Escassez de medicamentos em Portugal aumentou 47% em 2023. Mais de um terço são genéricos
Estudo revela ainda que, em 2023, os farmacêuticos europeus gastam 9,5 horas/ semana a lidar com a escassez de medicamentos. Situação leva a perdas financeiras e menor confiança dos clientes.
A escassez de medicamentos tem vindo a afetar vários países da Europa, com 65% dos farmacêuticos europeus a apontarem que a situação piorou em 2023, de acordo com o estudo PGEU Medicine Shortages Report 2023. Portugal não é exceção: no ano passado, o número de medicamentos em rutura de stock aumentou 47% face a 2022.
A escassez de medicamentos é um problema que afeta o mercado farmacêutico há vários anos, depois de acentuado com a pandemia de Covid e com a guerra na Ucrânia devido às interrupções nas cadeias de abastecimento e, também, pelo facto de a indústria considerar que em alguns casos, o preço do medicamento não compensa o aumento dos custos de produção, o que leva à sua inviabilidade comercial.
De acordo com estudo do Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU, na sigla em inglês), que conta com a participação de 26 países europeus, em 17 (65% do total) os farmacêuticos apontam que a escassez de medicamentos piorou em 2023 face aos 12 meses anteriores, enquanto apenas seis (23%) dizem que a situação manteve-se estável.
Por sua vez, apenas três países (nomeadamente Chipre, Grécia e Macedónia do Norte) registaram melhorias face a 2022, ano em que 76% dos países analisados responderam que a situação tinha piorado e 24% disseram que se manteve igual.
Portugal não foge ao panorama da maioria dos países europeus, com a escassez de medicamentos a aumentar 47% face a 2022, sendo que mais de um terço (36,8%) diziam respeito a medicamentos genéricos, revela ainda o estudo da associação que representa os farmacêuticos comunitários europeus.
Para colmatar esta situação, este ano o Governo português voltou a rever os preços dos medicamentos e deixou de ser obrigatório que preço dos medicamentos deixe de constar nas embalagens, por forma a reduzir “de forma significativa os custos de contexto”.
De acordo com o estudo, no ano passado, os farmacêuticos europeus gastam 9,5 horas por semana a resolver problemas com a escassez de medicamentos. São mais 2,8 horas face a 2022 e mais 4,2 face a 2021. E esta circunstância impacta diretamente o modelo de negócio das farmácias, mas também os doentes.
Do lado dos utentes, os farmacêuticos inquiridos reportam que a angústia e incómodo (100%), a interrupção de tratamento (88%), o aumento dos co-pagamentos em resultado da aquisição de fármacos mais caros ou sem comparticipação (73%) ou até uma eficácia menor estão entre as principais causas negativas que resultam da escassez dos medicamentos (73%).
Por sua vez, do lado das farmácias, 92% dos inquiridos reportam perdas financeiras devido ao tempo gasto a tentar selecionar as ruturas de stock, enquanto 81% apontam um aumento das tarefas administrativas e 77% uma redução da confiança por parte dos clientes. As farmácias alegam ainda perdas financeiras diretas devido ao aumento dos preços de aquisição (54%), perdas financeiras devido a alterações operacionais ou perdas financeiras diretas devido a alterações nas práticas de reembolso (46%).
O estudo aponta ainda que as soluções disponíveis para as farmácias comunitárias mitigarem a escassez de medicamentos “variam significativamente” entre os países europeus, mas a substituição por genéricos (92%) ou o ajuste da terapia ou posologia quando o mesmo medicamento está disponível com uma dosagem diferente (50%) estão entre as mais utilizadas.
Em 18 dos 26 países analisados existem sistemas de informação para monitorizar a escassez de medicamentos. É o caso de Portugal, que tem uma lista relativa aos medicamentos cuja exportação está temporariamente suspensa, que é atualizada periodicamente, e tem também uma lista de medicamentos críticos.
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