Empresas mais interessadas na moeda chinesa face a incerteza no mercado obrigacionista dos EUA

  • Lusa
  • 8:00

Dólar mais fraco criou "janela de oportunidade" para a internacionalização do yuan, estando a subir o número de empresas interessadas nesta divisa, indica estudo da Universidade Renmin em Pequim.

As empresas estão cada vez mais interessadas em utilizar a moeda chinesa, o yuan, na liquidação de pagamentos internacionais, segundo os resultados de um inquérito publicados esta terça-feira pelo Instituto Monetário Internacional da Universidade Renmin.

O enfraquecimento do domínio do dólar norte-americano, exacerbado por uma série de políticas da nova administração dos Estados Unidos, criou uma “janela de oportunidade” para a internacionalização do yuan, argumentaram os autores.

As conclusões da Universidade Renmin, que fica no norte de Pequim, sobre a internacionalização do yuan nos últimos trimestres são coerentes: a percentagem de empresas que planeiam aumentar as transações em yuan subiu de cerca de 21,5% no segundo trimestre de 2024 para quase 24% no primeiro trimestre deste ano.

Cerca de 68% das empresas inquiridas afirmaram que estão a utilizar o yuan para liquidações comerciais transfronteiriças, enquanto 53% estavam a utilizar a moeda para transações cambiais.

“A volatilidade crescente no mercado do Tesouro dos EUA marca um ponto de viragem”, afirmou Yang Changjiang, professor de Finanças, salientando que, ao contrário de anteriores situações de turbulência, desta vez o capital global deixou de fluir para os EUA.

Nas últimas duas semanas, registou-se uma venda de obrigações do Tesouro norte-americano, que chegou a fazer subir os juros para títulos com prazo de maturidade a 30 anos em meio ponto percentual, após o Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar “tarifas retaliatórias” contra o resto do mundo.

A guerra comercial com a China — que viu as tarifas dos EUA sobre produtos chineses aumentarem 145% este ano, contra 125% impostos pela China — intensificou as preocupações sobre o impacto da dissociação EUA-China na economia global.

Num documento conhecido como “Acordo de Mar-a-Lago”, Stephen Miran, presidente do Conselho de Conselheiros Económicos da Administração Trump, defendeu um enfraquecimento do dólar norte-americano e a troca de títulos do Tesouro norte-americano de curto prazo por obrigações a 100 anos.

“Costumávamos considerar a liquidação do comércio como o principal motor da internacionalização do yuan, mas agora o foco mudou para a possibilidade de o yuan servir como um ativo de refúgio”, disse Yang. “Esta é uma oportunidade que temos de aproveitar”, apontou.

A segunda maior economia do mundo também registou um aumento das emissões de obrigações denominadas em yuan, conhecidas como obrigações panda. O montante acumulado atingiu 950 mil milhões de yuan (quase 113 mil milhões de euros) em meados de abril, segundo dados do governo.

Apesar da crescente inclinação para utilizar a moeda chinesa além-fronteiras, o alcance dessa utilização continua a ser muito inferior ao do dólar norte-americano.

O yuan continua a ser a quarta moeda de pagamento mais utilizada, com uma quota de 4,13% em março, segundo dados do Swift, o sistema que permite transações interbancárias internacionais. Em comparação, a quota do dólar norte-americano está em 49,08%, de longe a mais alta.

A moeda chinesa representa também apenas 2,18% das reservas mundiais de divisas, em comparação com 57,8% do dólar norte-americano, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

Quando questionados sobre os principais riscos e desafios que rodeiam a utilização do yuan nas transações comerciais, mais de 40% das empresas inquiridas pela Universidade Renmin afirmaram que os seus parceiros comerciais têm relutância em utilizar a moeda.

Alguns inquiridos também apontaram barreiras que impedem um maior papel internacional para o yuan, incluindo questões de convertibilidade, controlos de capitais e a sua vulnerabilidade a influências externas.

Tu Yonghong, vice-diretor do Instituto da Universidade Renmin, afirmou que o sistema monetário mundial irá provavelmente tornar-se mais diversificado, dado o atual panorama mundial, o que beneficiará a utilização da moeda chinesa no estrangeiro.

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