Pecuária, saúde e até apicultura. Os “negócios” da Parpública
Não é só os CTT. A Parpública, empresa do Estado, tem interesses em muitas outras empresas e negócios, que vão da agropecuária à saúde, passando pela água, vinho, azeite e até apicultura.
Dez anos depois da privatização, os portugueses ficaram a saber esta semana que são ‘donos’ de uma “posição residual” de 0,25% do capital dos CTT, através da Parpública. As ações dos Correios foram compradas durante o ano de 2021 por despacho do ministro das Finanças, João Leão, e a sua existência era desconhecida até agora.
Além dos Correios, existem muitas outras empresas no portefólio do Grupo Parpública, entidade que foi criada no final de 2000 “com a missão de constituir um instrumento do Estado no âmbito da gestão de ativos mobiliários e imobiliários”. O grupo estatal controla a totalidade da Companhia das Lezírias, através da qual tem interesses no setor da exploração agrícola e pecuária, mas também tem ações da Galp e da Nos. Conheça algumas dessas participações.
Dona da Companhia das Lezírias…
A Companhia das Lezírias é uma empresa detida a 100% pelo Estado português, constituindo-se “a maior exploração agropecuária e florestal existente em Portugal”, segundo uma apresentação disponibilizada pela própria. A sua origem remonta a 25 de junho de 1836, data da fundação da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado, “por aquisição em hasta pública de terras da Coroa”. Foi nacionalizada em 1975 “na sequência da conjuntura revolucionária” que se vivia então.
A sua maior propriedade é a Charneca do Infantado, com cerca de 11 mil hectares, principalmente para exploração de montado de sobro, milho, vinha e olival. Inclui ainda prados onde se alimentam mais de três mil cabeças de gado bovino e a eguada (manada de éguas) de Puro Sangue Lusitano da Coudelaria que tem o mesmo nome.
Além desta propriedade, é responsável pela Lezíria de Vila Franca de Xira, que explora direta e indiretamente, incluindo pastagens e arroz e onde se insere o maior centro de observação de aves do país. A Companhia das Lezírias detém ainda o Paul de Magos e é concessionária, desde 2013, da Coudelaria de Alter, fundada em 1748 e uma “referência na manutenção e melhoria do Puro Sangue Lusitano”.
…e da FlorestGal
No mesmo setor insere-se a participação de 100% da Parpública na FlorestGal. Esta empresa, que tem sede em Figueiró dos Vinhos, detém 86 propriedades e está presente em 26 concelhos de norte a sul de Portugal. Gere 15,6 mil hectares de floresta, mais 6,9 mil hectares de área sujeita a gestão integrada.
“A empresa promove a valorização e proteção da floresta, de acordo com um modelo de gestão sustentável, assente no cumprimento de regras ambientais, saúde pública, saúde animal e fitossanidade associados à produção”, informa a FlorestGal no respetivo site. Além disso, “nos espaços com aptidão favorável para as atividades agrícolas, regista-se a prática de culturas de sequeiro, em regadio, da pastorícia, da apicultura e da atividade cinegética”.
Controla parte da sociedade que gere o Hospital da Cruz Vermelha
A Parpública tem 45% da CVP, a sociedade que gere o Hospital da Cruz Vermelha em Lisboa. Mas há vários anos que quer desfazer-se desta posição. Em 2020, esteve em cima da mesa a venda destas ações à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que nessa altura ficou com os 55% que eram detidos pela Cruz Vermelha, mas o negócio não se concretizou.
O Hospital da Cruz Vermelha tem estado em reestruturação, por enfrentar graves dificuldades financeiras e milhões de euros de prejuízos. Também é público que a Parpública e a SCML contrataram o CaixaBI para tentar alienar a totalidade da CVP.
Detém o Autódromo do Estoril
Da saúde para o automobilismo, a Parpública controla a CE – Circuito do Estoril, empresa que gere o Autódromo Fernanda Pires da Silva, que é o seu único ativo. A empresa gestora desta infraestrutura está nas mãos do Estado há várias décadas, depois de a empresa que lhe deu origem, a Grão-Pará, ter sido cedida para pagar dívidas ao Estado. Foi neste circuito que o piloto brasileiro Ayrton Senna venceu o seu primeiro Grande Prémio de Fórmula 1.
Tem 81% da Águas de Portugal e vai comprar 19% à Caixa
A Parpública detém ainda 81% do capital da Águas de Portugal, por si só um grupo com quase duas dezenas de empresas, mais de metade das quais se dedicam a gerir o abastecimento de água ou tratamento de águas residuais. Os restantes 19% estão na posse da Caixa Geral de Depósitos, que deverão ser comprados pela Parpública. A operação já foi autorizada pelo Governo em 2020, mas passados mais de três anos ainda não se concretizou. A Águas de Portugal lucrou 100 milhões de euros em 2022.
Gere uma rede de mercados abastecedores
Outra das empresas no portefólio da Parpública é a SIMAB – Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores, detida na totalidade por esta entidade do Estado. A SIMAB é a acionista maioritária dos mercados abastecedores das regiões de Lisboa, Braga, Évora e Faro.
“Foi criada em 1993 com o objetivo de instalar em Portugal uma rede nacional de mercados abastecedores assumida como um conjunto estratégico de modernos Centros de Logística e de Distribuição Alimentar”, lê-se no site da SIMAB. Além da gestão da rede nacional de mercados, a SIMAB ” tem desenvolvido uma relevante atividade de consultadoria no contexto nacional e internacional” em diversas áreas, desde a produção agroalimentar à revitalização e modernização dos mercados municipais.
Comanda quase 45% da Inapa
De acordo com o mais recente quadro de participações da Parpública, a empresa estatal controla 44,89% da papeleira Inapa, correspondente a 33,33% dos direitos de voto. “Com um volume de negócios anual aproximado de mil milhões de euros, mais de 95% originado em mercados internacionais, a Inapa é o principal distribuidor de papel na Europa Ocidental”, declara a empresa no respetivo site.
Tem posições na Galp, Nos, TAP, Lisnave e Uniténis
- A carteira de participações da Parpública inclui ainda 7,61% da Galp.
- Da Nos, a operadora de telecomunicações, detém apenas 75 ações.
- Mantém ainda 1% do capital da TAP SGPS.
- Tem ainda 2,97% da Lisnave – Estaleiros Navais e 2,08% da Lisnave – Infraestruturas Navais.
- A participação mais residual de todas é composta por apenas cinco ações da Uniténis, uma empresa relacionada com o Club 7, que tem instalações no Parque Eduardo VII.
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