Zona Euro vai crescer 1,3% este ano. Gastos com a defesa vão pressionar défices

Bruxelas antecipa “um mercado de trabalho resiliente”, com o consequente “aumento do poder de compra”, e “condições de financiamento favoráveis” que deverão apoiar um crescimento económico moderado.

ECO Fast
  • A Comissão Europeia prevê que a Zona Euro cresça 1,3% este ano, sustentada por exportações acima do esperado, consumo privado resiliente e um mercado de trabalho robusto. Para 2026 está previsto um abrandamento para 1,2%. A inflação deverá estabilizar perto de 2%, desacelerando para 1,9% em 2026.
  • A União Europeia enfrenta défices públicos crescentes devido ao aumento das despesas com defesa e juros, com casos mais críticos como o de França, onde o desequilíbrio das contas públicas vai chegar aos 5,5% do PIB.
  • Bruxelas alerta para um cenário externo volátil marcado por tensões geopolíticas e mudanças comerciais dos EUA, defendendo que a Europa precisa de reforçar a competitividade e acelerar reformas para sustentar o crescimento perante riscos persistentes.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

A Zona Euro deverá crescer 1,3% este ano, desacelerando para 1,2% em 2026, e a inflação vai manter a sua trajetória de abrandamento, assim com o desemprego e os gastos com a defesa vão pressionar os défices com especial destaque para França, onde o desequilíbrio das contas públicas vai chegar aos 5,5% do PIB.

As previsões de outono da Comissão, publicadas esta segunda-feira, mostram que o crescimento nos primeiros três trimestres deste ano “superou as expectativas”. “Embora o forte desempenho tenha sido inicialmente impulsionado por um aumento das exportações em antecipação de aumentos das tarifas, a economia da UE continuou a crescer no terceiro trimestre”, lê-se no documento.

Apesar do contexto externo desafiante, a Comissão está otimista e prevê que a atividade económica “continue a expandir-se a um ritmo moderado ao longo do horizonte de previsão”. Assim, os 1,3% de crescimento deste ano, deverão abrandar para 1,2% no próximo ano, e voltar a progredir para 1,4% em 2027. Destaque para o crescimento de 10,7% da Irlanda, graças ao domínio das multinacionais no país.

O consumo privado continuou a crescer apesar da “fragilidade da confiança dos consumidores no primeiro semestre”, diz a Comissão. “O rendimento disponível real das famílias continuou a aumentar no primeiro semestre do ano, mas, com a deterioração da confiança dos consumidores, grande parte deste rendimento adicional foi para poupanças. Assim, a taxa de poupança das famílias aumentou para 14,7% no primeiro trimestre e 15% no segundo, na União Europeia. O consumo privado deverá continuar a suportar o crescimento até 2027 e é esperado que o “consumo público perca gás, com o desacelerar dos salários da Função Pública e dos consumos intermédios”.

Bruxelas antecipa “um mercado de trabalho resiliente”, com o consequente “aumento do poder de compra”, e “condições de financiamento favoráveis” que deverão apoiar um crescimento económico moderado. Além disso, o Mecanismo de Recuperação e Resiliência e outros fundos da UE “estão a atenuar o efeito da consolidação orçamental em vários Estados-membros. Os países estão a adotar várias medidas para garantir a sua aplicação até 31 de agosto de 2026 e, apesar de a bazuca ser um instrumento temporário, o seu “impacto macroeconómico deverá prolongar-se para além da sua conclusão”. Isto, sobretudo porque através dos instrumentos financeiros, alguns investimentos poderão ser executados “depois e 2026”.

O investimento deverá recuperar o ímpeto, impulsionado principalmente pela construção não residencial e pelas despesas de capital em equipamento.

A inflação na Zona Euro deverá manter-se em torno da meta de 2% do BCE ao longo do horizonte de previsão. Este ano a estimativa é de 2,1%, desacelerando para 1,9% em 2026 e regressando aos 2% em 2027. “Esta estabilidade geral mascara tendências variáveis entre os componentes da inflação”, alerta a Comissão. “A inflação nos serviços e nos preços dos alimentos deverá enfraquecer gradualmente à medida que o crescimento dos salários abranda e as pressões na cadeia de produção alimentar diminuem. Por outro lado, embora se preveja que a inflação na energia se mantenha negativa em 2025 e 2026, prevê-se que se torne gradualmente e se torne positiva em 2027, se o novo Sistema de Comércio de Licenças de Emissão da UE entrar em vigor, conforme atualmente legislado”, lê-se no relatório.

Em termos de contas públicas, a Comissão antecipa que o défice das administrações públicas da UE aumente de 3,1% do PIB em 2024 para 3,3% em 2025 e 2026 e 3,4% em 2027, num cenário de políticas invariantes. Na Zona Euro, o défice deverá aumentar de 3,1% do PIB em 2024 para 3,2% este ano, 3,3% em 2026 e 3,4% em 2027. Este aumento deve-se ao aumento das despesas com a defesa na UE (de 1,5% do PIB em 2024 para 2% em 2027), juntamente com o crescimento contínuo das despesas com juros e algumas quebras de receitas. No entanto, os planos de ajustamento orçamental em vários Estados-membros deverão de alguma forma compensar estes fatores que aumentam os défices.

“Incerteza continuará a ser marcante”

As previsões divulgadas esta segunda-feira traduzem um ligeiro otimismo face às divulgadas em maio, na altura, as primeiras após o anúncio da Administração Trump de ‘guerra’ tarifária. No entanto, o comissário europeu da Economia, Valdis Dombrovskis, alertou que a incerteza continuará a pairar no ar nos próximos anos, pelo que a Europa deverá aumentar a sua competitividade.

Esta previsão está envolta em significativa incerteza, e o caminho está repleto de potenciais obstáculos. Se há algo certo, é que a incerteza continuará a ser uma característica marcante nos próximos anos“, disse Dombrovskis durante a conferência de imprensa de apresentação das previsões económicas.

O responsável do executivo comunitário salientou que o contexto internacional irá continuar a ser desafiante, o que significa, argumenta, que é preciso “procurar fatores internos para impulsionar o crescimento”. “Isto significa redobrar os nossos esforços para reforçar a nossa competitividade e desbloquear todo o potencial de crescimento da Europa. A mensagem é clara: temos de agir e temos de agir agora“, defendeu.

No relatório, a Comissão destaca que, desde as previsões de primavera, o “panorama do comércio global continuou a evoluir, fortemente influenciado por alterações na política comercial dos Estados Unidos e pelas medidas de resposta de outros países”.

“Entretanto, as tensões geopolíticas mantêm-se elevadas, evidenciadas pela prolongada guerra da Rússia contra a Ucrânia e por ameaças a outros países, enquanto o plano de paz para Gaza, de outubro, oferece um vislumbre de esperança para a estabilidade regional no Médio Oriente”, aponta.

(Notícia atualizada às 11h16)

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