Exportações recorde no arranque de 2022. Empresas confirmam melhor trimestre
Primeiro trimestre de 2022 foi o melhor de sempre na exportação de bens e serviços, incluindo turismo, superando valores pré-pandemia. Conheça três empresas que dispararam as vendas para o exterior.
22.782,9 milhões de euros. Foi este o valor que Portugal exportou em bens e serviços no primeiro trimestre de 2022, um recorde que ultrapassa o alcançado em 2019. Primeiro a recuperação das exportações de bens e agora a retoma do turismo (serviços) permitiu alcançar este patamar no arranque do ano, contribuindo para o PIB crescer 2,6% em cadeia. Em vez de travar, como seria expectável, por causa do impacto da guerra na Ucrânia e da aceleração da inflação.
Estes dados estão deflacionados, isto é, excluem o impacto da subida dos preços no primeiro trimestre, a qual tem sido pronunciada — em maio, a taxa de inflação atingiu um máximo de 1993, fixando-se em 8,1%. Ou seja, este aumento das exportações de bens e turismo é mesmo em quantidade e não inflacionado pela subida do preço.
Anteriormente, o melhor trimestre das exportações de bens e serviços registou-se no quarto trimestre de 2019, mesmo antes da pandemia, com um valor de 22.557,6 milhões de euros. Dois anos e um trimestre depois (e com a pandemia de Covid-19 pelo meio), as exportações de bens e serviços estão já 1% acima desse nível.
Desagregando os valores entre bens e serviços, os dados mostram que a recuperação foi mais rápida nas mercadorias, chegando mais depressa ao nível de 2019. Porém, a reta final de 2021 e o início de 2022 deram um salto expressiva nos serviços, devido em grande parte ao turismo internacional. E também esta componente já superou os valores trimestrais de 2019.
Não há dúvidas de que a retoma do turismo no arranque de 2022 teve um papel decisivo na evolução do PIB. No destaque sobre o PIB, o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta como uma das razões do crescimento económico do primeiro trimestre a “forte recuperação da atividade turística” — e as expectativas para o segundo trimestre são positivas com o turismo em abril a superar o valor de 2019.
“O resultado do 1º trimestre de 2022 está fundamentalmente associado à dinâmica de recuperação da componente do turismo, que cresceu 206,7% em termos homólogos (-121,5% no trimestre anterior e -62,9% no 1º trimestre de 2021)“, notava o INE esta terça-feira. Ou seja, o setor do turismo triplicou face ao primeiro trimestre de 2021.
Este dinamismo do turismo também é visível no VAB (valor acrescentado bruto) dos setores. O setor do comércio e alojamento foi o que mais cresceu no primeiro trimestre (+28,6%) em termos homólogos e o seu VAB está muito perto dos níveis do mesmo período de 2019. Já o setor que agrega os transportes (a aviação, por exemplo) e armazenagem, assim como as atividades de tecnologias de informação e comunicação (TIC), já superaram o patamar pré-pandemia. As outras atividades de serviços, que também incluem negócios relacionados com o turismo, cresceram 9,6%.
Outra forma de ver é consultar o consumo de não residentes no território, ou seja, os gastos dos turistas, os quais não entram na componente de consumo privado, mas na das exportações de serviços e bens. Segundo os dados do INE, os turistas estrangeiros deixaram cá 4.210,7 milhões e euros no primeiro trimestre, o valor mais elevado desde os 4.492,7 milhões alcançados no quarto trimestre de 2019.
Consumo dos turistas em Portugal recuperou rapidamente no final de 2021 e início de 2022
A economia portuguesa beneficiou ainda com a reabertura da economia na sequência da retirada quase total das restrições relacionadas com a pandemia. Reflexo disso é a queda das despesas com bens alimentares, que cresceram significativamente durante a pandemia, no primeiro trimestre de 2022, o que sugere que os portugueses estão a gastar mais em restaurantes e pastelarias, entre outros estabelecimentos deste género.
Empresas confirmam melhor trimestre
Três empresas contactadas pelo ECO confirmam que o primeiro trimestre de 2022 foi muito positivo para as exportações. É esse o caso da ACL, uma empresa da área da metalomecânica de precisão e da automação que emprega 120 pessoas em Braga. “O primeiro trimestre foi muito superior ao do nosso melhor ano, que tinha sido em 2018“, calcula o responsável comercial, João Miranda.
Em declarações ao ECO à margem da Hannover Messe, a maior feira de tecnologia industrial do mundo, em que Portugal tem o estatuto de país parceiro e conta com uma comitiva de 109 empresas, o gestor explicou que a subida das encomendas pode estar relacionada com um “rearranque” depois de dois anos de “projetos congelados” pela Covid-19. “No início do ano começámos a ter mais pedidos. Muitos deles também para reporem stocks, depois de não o terem feito durante a pandemia”, detalhou. França é o melhor mercado da empresa minhota.
A história repete-se na Mecanarte, uma empresa familiar que produz rodas e rodízios para várias aplicações, como carrinhos de supermercados, camas de hospitais ou material industrial para movimentação. “Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, mesmo não considerando o fator da subida dos preços“, assume Silvana Pires, assessora da administração e responsável pelo mercado externo. As exportações valem metade das vendas desta empresa que emprega uma centena de pessoas na Trofa.
“Apesar do aumento dos custos energéticos e das componentes e matérias-primas, sentimos o mercado bastante vivo e com vigor nas exportações”, acrescenta, mesmo admitindo que “há clientes que não põem as encomendas a longo prazo porque estão à espera de ver o que vai acontecer porque os preços estão inflacionados”. A procura vem de Itália, França, Espanha e até de Marrocos. Com a falta de “resposta adequada” por parte dos mercados asiáticos, os clientes estão a procurar “alternativas no mercado europeu”, sublinha.
Na área de eletrónica, a aveirense Exatronic nunca deixou de crescer com a pandemia — acumulando um crescimento de 28% em 2020 e 2021 –, mas reforçou essa tendência no primeiro trimestre deste ano. “Tivemos um crescimento de 15% em relação ao período homólogo de 2021, que era o que estava dentro dos objetivos“, relata o CEO, Nuno Gomes, que por estes dias marca presença na Hannover Messe, na Alemanha.
Além da subida das vendas para mercados para os quais já exportava, como Suíça ou Holanda, este crescimento da empresa (criada há 27 anos e que emprega quase 50 pessoas) “deve-se essencialmente à entrada em dois novos mercados”: o Reino Unido e Itália. No mercado britânico iniciou um projeto em que desenvolve conectores para aplicar na gestão de lavandarias de hospitais, lares, escolas ou grandes empresas. No caso transalpino, o cliente é a Carlsberg, para quem está a fornecer equipamentos para gerir a logística da cerveja.
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