Caixa espreita lucros e dividendos recorde em 2022
Paulo Macedo deverá anunciar um ano histórico para a Caixa. Dividendos deverão atingir os 350 milhões, pagos com transferência da sede para o Estado e dinheiro. Dois terços da ajuda pública por pagar.
2022 foi muito positivo para o setor da banca à boleia da subida das taxas de juro, como comprovam os resultados já divulgados pelo BPI, Santander e BCP. Esta quinta-feira é a vez de a Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentar as suas contas anuais e tudo aponta para um dos melhores anos da sua história. E que se traduzirá até no dividendo mais generoso alguma vez entregue ao Estado, a rondar os 350 milhões.
É preciso recuar 15 anos para encontrar o melhor resultado alcançado pelo banco público até hoje. Com Carlos Santos Ferreira ao leme (o último ano do mandato), a instituição fechou o ano de 2007 com lucros de 856 milhões de euros, dos quais 300 milhões foram parar aos cofres públicos sob a forma de dividendo. E isto antes de surgir a crise e das perdas milionárias por causa de empréstimos concedidos até 2015 que se vieram a revelar ruinosos.
São estas as marcas que Paulo Macedo, que lidera a Caixa desde 2017, tem agora em vista superar. Irá conseguir?
Em novembro, o banco anunciou lucros de quase 700 milhões de euros relativos aos primeiros nove meses do ano, com o ROE (rentabilidade dos capitais próprios) acima dos 10% e compensando já o custo de capital, o que não acontecia desde 2008. Ajudaram a reversão de imparidades e também os negócios em Angola e Moçambique. Já aí a Caixa projetava pagar ao Governo o “maior dividendo da sua história”, à volta dos 350 milhões.
Se fechar o último trimestre com um resultado superior 165 milhões, Macedo supera o registo de Santos Ferreira, mas o impacto do encargo de 245 milhões de euros com a transferência do fundo de pensões para a Caixa Geral de Aposentações (CGA) baralha todas as contas.
Em relação ao dividendo, de acordo com a SIC, o banco pretende pagar uma parte em espécie, mediante a entrega do edifício-sede no Campo Pequeno, em Lisboa. O imóvel encontra-se avaliado entre 280 milhões de euros e 300 milhões, mas o Estado irá receber outra parte em dinheiro.
Dois terços da ajuda pública por devolver
Se a Caixa já se encontra há algum tempo num novo ciclo, a subida dos juros ajudou a consolidar a nova fase da vida do banco, isto depois das perdas milionárias da década passada que levaram a uma recapitalização em 2017 (envolvendo 3,9 mil milhões de euros de ajudas públicas, dos quais 2,5 mil milhões em dinheiro vivo) e a um duro processo de reestruturação que levou à saída de centenas de trabalhadores, ao fecho de dezenas de agências e à saída de muitos mercados internacionais.
A reestruturação já foi concluída, ainda que o banco se mantenha em profunda transformação. Mas as ajudas dos contribuintes ainda não foram totalmente devolvidas. Os números mostram que ainda há muito trabalho pela frente e essa é uma das prioridades de Paulo Macedo. “Claramente é umas das prioridades da Caixa mostrar que pode haver dinheiro investido em empresas do Estado que é rentável e que é devolvido aos cidadãos, e não se juntar a outros casos que, digamos assim, são a fundo perdido”, disse recentemente.
Depois dos prejuízos de quase 2.000 milhões de euros em 2016, a Caixa acumula desde então lucros de 3.000 milhões. Só uma parte destes resultados chegou efetivamente aos cofres do Estado: mais de 960 milhões de euros em dividendos. Com a perspetiva de um dividendo superior a 300 milhões de euros relativos ao exercício de 2022, a Caixa terá ainda dois terços das ajudas públicas por devolver – isto para lá de já ter recomprado os títulos AT1 no valor de 500 milhões, enquanto se prepara para recomprar os títulos Tier 2 no valor de 500 milhões (possivelmente já em junho), dívida que foi emitida no âmbito do processo de recapitalização.
Próximos capítulos: nova casa e consolidação?
Com a entrega do edifício sede ao Governo, que está lá construir o quartel-general para os seus serviços e ministérios, a Caixa está ativa no mercado à procura de futuras instalações. É um dos capítulos em aberto. Paulo Macedo admitiu que o processo de mudança poderá demorar quatro anos, se tiver de construir um edifício de raiz. Mas poderá ser mais célere a mudar de casa se ela já estiver construída. Quais são os planos em cima da mesa?
Há outro tema que não sai da cabeça do líder do maior banco português: a consolidação. A consolidação no setor “não é indiferente” para a Caixa e para Paulo Macedo, que defendeu que o banco público precisa de dimensão para ser relevante no mercado. “Não se justifica um banco público sem poder de ação no mercado”, já afirmou.
Ainda recentemente, quando foi ao Parlamento explicar aos deputados o fecho de mais balcões, o gestor abordou novamente o tema da consolidação e voltou a mostrar as garras afiadas. “É por a Caixa estar hoje como está que, por exemplo, não acontecia hoje um banco estrangeiro comprar o Banif e o Banco Popular por um euro”, assegurou.
Com o processo da venda do Novobanco em vista, e a ameaça de perder a liderança do mercado caso o Lone Star venda a um banco espanhol, Santander ou CaixaBank, qual será a posição de Paulo Macedo? Como diz Patrícia Mamona no regresso da Caixa aos anúncios televisivos, também quererá “chegar mais longe”.
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