Comboio Lisboa-Madrid em três horas só depois de 2030
Ministra dos Transportes de Espanha já informou João Galamba sobre os desenvolvimentos na ligação entre Vigo e Porto. Raquel Sánchez afasta regresso dos comboios noturnos com Portugal.
Vai ser preciso esperar por 2030 para que um comboio entre Lisboa e Madrid seja mais competitivo do que carro e o avião. Antes disso, a ministra espanhola dos Transportes, Raquel Sánchez, apenas se compromete em repor um comboio direto entre as duas capitais ibéricas. Em entrevista por telefone ao ECO e ao Público, a governante espanhola já informou o homólogo português, João Galamba, sobre o arranque dos estudos para que Vigo possa receber comboios de alta velocidade vindos de Portugal.
Atualmente, entre Lisboa e Madrid, os passageiros têm de apanhar três comboios e enfrentam cerca de nove horas de viagem. A partir de 2024, o tempo de viagem entre as duas capitais ibéricas irá variar entre cinco horas e cinco horas e 30 minutos, demorando pouco menos do que o automóvel (seis horas). Questionada se a Renfe [homóloga espanhola da CP] poderá explorar o comboio Madrid-Lisboa a partir desse momento, a ministra responde: “Nesse ano, já com a eletrificação entre Plasencia e Badajoz e esperamos reduzir os tempos de viagem.”
Do lado português, apenas haverá alta velocidade entre Évora e Elvas, onde a Infraestruturas de Portugal está a construir 90 quilómetros de nova linha ferroviária. É apenas neste troço que um comboio poderá circular até 250 km/h, o patamar mínimo para a alta velocidade. Até chegar a Évora, o comboio não irá superar os 220 km/h; entre Lisboa e o Pragal não poderá superar os 60 km/h por causa da travessia da ponte 25 de Abril.
Do lado de Espanha, apenas está pronto um troço de 150 quilómetros entre Badajoz e Plasencia, cuja eletrificação ficará concluída “ainda no primeiro semestre” deste ano, adianta Raquel Sánchez. Em relação ao troço Oropesa-Madrid, “já foi feito o estudo informativo com a avaliação do impacto ambiental”. Falta ainda incluir a ligação entre Oropesa-Plasencia. “Na parte espanhola, a ligação será uma realidade dentro dos prazos que estão determinados pela União Europeia para o corredor Atlântico: o ano de 2030, mas obviamente que gostaríamos de poder adiantar esta data”, prevê a ministra.
“Estamos a trabalhar para que no futuro seja possível fazer Madrid-Lisboa entre as três e as quatro horas“, prevê a ministra. Com este período de vantagem, o comboio será mais rápido do que o automóvel. Em relação ao avião, a ligação sobre carris pode ganhar se forem contabilizados os tempos de embarque e desembarque nos aeroportos da Portela e de Barajas. Mesmo em bitola ibérica, “faremos o possível, pela configuração da nossa rede, para que os comboios possam circular a 300 km/h“, sinaliza.
Do lado português, a viagem poderá demorar menos 30 minutos se for construída a ponte ferroviária Chelas-Barreiro, algo que não está previsto pelo menos até 2030.
Galamba informado sobre Vigo
Também para 2030 está previsto que a viagem entre Porto e Vigo passe a durar uma hora, reduzindo em mais de uma hora o tempo atual. Para que isso aconteça, são necessárias obras dos dois lados da fronteira: em Portugal, pretende-se construir um novo troço entre Braga e Valença, sem paragens intermédias, por 1,25 mil milhões de euros.
Em Espanha, é necessário construir a saída sul da estação de Vigo Urzaiz e implicará um túnel de mais de 10 quilómetros. A empreitada custará entre 573,4 e 686,6 milhões de euros, segundo as propostas divulgadas na semana passada e que antecedem o lançamento do estudo informativo por parte do Estado espanhol. “Esta é uma notícia de grande impacto, porque estamos a avançar neste projeto. E na Cimeira Ibérica passei essa informação ao meu homólogo português [João Galamba]”, adianta a ministra.
O Governo de Pedro Sánchez, desta forma, responde às declarações do anterior ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. “O desafio que aqui lancei é para que Espanha dê corda aos sapatos para não haver o risco de chegarmos com uma linha à fronteira e não termos nada do outro lado”, afirmou o governante em abril de 2022.
Acordo de sinalização
Antes disso, Portugal e Espanha têm de se entender sobre o comboio Celta. A linha está eletrificada dos dois lados da fronteira mas com diferente tensão na catenária (25.000 volts em Portugal e 3.000 volts da fronteira até Vigo) e diferentes sistemas de assistência à condução: Convel (Portugal) e Asfa (Espanha).
Para a ministra espanhola, “é necessária uma coordenação com a Infraestruturas de Portugal para uma integração segura dessa ligação. Temos de acertar uma sinalização compatível para que possam circular comboios elétricos entre os dois países“. Até a situação ficar resolvida, vão circular as automotoras diesel com três carruagens da série 592, que Portugal aluga à Renfe.
Semelhante incompatibilidade pode acontecer na fronteira de Vilar Formoso. Até ao final deste ano ficará finalmente concluída, após seis anos de trabalhos, a eletrificação entre Salamanca e Fuentes de Oñoro [que liga à Linha da Beira Alta]. Neste caso, as linhas dos dois países têm igual tensão na catenária (25.000 volts). Os sistemas de apoio à condução são diferentes e apenas podem funcionar em conjunto no material circulante mais antigo, o que obrigará a um entendimento entre as autoridades dos dois países.
Mais longe da linha está o regresso dos comboios noturnos, três anos depois das ligações entre Lisboa e Madrid (Lusitânia) e entre Lisboa e Hendaia (Sud-Expresso). “Não é uma das prioridades que temos para a recuperação de ligações internas, mas o posicionamento da União Europeia sobre os comboios noturnos para as relações transfronteiriças é questão para a qual estamos abertos a analisar”, adianta a ministra.
O Lusitânia deixou de circular por decisão unilateral da Renfe, congénere espanhola da CP e parceira da transportadora nacional neste serviço. A ligação entre Lisboa e Madrid gerava prejuízos anuais de dois milhões de euros. No Sud Expresso, a CP alugava o material circulante à Renfe, que circulava em conjunto até Medina del Campo. Neste serviço, a transportadora portuguesa registava prejuízos de três milhões de euros por ano.
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