em incumprimento, são cobradas taxas de atraso no valor de um euro por prestação vencida para compras entre 100 a 149,99 euros; 1,5 euros para compras entre 150 e 199,99 euros; dois euros em compras entre 200 e 299,99 euros; e 3 euros para compras de valor igual ou superior a 300 euros.

“É uma taxa de penalização mais elevada do que a maioria dos créditos pessoais e cartões de crédito que temos no mercado”, nota André Pedro.

O consumidor tem de ser muito responsável. Tem de ser ponderado na decisão de adquirir e não se deixar seduzir.

Natália Nunes

Coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco

Marcar no calendário

Em jeito de resumo, Natália Nunes remata que “a informação é essencial” — “ter informação e capacidade de análise”, destaca. “Se verificar que necessito mesmo de determinado produto, quero aquele produto, tem um bom preço de mercado e não tenho disponibilidade para pagar, ou o meu orçamento fica mais confortável pagando de forma fracionada, não vejo grande inconveniente em ser pago desta forma. Mas tem de ser feito este exercício”, recomenda a coordenadora da Deco.

Se, pelo contrário, o orçamento pessoal “permite totalmente o pagamento imediato, ou existe o mesmo produto noutro estabelecimento com melhores condições, aí a solução é não utilizar esta ferramenta”, aconselha.

Outra dica é marcar as datas de pagamento no calendário pessoal, sugere André Pedro. “O conselho é ter atenção aos prazos de pagamento. Considerar que é um contrato de crédito e marcar no calendário pessoal as datas de pagamento, para não incorrer em late fees“, frisa o responsável, referindo-se às taxas de penalização.

"O conselho é ter atenção aos prazos de pagamento. Considerar que é um contrato de crédito e marcar no calendário pessoal as datas de pagamento.”

André Pedro

Responsável de crédito e cartões do ComparaJá

“O que vemos, até nos jovens, é que não há um grande hábito de fazer o planeamento do orçamento familiar. Se isto for utilizado pelos jovens, e com toda a certeza será porque se dirige a eles, pode levar a algum descontrolo. Poderá ter efeitos negativos”, avisa, por sua vez, Natália Nunes.

Por fim, ambos os responsáveis concordam num ponto: é logo em pequenino que se deve aprender a gerir as finanças pessoais. O produto da Klarna é para maiores de 18 anos, mas os dois especialistas em crédito aconselham os pais a ensinarem aos filhos as boas práticas desde cedo, para uma gestão financeira mais acertada no futuro.

O ECO questionou também a Klarna sobre o que deve ser tido em conta no momento de adquirir um produto ou serviço na internet e pagar de forma parcelada. Não recebeu resposta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Economistas não perspetivam ainda cenário de “estagflação”

  • Lusa
  • 21 Novembro 2021

Economistas consultados pela Lusa consideram que, para já, não se perspetiva que a economia entre numa situação em que uma economia não cresce, o desemprego aumenta e os preços sobem.

Os economistas consultados pela Lusa consideram que, para já, ainda não se perspetiva que a economia entre em estagflação, situação em que uma economia não cresce, o desemprego aumenta e os preços sobem.

A designação de estagflação descreve o período vivido na década de 1970 e início da década de 1980 (marcado pelo aumento dos preços do petróleo) em que houve inflação elevada (em alguns países superou os 10%), taxas de crescimento económico baixas e taxas de desemprego altas. Mais recentemente, esse receio tem sido falado devido aos problemas nas cadeias de abastecimento de produtos e alta dos preços da energia.

Segundo o economista-chefe da Allianz Global Investors, Stefan Hofrichter, não se está perante um cenário de estagflação. Pela análise da sua equipa, disse, a atual probabilidade de recessão está perto de 0%.

Ainda assim, acrescentou em resposta à Lusa, nota-se uma moderação na dinâmica de crescimento, devido a menos estímulos orçamentais, preços de energia mais altos e a crise da covid-19 a continuar ter impacto negativo sobre a oferta e procura.

Sobre a inflação, afirmou o economista-chefe da Allianz Global Investors que deverá continuar a ter valores relativamente elevados, ainda que deva moderar em meados de 2022.

Segundo o economista, as “surpresas da inflação são permanentes” devido ao forte crescimento monetário (desde logo pela política monetária dos bancos centrais), preços do imobiliário mais altos, a que acrescem razões estruturais como salários mínimos mais altos, comércio internacional menos dinâmico (a designada desglobalização, devido a guerras comerciais, Brexit, etc.) e a luta contra as mudanças climáticas.

Para a professora de economia do ISCTE Sofia Vale, é prematuro falar de um fenómeno de estagflação, desde logo porque na definição académica tal significa a combinação de aumento da inflação e desemprego e os dados indicam que o desemprego ainda está a diminuir.

Segundo a economista, também os fenómenos disruptivos que estão a afetar a recuperação da economia ainda se preveem temporários e não está interiorizado que o aumento da inflação se irá perpetuar. Contudo, disse, faz sentido estar alerta.

Na evolução da economia e do desemprego, Sofia Vale disse que, para já, considera que as variáveis mais importantes a impactar estes indicadores são a crise da covid-19 (vacinação, confinamentos) e a procura dos consumidores.

Sobre os bancos centrais, considerou pernicioso que tomem medidas de aumento das taxas de juro quando se espera que o ajustamento seja temporário e esse aumento teria grandes impactos nas famílias, empresas (desde logo nos créditos) e também a nível das contas públicas, no défice e dívida, sobretudo dos países mais endividados.

Para o analista da ActivTrades Ricardo Evangelista, a estagflação pode ser “uma possibilidade real”, considerando a subida da inflação e o facto de o Banco Central Europeu (BCE) estar “refém das políticas de estímulo que adotou”, pois se agora as alterar poderá advir um choque económico ainda maior. “Aí, sim, estaríamos em estagflação”, disse.

É um cenário possível, mas é um bocado como as tragédias clássicas, a ação desenrola-se e há pouco que possamos fazer.

