Em entrevista ao ECO, a diretora de marketing da Cabify, Catarina Cabral, garante que precariedade é um problema que "não existe" na Cabify. Número de carros a circular tem vindo a aumentar.
Prestes a completar um ano no mercado português, a Cabify mantém uma presença discreta mas forte em Lisboa e no Porto. A startup espanhola é uma das plataformas eletrónicas de transporte que esteve no centro da polémica com os taxistas, que se queixam de concorrência desleal. Não tão mediática como a concorrente Uber, mas igualmente eficaz no objetivo de transportar passageiros do ponto A ao ponto B.
O ECO entrevistou Catarina Cabral, responsável pela comunicação da empresa no país. A diretora de marketing da Cabify Portugal revelou que a frota ao serviço da empresa terá crescido 10% “nos últimos meses”, nega que exista precariedade na plataforma e não excluiu um futuro em que se possa chamar um táxi através da aplicação, à semelhança do que acontece em Espanha.
Qual é o balanço que faz do estado do setor das plataformas eletrónicas em Portugal?
Quando lançámos a Cabify em Portugal, em maio de 2016, fomos reconhecidos dentro da empresa como a melhor abertura de cidade de sempre em toda a Cabify. Ou seja, com o maior número e downloads, de menções nos jornais. Isto significa que o público português é muito recetivo a este tipo de plataformas, que quer novas alternativas e experimentar novos serviços. É um público que está muito aberto à inovação tecnológica e isso é um bom sinal. Tanto para nós como para todos os outros players do mercado.
Continua a haver mercado para explorar em Lisboa?
Há bastante mercado para explorar. Principalmente para nós, que somos uma marca relativamente jovem. Ainda há bastante mercado para explorar e também novas formas facilitar a mobilidade nas cidades.
Na Uber, alguns motoristas queixam-se de que há um mercado muito saturado, principalmente em Lisboa. Isso acontece na Cabify? Quantos carros têm a circular?
Adaptamos sempre o nosso crescimento ao crescimento dos nossos utilizadores, isto para assegurar que os carros estão sempre em movimento e que não têm períodos mortos. Isso para nós é importante. O nosso crescimento está sempre consolidado com o crescimento da procura que existe da Cabify.
Adaptamos o nosso crescimento ao crescimento dos nossos utilizadores, para assegurar que os carros estão sempre em movimento.
Qual é o número de carros a circular aqui em Lisboa?
São dados sensíveis que não podemos dar.
Fazem um contingente interno? Limitam o acesso à atividade de motorista da Cabify?
A Cabify trabalha apenas com empresas que já têm frota, que trabalham no setor, algumas há décadas. Logo aí já existe um certo controlo daquilo que é a frota. E os nossos departamentos de operações e de qualidade trabalham também no sentido de assegurar que existe uma cobertura de toda a cidade, mas que também está de acordo com o nosso número de utilizadores e com a nossa procura.
Têm empresas parceiras, mas também não é qualquer pessoa que pode abrir uma empresa ou praticar a atividade sozinha. Por exemplo, imaginemos que eu quero agora ter um carro na Cabify — posso?
Não. Existem regras que têm de ser cumpridas e os parceiros que trabalham connosco fazem na seleção dos motoristas. Os motoristas têm testes psicotécnicos, fazem exames toxicológicos, têm de ter o registo criminal atualizado. E nós também auxiliamos os parceiros neste controlo. Mas obviamente que isso está a cargo do parceiro que trabalha connosco. E temos de garantir que o parceiro cumpre esses requisitos para poder trabalhar connosco.
Qual é a sua opinião sobre a proposta de lei do Governo para regular o setor?
Estamos interessados em acompanhar a evolução desta discussão no Paramento. Mas até termos alguma coisa concreta, acho que seria só especular sobre um assunto e não queremos pronunciar-nos sobre isso.
Nem sobre a proposta do Governo que já é pública? Por exemplo, a questão da contingentação?
Existe muito ruído à volta desse assunto, na verdade. E nós também não queremos estar a contribuir para esse ruído neste momento. Achamos que é um momento em que se está ainda a discutir muita coisa e não há nada 100% definitivo. Até lá, não queremos pronunciar-nos sobre isso.
Quando se fala de polémicas, acaba por ser mais Uber vs. Taxistas e não tanto Cabify vs. Taxistas. Isso é o resultado da vossa cultura empresarial ou é porque são menos conhecidos?
