Subida nos juros reflete-se mais rápido nos depósitos das empresas do que de particulares
Estudo conclui que transmissão da política monetária às taxas de juro dos depósitos bancários é incompleta. Zona Euro é mais rápida a repercutir os efeitos.
As mudanças nos juros pelo Banco Central Europeu (BCE) refletem-se mais rapidamente na remuneração dos depósitos a prazo das empresas em Portugal do que dos particulares. A conclusão é de um artigo publicado na Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP), que assinala que a transmissão da política monetária às taxas de juro dos depósitos bancários é incompleta.
No artigo “Taxas de juro de depósitos e transmissão da política monetária”, as economistas Diana Bonfim e Leonor Queiró analisam os últimos 25 anos para captar em que medida os bancos em Portugal alteram as taxas de juro em resposta a uma alteração nas taxas de política monetária. Concluem que a Zona Euro é mais rápida a repercutir os efeitos.
Segundo estimam, um aumento de 100 pontos base nas taxas de política monetária está associado a um aumento de 95 pontos base nas novas taxas de depósito para as empresas e de 59 pontos base para os particulares ao longo de um ano. Quando se consideram ambos os segmentos, refletem-se num aumento médio de 65 pontos base nas novas taxas de depósito ao longo de um ano, o que “compara com uma transmissão ligeiramente mais forte na área do euro de 87 pontos base”.
As economistas concluem ainda que, em Portugal, as mexidas na política monetária se repercutem de forma mais “expressiva” nos depósitos de empresas com prazo até dois anos. Para os depósitos de empresas com prazos mais longos, “a sensibilidade da taxa de juro à política monetária é muito menor“.
Por outro lado, a taxa de juro dos depósitos de particulares é “menos sensível à política monetária”, mas “a maior parte da reação também se concentra nos depósitos com um prazo até dois anos“.
Taxa de juro dos depósitos de particulares é “menos sensível à política monetária”, mas a maior parte da reação concentra-se nos depósitos com um prazo até dois anos.
As autoras recordam que os depósitos são em Portugal o principal instrumento de poupança das famílias e das empresas. Em dezembro de 2023, os depósitos dos particulares representavam 63% do total, enquanto os das empresas representavam 23%.
Durante o período de taxas de juro baixas que marcou a década anterior, a percentagem dos depósitos de particulares diminuiu, atingindo 50% no início de 2022. “Como as taxas de juro dos depósitos foram iguais ou próximas de zero para todos os tipos de depósitos, as famílias tornaram-se indiferentes entre depósitos à ordem ou a prazo”, salientam. No entanto, desde que os juros começaram a subir, “as famílias têm vindo a ajustar-se gradualmente“.
“Embora o total de depósitos dos particulares tenha diminuído ao longo de 2023, refletindo a concorrência de outros instrumentos de poupança, os depósitos a prazo têm vindo a aumentar“, destacam. Exemplo disso é que, enquanto os depósitos totais se reduziram 1,6% desde julho de 2022, os depósitos a prazo aumentaram 7,8%, sobretudo os com prazo acordado entre 1 e 2 anos (38,4%).
Por outro lado, os depósitos das empresas apresentam “uma composição diferente”, já que, em média, apenas um terço dos depósitos são a prazo. Esta percentagem também diminuiu durante as taxas de juros historicamente baixas e em meados de 2022, apenas 12% dos depósitos das empresas tinham prazos acordados. As autoras assinalam, contudo, que desde então, estes depósitos aumentaram acentuadamente e representavam 31% dos depósitos em dezembro de 2023.
O artigo refere ainda que a transmissão da política monetária é “mais forte para os depósitos do que para os empréstimos, durante o período considerado”. Se no caso das empresas, a transmissão é muito semelhante quer para depósitos, quer para empréstimos, no caso das famílias “os bancos são mais rápidos a ajustar as taxas de juro dos empréstimos bancários às famílias do que dos seus depósitos“.
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