Ricardo Evangelista

Analista da ActivTrades

Contudo, para já, não se materializa, tendo em conta que estagflação é cenário de desemprego elevado, crescimento económico baixo e em que preços ao consumidor sobem muito e recordou que neste momento o nível de crescimento ainda é aceitável. O analista espera que a recuperação da economia seja suficiente para conter esse cenário, mas nada garante que seja suficiente. “É um cenário possível, mas é um bocado como as tragédias clássicas, a ação desenrola-se e há pouco que possamos fazer”, disse.

Para Henrique Tomé, analista da corretora XTB, “ainda não podemos considerar que estamos perante um cenário real de estagflação”, mas avisou que “se as circunstâncias atuais se mantiverem inalteradas a longo prazo existem sérios riscos” de acontecer este fenómeno económico.

Em último caso poderemos assistir a períodos de estagflação associados à redução da procura por certos produtos devido ao aumento dos preços.

Henrique Tomé

Analista da corretora XTB

De momento, “embora a inflação esteja a aumentar para níveis elevados, enquanto existir crescimento económico, é possível controlar e atenuar os riscos inerentes a este fenómeno económico”, disse.

Já se a economia “começar a dar sinais de abrandamento, aí os riscos aumentam de forma substancialmente e começam a surgir outros riscos como períodos de recessão que podem comprometer o crescimento económico a médio e longo prazo”. “Em último caso poderemos assistir a períodos de estagflação associados à redução da procura por certos produtos devido ao aumento dos preços”, avisou Henrique Tomé.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

É oficial: Portugal já não produz eletricidade a partir de carvão

  • Lusa e ECO
  • 21 Novembro 2021

Este sábado foi o primeiro dia de produção de eletricidade em Portugal sem recurso à queima de carvão. A Central do Pego, que era a segunda maior poluidora do país, esgotou o stock de material.

Portugal deixou definitivamente de usar carvão na produção de eletricidade, desde sexta-feira, graças ao fim dessa atividade pela Central Termoelétrica do Pego, anunciaram o ministro do Ambiente e a associação ambientalista ZERO, que espera que o futuro não passe agora por queimar biomassa. Matos Fernandes garante que já há investimentos em carteira para a transição energética e promete que vai abrir novos avisos de fundos comunitários até ao fim do mês.

“O futuro da central do Pego não deve passar por queimar biomassa, opção ineficiente que põe em causa objetivos mais ambiciosos de mitigação das alterações climáticas”, considerou a organização ambientalista, em comunicado.

Sábado foi o primeiro dia de produção de eletricidade sem recurso à queima de carvão, depois de a Central do Pego ter esgotado o stock de carvão que tinha, apesar de estar licenciada para funcionar até 30 de novembro.

Para a ZERO, “esta data histórica em que se deixa de utilizar em Portugal o combustível mais poluidor em termos de emissões de gases com efeito de estufa causadoras das alterações climáticas, antecipando um objetivo que estava inicialmente traçado para 2030, não deixa de ser um alerta para a necessidade de planear antecipadamente e assegurar uma transição energética justa para o país rumo à neutralidade carbónica em 2050 ou desejavelmente antes”.

Para os ambientalistas, é fundamental garantir o enquadramento dos trabalhadores direta e indiretamente afetados e promover soluções que não ponham em causa os ganhos ambientais conseguidos.

Deixar de usar carvão na produção de eletricidade é um elemento crucial da descarbonização, tema que ganhou destaque e causou polémica na conferência do clima (COP26), que terminou no passado fim de semana, com alguns países a recusarem-se a acabar com o uso deste combustível.

A central a carvão do Pego, que era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento ocorreu em janeiro deste ano.

Em termos absolutos, a média anual de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Com a retirada agora consumada das duas centrais a carvão, “Portugal deverá registar uma enorme quebra de emissões de carbono, dado que o recurso a centrais de ciclo combinado a gás natural, caminho temporário para uma solução 100% baseada em fontes renováveis, se traduz em emissões de pouco mais de um terço por cada unidade de eletricidade produzida em comparação com o carvão”, assinala a ZERO.

Apesar dos equipamentos de despoluição instalados, a central a carvão do Pego era também uma fonte significativa de emissão de diversos poluentes, como os óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados, cujas quantidades lançadas para a atmosfera em Portugal sofrerão uma redução importante.

O fim da atividade desta central suscita agora a questão das alternativas, sendo o recurso à queima de biomassa uma das soluções preconizadas, mas que a ZERO alerta não ser “sustentável”. “Trata-se de uma solução ineficiente e contraditória com os objetivos de retenção do carbono na floresta e no solo e não se traduz numa significativa mais-valia face a outras soluções de mitigação climática”, afirma.

Central Termoelétrica do Pego, em Abrantes.

A associação defende que a concessão do ponto de ligação da Central do Pego deverá ter em consideração apenas projetos que resultem da “utilização de fontes de energia verdadeiramente renováveis e que de forma alguma se coloque a possibilidade de recurso a biomassa, tendo em consideração que esta não é, nem será de forma alguma renovável”.

Os ambientalistas alertam ainda para a escassez de biomassa residual florestal em território nacional, atendendo a que num raio de intervenção de 80 quilómetros são já inúmeras as centrais de biomassa e indústrias florestais que competem pela matéria florestal residual.

Acresce ainda que o espírito da proposta recente da Comissão Europeia, de julho de 2021, que faz parte do pacote “Preparados para os 55”, é de que “a partir de 31 de dezembro de 2026, (…) os Estados-membros não podem conceder apoio à produção de eletricidade a partir de biomassa florestal em instalações exclusivamente elétricas”.

Nessa medida, a ZERO questiona como está e como vai ser aplicado o Fundo para a Transição Justa nas centrais de Sines e Pego e na refinaria de Matosinhos, e defende um plano que fortaleça a vitalidade económica e social das regiões afetadas, promovido pelas empresas envolvidas em colaboração com trabalhadores, autarquias locais, organizações não-governamentais e outras entidades competentes.

