Hoje é o Super Sábado. Isto é o que tem de acontecer para haver Brexit
A hipótese de Boris Johnson conseguir concretizar um Brexit com acordo dependerá dos deputados "rebeldes", tanto do seu próprio partido como dos trabalhistas.
O Parlamento britânico vai reunir a um sábado pela primeira vez em 37 anos. A razão? Levar a votos o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia, um processo que já se arrasta há três anos e pode finalmente dar o passo em frente. Mas é preciso que os deputados britânicos aprovem o acordo, algo que Theresa May tentou fazer três vezes e não conseguiu.
Com início esta manhã, a reunião para debater e votar o acordo que Boris Johnson apresenta foi apelidada de Super Sábado pela oposição. Foram quatro as outras vezes em que uma reunião neste dia aconteceu: em 1939, no irromper da Segunda Guerra Mundial, em 1949 para a última sessão do verão, em 1956 durante a crise do Suez e em 1982 devido à invasão das ilhas Falkland.
Desta vez a questão central vai ser o Brexit. Para além da aproximação de 31 de outubro, a data oficial de saída, a urgência prende-se também com uma lei, aprovada pelos deputados no mês passado, que determina que se não houver um acordo até 19 de outubro, o primeiro-ministro tem de pedir um adiamento da saída por três meses.
Boris Johnson rejeitou sempre esta ideia, reiterando que a saída ia acontecer dia 31 de outubro, com ou sem acordo. O primeiro-ministro britânico chegou mesmo a dizer que “preferia estar morto numa vala” a pedir um adiamento. Mas nesta semana, o ministro para o Brexit, Stephen Barclay, garantiu que o Governo iria cumprir a lei que exige um pedido de extensão do Brexit para 31 de janeiro do próximo ano.
Ora, para evitar ter de pedir este adiamento e conseguir avançar com uma saída com acordo, Boris Johnson precisa de 320 votos a favor. Há 650 lugares no Parlamento, mas 11 não são votantes. A dúvida permanece em relação a se vai conseguir ter apoio suficiente, sendo que é mais fácil saber com quem não pode contar.
O Partido Democrático Unionista da Irlanda do Norte (DUP), uma das peças chave da equação, já que a questão da fronteira das Irlandas foi um dos maiores entraves nas negociações, já revelou que se irá opor ao acordo. Os unionistas, que têm dez deputados, ficam assim de fora dos votos a favor do acordo que dizem “passar por cima da santidade do acordo de Belfast”.
A maioria da oposição também não vai alinhar com Johnson. O Partido Nacional Escocês, o Partido do País de Gales, o partido dos Verdes e o Change UK, que juntos têm 45 deputados, deverão votar contra o acordo. Os líderes dos liberais democratas e dos trabalhistas, Jo Swinson e Jeremy Corbyn, sinalizaram ambos que não vão apoiar o acordo proposto, mas entre os deputados destes partidos poderá haver surpresas.
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Os liberais democratas, no total 19, deverão opor-se em peso ao acordo. Já entre os trabalhistas, que são 244, há deputados que sinalizaram vontade de apoiar o texto, nomeadamente alguns que votaram favoravelmente o acordo de May. O partido deverá impor disciplina de voto, que dita que terão de votar contra, no entanto alguns deputados poderão quebrá-la. As consequências por desrespeitar a disciplina variam.
E o partido de Boris Johnson? Os conservadores não têm maioria, totalizando os 288 deputados. E nem todos são um ‘sim’ assegurado, já que alguns têm visões diferentes do que deve ser o Brexit. Os “espartanos”, 28 deles conservadores que defendem um Brexit mais agressivo, votaram já contra o acordo apresentado por May e poderão agora repetir a rejeição.
Há ainda os independentes, sendo que 21 deles são deputados Tory que foram expulsos por Boris Johnson depois de apoiarem a lei que obriga o primeiro-ministro a pedir uma extensão do Brexit se não houver acordo. Ainda não é certo qual será a orientação de voto destes deputados.
A hipótese de Boris Johnson conseguir entregar o Brexit com acordo depende assim dos “rebeldes”, tanto do seu próprio partido como dos trabalhistas, e dos independentes. A votação será renhida, e se acabar mesmo por ficar empatada, caberá ao speaker, John Bercow, realizar a votação decisiva.
Quando May levou o seu acordo ao Parlamento pela primeira vez perdeu por 230 votos, ao obter 432 votos contra. Cerca de dois meses depois voltou a tentar, e dessa vez a diferença reduziu-se, com 391 deputados a votar contra e 242 a favor. A tendência manteve-se e, à terceira tentativa, o resultado foi ainda mais aproximado, mas continuou a não ser suficiente: 344 opuseram-se ao acordo firmado por May.
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