BCP vai dar mais dinheiro aos acionistas para afastar investidas de rivais
Miguel Maya já sinalizou que quer dar mais dinheiro aos acionistas. Novo plano estratégico traz um reforço do payout e um programa de recompra de ações. Medidas visam "proteger" o banco de rivais.
O BCP BCP 0,26% deverá anunciar esta quarta-feira um ambicioso plano de distribuição de dinheiro pelos acionistas, num esforço para atrair investidores e compensar a potencial saída da Fosun e Sonangol, “protegendo-se” assim de potenciais investidas de rivais, de acordo com os analistas.
O banco liderado por Miguel Maya vai apresentar lucros na ordem dos 700 milhões de euros relativos aos primeiros nove meses do ano, de acordo com a pool de analistas da Reuters. Mas os investidores vão centrar as atenções no plano estratégico para 2025-2028 que se prepara para divulgar após o fecho da bolsa, e do qual se espera um importante reforço dos dividendos e ainda um programa de recompra de ações.
Os analistas da Keefe, Bruyette & Woods antecipam uma apresentação com “poucos slides”, mas com objetivos de “elevado nível”, incluindo um rácio de payout (% de lucros para dividendos) de 65% — acima dos 30% previstos no atual plano — e ainda recompras de ações num montante de 200 milhões de euros, de acordo com a nota a que o ECO teve acesso.
Para João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, o reforço da remuneração acionista (por via do dividendo e do programa de recompras) pode ser interpretado como “uma estratégia dupla” do banco.
- Por um lado, para “atrair uma base de investidores mais ampla e diversificada, compensando a possível saída de acionistas de referência como a Fosun e a Sonangol”;
- Por outro, “também pode constituir um argumento preventivo para proteger o banco relativamente a potenciais ofertas de concorrentes, tornando-o mais atrativo e sólido perante os investidores, reforçando a trajetória de uma valorização sustentável do seu capital e reforçando a confiança do mercado”.
As afirmações de João Queiroz vão ao encontro do que o próprio Miguel Maya afirmou recentemente. “Se conseguirmos e tivermos condições de remunerar adequadamente os acionistas, é a única forma de protegermos e mantermos o hub. (…) Quando está frágil fica muito mais propício a alguém que olhe para cá”, disse o gestor há três meses.
"Se conseguirmos e tivermos condições de remunerar adequadamente os acionistas, é a única forma de protegermos e mantermos o hub. (…) Quando está frágil fica muito mais propício a alguém que olhe para cá.”
Comprar ou ser comprado
Embora os movimentos em torno da Fosun (que já reduziu a sua participação de 30% para 20%) e Sonangol (que tem em curso um plano de vendas de participações não estratégicas) abram a porta a um novo comprador, o BCP não estará condenado a ser uma parte passiva num mercado de M&A que está a fervilhar na Europa e que terá desenvolvimentos importantes em Portugal no próximo ano, com o lançamento do processo de venda do Novobanco.
O banco do fundo americano Lone Star está a trabalhar com vista a uma entrada em bolsa na primeira metade de 2025, mas não se descarta uma venda direta a um banco ou uma fusão com o BCP, como se tem especulado nos últimos anos a propósito de uma consolidação no mercado nacional.
“A saída dos acionistas de referência do BCP pode abrir espaço para novos investidores ou movimentos estratégicos, como uma fusão ou aquisição”, assume João Queiroz.
“No entanto, o banco, tendo consolidado a sua posição em Portugal e na Polónia, poderia também explorar a oportunidade de adquirir um concorrente doméstico, como o Novobanco, para incrementar a sua quota de mercado e obter sinergias de escala. Isso depende de como o mercado evoluirá e do enquadramento regulatório”, considera o especialista.
Sobre a eventual saída dos chineses e angolanos, Miguel Maya tem desdramatizado o tema com o argumento de que o banco está num processo de “normalização” da sua estrutura acionista, passando para uma base mais dispersa e em linha com os principais bancos europeus.
Polónia a dar dividendos em 2027
Além da remuneração acionista, o plano estratégico deverá trazer novidades em relação ao banco na Polónia. O Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, revelou no início da semana que quer voltar a dar dividendos a partir de 2027, perante o crescimento do negócio. Em cima da mesa está um payout entre 35% e 50%.
O banco polaco tem sofrido vários reveses nos últimos anos, sobretudo com o tema dos empréstimos hipotecários em francos suíços que levou à constituição de imparidades de 1,7 mil milhões de euros, e também com outras questões regulatórias, como a moratória de crédito.
Estes problemas estão a ficar para trás. O banco registou lucros de 127 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, segundo anunciou esta terça-feira. A Keefe, Bruyette & Woods considera que o Bank Millennium está bem posicionado para gerar resultados de mais de 450 milhões de euros numa base recorrente.
“O BCP poderia explorar uma venda parcial ou total dessa operação“, admite João Queiroz. “Apesar de pouco provável, tal cenário permitiria libertar capital, reduzir a exposição a mercados de maior risco e focar-se nos seus negócios principais”, explica.
Bom momento na bolsa
O bom desempenho do banco está refletido na bolsa: as ações estão em máximos de oito anos e a cotarem praticamente em cima do valor contabilístico do banco, com o price-to-book nos 0,97, traduzindo a confiança dos investidores em relação ao futuro.
Desde o início do ano o BCP acumula uma valorização de 54% (depois de ter valorizado 80% em 2023) e apresenta-se com uma capitalização bolsista de 6,4 mil milhões de euros.
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