“Sem diálogo, concertação social e criação de soluções alternativas atempadas, não estamos de forma alguma a fazer uma transição energética justa”, considera a associação, alertando desconhecer, no caso da central de Sines, “o uso de qualquer verba do Fundo para a Transição Justa até agora”.

Projetos de investimento para a transição

Esta manhã, em declarações à RTP3, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, anunciou que até 30 de novembro vão ser lançados novos avisos de fundos comunitários para apoiar projetos de investimento relacionados com a transição climática.

“Entre projetos para fabricar eletrolisadores, projetos para produzir pequenos camiões elétricos, de propulsão de hidrogénio verde, são vários os que existem para ali”, concretizou o governante. Sobre os empregos perdidos, algo que será discutido esta semana numa reunião no Ministério, Matos Fernandes assegura “todas as condições para a transição destes trabalhadores”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Falta de trabalhadores ameaça retoma da indústria portuguesa

  • Lusa
  • 21 Novembro 2021

Do têxtil ao calçado, da construção ao mobiliário, os industriais queixam-se da dificuldade em recrutar mão-de-obra e do “estigma” que afasta os jovens dos chamados setores tradicionais.

A falta de trabalhadores está a ameaçar a recuperação dos setores mais “tradicionais” da economia portuguesa, do têxtil ao calçado, construção ou mobiliário, num problema que não é novo, mas se agravou com a retoma pós confinamento.

Em declarações à agência Lusa, representantes de várias associações setoriais defenderam a urgência de políticas de incentivo à contratação de profissionais, para que a escassez de recursos humanos não ponha em causa a recuperação económica daquelas atividades, a par de campanhas de valorização destes setores, muito afetados por “estigmas” e “estereótipos” que os tornam pouco atrativos para os mais jovens.

Segundo o diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), “o cluster debate-se com uma grande dificuldade de atração de talento, registando-se um preocupante envelhecimento da mão-de-obra atualmente empregada nestes setores”.

“Além do desafio atual, que leva já dezenas de empresas a recusarem encomendas por ausência de colaboradores que permitam dar resposta, prevemos um agravamento deste cenário pela incapacidade de renovação de geração atual por jovens especializados”, refere Gualter Morgado.

Embora “as dificuldades sejam transversais”, o responsável precisa que “têm particular incidência em posições que exigem alguma especialização, nomeadamente marcenaria, tornearia e estofagem, entre outros”. “As consequências imediatas são a recusa de encomendas e de novos clientes o que, inevitavelmente, provoca constrangimentos ao crescimento das empresas e do próprio setor”, refere.

As consequências imediatas são a recusa de encomendas e de novos clientes o que, inevitavelmente, provoca constrangimentos ao crescimento das empresas e do próprio setor.

Gualter Morgado

Diretor executivo da APIMA

O dirigente associativo alerta para que, numa fase de retoma como a que se vive atualmente, em que o setor se está novamente a promover internacionalmente nos grandes fóruns internacionais, “é muito preocupante que, depois, não possa ser dado o devido seguimento aos contactos e pedidos de encomenda”.

“A fileira tem uma reputação muito positiva a nível global, estamos em cada vez mais mercados e não podemos desperdiçar esta confiança que demoramos muitos anos a conquistar”, disse Gualter Morgado à Lusa.

Apesar de ser “extremamente difícil para uma empresa abordar e resolver autonomamente” esta situação, a APIMA elenca algumas ações a tomar para aumentar a atratividade do setor, como “o investimento no marketing, na modernização da marca e na capacidade de comunicar eficazmente as condições oferecidas e o progresso realizado ao longo dos últimos anos”.

“A nível global, acreditamos que terá de existir um esforço concertado entre os vários players, desde logo no que concerne ao ensino. É essencial que a oferta educativa se adeque àquilo que são as necessidades das empresas, melhorando substancialmente a relação atual entre a oferta e a procura de talento”, defende.

Já ao nível legislativo, a APIMA diz ter vindo a propor algumas medidas às entidades regulatórias, nomeadamente a realocação dos reformados, que acredita que “assegurarão, pelo menos a curto prazo, uma melhor capacidade de resposta às empresas”.

Calçado reforça comunicação com centros de emprego

Também no setor do calçado “a escassez de mão-de-obra qualificada é, desde há muito, um problema”, que, contudo, se “agravou nos últimos meses, por via do aumento significativo das encomendas”.

“O setor praticamente esgotou a mão-de-obra disponível nas zonas de forte concentração da indústria de calçado, obrigando as empresas a contratar novos profissionais nos concelhos limítrofes”, avançou à Lusa o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

Segundo Paulo Gonçalves, “existem vários estereótipos relacionados com a indústria que importa combater”, mas “isso só se fará se forem desenvolvidas iniciativas de grande escala que permitam sensibilizar os mais jovens e os seus familiares”.

Luís Onofre, presidente da APICCAPS, é um dos criadores com presença na MICAM.APICCAPS (Facebook)

Citando dados da Comissão Europeia, a APICCAPS salienta que, nos setores da moda, “serão precisos na próxima década 500 mil novos colaboradores para que a indústria europeia permaneça na vanguarda”, o que levou mesmo o executivo comunitário a desenvolver uma campanha específica, que a associação integrou, designada Open Your Mind.

Para a APICCAPS, urge “reforçar a comunicação com os centros de emprego, com vista a identificar profissionais desempregados em idade ativa”, assim como “todos os mecanismos de formação à medida das empresas, procurando requalificar trabalhadores”. Adicionalmente, impõe-se “a realização de campanhas de sensibilização de grande espetro, que permitam combater os estigmas e as ideias preconcebidas”.

Têxtil garante que “não é uma questão salarial”

Na fileira da moda, também os setores têxtil e do vestuário se debatem com a escassez de trabalhadores, garantindo a associação empresarial que “não é, como se julga, uma questão salarial”, mas antes “uma questão de imagem” que afeta toda a indústria dita “tradicional”.