Existem aqui dois fatores. Obviamente que a concorrência que existe já existe há muito mais tempo. Foi provavelmente quem veio fazer a primeira disrupção e obviamente que o nome é muito mais conhecido por causa disso. No entanto, a Cabify também tem um posicionamento de tentar incluir todos os que quiserem trabalhar connosco e isso também incluiria os táxis. É algo que já temos em Espanha. Na Cabify, em Espanha, temos a possibilidade de se chamar um táxi através da nossa app. A nós não nos interessa excluir quem quer que seja, ou criar fricções com outros players.
Não excluem por exemplo, no futuro, poder-se chamar um táxi através da Cabify?
Não. É algo que poderia ser possível e até ideal, à semelhança do que já foi feito noutros países.
A Cabify tem um posicionamento de tentar incluir todos os que quiserem trabalhar connosco e isso também incluiria os táxis.. Na Cabify de Espanha nós temos a possibilidade de se chamar um táxi.
Como é que a vossa empresa se diferencia dos demais players?
As principais vantagens da Cabify são, primeiro, na forma como definimos o preço das viagens. O nosso preço é calculado apenas ao quilómetro e não tem o fator tempo incluído nesse cálculo. Quando a pessoa chama o carro já sabe quanto é que vai pagar ao certo. Somos muito competitivos na altura das horas de ponta, em que há mais procura.
Outra questão é o fator humano que está associado à Cabify. Temos uma equipa que trabalha todos os dias por turnos para cuidar do atendimento ao cliente e do atendimento ao motorista e ao parceiro. Há sempre uma pessoa do outro lado do computador ou ao telefone que pode ajudar, em qualquer horário. É uma equipa que foi formada cá e já tem à volta de dez pessoas. Por fim, o posicionamento corporate: nascemos como uma empresa de mobilidade para dar serviço às empresas, isto porque permitimos ter uma plataforma personalizável de acordo com as necessidades. A empresa pode criar uma conta sem qualquer tipo de custo para gerir tudo o que é a mobilidade dos colaboradores.
Não têm tarifas dinâmicas. Pensam alguma vez vir a ter?
Não é algo que esteja nos nossos planos a longo prazo — para Portugal, pelo menos.
Como é que se estão a preparar para a regulamentação do setor?
Neste momento estamos apenas a acompanhar aquilo que acontece. No entanto, a Cabify procura sempre destacar-se por operar de acordo com as regras de cada cidade onde está implementada e, independentemente daquilo que vá acontecer, obviamente que se vai adaptar àquilo que seja necessário.
Os tempos de espera da Cabify têm vindo a reduzir-se. Significa que há mais carros a circular?
Significa que há mais carros a circular, sim.
E podem revelar esse aumento? Em percentagem, pelo menos?
Talvez nos últimos meses a frota tenha crescido 10%.
Há precariedade na Cabify?
Isso é uma questão que, para nós, não faz sentido sequer respondermos porque tudo depende dos parceiros. Mas obviamente que asseguramos que não existe esse tipo de problema.
Nem nos parceiros?
Nem nos parceiros…
Os motoristas, apesar de trabalharem para outras empresas, são motoristas da Cabify. Ou não veem isso desta forma?
É uma questão que tem de ser tratada com as pessoas que trabalham connosco. Não temos autoridade sequer para nos pronunciarmos sobre isso.
Preocupa-vos essa questão?
Sim, obviamente que a Cabify se preocupa com o bem-estar, não só dos clientes como dos motoristas que trabalham connosco. Isso é certo.
Talvez nos últimos meses a frota tenha crescido 10%.
A PSP tem instruções para multar motoristas da Uber [e Cabify]. Têm registo de motoristas que tenham sido autuados no âmbito desta lei?
Isso é algo que também tem de ser endereçado aos parceiros que trabalham connosco. Não temos autoridade sequer para falar sobre aquilo que foi feito com as empresas que trabalham connosco.
A Cabify Portugal vai ter novidades em breve?
Revelar não posso, mas o objetivo da Cabify nos próximos tempos será, possivelmente, lançar novas categorias de serviços que as pessoas podem usufruir para facilitar ainda mais a mobilidade nas cidades.
Por exemplo, um carpooling [serviço de boleias partilhadas]?
Não sei. Não posso avançar. [risos]
Quais são os vossos objetivos para 2016? Têm metas? O que querem para este ano?
Neste momento a Cabify está em Lisboa e está no Porto. Um dos nossos principais objetivos, que não é só a angariação de novos utilizadores, é a fidelização de utilizadores. Já contamos com uma base de dados com mais de 30.000 utilizadores registados na plataforma em Portugal e queremos fazer crescer essa base de dados.
E expandir para novas cidades?
Provavelmente expandir para novas cidades, sim. Se fizer sentido este ano.
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Precariedade na Cabify? “Asseguramos que não existe”
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