Galp contra regresso ao mercado regulado do gás discute a medida com o Governo
"Estamos a fazer muito pouco dinheiro em Portugal", indicou o CEO da Galp, acrescentando que a Galp perdeu 135 milhões de euros na importação de gás para a Península Ibérica no primeiro semestre.
O CEO da Galp, Andy Brown, mostrou-se contra a recente opção, aberta pelo Governo, e os consumidores poderem regressar ao mercado regulado do gás para poderem “fugir” aos aumentos de preços praticados pelas empresas do mercado livre. A Galp, que tem contratos tanto no mercado livre como no regulado, diz estar em discussões com o Executivo de António Costa acerca desta medida que, no seu entender, prejudica as empresas e acaba por apoiar também que não precisa da ajuda, nomeadamente alguns pequenos negócios.
“Estamos em discussões com o Governo sobre esta iniciativa [de permitir o regresso ao mercado regulado do gás a famílias e pequenos negócios] pois acreditamos que contraria os nossos direitos como entidade comercial independente e reverte anos de progresso na direção da liberalização [do mercado]”, afirmou Andy Brown, numa conferência organizada pela CNN Portugal, esta segunda-feira.
Além disto, Brown argumenta que vender gás ao preço regulado quando a empresa não tem fornecimento de gás em linha com este preço expõe a Galp a “perdas muito maiores” do que as já sentidas. “Estamos a fazer muito pouco dinheiro em Portugal”, indicou, acrescentando que a Galp perdeu 135 milhões de euros na importação de gás para a Península Ibérica durante a primeira metade de 2022, devido às interrupções de fornecimento da parte da Nigéria – isto, numa altura em que o próprio Governo assume o risco de que os contratos de importação de gás com este país não sejam cumpridos. Além disso, deixa o aviso que o fornecimento do mercado regulado estão sujeitos a revisões de preço regulares, “pelo que o preço pode subir“.
Nas palavras do CEO, a empresa está disponível para discutir com o Governo a melhor solução para ajudar aqueles com necessidades, mas “a aplicação desta medida para os pequenos negócios, incluindo aqueles que não necessitam de apoio (…) não é, no meu entender, uma medida eficaz para beneficiar aqueles que mais precisam”, rematou.
Políticos e empresários assumem dificuldades na transição para o mercado regulado
O CEO da Galp relembra que, até ao momento, os Comercializadores de Último Recurso (CUR), entre os quais se encontra a Galp, estava a dar resposta a apenas 2% do consumo de gás em Portugal, pelo que os recursos alocados “não são certamente suficientes para lidar com o disparar no número de consumidores” que se está a verificar atualmente, depois de o Governo ter autorizado o regresso às tarifas reguladas do gás. “Estamos a reforçar as equipas tão rápido quanto possível, mas peço ao público para ser paciente”, apelou. À margem da conferência, o administrador da EDP, Miguel Setas, assinalou o mesmo tipo de dificuldades e esforço de ajuste.
Anteriormente na conferência, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, pediu desculpa aos portugueses pelas dificuldades que estão a sentir-se na mudança para o mercado regulado de gás. “Estamos tentar que não haja abusos ou aproveitamentos”, disse, referindo que tem conhecimento de que existem algumas filas de espera. “Não vale a pena estar a dificultar”, defendeu.
Galp contesta lucros “excessivos” e aponta riscos para refinaria de Sines
Andy Brown reconhece que “a Galp conseguiu algumas receitas mais saudáveis este ano, depois de dois anos difíceis com o Covid”, mas diz-se preocupado que os lucros de 420 milhões de euros do primeiro semestre sejam vistos como excessivos, já que o retorno anual de 10% com que a empresa contou nesse período é mais baixo do que o retorno médio dos investimentos a nível europeu, defendeu. Diz que a Galp não está a lucrar com os consumidores em Portugal, e classifica como mito a crença de que a Galp está a obter lucros extraordinários na atividade de refinação e portanto deveria ser sujeita ao chamado “windfall tax”, uma taxa sobre os lucros excessivos.
Brown acredita que “criar um clima de investimento atrativo é a única forma de resolver a crise climática e energética, permitindo manter refinarias, como Sines, abertas, e convertê-las de forma a que produzam combustíveis sustentáveis”.
Uma taxação arbitrária e a reversão para mercados regulados que são implementados sem discussão nunca poderá ser a solução”, concluiu o CEO da Galp.
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