Segundo o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, “o setor já antes da pandemia se defrontava com carências de mão-de-obra, sobretudo em determinadas profissões mais orientadas para a parte produtiva, como costureiras ou operadores de algumas máquinas, ou no apoio à produção, como afinadores ou técnicos de manutenção”.

São profissões que carecem de muita formação profissional e só ao final de vários anos e muita formação e investimento é que se consegue ter profissionais competentes, eficientes e que trazem mais-valia às organizações.

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal

Esta situação voltou agora “a florescer com a retoma da atividade, agravada por uma maior inconstância e disrupção na cadeia de abastecimento e pelo facto de as marcas tomarem cada vez mais decisões de última hora, procurando respostas cada vez rápidas”.

O dirigente associativo realça que “estas são profissões que carecem de muita formação profissional e só ao final de vários anos e muita formação e investimento é que se consegue ter profissionais competentes, eficientes e que trazem mais-valia às organizações”.

Por isso, sustenta, “a formação profissional deve continuar a ser valorizada e promovida” e “todos, incluindo o Governo e a comunicação social, devem fazer um esforço para valorizar a indústria e as suas profissões, de forma a atrair jovens profissionais, rejuvenescendo o setor e atraindo outras competências igualmente importantes e essenciais, por exemplo, para a transição climática e digital”.

“Importa dar a conhecer junto da sociedade, dos consumidores e das famílias, a inovação, I&D [Investigação & Desenvolvimento], tecnologia, criatividade que está presente todos os dias nas nossas empresas. Temos empresas fantásticas a ganhar prémios de inovação e sustentabilidade, com excelentes práticas, por exemplo, ao nível da responsabilidade social e essa informação acaba por apenas ser disseminada num circuito muito fechado ou não ser conhecida de todo”, defende.

Mário Jorge Machado diz também que tem sido crescente no setor o recurso à contratação de mão-de-obra estrangeira, “cada vez mais disponível no mercado e com vontade de trabalhar e de fazer a formação necessária”.

Construção procura 70 mil trabalhadores

A escassez de recursos humanos é também, há vários anos, recorrentemente apontada como um “problema grave” no setor da construção, na sequência da saída para o estrangeiro de milhares de trabalhadores durante a última crise, e continua atualmente a condicionar o crescimento da atividade:

“Além do problema das matérias-primas, temos o problema grave da mão-de-obra e não sei qual deles é pior”, afirmou recentemente o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), em declarações à Lusa.

Conferência de imprensa de apresentação da CNCP - 18MAI21
manuel reis camposHugo Amaral/ECO

Salientando que “o setor precisa de 70 mil trabalhadores”, mas “neste momento não há mão-de-obra”, Manuel Reis Campos questiona o porquê de, segundo os dados oficiais, estarem registados no fundo de desemprego “32 mil trabalhadores da construção”. “Não se percebe porquê, mas é verdade”, lamenta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

DGS manda estudar vacinação nas crianças dos 5 aos 11 anos

À espera do regulador europeu, uma comissão técnica com especialistas da área pediátrica, cardiologia, enfermeiros e farmacêuticos já avalia o custo-benefício de alargar a vacinação aos mais jovens.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) mandou reativar nos últimos dias a comissão técnica que no verão avaliou a vacinação dos adolescentes contra a Covid-19, desta feita para emitir um parecer sobre a possibilidade de avançar também com a inoculação das crianças entre os 5 e os 11 anos.

Segundo a RTP, que avançou com a notícia, entretanto já confirmada pela DGS, esse grupo integra especialistas da área pediátrica, de cardiologia pediátrica, da Ordem dos Médicos, enfermeiros e farmacêuticos. A equipa não terá mais de uma dezena de elementos e tem como mandato a análise dos prós e contras da vacinação da população nesta faixa etária.

O organismo liderado por Graça Freitas está a antecipar-se à possível avaliação positiva por parte da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que, de acordo com a Reuters, deverá anunciar na próxima quarta-feira as conclusões do estudo sobre a administração da vacina da Pfizer e da BioNTech nestas crianças.

Questionado este sábado sobre se Portugal deve seguir essa recomendação, caso seja dada luz verde pelo regulador europeu, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, disse este sábado que o Executivo socialista vai “esperar pelas decisões da DGS, que é o órgão técnico, obviamente que articulado com as decisões que são tomadas a nível internacional”. “A DGS tem tomado boas decisões no tempo certo”, ressalvou.

Numa fase em que Portugal regista uma maior incidência de casos positivos, sobretudo em crianças até aos 9 anos de idade, a possibilidade de vacinar esta população parece estar a dividir os especialistas. Na reunião realizada no Infarmed, na sexta-feira, o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros, referiu que essa matéria deve ser “uma prioridade”.

“Não faz sentido enquanto não tivermos mais dados que comprovem a utilidade da vacina para as próprias crianças. Não é uma questão de segurança, mas de utilidade”, contrapôs Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), em declarações à RTP.

Não há um benefício evidente para a população infantil. (…) Não estão a necessitar de tratamento nem a pressionar os hospitais.

Jorge Amil Dias

Presidente do colégio da especialidade de pediatria da Ordem dos Médicos

Também o presidente do colégio da especialidade de pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias, considerou, citado pelo Público, que “não há um benefício evidente para a população infantil”, lembrando que, apesar de infetadas com o novo coronavírus, raramente ficam doentes. “Não estão a necessitar de tratamento nem a pressionar os hospitais. O que está a pressionar as urgências de pediatria atualmente é a infeção pelo vírus sincicial respiratório”, acrescentou.

Enquanto a agência europeia ainda avalia a questão e cada país vai pensando no custo-benefício da medida, nos EUA, o regulador do medicamento (FDA) já autorizou a vacinação das crianças a partir dos cinco anos, estando esse processo no terreno desde o início de novembro, com aproximadamente mais 28 milhões de crianças elegíveis no país.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Chile vai a votos no meio da crise e de uma nova Constituição

  • Lusa
  • 21 Novembro 2021

A inflação galopante, um sistema de pensões descapitalizado e a desigualdade acentuada pela pandemia são os maiores desafios para o próximo Presidente do Chile, escolhido este domingo por 15 milhões.

