FMI revê em alta PIB para 4,5% e inflação para 6% em 2022
Tanto o PIB como a taxa de inflação sofrem revisões em alta. A equipa do FMI esteve em Portugal na semana passada para fazer uma avaliação ao país ao abrigo do Artigo IV.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) vê o PIB português a crescer 4,5% este ano, acima dos 4% estimados em abril. A revisão em alta estende-se à taxa de inflação, a qual passa de 4% para 6%, bem acima da previsão do Governo (4%). As novas previsões constam de um comunicado de conclusão divulgado esta segunda-feira relativo uma missão do FMI a Portugal para avaliar o país ao abrigo do Artigo IV.
Atualizando os números do World Economic Forum, a equipa do Fundo prevê um crescimento de 4,5% em 2022, ligeiramente abaixo dos 4,9% estimados pelo Governo, e de 2% em 2023, o que reflete uma revisão em baixa cumulativa de um ponto percentual face ao previsto antes da guerra, segundo o FMI. A expectativa do Fundo é que o turismo recupere totalmente do impacto da pandemia no próximo ano.
Já a taxa de inflação vai carregar com o pé no acelerador para os 6%, acima dos 4% estimados pelo Governo — um valor que o Conselho das Finanças Públicas já considera estar ultrapassado. O FMI espera que a inflação desacelere em 2023 com a ajuda da descida dos preços da energia, assim como dos alimentos. A pressão nos salários mantêm-se “contida” e abaixo da média da Zona Euro, nota a equipa do Fundo.
Estas novas previsões contrastam em parte com o que foi divulgado pela Comissão Europeia também esta segunda-feira. Os peritos europeus esperam um crescimento de 5,8% este ano, o mais elevado entre os 27 Estados-membros, e uma taxa de inflação de 4,4%, a mais baixa da União Europeia em 2022.
É de notar que estas previsões do FMI não contabilizam ainda os números do PIB do primeiro trimestre, os quais levaram a Comissão Europeia a rever em alta. Mas já contabilizam as medidas anunciadas pelo Governo no Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), o qual, ao contrário dos últimos seis anos, não corre o risco de ser chumbado uma vez que há maioria absoluta do PS.
Na análise do FMI, a economia portuguesa enfrenta vários riscos, apesar de não estar diretamente tão exposta à Rússia: a incerteza à volta da invasão russa na Ucrânia, as potenciais novas vagas da Covid-19, o aperto das condições financeiras por causa da normalização da política monetária, a execução “mais lenta” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) são alguns dos exemplos.
A equipa do FMI dá destaque aos “efeitos do fim das moratórias” nos empréstimos, cujo efeito “ainda não se materializou totalmente”, podendo “eventualmente” gerar mais insolvências, menos investimentos e corte nos rácios de capital dos bancos. Além disso, a dívida pública “mantém-se desconfortavelmente elevada e o aumento dos preços do imobiliário constituem uma vulnerabilidade adicional”, alerta.
Mas nem tudo é potencialmente negativo. Os especialistas do FMI antecipam que uma continuada e forte recuperação do turismo e uma aceleração dos investimentos do PRR são fatores que podem melhorar as perspetivas da economia portuguesa.
FMI quer “contenção” nos gastos com salários da função pública
Para o FMI, as prioridades das políticas públicas em Portugal deveriam estar no equilíbrio entre as urgências do curto prazo, como os impactos da guerra e da inflação, e o foco no longo prazo com a “reconstrução de folga orçamental” e o avanço de reformas para ter uma “economia mais resiliente”. O Fundo coloca ênfase nas “reformas estruturais”, incluindo as do PRR, no investimento público “sustentado” e na consolidação orçamental.
“Estes esforços são cruciais para alcançar a prioridade de longo prazo de aumentar o crescimento potencial de Portugal e acelerar a convergência no rendimento com o resto da Zona Euro“, afirma o FMI.
Sobre a política orçamental, o FMI dá cobertura ao Governo e à nova proposta do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) quando conclui que manter uma postura de “amplo apoio” em 2022 é “apropriado”. Porém, avisa que a partir de 2023 é preciso implementar um “ajustamento orçamental gradual” para reconstruir “folga orçamental” e enfrentar problemas como as despesas relacionadas com o envelhecimento da população.
Um dos vários conselhos que o FMI dá a Portugal passa pela “contenção das despesas com pessoal” no médio prazo, o que “requer uma revisão abrangente do emprego público e das estruturas das carreiras”.
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