Fábrica de cartão em Ovar volta a sofrer ”canelada’ em mega negócio internacional
Com uma centena de trabalhadores, a produtora de embalagens de cartão canelado tinha sido comprada pela International Paper quando a DS Smith, que agora é o alvo da operação, adquiriu a Europac.
Cinco anos depois, a centenária fábrica de embalagens de cartão canelado situada na Zona Industrial de Ovar vai voltar a trocar de mãos. E, mais uma vez, por imposição da Comissão Europeia na sequência de um mega negócio a envolver a sua proprietária americana, a International Paper (IP). É um dos compromissos assumidos com Bruxelas para que a IP possa comprar a britânica DS Smith, num acordo avaliado em 7,8 mil milhões de libras (9 mil milhões de euros).
É que esta unidade industrial no distrito de Aveiro, que no final de 2023 contava com 102 trabalhadores e é dirigida ainda por Miguel Costa, tinha sido comprada pela gigante americana quando a DS Smith (que agora é o alvo da operação) avançou para a aquisição da Europac por 1,7 mil milhões de euros.
Nessa altura, no final de 2018, um dos “remédios” negociados com o Executivo comunitário foi precisamente que o grupo britânico – tinha entrado em Portugal dois anos antes com a compra da Gopaca e da P&I Displays – devia desfazer-se desta fábrica.
A antiga Fábrica de Papel do Ave, depois renomeada Europac Cartão Ovar, foi fundada em maio de 1922 e tem atualmente como empresa-mãe a espanhola IP Container Holdings. De acordo com os dados oficiais consultados pelo ECO, a atual International Paper Cartovar, S.A. registou lucros de 4 milhões de euros em 2023 (47% acima do resultado líquido no ano anterior), enquanto o volume de negócios caiu 17%, para 36 milhões de euros.
Instalada na zona industrial de Ovar, onde chegou a ter como vizinha da frente a sede da O2 de Manuel Godinho, empresário de sucatas envolvido no processo Face Oculta, a produtora de embalagens de cartão está a terminar um investimento na descarbonização através do aumento da eficiência do processo de produção de energia térmica.
Com um custo total elegível de 245 mil euros e um apoio financeiro de quase 160 mil euros no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), o investimento foi aprovado em abril de 2023 e tem data de conclusão a 28 de fevereiro deste ano.
Já no anterior quadro comunitário (PT2020), encaixado na ‘gaveta’ do reforço da investigação, desenvolvimento tecnológico e inovação, a International Paper Cartovar tinha beneficiado de dois milhões de euros de fundos públicos num projeto executado entre o início de 2017 e o final de 2018.
Nesse caso, com um custo total elegível de 4,5 milhões, segundo dados da própria empresa, foi instalada uma nova linha produtiva de prancha de cartão e criada outra para a produção de embalagens de cartão “estruturalmente mais complexas”.
O que passa a ter a International Paper em Portugal?
Caso seja mesmo concluído o negócio com a DS Smith, que obrigará a compradora a alienar outras três unidades em França (região de Normandia) e uma em Espanha (Bilbau), a IP ficará com as seis fábricas portuguesas neste segmento de packaging, localizadas em Guilhabreu (Vila do Conde), Esmoriz (Ovar), Águeda, Carregal do Sal, Leiria e Lisboa.
Se não perdesse a histórica fábrica vareira, a operação “[reduziria] a concorrência nos mercados de fabrico e fornecimento de chapa ondulada no norte e oeste de Portugal”, assinala a investigação da Comissão Europeia.
Fora do packaging, a multinacional americana vai ficar com as unidades de reciclagem no Porto e na Figueira da Foz, com o centro logístico da Madeira e, claro, com o “porta-aviões” que é a fábrica de papel kraft em Viana do Castelo.
A antiga Portucel Viana e Europac Kraft Viana, uma das maiores do país, está há apenas seis anos no portefólio da DS Smith, que em 2023 anunciou ali um investimento de 145 milhões de euros, incentivado por benefícios fiscais, para aumentar a capacidade produtiva para 428 mil toneladas e melhorar o desempenho ambiental da fábrica.
A multinacional britânica DS Smith está em processo de aquisição há um ano e conseguiu (oficialmente) duas propostas: a da norte-americana International Paper e da conterrânea Mondi, com quem tinha feito um acordo inicial que avaliava a empresa em 5,14 mil milhões de libras esterlinas (cerca de 6 mil milhões de euros).
As ações da londrina DS Smith fecharam a sessão desta sexta-feira com uma valorização de 1,09% em bolsa para 615 libras esterlinas. Já os títulos da International Paper, que negoceiam em Wall Street, avançavam 2,30% para 59,95 dólares às 18h50 (hora de Lisboa).
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