O Chile realiza este domingo as suas eleições mais relevantes deste século, num contexto de crise social e política e de um processo constituinte considerado o culminar da transição iniciada em 1990, finda a ditadura militar de Pinochet.

Uma inflação galopante, um sistema de pensões descapitalizado e uma desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19 são os principais desafios colocados ao próximo Presidente do Chile, país há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, que deixou de ser o “oásis” que era antes de outubro de 2019, altura em que se iniciaram os mais graves protestos populares desde a ditadura.

Os sete candidatos que competirão para suceder, no palácio presidencial de La Moneda, ao chefe de Estado cessante, Sebastián Piñera, representam um espetro político muito amplo: os direitistas do Chile Podemos Mais (Sebastián Sichel), anteriormente conhecido como Aliança pelo Chile; o centro, com o Novo Pacto Social (Yasna Provoste), nova designação da tradicional Concertação; a esquerda com a coligação eleitoral Apruebo Dignidad (Gabriel Boric), que inclui os partidos Frente Amplio e Chile Digno e uma série de organismos e movimentos da sociedade civil; o Partido Progressista (Marco Enríquez-Ominami), a extrema-direita com a coligação eleitoral Frente Social-Cristã, formada pelo Partido Republicano e o Partido Conservador Cristão (José Antonio Kast); a União Patriótica de extrema-esquerda (Eduardo Artés); e o independente Franco Parisi, que não está no país.

Nas eleições gerais de hoje, poderão ir às urnas cerca de 15 milhões de chilenos para eleger o novo Presidente e também deputados e senadores que tomarão assento no Congresso nacional.

As sondagens, consideradas pouco fiáveis após os últimos atos eleitorais, preveem que nenhum dos candidatos vencerá à primeira volta e que os dois que mais probabilidades têm de passar à segunda volta, agendada para 19 de dezembro, são Gabriel Boric, da esquerdista Aprovar Dignidade, e José Antonio Kast, da Frente Social-Cristã, de extrema-direita.

Apesar de encarado como um dos países mais estáveis da América Latina, o Chile era, segundo alguns especialistas, uma verdadeira “panela de pressão”: a desigualdade e a impunidade da elite empresarial e política envolvida em múltiplos casos de corrupção e abusos geraram um mal-estar que desembocou em protestos em outubro de 2019.

A gota de água foi o aumento dos transportes públicos, e o resultado foram ondas de maciças manifestações em todo o país a partir de 18 de outubro, que se saldaram em 30 mortos, centenas de pessoas que perderam a visão (os chamados ‘mutilados oculares’), atingidas por balas de borracha nos olhos por polícias e militares que reprimiam os protestos, e milhares de outros feridos.

A solução institucional proposta pelos partidos políticos, fazendo eco das principais exigências dos manifestantes, em concentrações com mais de dois milhões de pessoas, foi a Convenção Constitucional, organismo encarregado de elaborar a nova lei fundamental que substituirá a vigente, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

A Convenção Constitucional, que iniciou as suas funções a 04 de julho e está a trabalhar arduamente para redigir antes de julho do próximo ano uma nova Constituição que consagre a solidariedade do Estado, é composta por 155 delegados – na maioria, cidadãos progressistas -, entre os quais se incluem, pela primeira vez na história do país, 17 representantes dos dez povos indígenas.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Concurso para conetividade digital avança até ao início de 2022

  • Lusa e ECO
  • 21 Novembro 2021

Ana Abrunhosa diz que está em preparação o caderno de encargos para o concurso que vai permitir conectar digitalmente todo o país e assegura "transição tranquila e rápida" entre o PT2020 e o PT2030.

A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, disse que no final do ano ou princípio do próximo será lançado o concurso público internacional para permitir conectar digitalmente todo o país.

De acordo com a ministra, está a ser preparado o caderno de encargos para esse concurso público internacional, que irá para consulta pública em dezembro, após o que será lançado o concurso.

Numa entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, e sobre a aplicação das verbas resultantes do leilão do 5G, Ana Abrunhosa afirmou: “O problema é que nós temos territórios em branco, isso não é coesão territorial. O problema é garantir que esses territórios têm conectividade”.

A ministra explicou depois que o Governo está a trabalhar com a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) no levantamento dessas zonas brancas, com o apoio das operadoras, e que está também a ser preparado o caderno de encargos para o concurso, para permitir levar a conectividade digital fixa e móvel a todo o território.

Este mês, a Anacom aprovou o projeto de relatório do leilão de 5G, que terminou a fase de licitação em 27 de outubro e que atingiu um montante de 566,802 milhões de euros.

“Transição tranquila” entre PT 2020 e PT 2030

Na mesma entrevista, a ministra sublinhou a importância de “assegurar uma transição tranquila e rápida” entre o Portugal 2020 e o Portugal 2030, defendendo que só assim será possível “colmatar alguns dos atrasos nas obras” devido à crise de mão-de-obra no setor da construção civil.

“Temos de assegurar uma transição tranquila e rápida entre os dois quadros comunitários para não se sentir, como habitualmente se sente, um interregno”, dramarizou Ana Abrunhosa. “Se fizemos isso, vamos conseguir colmatar alguns dos atrasos nas obras”, acrescentou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Especialistas descartam restrições só para não vacinados em Portugal

O Governo madeirense decidiu exigir certificado de vacinação e teste à Covid para alguns espaços. Peritos ouvidos pelo ECO defendem que a medida "não faz sentido" e "não se justifica" em Portugal.

