KPMG namora sócios hot shot das maiores firmas de advogados portuguesas
Estratégia passa por contratar sócios hot shot de vários escritórios e não assinar uma integração total com um escritório de advogados, como fez a Deloiite.
Depois do mercado ficar a saber da integração da sociedade de advogados Telles na Deloitte — num negócio que está a ser ultimado e terá efeitos práticos a partir de 1 de janeiro – o ECO/Advocatus sabe que a KPMG anda a fazer diversos contactos junto de alguns dos sócios dos maiores escritórios nacionais do mercado como a Morais Leitão, a PLMJ e a Vieira de Almeida. A estratégia passa por contratar sócios hot shot de vários escritórios – não só de Lisboa, mas também do Porto – e não assinar uma integração total com um escritório de advogados, como a concorrência (Deloitte, PwC e EY) tem feito. “Assim que tenhamos novidades sobre a nossa área de legal, partilhamos”, foi a resposta de fonte oficial da KPMG, deixando no ar que terão novidades em breve.
Na passada semana, o mercado acordou com a notícia de que a Deloitte irá integrar a sociedade de advogados Telles. A novidade foi avançada em primeira mão pelo ECO/Advocatus e, apesar de não serem conhecidos muitos pormenores deste negócio – e ainda não ter sido oficialmente assumido – já se sabe o managing partner será Francisco Espregueira Mendes, atual líder da Telles. E que todos os atuais sócios da Deloitte Legal e da Telles mantêm esse estatuto. Em Lisboa e Porto, a Deloitte Legal conta com 60 advogados e é liderado pela ainda managing partner, Mónica Moreira, enquanto a Telles conta com cerca de 150 advogados e 27 sócios, e uma faturação anual da ordem dos 19 milhões de euros. Nenhum dos escritórios confirmou ainda oficialmente o negócio.
A Ernst & Young (EY), por exemplo, lançou a EY Law em novembro de 2024. Uma firma que consideram “independente” e “parte integrante” da EY Global Law Network. Como sociedade de advogados independente, foi desenhada para apoiar os clientes existentes da rede EY em Portugal e no estrangeiro, e também para atrair novos clientes. A missão é clara: fornecer soluções jurídicas cobrindo áreas chave como M&A, imobiliário, gestão de ativos, private equity, bancário e financeiro, contencioso tributário, energia e infraestruturas, laboral/Segurança Social, proteção de dados e seguros. Inserida numa rede global de advocacia, presente em mais de 90 países, o conselho de administração da EY Law conta com Miguel Farinha como Presidente, Pedro Fugas como Country Tax Leader da EY Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde e vogal do conselho de administração da nova sociedade de advogados. João Nóbrega (JN) também será vogal do CA e managing partner.
Já a PwC Legal nasceu em junho de 2024, com a CCR Legal de Cristina Cabral Ribeiro a designar-se PwC Legal após a integração formal da sociedade de advogados na PwC. Agora, a equipa de advogados opera inteiramente sob a marca PwC Portugal e integrou mais de 50 profissionais à PwC, reforçando as suas práticas de auditoria e serviços legais.
Já no que toca aos escritórios, em dezembro do ano passado, a Morais Leitão anunciou que acaba de adotar o regime da multidisciplinaridade. Ou seja: passou a ter sócios não advogados na sua estrutura. Carlos Eduardo Coelho, diretor de inovação e conhecimento e sócio de indústria, é responsável por liderar os serviços de consultoria e desenvolvimento tecnológico. Assim, o escritório apresenta um novo modelo de negócio, a ML Tech and Knowledge, que complementa os serviços jurídicos prestados em consultoria e desenvolvimento tecnológicos, consultoria de gestão e inteligência artificial. “Este modelo distingue-se pela articulação de quatro fatores-chave: foco no cliente, conhecimento jurídico, inovação e transformação digital e one stop shop com valências diferenciadas”, explicava o escritório, em comunicado.
Semanas depois, foi a vez da PLMJ. Um passo que permite “servir os nossos clientes de forma mais integrada e respondendo a necessidades que estes nos foram trazendo e que, sendo complementares ao que é e sempre será o core da PLMJ – a assessoria jurídica – estamos numa posição privilegiada para responder”, explicou à data Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ. Assim sendo, Alexandra Almeida Ferreira (diretora de marca e comunicação) e Daniela Amaral (diretora de estratégia e desenvolvimento de negócio) foram promovidas a sócias.
Mas em que consiste esta multidisciplinaridade?
