TAP e Belém já separaram Costa e Pedro Nuno no passado
Não é a primeira vez que o primeiro-ministro e um dos potenciais sucessores no PS mostram divergências em público. Recorde os casos ocorridos nos últimos dois anos e meio.
O pedido para anular o despacho sobre o futuro dos aeroportos na região de Lisboa é o mais recente desentendimento entre o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos.
Ministro desde fevereiro de 2019, um dos potenciais candidatos a futuro líder do PS já mostrou várias divergências com o atual secretário-geral do partido a nível político e na gestão de empresas. Recordamos alguns dos episódios.
Plano de reestruturação da TAP
Dezembro de 2020. Pedro Nuno Santos queria que o plano de reestruturação da TAP fosse votado no Parlamento antes de ser entregue em Bruxelas. Na altura, o ministro achava que um governo sem maioria parlamentar não tinha legitimidade política para avançar com este plano. Se o Parlamento chumbasse, a companhia fechava, argumentava o ministro.
Mas a proposta foi rejeitada em duas frentes, pela então líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, e pelo próprio primeiro-ministro, António Costa.
“É um plano de reestruturação cuja competência é do Governo. Não há nenhuma necessidade de um plano de reestruturação de uma empresa estratégica como a TAP ser votado na Assembleia da República”, afirmou na altura Ana Catarina Mendes.
O assunto foi arrumado dias depois por António Costa: “Quem governa em Portugal é o Governo, e isso significa governar nas áreas boas e nas áreas más, significa governar quando se tomam medidas populares e governar quando se tomam medidas impopulares. Faz parte da ação governativa e não vale a pena o Governo ter a ilusão que pode transferir para outro órgão de soberania aquilo que só a ele lhe compete fazer. Seria, aliás, um erro que assim fosse.”
Pedro Nuno Santos reconheceu a derrota, em declarações ao Expresso: “Queria que fosse votado no Parlamento, mas não consegui. É pena.”
Novo chairman da TAP
Junho de 2021. O ministro com a tutela da TAP queria que Miguel Frasquilho continuasse na presidência do conselho de administração (chairman) da companhia aérea portuguesa. No final, foi escolhido o nome de Manuel Beja, ex-Novabase.
A substituição de Miguel Frasquilho foi uma surpresa, escreveu na altura o ECO. O primeiro-ministro, que teve a última palavra, terá decidido impor uma mudança da totalidade do conselho de administração e isso acabou por ditar o afastamento de Frasquilho.
Costa com Marcelo e Pedro Nuno com Ana Gomes
Maio de 2020: Mesmo sem o PS apoiar oficialmente um candidato, o primeiro-ministro mostrou-se favorável à continuidade de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República, depois da segunda visita conjunta à Autoeuropa.
Costa começou por falar numa “nova tradição, que na Autoeuropa o Presidente e o Primeiro-Ministro vêm em conjunto. Foi assim em 2016, no primeiro ano de mandato do Presidente da República, e agora também no último ano do atual mandato. Há pouco foi-nos lançado o desafio que da próxima vez deveríamos aproveitar para partilhar com os colaboradores da Autoeuropa uma refeição no refeitório. Como não há duas sem três, cá devemos voltar outra vez.” E assim estava declarado o apoio de António Costa à recandidatura de Marcelo, que acabou por confirmar-se.
Meses depois, em novembro, Pedro Nuno Santos declarava apoio a Ana Gomes e ainda culpou Marcelo Rebelo de Sousa pela instabilidade então vivida na geringonça, que permitia a Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes de apoiarem o PS.
Em troca, Ana Gomes comprometeu-se em encorajar Pedro Nuno Santos a avançar para a liderança do PS depois do consulado de António Costa.
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