Face ao agravamento da pandemia, o Governo regional da Madeira decidiu proibir as pessoas não vacinadas de acederem a alguns espaços públicos. Os especialistas ouvidos pelo ECO defendem que a medida “não faz sentido” e “não se justifica”, dada a elevada taxa de cobertura vacinal. Na Europa, alguns países com taxas de vacinação inferiores ao território nacional estão a tomar medidas semelhantes, sendo, que, mesmo nesse caso, os peritos consideram que esse não é o caminho a seguir.

Com a entrada em vigor da situação de contingência a partir da meia-noite de sábado, Miguel Albuquerque decidiu apertar nas medidas de combate à pandemia, voltando a impor o uso obrigatório de máscara na rua e em espaços fechados.

Além disso, o governo regional decidiu ainda restringir o acesso a um conjunto de espaços (ginásios, cabeleireiros, bares, discotecas, cinema ou casinos) e eventos (desportivos ou culturais) a quem não estiver vacinado contra a Covid. E mesmo as pessoas vacinadas terão que apresentar um teste antigénio para entrar. Esta medida tem um período transitório, pelo que só entra em vigor à meia-noite de 27 de novembro.

Com 87% da população portuguesa vacinada, Manuel Carmo Gomes defende que esta decisão “não faz sentido” e “não se justifica”, dado que “a partir dos 18 anos temos quase a totalidade da população vacinada”.É um exagero“, atira o epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação, em declarações ao ECO.

A opinião é partilhada por Carlos Robalo Cordeiro, diretor do serviço de Pneumologia dos Hospitais da Unidade de Coimbra, que destaca que em Portugal apenas “2% a 3% da população elegível não se vacinou”. Por outro lado, Bernardo Gomes, investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, considera “contraproducente haver medidas gerais nesse sentido“, dado que “já há consequências em se estar vacinado ou não vacinado“, nomeadamente no que toca à duração da quarentena quando há um contacto com um caso positivo.

E nos países com baixas taxas de vacinação?

Além da Madeira, há já alguns países da Europa que estão a tomar medidas semelhantes, como é o caso da Alemanha (onde os não vacinados vão ficar impossibilitados de entrar em ginásios, eventos culturais, restaurantes ou cabeleireiros e para os quais o teletrabalho é obrigatório) ou para a Áustria (que numa fase inicial decidiu decretar um confinamento apenas para não vacinados, mas que, entretanto, acabou por o alargar a toda a população), mas, mesmo em países com taxas de vacinação inferiores à de Portugal, a medida é justificável?

Ao ECO, Carlos Robalo Cordeiro sinaliza ainda que mesmo em países europeus com taxas mais baixas de vacinação, como acontece nos países de leste, na Alemanha ou na Áustria, o incentivo à vacinação deve ser feito através da “disponibilização de mais informação à população”, com dados claros do efeito da vacina na redução de doença grave ou morte, bem como de uma “comunicação técnica, clara e assertiva” e “não política”.

Nesse sentido, o ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia sublinha que tem “alguma dificuldade” em “criar barreiras” para forçar a população a receber a vacina, mas defende sim uma “discriminação positiva”. Para o efeito, Carlos Robalo Cordeiro dá o exemplo do certificado digital Covid, o qual considera que devia voltar a ser obrigatório para eventos, mas também noutras atividades como a restauração. “Mesmo se as pessoas não estiverem vacinadas o certificado de testagem dá uma maior segurança”.

Do ponto de vista estritamente epidemiológico em algumas circunstâncias pode fazer sentido [aplicar medidas restritivas aos não vacinados], mas isso tem implicações em termos sociais e políticos”.

Manuel Carmo Gomes

Epidemiologista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

A par do pneumologista, também Bernardo Gomes defende a utilidade do certificado digital Covid como meio de incentivo à vacinação, mas também “numa fase aguda pôs períodos vacinais”.

Por outro lado, o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto olha com “bastante receio” para a imposição de restrições específicas para não vacinados, alertando para as “consequências alargadas” que estas decisões podem ter. “As consequências sociais e políticas deste gesto de força podem ser difíceis de prever”, assinala, sobretudo devido ao facto de nos estarmos a “afastar de um tempo em que o desconhecido era maior”.

Já Manuel Carmo Gomes admite que essa possibilidade se coloque em países com baixas taxas de cobertura vacinal, como é o caso dos países de leste ou alguns países da Europa ocidental, mas sublinha que é “uma questão discutível” e com “muitas zonas cinzentas”. “Do ponto de vista estritamente epidemiológico em algumas circunstâncias pode fazer sentido, mas isso tem implicações em termos sociais e políticos“, refere.

E se as restrições específicas para as pessoas não vacinadas aplicadas na Madeira são vistas com desconfiança por parte dos especialistas ligados à Saúde, na justiça o cenário não é diferente. Ao Público, Jorge Bacelar Gouveia e Pedro Bacelar Vasconcelos defenderam que as medidas violam a Constituição, ao passo que Jorge Miranda diz ter muitas dúvidas que a região autónoma possa restringir direitos fundamentais.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

CGTP acusa Governo de “dar a mão ao patronato” na política salarial

  • Lusa
  • 20 Novembro 2021

No discurso de encerramento da manifestação que juntou milhares de pessoas em Lisboa, Isabel Camarinha acusou o Executivo socialista de travar o aumento dos salários e incentivar a precariedade.

A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, acusou este sábado o Governo de “passar ao lado das grandes questões laborais” e de “dar a mão ao patronato”, permitindo a “política de salários baixos” e o “crescimento da precariedade”.

“O Governo PS, por opção, passou ao lado das grandes questões laborais que são determinantes na nossa vida e recusa-se a repor os direitos roubados pelo PSD/CDS”, afirmou a líder da intersindical durante o discurso de encerramento da manifestação nacional convocada pela CGTP para exigir melhores condições laborais e que juntou milhares de pessoas em Lisboa.

Nesse discurso de quase meia hora, Isabel Camarinha explicou os motivos para a manifestação e fez muitas críticas ao Governo socialista por não permitir um aumento de salários e incentivar a perpetuação da precariedade.

