Greves sobem mais de 30%. “É a reação natural dos trabalhadores”, diz UGT
Num ano marcado pela retoma da atividade, os pré-avisos de greve subiram 34%. "É a reação natural dos trabalhadores", diz UGT, que antecipa para 2022 algumas dificuldades nas negociações.
Num ano marcado pelos avanços na vacinação contra a Covid-19 e, consequentemente, pelo alívio das restrições e pela retoma da atividade, o número de pré-avisos de greve subiu mais de 34% face a 2020, ficando, ainda assim, abaixo dos níveis pré pandemia. “É a reação natural dos trabalhadores e dos seus sindicatos”, sublinha a UGT, em declarações ao ECO, antecipando, para 2022, algumas dificuldades na negociação com os patrões, nomeadamente devido à escalada da inflação.
De acordo com as estatísticas divulgadas pela Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), em 2021, foram entregues 872 pré-avisos de greves. Destes, 403 (cerca de 46% do todo) deram entrada só nos últimos três meses do ano. Do total de pré-avisos registados no ano passado, 175 foram relativos ao setor empresarial do Estado e 697 (ou seja, a maioria) ficaram fora desse âmbito.
Além disso, face a 2020, verificou-se uma subida de 34,15%, depois de o primeiro ano da pandemia ter sido sinónimo de um recuo de quase 40% dos pré-avisos de greve. Assim, em 2021, as paralisações “desconfinaram”, ainda que tenham ficado abaixo dos níveis pré pandémicos (em 2019, foram entregues mais de mil pré-avisos).
Para a UGT, esta evolução não causa surpresa: “Parece-nos refletir uma reação natural dos trabalhadores e dos seus sindicatos“. Isto após um período de “grandes incertezas” motivadas pela pandemia e de “medo generalizado” relativamente às consequências dessa crise, “não só do ponto de vista da manutenção dos postos de trabalho de cada um”, mas também no que diz respeito à saúde.
“Este aumento [dos pré-avisos de greve] surge ainda bastante mais reduzido em relação aos números registados em 2019 e ainda mais abaixo que os registos do início da década, no período da intervenção da troika”, frisa, além disso, a central sindical liderada por Carlos Silva.
É importante explicar, por outro lado, que este aumento dos pré-avisos de greve foi influenciado, pelo menos, em parte pelo travão ao direito à greve, nos setores essenciais, imposto em março de 2020, quando o país estava em estado de emergência. Na altura, foi decidida a suspensão “do exercício do direito à greve”, porque podia “comprometer o funcionamento de infraestruturas críticas ou de unidades de prestação de cuidados de saúde, bem como em setores económicos vitais para a produção, abastecimento e fornecimento de bens e serviços essenciais à população”.
Já relativamente a 2021, a UGT sublinha que a pandemia foi “mais um motivo utilizado pelos empregadores para paralisar a negociação coletiva, interrompendo a situação de retoma, ainda que ligeira, que se vinha a verificar nos últimos anos”. “A recuperação do impacto da atual crise na negociação entre sindicatos e empresas ou associações de empregadores permanece distante, e poderá ser novamente adiada pelo quadro de incerteza sanitária e económica, num momento em que há receio de avançar para negociações, por parte dos empregadores. Também se prevê uma maior dificuldade atendendo à trajetória esperada de uma inflação mais elevada e ainda incerta“, acrescenta a central sindical.
Assim, com os olhos postos em 2022, a UGT “antecipa que as negociações possam ser difíceis“, ainda que continue a garantir que encara a greve como último recurso. Em alternativa, defende o “primado do diálogo e da negociação como forma de defender” as suas “pretensões”.
Em contraste, a CGTP promete intensificar a luta. O ECO também questionou esta central sindical sobre a evolução dos pré-avisos de greve e sobre as perspetivas para 2022, mas não obteve resposta. Certo é que a CGTP, no dia seguinte à conquista da maioria absoluta de António Costa, fez questão de anunciar que irá intensificar a ação reivindicativa para exigir ao próximo Governo do Partido Socialista que dê resposta aos problemas dos trabalhadores e do país.
Para os próximos meses de 2022, já estão marcadas algumas paralisações. Os trabalhadores da Rodoviária de Lisboa, por exemplo, vão fazer uma greve de 24 horas no dia 4 de março e ao trabalho extraordinário durante esse mês para reivindicar melhorias salariais. E os trabalhadores da Carris anunciaram que vão apresentar um pré-aviso de greve para 22 de março, dia em que se realizará um plenário, entre as 10h00 e as 15h00.
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