Banca paga dois mil milhões em dividendos. Metade vai para Espanha

Depois dos lucros recorde no ano passado, bancos vão abrir os cordões à bolsa para pagarem mais de dois mil milhões aos acionistas. Estado português e espanhóis recebem quase tudo.

Na última década não foi fácil a vida dos acionistas dos bancos em Portugal. Não só não houve dividendos como até tiveram de injetar dinheiro nas instituições financeiras. Mas o cenário mudou nos últimos anos com a escalada das taxas de juro.

Os lucros históricos do ano passado vão refletir-se em dividendos igualmente inéditos: mais de dois mil milhões de euros vão para os bolsos dos donos dos bancos, de acordo com os dados compilados pelo ECO, como resultado de um aumento de 140% face aos 862 milhões de euros que os bancos entregaram aos seus acionistas sob a forma de dividendos no ano passado.

O Estado português vai receber o maior dividendo de todos: após a Caixa Geral de Depósitos (CGD) ter distribuído 525 milhões de euros em junho (por conta dos lucros de 1,3 mil milhões em 2023), esta semana Paulo Macedo anunciou um reforço de 300 milhões.

O dividendo extraordinário para os cofres do Tesouro (vale a pena lembrar que o Orçamento do Estado para este ano só previa dividendos de 461 milhões) foi justificado com o desempenho acima do esperado no primeiro semestre deste ano e que permite devolver toda ajuda de três mil milhões da recapitalização de 2017, segundo explicou o CEO do banco público na quarta-feira.

A Caixa alcançou lucros de 889 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, mais 46% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Espanha recebe metade

Esta quinta-feira, o Santander Totta revelou que o dividendo que vai entregar à casa-mãe em Espanha “não será muito distante do valor pago no ano passado”, que foi de 500 milhões de euros, adiantou o administrador financeiro, Manuel Preto.

O banco teve lucros de mil milhões de euros no ano passado, pelo que prevê distribuir metade do resultado ao seu acionista. Está agendada uma assembleia geral para o final de agosto para aprovar o dividendo.

Também o BPI pagou mais de 500 milhões ao seu acionista espanhol, neste caso o CaixaBank. Praticamente entregou 100% dos lucros e nessa medida o banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa foi o mais generoso da banca portuguesa.

Contas feitas, dois mil milhões de euros em dividendos da banca nacional, metade do dinheiro cruzará a fronteira.

BCP e Montepio regressam aos dividendos

BCP e Banco Montepio aproveitaram a escalada das taxas de juro para voltarem a remunerar os seus acionistas.

No caso do banco liderado por Miguel Maya, pagou um dividendo de 257 milhões de euros, correspondendo a 30% do resultado de 856 milhões alcançado no ano passado. Os chineses da Fosun e os angolanos da Sonangol receberam a parte corresponde à sua participação de 20% no capital do banco português, mais de 50 milhões cada um.

Para o BCP, a política de dividendos vai ganhar importância no próximo ciclo. Com a estrutura acionista algo indefinida, perante a potencial saída de chineses e angolanos, Miguel Maya acena com um reforço do payout para captar o interesse do mercado. Vai passar a pagar metade ou mais dos lucros aos acionistas. As novidades deverão ser anunciadas aquando da apresentação dos resultados do terceiro trimestre.

No banco liderado por Pedro Leitão, o dividendo de seis milhões de euros põe fim a uma “travessia do deserto” de mais de uma década sem pagamentos ao acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) — agora são mais acionistas. O Banco Montepio registou lucros de 28,4 milhões no ano passado, mas foi muito penalizado pela venda do Finibanco Angola, uma operação que teve um impacto negativo de 100 milhões.

Novobanco ainda sem dividendo

Para o Novobanco, o tema do dividendo continuará fora da agenda pelo menos até que os acionistas Lone Star e Fundo de Resolução decidam colocar um ponto final no mecanismo de capital contingente, que só termina em 2026. Há negociações nesse sentido.

Certo é que o banco liderado por Mark Bourke continua a acumular capital em resultado dos lucros que vem obtendo nos últimos trimestres. E o dividendo poderá ser a bandeira para os americanos acenarem quando chegar o momento certo de vender a sua participação no Novobanco. “Provavelmente somos o banco mais bem capitalizado do país“, sinalizou o CEO irlandês esta quinta-feira aos analistas.

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