“A precariedade é um retrocesso, é parte do tal regresso ao passado. Não é moderno, mesmo que esteja associada a plataformas digitais. Um trabalhador sem direitos com uma mochila às costas não é sinal de inovação, mas de exploração”, afirmou.

Um trabalhador sem direitos com uma mochila às costas não é sinal de inovação, mas de exploração.

Isabel Camarinha

Secretária-geral da CGTP

Ainda neste âmbito, Isabel Camarinha ressalvou que “as iniciativas legislativas do Governo PS em matéria laboral, com a denominada agenda do trabalho digno, ou regras de teletrabalho, passam ao lado das questões fundamentais, deixam as normas gravosas da legislação laboral a pressionar e triturar os direitos dos trabalhadores”.

“O Governo PS dá assim a mão ao patronato que quer ver os salários estagnados, com a recusa da revogação da caducidade ou a não reintrodução do princípio do tratamento mais favorável na contratação coletiva. A nossa luta e ação de denúncia conduziu a suspensões da caducidade, ao reconhecimento generalizado que esta norma é um entrave à negociação, mas as opções do PS, convergindo com o PSD, o CDS e os seus associados do Chega e da Iniciativa Liberal e os seus compromissos com o grande patronato, têm inviabilizado a sua revogação”, criticou.

A líder da CGTP fez ainda uma referência às verbas comunitárias previstas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, questionando o facto de os salários continuarem a ser baixos “por regra num tempo em que “tanto falam em milhões de euros”.

“Exigimos o aumento dos salários já, porque esta é uma realidade com que nos debatemos hoje e não pode esperar pelo momento em que o patrão ou o Governo achem que é a mais oportuna para subir o salário”, defendeu.

Numa referência ao período eleitoral que se aproxima, Isabel Camarinha destacou a importância da “luta e do voto dos trabalhadores” e avisou que haverá partidos que se farão de “vítimas”, mas que “têm a sua inspiração nos tempos sombrios do fascismo ou do liberal salve-se quem puder”.

A CGTP marcou este protesto por considerar “urgente dar resposta às reivindicações dos trabalhadores, do setor público e do privado, resolvendo os problemas estruturais do mundo do trabalho – há muito identificados -, e cuja resolução se tem arrastado ao longo dos anos – baixos salários, precariedade, desregulação dos horários, normas gravosas da legislação laboral, entre outros”.

Segundo a central sindical, a situação atual “exige a adoção de uma política que valorize o trabalho e os trabalhadores, nomeadamente com o aumento geral dos salários e das pensões, a valorização das carreiras e profissões, a erradicação da precariedade, as 35 horas para todos sem redução de salário e o combate à desregulação dos horários, a revogação das normas gravosas da legislação laboral”.

A CGTP reivindica um aumento de 90 euros para todos os trabalhadores e a fixação de 850 euros para o salário mínimo nacional a curto prazo como forma de fomentar o crescimento económico.

Milhares de pessoas de todo o país participaram hoje, em Lisboa, na ação nacional convocada pela CGTP. De máscara colocada e empunhando cartazes, os manifestantes iniciaram marcha no Marquês de Pombal, pelas 15:00, em direção à praça dos Restauradores, sob o lema “Avançar é Preciso! Aumento geral dos salários – 35 horas para todos – erradicar a precariedade – Defender a contratação coletiva”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Paula Franco reeleita bastonária da Ordem dos Contabilistas

Com uma votação de 88,7%, a atual bastonária venceu José Araújo nas eleições da Ordem dos Contabilistas Certificados para o mandato de 2022-2025, que tiveram um recorde de 24.682 participantes.

Paula Franco sucede a Paula Franco à frente do conselho diretivo da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC). A atual bastonária e candidata da lista A foi reeleita com 88,7% dos votos, adiantou ao ECO fonte oficial daquele organismo.

De acordo com a mesma fonte, votaram um total de 24.682 pessoas na eleição dos órgãos sociais para os próximos quatro anos — a lista A venceu também no Conselho Fiscal e no Conselho Jurisdicional, além de ficar com maioria absoluta na Assembleia Representativa –, fazendo desta a votação mais participada de sempre na OCC, que tem cerca de 69 mil membros inscritos.

A votação presencial aconteceu na quinta-feira em todas as capitais de distrito do continente e das regiões autónomas. Na sede da Ordem foram também recebidos até essa data milhares de votos por correspondência, o que fazia antecipar esta afluência recorde.

Depois de terem disputado a segunda volta nas anteriores eleições, realizadas em 2018, Paula Franco (lista A), que tinha sido assessora dos ex-bastonários Domingues de Azevedo e Filomena Moreira, voltou a levar a melhor sobre José Araújo, candidato da Lista B, que em meados dos anos 1990 pertenceu à comissão instaladora da Associação dos Técnicos Oficiais de Contas (ATOC), que esteve na origem da OCC.

Das avenças à relação com a Autoridade Tributária (AT) e com o Governo, passando pela formação e pelo rejuvenescimento da profissão, havia diversos pontos a dividir estes candidatos.

Questionada pelo ECO sobre as medidas prioritárias para negociação com o Governo, Paula Franco lembrou que havia várias medidas previstas na proposta de Orçamento do Estado para 2022, “inclusivamente prorrogações importantes”, que não são exequíveis depois do chumbo do documento na Assembleia da República.

A bastonária prometeu que “uma das primeiras coisas que [fará] é pegar em todas as coisas que ainda não estão contempladas em despacho para tratar este impasse até haver um novo OE”. Por exemplo, “ainda não saiu a [prorrogação] do SAF-T da contabilidade, que vai sair num despacho autónomo, que está a ser feito”.

