Benfica lança “fan token” na mesma plataforma da Seleção, sem dar mais detalhes
"Fan tokens" do Benfica vão poder ser comprados e vendidos na plataforma Socios.com, a mesma que foi escolhida pela Federação para lançar o da Seleção. Porto optou pela Binance.
Dito e feito. O Benfica anunciou esta terça-feira que vai lançar um fan token, um tipo de criptoativo, na plataforma Socios.com, sem revelar mais detalhes. O anúncio, em comunicado, acontece num momento particularmente sensível para os ativos digitais, em que as criptomoedas e outros tokens têm dado que falar pelos prejuízos que estão a provocar a muitos investidores, bem como pelo colapso recente de uma criptomoeda popular.
O clube da Luz vai seguir o caminho desbravado no ano passado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), quando, em setembro, anunciou o lançamento do fan token da Seleção Nacional em parceria com a mesma plataforma. O token do Benfica deverá funcionar, por isso, de forma semelhante ao da FPF, podendo ser negociado livremente no mercado e dando alguns benefícios aos detentores.
Na prática, um fan token é bastante semelhante a uma criptomoeda – a maior de todas é a bitcoin. A diferença é que os promotores destes projetos declaram, normalmente, que estes títulos são “utilitários” e não representam, por isso, ativos financeiros – nem ambicionam ser um meio de pagamento.
O token da Seleção confere aos adeptos titulares o direito a participarem em minijogos e outras ações promocionais, bem como a votar em certos inquéritos (por exemplo, que música “deve ser tocada no aquecimento” antes de um jogo). Além disso, quem compra tokens da Seleção fica exposto às subidas e descidas do preço dos mesmos, pelo que também podem ser usados para especular sobre o respetivo valor.
Num comunicado, Domingos Soares de Oliveira, CEO do Benfica, afirma que o clube tem “estado muito atento aos ativos digitais”, um mercado que, para o gestor, tem tido bastante “influência” na indústria da bola. O responsável já tinha deixado escapar no final de maio que o Benfica estava a preparar-se para lançar um token.
Ao escolher este momento em particular, o Benfica mostra acreditar que a tendência dos criptoativos veio para ficar, ainda que a fuga ao risco por parte dos investidores tenha feito algumas criptomoedas afundarem perto de 80% desde o início do ano. Além de poder ser uma forma de angariação de capital, os clubes têm apostado que a tecnologia dos fan tokens pode ter um papel mais determinante na forma como os adeptos se relacionarão com os clubes no futuro.
O comunicado conjunto do Benfica e da Socios.com não especifica quantos tokens vão ser emitidos nem a que preço serão vendidos aos investidores iniciais. O ECO questionou fonte oficial da plataforma, que respondeu que estes “detalhes” serão “revelados em breve”.
Como acontece com o token da Seleção, para realizar uma compra, os adeptos têm de usar euros para adquirir unidades da criptomoeda da plataforma (chamada Chilliz). É, depois, com esta moeda virtual que podem adquirir os títulos do Benfica, que serão provavelmente cotados em Chilliz na app da Socios.com. Assim, para saber o valor dos tokens em euros é necessário calcular quantos euros vale uma unidade de Chilliz e quantos Chilliz vale um token do Benfica (a plataforma apresenta uma estimativa).
Capital em risco
Tal como acontece com a maioria dos criptoativos, os investidores correm o risco de perder todo o valor usado para adquirir estes tokens. Uma hipótese que não é remota, tendo em conta que o token da Seleção cotava esta segunda-feira nos 4,35 Chilliz, o equivalente a cerca de 53 cêntimos, uma desvalorização de 73,5% face aos dois euros a que cada um foi vendido inicialmente.
Além da Seleção, o Porto também anunciou no final do ano passado o lançamento do seu próprio fan token em parceria com a Binance, uma corretora de criptomoedas. O valor do token do Porto tem seguido a mesma tendência do token da Seleção.
A perspetiva de subida das taxas de juro na Zona Euro (que já se iniciou nos EUA) tem espoletado uma fuga ao risco, castigando os mercados financeiros e, por arrasto, as criptomoedas. Mas o novo ciclo económico também tem exposto falhas nos modelos de funcionamento de alguns destes projetos.
No início de maio, uma “criptomoeda estável” (stablecoin) indexada ao valor do dólar colapsou, levando as poupanças dos fãs mais fervorosos. O The Wall Street Journal noticiou alguns casos concretos, como o de um médico norte-americano que perdeu todo o dinheiro da família e um jovem ucraniano que considerou tirar a própria vida após perder 90% do que tinha.
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