BE: Altice está a utilizar a lei como “enorme engodo”
Catarina Martins acusou a Altice de usar a lei para "despedir", "baixar salários" e "precarizar trabalhadores". Em causa está a transferência de mais de 100 trabalhadores para outras empresas.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, criticou hoje a Altice, grupo que detém a PT Portugal, por esta “estar a despedir, a baixar salários e a precarizar trabalhadores” utilizando a lei como “um enorme engodo”.
“Estão a tentar fazer despedimentos utilizando transferências e a externalização de serviços para outras empresas do próprio grupo Altice. Isto é um enorme engodo. Utilizar a lei, que foi feita para outras circunstâncias, para o mesmo grupo económico conseguir despedir trabalhadores, baixar salários e precarizar trabalhadores, não se admite”, disse Catarina Martins à Lusa na concentração que juntou hoje no Porto cerca de 300 trabalhadores da PT Portugal.
Em causa está o facto de, a 30 de junho, a PT Portugal ter anunciado internamente que iria transferir 118 trabalhadores para empresas do grupo Altice e Visabeira, esta última parceira histórica da operadora de telecomunicações, cujo processo estará concluído no final deste mês. Antes, no início do mês passado, a operadora tinha anunciado a transferência de 37 trabalhadores da área informática da PT Portugal para a Winprovit.
"A Altice não pode achar que isto é uma república das bananas. Não pode achar que pode utilizar expedientes para despedir trabalhadores ou precarizar trabalhadores. E faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para os travar.”
Depois destas notícias, a 5 de julho, os sindicatos afetos à PT Portugal anunciaram também a convocação de uma greve geral para dia 21 contra a transferência de trabalhadores para outras empresas do grupo Altice e parceiros.
A líder do Bloco de Esquerda defendeu que “o Estado tem a capacidade de impedir que estes expedientes sejam utilizados” porque, disse, “não foi para fazer despedimentos coletivos ou para precarizar trabalhadores que se criaram as legislações sobre transmissão de estabelecimentos e sobre externalização de serviços”. “Portanto, achamos que o Estado tem a obrigação de intervir e quanto a isso estamos a aguardar resposta”, referiu.
Catarina Martins contou ter obtido informações de que alguns trabalhadores em greve estão a ser substituídos ilegalmente, razão pela qual, avançou, o deputado bloquista José Soeiro “está a contactar a Autoridade para as Condições de Trabalho para saber o que se está a passar de forma a travar a substituição ilegal de trabalhadores”.
“A Altice não pode achar que isto é uma república das bananas. Não pode achar que pode utilizar expedientes para despedir trabalhadores ou precarizar trabalhadores. E faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para os travar”, resumiu Catarina Martins, sublinhando que “a luta de cada um dos trabalhadores é essencial”.
“Estão a lutar não só pelo seu posto de trabalho, direitos e salário, mas estão a lutar pela própria empresa. Se isto acontecer é a PT que desaparece e a PT é uma empresa estratégica do ponto de vista da economia portuguesa”, concluiu a coordenadora do Bloco de Esquerda.
“A luta continua na empresa e na rua”
Cerca de 300 trabalhadores da PT Portugal concentraram-se hoje em frente às instalações da empresa no Porto, apelando ao Governo para que impeça a administração de levar a cabo transferências e rescisões de contratos de trabalho.
“A luta continua na empresa e na rua” – foi uma das frases mais entoadas pelos trabalhadores que empunhavam placas e faixas com mensagens como “O Governo tem de agir! Defender esta empresa é estratégia nacional” ou “Não à destruição da PT e postos de trabalho. O Governo tem de intervir já!”.
Em declarações à agência Lusa, o representante da Comissão de Trabalhadores (CT), Francisco Gonçalves, disse estimar que existam neste momento cerca de 100 trabalhadores a cumprir funções temporárias e 200 sem funções, enquanto 155 estão “em transição” para outras empresas. “E os restantes estão com o coração nas mãos”, resumiu Francisco Gonçalves, pedindo à administração para que “pense no que está a fazer”.
“E se a administração não repensar, terá de ser o Governo a fazer alguma coisa. É importante valorizar a PT e os trabalhadores da PT. São os melhores trabalhadores das telecomunicações em Portugal, são dos melhores trabalhadores de telecomunicações que há no mundo todo. Medidas erradas de gestão não podem pôr em causa o futuro desta empresa e a qualidade desta empresa”, referiu o representante da CT.
Francisco Gonçalves apontou que o universo PT ronda os 9.000 trabalhadores no ativo e 3.500 não no ativo (pré-reformas e suspensões).
Depois desta concentração, repetir-se-á uma ação semelhante nas quarta-feira, em Lisboa, e serão enviadas cartas ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e aos partidos políticos com assento na Assembleia da República.
(Notícia atualizada às 15h52 com as reações dos trabalhadores)
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