“Mais algumas questões relacionadas com o justo impedimento e com as férias fiscais. Sem dúvida que o que defendemos é a revogação total do envio [do SAF-T] tal como está previsto, mas ainda agora [essa medida] foi a Parlamento e nem todos os partidos votaram a favor. Pelo menos que seja prorrogado, porque não há condições para a sua aplicação”, acrescentou Paula Franco.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

PCP recusa “voltar atrás” com “medidas desgarradas” de confinamento

  • Lusa
  • 20 Novembro 2021

O secretário-geral do PCP defende que o caminho para combater o aumento dos casos de infeção por Covid-19 é a "vacinação mais rápida não só para os mais velhos, também para os mais jovens”.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje que o caminho para combater a pandemia é acelerar a vacinação e reforçar o SNS, manifestando “profundas reservas” com a ideia de “voltar atrás” com “medidas desgarradas” de confinamento.

À margem da manifestação convocada pela CGTP, que este sábado juntou cerca de 20 mil pessoas em Lisboa, segundo a organização, Jerónimo de Sousa foi questionado pelos jornalistas sobre o que irá defender junto do primeiro-ministro, António Costa, que na terça e na quarta-feira recebe os partidos para abordar a situação epidemiológica, antes de aprovar medidas no Conselho de Ministros do dia seguinte.

“A melhor experiência que tivemos foi a aplicação das vacinas. É este o caminho, continuar a aprofundar essa garantia que resultou bem e, naturalmente, resistimos, temos profundas reservas em relação a confinamentos, voltar para trás”, respondeu.

Para o líder comunista, “o caminho é vacinação mais rápida não só para os mais velhos, também para os mais jovens” e “tomar medidas de reforço do SNS que deem resposta aos problemas” nos serviços públicos de saúde. “E cada um de nós, com sentido de responsabilidade, tomarmos medidas de proteção que entendermos necessárias”, acrescentou.

O objetivo, para Jerónimo de Sousa, deve passar por estas apostas e não por “medidas desgarradas, muitas vezes incompreensíveis de confinamento”.

Portugal regista este sábado 2.333 novos casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, com dez mortes associadas à covid-19 e um aumento de internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos, segundo dados oficiais. De acordo com o boletim da Direção-Geral da Saúde, estão agora internadas 544 pessoas, mais 16 do que na sexta-feira, das quais 88 em unidades de cuidados intensivos, mais nove do que nas últimas 24 horas.

O calendário para o chefe do Executivo receber os partidos com representação parlamentar, que ainda não foi oficialmente comunicado pelo executivo, ficou praticamente fechado após a reunião de sexta-feira à tarde entre especialistas e responsáveis políticos, no Infarmed, em Lisboa, num momento em que o país regista um crescimento das taxas de incidência e de transmissão (Rt) da covid-19.

No final da reunião do Infarmed, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – ladeado pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e pelo primeiro-ministro, António Costa – afirmou que continua a haver “conjugação total dos órgãos de poder político” na resposta à covid-19, mas escusou-se a falar de medidas, remetendo essa decisão para o Governo, após consulta aos partidos.

Quanto às medidas a adotar, o chefe de Estado disse que “os especialistas apresentaram o que consideravam indispensável para esta fase” e que “a decisão sobre essa matéria pertencerá naturalmente ao Governo”, que “vai ouvir os partidos políticos e vai decidir”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Governo aponta para cenário de “famílias juntas no Natal”

No dia em que foi batido o recorde de terceiras doses, o secretário de Estado da Saúde apelou a um “grande nível de adesão” dos portugueses porque "vacinas, logística e recursos" estão assegurados.

Este sábado foi atingido um novo máximo na administração de terceiras doses da vacina contra a Covid-19 em Portugal, com mais de 42 mil pessoas a receberem a chamada dose de reforço a nível nacional.

O número foi avançado esta tarde pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, que espera que este “grande nível de adesão” continue nas próximas semanas “para depois as pessoas passarem um Natal com mais serenidade”.

“Queremos que o Natal das nossas famílias não seja igual ao do ano passado, em que houve gente sozinha. Queremos que as famílias possam estar juntas no Natal”, acrescentou o governante.

Em declarações aos jornalistas no final de uma visita a um centro de vacinação em Mafra, Lacerda Sales assegurou ainda que o país tem capacidade para esta nova operação, depois de ter vacinado mais de 85% da população durante a primeira fase.

“Já provámos que temos vacinas, logística, recursos e meios. Essa prova está mais do que dada. Queremos é pessoas para vacinar, que as pessoas adiram à vacinação porque tudo o resto nós temos”, sublinhou.

“Cooperação intensa com as Forças Armadas”

Esta semana, a Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou três novos critérios: vão começar a ser chamados os maiores de 18 anos que tomaram a vacina da Janssen; e, entre os maiores de 65 anos e os profissionais de saúde e do setor social, é encurtado o intervalo mínimo de seis para cinco meses e entram os recuperados e que só receberam uma dose.

Ora, estes novos critérios tornam a terceira dose acessível a mais 1,8 milhões de portugueses. Isto é, esta fase do plano, que vai de 27 de setembro até 19 de dezembro, passa a abranger um total de 2,6 milhões de pessoas – e um total de 4,6 milhões de inoculações, dado que, sempre que possível, é administrada na mesma altura a vacina contra a gripe.

Lacerda Sales reconheceu que, ao mais do que duplicar a faixa de elegíveis, é necessário “reprogramar e voltar a planear, quer do ponto de vista da logística, quer do ponto de vista dos recursos”, dizendo contar com a cooperação das autarquias e também do Ministério da Defesa.

E estão disponíveis esses meios adicionais que foram pedidos na reunião no Infarmed pelo coronel Carlos Penha Gonçalves? “Claro que sim. Isto será fruto da cooperação intensa com o Ministério da Defesa e Forças Armadas. Serão necessários mais reforços quer das Forças Armadas, quer do Ministério da Saúde”, respondeu.

Sobre a possibilidade de vacinar a população entre os 5 e os 12 anos, no caso de ser dada luz verde por parte da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o secretário de Estado disse apenas que o Executivo vai “esperar pelas decisões da DGS, que tem tomado boas decisões no tempo certo”, em coordenação com os organismos internacionais.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.