Foi a Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro, que veio pôr fim à tradicional proibição das sociedades multidisciplinares com o regime jurídico das associações públicas profissionais através do artigo n.º 27. Esta norma, que foi transposta do artigo 25.º da Diretiva 2006/123 do Parlamento Europeu, ditou que podem ser constituídas sociedades de profissionais que tenham por objeto principal o exercício de profissões organizadas numa única associação pública profissional, em conjunto ou separado com exercício de outras profissões ou atividades, desde que seja respeitado o regime de incompatibilidades. Em Portugal, foi apenas com o novo regime das associações públicas profissionais e pela nova redação do Estatuto da Ordem dos Advogados (EOA), em vigor desde abril de 2024, que as sociedades começaram a poder constituir-se através deste modelo. E desde então as novidades do mercado não param de surgir.
No fundo, as sociedades multidisciplinares são uma associação de várias profissões na mesma empresa/estrutura societária. Em termos práticos, e no caso concreto da advocacia, permite que advogados e, por exemplo, consultores, auditores ou até notários e solicitadores coexistam na mesma firma.
Uma das dúvidas que pairava no ar era como é que as firmas iriam articular os seus serviços com os das consultoras. Mas o resultado tem sido simples e tudo depende do cliente: se quer adjudicar apenas serviços jurídicos ou também outros da consultora. “Articulação total e integração plena. Desde o primeiro dia que esta equipa integrou a PwC com o espírito de sermos mais um”, assume Cristina Cabral Ribeiro, que desvenda que os serviços são integrados em pacotes multidisciplinares.
Também na Deloitte Legal existe a cultura de colaboração com as diferentes áreas da consultora, “cada vez mais alargada” e que se “fortalece” com a experiência e a participação em projetos conjuntos e em ofertas multidisciplinares.
“Os projetos nascem muitas vezes dos pedidos dos próprios clientes, que envolvem necessariamente diferentes competências e que levam assim à articulação de diversas áreas, em função do projeto concreto. O importante é saber identificar a necessidade do cliente, perceber os diferentes ângulos e envolver os profissionais adequados numa resposta que é, de facto, diferente”, assume Mónica Moreira, em entrevista dada à Advocatus há uns meses, antes de ser conhecido o negócio com a Telles.
A ainda managing partner da Deloitte Legal garante que o facto de se apresentarem ao mercado em associação com a Deloitte Portugal não coloca em causa a sua independência e o respeito pelos deveres deontológicos enquanto advogados. “Nesse sentido, os nossos serviços são sempre independentes. Mas podemos apresentar propostas e participar em projetos em conjunto com a Deloitte Portugal e também em ofertas multidisciplinares, o que depende do tipo de assessoria e do interesse do cliente”, assegura.
Segredo profissional e conflito de interesses estão salvaguardados
Tanto o segredo profissional como a gestão de conflito de interesses estão salvaguardados nas firmas, independentemente do modelo multidisciplinar. “Os nossos clientes podem confiar que a sua informação e dados sensíveis estão absolutamente segregados, a todos os níveis, incluindo em temas de sistemas informáticos. A PwC contava já com outras valências na área de M&A e Mercado de Capitais, por exemplo, em que a exigência de sigilo já era mandatória, pelo que o acolhimento da prática legal não implicou qualquer mudança cultural na firma”, assegura a legal lead partner.
Segundo Cristina Cabral Ribeiro, no que diz respeito aos conflitos de interesse, a PwC possui um sistema de verificação mundial, o qual é um dos “pilares” da relação de confiança que têm com os clientes.
Já João Ricardo Nóbrega acredita que o futuro da advocacia em Portugal será moldado pelas necessidades dos clientes e pela “evolução natural” do setor. “Naturalmente que o modelo tradicional, fortemente enraizado, continuará a ter um papel relevante, mas a procura por soluções mais integradas e eficientes poderá impulsionar o crescimento de sociedades multidisciplinares que combinem independência jurídica com acesso a uma plataforma de conhecimento e especialização de outros setores”, assume.
O líder da EY Law considera ainda que é “difícil” e “prematuro” afirmar se a multidisciplinaridade se tornará dominante, mas, independentemente da trajetória que o mercado seguir, o mais importante é garantir que qualquer evolução “preserve a independência da advocacia, o segredo profissional e a confiança dos clientes”. “A flexibilidade e a capacidade de adaptação serão essenciais para o sucesso no setor jurídico do futuro”, acrescenta.
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