Aforradores nacionais são dos que menos ganham com a subida das taxas de juro do BCE
Se, no último ano, os bancos da Zona Euro transferiram 57% da subida das taxas de juro do Banco Central Europeu para os seus depositantes, os bancos nacionais entregaram apenas 36%.
A banca portuguesa continua a mostrar uma grande relutância em aumentar a remuneração dos depósitos. Em junho do ano passado, pouco tempo antes de o Banco Central Europeu (BCE) iniciar um ciclo de nove subidas consecutivas das taxas diretoras, a remuneração dos novos depósitos para particulares era de apenas 0,07% – e sofreu nesse mês a primeira subida desde outubro de 2020.
Um ano depois, em junho deste ano, a taxa de juro dos novos depósitos de particulares era de 1,58%. Durante este período, a remuneração dos depósitos dos particulares subiu apenas 151 pontos base, apesar de o BCE ter aumentado 425 pontos base as taxas diretoras.
Significa que, nos últimos 12 meses findos em junho de 2023, os bancos nacionais passaram pouco mais de um terço (35,5%) da subida das taxas do BCE para os depositantes particulares, quando a média dos bancos da Zona Euro transferiu 56,5% do incremento das taxas do BCE para os seus clientes.
De acordo com cálculos do ECO, com base em dados do BCE, apenas os bancos de cinco países entre os 20 estados-membros do espaço da moeda única revelaram-se menos generosos que a banca portuguesa no último ano na remuneração das poupanças das famílias: Grécia, Eslovénia, Países Baixos, Chipre e Croácia.
Preferências dos bancos sai cara às famílias
Esta relutância da banca nacional em passar a subida das taxas de juro do BCE para o bolso dos portugueses tem ajudado a impulsionar as contas dos bancos. Só nos primeiros seis meses do ano, os cinco maiores bancos fecharam as suas contas com lucros recorde de 2 mil milhões de euros, o dobro do verificado no primeiro semestre do ano passado, e a margem financeira disparou, em termos homólogos, 74% para cerca de 4,2 mil milhões de euros.
Segundo cálculos do ECO, o diferencial de taxas de juro ativas (cobradas nos empréstimos bancários) e passivas (juros pagos nos depósitos) da banca portuguesa quase que duplicou no espaço de um ano. Mais nenhum país da Zona Euro registou um incremento tão expressivo no nível da margem financeira no último ano.
Por cada aumento de 25 pontos base das taxas de referência do BCE no último ano, os bancos portugueses aumentaram, em média, 15 pontos base a taxa de juro dos novos depósitos das empresas face a apenas 9 pontos base dos depósitos das famílias.
Mas nem todos os clientes sentiram da mesma forma a pouca benevolência da banca nacional nos últimos 12 meses. Se as famílias viram refletido na remuneração dos seus depósitos apenas 35,5% da subida dos 425 pontos base das taxas de referência do BCE no último ano, as empresas contaram com uma transferência para o seu “bolso” de 61% desta subida.
Isto significa que, por cada aumento de 25 pontos base das taxas de referência do BCE no último ano, os bancos portugueses aumentaram, em média, 15 pontos base a taxa de juro dos novos depósitos das empresas face a apenas 9 pontos base no caso dos depósitos das famílias.
No contexto da Zona Euro, os dados do BCE mostram que a maioria dos bancos preferiu repercutir a subida das taxas de referência do BCE na remuneração das empresas face aos depósitos dos particulares (as exceções foram Estónia e Malta). Em média, os bancos do espaço da moeda única transferiram 76,5% das subidas das taxas do BCE para a remuneração das empresas face à passagem de 56,5% no caso das famílias.
Estas dinâmicas têm levado a que o fosso entre a remuneração dos depósitos das famílias e das empresas fique ainda mais fundo, particularmente em Portugal. É que os bancos portugueses, além de pagarem menos que a média dos bancos europeus nos depósitos das famílias e das empresas, estão também entre os que fazem uma maior distinção entre as poupanças dos particulares e das empresas.
De acordo com os últimos dados disponíveis pelo Banco de Portugal, a taxa de juro nos depósitos das empresas em junho era de 2,65%, cerca de 1,7 vezes superior à taxa de juro que os bancos pagam pelos depósitos dos particulares. Na Zona Euro, só os bancos croatas apresentam um diferencial maior. Há um ano, os bancos nacionais pagavam praticamente o mesmo pelas poupanças das empresas e das famílias: 0,06% e 0,07%, respetivamente.
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