Quatro anos depois, Banco CTT deixa de perder dinheiro. Lucros já em 2020
Lançado em 2016, o banco postal atingiu pela primeira vez o break even operacional no último trimestre, dentro do prazo previsto. "É um marco para o Banco CTT", assinala o CEO do grupo, João Bento.
Lançado há quatro anos, o Banco CTT começa agora a ver a luz ao fundo do túnel. O chamado banco postal atingiu pela primeira vez o break even operacional, um feito alcançado nos primeiros nove meses do ano. Isto quer dizer que a operação já consegue gerar tantas ou mais receitas do que as despesas de operação que representa. “É um marco para nós”, assinala o atual presidente do grupo CTT, João Bento. Só que ainda não dá lucro. Isto só vai acontecer no próximo ano.
A boa notícia veio com os resultados do terceiro trimestre que os CTT CTT 0,00% apresentaram na semana passada. O banco lançado ainda na era Francisco Lacerda chegou a setembro com um EBITDA — resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações — de 300 mil euros. Inédito. Foi uma melhoria significativa face aos nove milhões de prejuízos operacionais registados no mesmo período do ano passado. Ajudou neste desempenho sobretudo a aquisição da 321 Crédito, uma instituição financeira especializada no crédito ao consumo e que os CTT compraram, este ano, por 100 milhões de euros, que veio acelerar o negócio bancário de um grupo que até há pouco tempo estava mais habituado a distribuir cartas e encomendas.
“O último trimestre foi um marco para o banco. O banco atingiu o break even operacional cerca de quatro anos depois do lançamento. É um grande trimestre para nós, tendo em conta o sucesso da integração da 321 Crédito”, assinalou João Bento, presidente executivo dos CTT desde maio, na conferência de resultados com os analistas. “Foi um trimestre muito bom para o banco e um marco para o banco”.
Banco atinge breakeven pela primeira vez
Fonte: CTT. Dados 2019 relativos até setembro.
Foi a primeira vez que o Banco CTT, liderado por Luís Pereira Coutinho, conseguiu apurar um EBITDA positivo — estava previsto o banco atingir o break even este ano, ou seja, “verificou-se a antecipação de um trimestre na concretização desta meta”, diz fonte oficial da instituição financeira ao ECO. Contudo, o banco ainda não consegue gerar resultados líquidos positivos — afinal, os 300 mil euros de resultado operacional não contabilizam os encargos que o banco teve com juros, impostos, depreciações e amortizações. Os CTT não revelaram o resultado líquido do banco nos primeiros nove meses do ano, mas mostraram que o EBIT — o resultado apurado depois de contabilizadas as depreciações e amortizações — ficou em terreno negativo: prejuízo de 5,9 milhões de euros. Ainda falta pagar impostos e juros, pelo que o prejuízo líquido será maior.
Os lucros só chegarão no próximo ano. “A divulgação ao mercado no início deste ano, e que mantemos, é que o banco tem como objetivo apresentar lucros em 2020”, disse fonte oficial da instituição ao ECO.
Feitas as contas, o Banco CTT, lançado há quatro anos para contrariar a queda do tradicional negócio postal do grupo e aproveitando a rede de lojas dos Correios, teve prejuízos líquidos acumulados de 60 milhões de euros até ao final de 2018.
A dimensão das perdas obrigou os CTT a injetar dinheiro na instituição financeira por várias ocasiões. Quando foi lançado, em 18 de março de 2016, o Banco CTT começou com um capital de 34 milhões de euros. Chega aos dias de hoje com um capital de 266,4 milhões de euros, isto depois de meia dúzia de aumentos realizados entretanto, totalizando os 230 milhões de euros.
Uma parte deste dinheiro financiou aquisições do banco — algo que estava previsto desde o início. Por exemplo, o último aumento de capital aconteceu no dia 26 de abril deste: injetou 110 milhões de euros com a finalidade, neste caso, de aquisição da 321 Crédito. Um outro aumento de capital de 6,4 milhões de euros, no início do ano passado, serviu para transferir a rede de pagamentos Payshop dos CTT para o banco.
Evolução do capital do Banco CTT
Fonte: CTT
Estas duas operações vieram dar músculo ao Banco CTT, que se viu altamente pressionado — como os outros bancos — com a descida dos juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) a condicionar a margem financeira — que resulta da diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos.
Com a integração da 321 Crédito, o Banco CTT incorporou uma carteira de empréstimos ao consumo de mais de 400 milhões de euros, que vieram dar “utilidade” aos depósitos dos clientes. Após a aquisição, o rácio de transformação passou de 17% para 69%, “um impacto significativo”, como reconheceu João Bento.
O banco apresenta uma carteira de crédito total no valor de 900 milhões de euros. Já os depósitos de clientes ascendem a 1,16 mil milhões de euros. Atualmente, o banco tem cerca de 438 mil contas à ordem. João Bento disse aos analistas que a instituição tem mantido uma “firme aquisição de clientes” na ordem dos dez mil por mês, “com predominância de jovens clientes digitais, o que é uma boa notícia”.
Foi isto que fonte oficial do Banco CTT também sublinhou ao ECO: “O ritmo consistente de abertura de contas, uma vez que todos os dias mais de 500 clientes aderem ao banco”, com “uma forte penetração de millennials, com a base de clientes a ter uma proporção de millennials muito acima da média do mercado”.
Os CTT estão em profunda reestruturação perante a quebra acentuada do tradicional negócio postal. São sobretudo duas as alavancas de crescimento que o grupo está a apostar: Expresso e Encomendas e Banco CTT. Os Correios fecharam os primeiros nove meses do ano com lucros de quase 23 milhões de euros, o dobro do que tinha alcançado há um ano.
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