Deslocação de população em Gaza tem “consequências humanitárias catastróficas”
"As próximas horas serão decisivas e as consequências da ação - e da inação - poderão ter repercussões por várias décadas", diz Jorge Moreira da Silva, diretor-executivo da agência das Nações Unidas
O diretor-executivo da agência das Nações Unidas UNOPS, Jorge Moreira da Silva, considerou este sábado que tem “consequências humanitárias catastróficas” a ordem de Israel para se deslocar cerca de um milhão de pessoas para o Sul da Faixa de Gaza.
Moreira da Silva é, desde maio, subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo da UNOPS, agência da ONU que ajuda a implementar projetos de ação humanitária e que também tem presença na Faixa de Gaza (com projetos nas área da saúde, da energia e das infraestruturas).
Num relato ao início da tarde através da rede social Facebook, Moreira da Silva contou que lhe têm chegado relatos “extremamente preocupantes” da sua equipa em Gaza, onde “já não há comida, não há água e não há energia”, e que a ordem de Israel para evacuação do Norte da Faixa de Gaza já está a ter consequências catastróficas.
“A evacuação, exigida por Israel, de mais de um milhão de pessoas em Gaza, num prazo de 24 horas – num território que já não tem água, alimentos e energia, e viu as suas frágeis infraestruturas (nomeadamente estradas) destruídas por bombardeamentos na última semana – é não só praticamente impossível como terá – está a ter! – consequências humanitárias catastróficas”, afirmou.
O professor catedrático e ex-ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia (Governo PSD/CDS-PP de Passos Coelho) disse que os ataques do Hamas contra Israel foram “grotescos e hediondos” mas não se pode “permitir que milhões de civis palestinianos, em Gaza, paguem o preço da brutalidade perpetrada pelo Hamas e pelos grupos armados”.
Para Moreira da Silva, “o tempo está a esgotar-se” e são precisas ações urgentes, considerando que é urgente que haja condições para que a assistência humanitária chegue a Gaza e que também urge “que todas as partes travem o risco de escalada para outras partes da região”.
“O direito internacional humanitário (incluindo as Convenções de Genebra) e os direitos humanos têm de ser respeitados. As próximas horas serão decisivas e as consequências da ação – e da inação – poderão ter repercussões por várias décadas”, disse na rede social Facebook.
Na sexta-feira, Israel ordenou a retirada de “todos os civis” da cidade de Gaza para o sul (mais de um milhão de pessoas), no prazo de 24 horas, antes de uma ofensiva terrestre contra o movimento islamita Hamas, em retaliação ao ataque mais mortífero da história de Israel, há exatamente uma semana.
Sábado, na cidade de Gaza, folhetos em árabe lançados por ‘drones’ (aparelhos voadores não tripulados) israelitas apelavam aos residentes para abandonarem as suas casas “imediatamente”. Milhares de palestinianos estão em fuga para o sul da Faixa de Gaza a pé, amontoadas em reboques de camiões, em carrinhos ou de carro.
O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, tinha recusado a retirada da população exigida por Israel, que ordenou a deslocação para o sul do enclave, medida que poderá indiciar uma ofensiva terrestre contra o território palestiniano.
A Faixa de Gaza, um enclave pobre e pequeno, com 2,3 milhões de habitantes, há vários anos sob um bloqueio terrestre, está agora sob cerco, com o abastecimento de água, eletricidade e alimentos cortado por Israel.
O grupo islamita Hamas lançou há uma semana um ataque surpresa contra Israel com milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias infraestruturas do Hamas na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Os ataques já provocaram milhares de mortos e feridos nos dois territórios.
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