Greve geral em França. “Não pedimos a lua”, só salários a evoluir com a inflação
Milhares de pessoas saíram às ruas em França para exigir salários mais elevados face à inflação e para protestar contra a requisição dos trabalhadores franceses das refinarias em greve.
Transportes, escolas e hospitais solidarizaram-se com a paralisação dos trabalhadores franceses das refinarias, abrangidos por uma requisição civil, e juntaram-se esta terça-feira à greve geral em França convocada pelos sindicatos também para exigir “salários dignos”.
Milhares de pessoas saíram às ruas em França para exigir salários mais elevados face à inflação e para protestar contra a requisição dos trabalhadores franceses das refinarias em greve. Cerca de 150 pontos de encontro estavam previstos em todo o país, de acordo com a Confederação Geral do Trabalho (CGT), a organizadora desta jornada de “mobilização e greve” interprofissional, em conjunto com outros sindicatos e organizações juvenis.
Em Paris, uma marcha que juntou milhares de pessoas começou ao início da tarde. Na frente do cortejo, uma faixa que apelava a aumentos salariais e ao “respeito pelo direito à greve”. Vários setores de atividade juntaram-se ao protesto e aos apelos, como foi o caso dos serviços públicos (incluindo escolas e hospitais), energia, transportes públicos, agroalimentar e o comércio.
“Compreendo completamente os trabalhadores das refinarias e vou ser muito franca, temos discussões internas porque os ricos vão sempre encontrar alguém para estar na fila na bomba de gasolina e os pobres, que trabalham, estão em dificuldades, mas sem uma greve dura não haverá resultados. E ela será dura para todos”, disse Daniela, sindicalista da EDF, maior empresa de energia em França, em declarações à agência Lusa.
Daniela veio até à capital francesa para participar na manifestação que partiu da Place d’Italie e que juntou várias centrais sindicais como a CGT, a Force Ouvrière ou a Solidaires. Um dos setores estratégicos mais afetados pela paralisação foram os transportes, com apenas um em dois comboios de longo curso a circular e uma diminuição considerável na circulação do metro e dos comboios regionais na região parisiense.
“O anúncio da primeira-ministra [Elisabeth Borne] das requisições, é um ataque flagrante ao direito à greve. E claro para pedir um aumento de salários. Os trabalhadores das refinarias mostraram o caminho, mas todos os trabalhadores em França estão confrontados com este problema do poder de compra. Queremos um salário digno para termos uma vida digna”, explicou Yann, condutor de metro em Paris, ao justificar a sua presença na manifestação.
Funcionário num setor sensível, este condutor do metro de Paris ficou chocado com a requisição imposta aos trabalhadores das refinarias e teme que, se um dia a greve se generalizar aos transportes, o seu direito seja contrariado por uma requisição governamental, o que dá o direito às forças da ordem de ir buscar os trabalhadores a casa e a imposição de multas de milhares de euros em caso de recusa.
Perante o argumento que os trabalhadores das refinarias que estão paralisados há duas semanas têm salários acima da média nacional – com a petrolífera francesa Total a ter declarado que entre os grevistas há salários que ultrapassam o cinco mil euros –, Yann, cuja profissão também é considerada como privilegiada em termos salariais, diz que isso faz parte de uma estratégia para dividir os trabalhadores.
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“Os nossos salários não são assim tão altos, nós temos é majorações que têm a ver com o trabalhar ao domingo, aos feriados ou trabalho noturno. A ideia desses argumentos é pôr os trabalhadores uns contra os outros, são argumentos para nos dividir, já estamos habituados”, lamentou. A continuação ou não da greve das refinarias que afeta atualmente pelo menos 25% das bombas de gasolina em França, pertence aos trabalhadores, segundo afirmou Philippe Martinez, líder da CGT.
“Vamos continuar a mobilização porque não faltam problemas em cima da mesa. Desde logo, a decisão será já esta noite dos trabalhadores da Total que vão ou não querer continuar a greve, depois há outras assembleias, por exemplo, na SNCF e noutras empresas”, disse o sindicalista. Para os líderes da esquerda francesa, alguns presentes na manifestação em Paris, como Fabien Roussel, líder dos comunistas, basta que os salários sejam indexados à inflação para que acabem todos os protestos dos trabalhadores franceses.
“A mobilização dos trabalhadores do setor privado e do setor público é o único meio que temos para que o Governo perceba que é urgente aumentar os salários no público em função da inflação. Só querem poder viver dos seus salários e que os salários evoluam no sentido do aumento dos preços. Não pedimos a Lua!”, declarou o líder comunista.
Os milhares de pessoas presentes no protesto na capital francesa só têm um objetivo “continuar a mobilização até o Governo ceder”, como explicou, por sua vez, Sonya, que trabalha na região de Paris, no setor da logística, completamente parado devido à falta de combustíveis.
“Estamos completamente afetados, porque não há gasolina, mas temos de continuar com os protestos porque tudo se passa na rua. Temos todos de vir a estes protestos em Paris, as pequenas manifestações não têm o mesmo impacto junto do Estado e vamos fazer como no maio de 68, vamos para a rua”, concluiu a trabalhadora, numa referência ao histórico movimento estudantil que resultou numa das maiores ondas de protesto de sempre.
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