Queda da Evergrande sem impacto no mercado imobiliário português
Investimento imobiliário chinês em Portugal "não tem expressão" e tanto a Evergrande como a promotora Country Garden, em incumprimento desde outubro, não têm investimentos no país.
A queda da construtora chinesa Evergrande, que foi decretada insolvente esta segunda-feira, não provoca qualquer impacto no mercado imobiliário português. De acordo com duas das maiores consultoras com atividade em Portugal e José Cardoso Botelho, vice-presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), tanto a gigante Evergrande como a promotora imobiliária Country Garden — que entrou em incumprimento em outubro com uma dívida de 33,301 mil milhões de euros – não têm investimentos em Portugal.
“Não há impacto” para o mercado português porque “não há exposição direta” tendo em conta que o investimento chinês no país tem chegado, sobretudo, via Fosun e investidores privados, salienta ao ECO, Nuno Nunes, senior director of capital markets da CBRE Portugal.
E o mesmo diz outra consultora ouvida pelo ECO que frisa que a Evergrande e a Country Garden não têm investimento em terras lusas num contexto em que “o investimento direto chinês em imobiliário tem decrescido bastante nos últimos anos, mesmo antes do fim dos vistos gold,” e que por isso não antecipa impacto no mercado nacional.
Também José Cardoso Botelho vinca que atualmente o investimento chinês em Portugal “não tem expressão”.
Para as consultoras e para o representante dos promotores, a crise imobiliária na China está centrada no país asiático. “Há pelo menos três anos que as promotoras chinesas têm vindo a enfrentar problemas e há milhares de casas construídas sem ninguém para ir para lá viver, ou seja, há uma grande saturação de oferta”, diz Nuno Nunes.
Segundo os analistas as propriedades vazias na China são suficientes para abrigar mais de 90 milhões de pessoas, cerca de nove vezes a população portuguesa.
Já a outra consultora salienta ao ECO que estas duas promotoras imobiliárias apresentam “problemas derivados do elevado nível de endividamento” que podem vir a provocar, “consequências no próprio setor bancário da China, o que terá, forçosamente, consequências colaterais na economia global, sendo a China um dos maiores investidores no Mundo”.
A liquidação da Evergrande, decretada esta segunda-feira por um tribunal de Hong Kong, ilustra a crise prolongada no imobiliário chinês, principal veículo de investimento para as classes com maior capacidade financeira do país, à medida que Pequim tenta eliminar o “crescimento fictício”.
Nos últimos dois anos, dezenas de construtoras chinesas entraram em colapso, à medida que os bancos reduziram o financiamento e o valor dos imóveis sofreu forte correção.
O incumprimento da Evergrande foi um momento decisivo para a indústria sendo que desde então, mais de 50 construtoras entraram em incumprimento e milhares de trabalhadores do setor perderam os seus empregos.
A crise começou quando, em 2021, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um teto de 70% na relação entre passivo e ativos e um limite de 100% da dívida líquida sobre o património.
A Evergrande já foi a maior construtura da China em termos de vendas. Mas, sobrecarregada com um passivo de cerca de 300 mil milhões de dólares (304 mil milhões de euros), deixou de pagar as suas dívidas há mais de dois anos e, desde então, tem vindo a negociar uma reestruturação com os credores.
A decisão do tribunal vai dar aos credores o controlo da empresa-mãe da Evergrande e permitir-lhes-á liquidar todas as suas atividades.
O liquidatário vai ter poderes para assumir o controlo de todas as filiais da Evergrande em todo o mundo, incluindo na China, e vender os ativos da empresa para pagar a sua dívida.
Já a Country Garden, que foi a maior promotora imobiliária da China entre 2017 e 2022, entrou pela primeira vez em incumprimento no final de outubro, depois de falhar o pagamento de cerca de 15,4 milhões de dólares de juros vencidos sobre uma obrigação denominada em dólares, de acordo com a Bloomberg.
Para tentar resolver os problemas de liquidez, a promotora está a vender através de leilão cinco propriedades em Cantão, avaliadas em cerca de 490 milhões de euros. No final do primeiro semestre de 2023, a dívida da Country Garden ascendia a cerca de 33,301 mil milhões de euros, dos quais cerca 14,074 mil milhões de euros vencem em junho deste ano.
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