“Não lançámos AppCoins para especulação”, diz cofundador da criptomoeda portuguesa
Três anos depois de lançar a criptomoeda AppCoins, Álvaro Pinto, em entrevista ao ECO, faz um balanço do desenvolvimento do projeto e comenta o impacto da euforia das criptomoedas na sua iniciativa.
O cofundador da criptomoeda portuguesa AppCoins acredita que a euforia em torno dos ativos virtuais é positiva para o seu projeto, e que o “valoriza”. Numa entrevista ao ECO, três anos depois de lançar a iniciativa, Álvaro Pinto defende que investimentos como o da Tesla em bitcoin permitem “que o mercado mexa e que o mundo perceba que é tecnologia que faz sentido para mais projetos”.
Foi em novembro de 2017, em pleno boom das criptomoedas, que a empresa de ADN português Aptoide anunciou a intenção de lançar uma moeda digital. O objetivo era criar um “ecossistema” com maiores margens financeiras para os programadores de aplicações móveis, assente numa moeda virtual para compras e pagamentos no interior dessas mesmas aplicações.
As primeiras AppCoins foram então vendidas no Web Summit de 2017, com um valor base de 10 cêntimos de dólar, a desconto para os participantes da feira de tecnologia, num processo então conhecido por ICO (Initial Coin Offering), popular nessa altura. A oferta serviu para angariar capital para o desenvolvimento desse “ecossistema” e as criptomoedas começaram a ser transacionadas em algumas corretoras de criptoativos em janeiro desse ano.
Ao chegarem ao mercado, o apetite dos investidores fez o preço das AppCoins disparar para perto de 4 dólares, um potencial de valorização de cerca de 3.900%. A criptomoeda portuguesa chegou mesmo a atingir um valor de mercado de várias centenas de milhões de dólares, sendo então considerada uma da 50 criptomoedas mais valiosas do mundo.
Mas tudo o que sobe tanto também desce, gerando potenciais perdas avultadas para os especuladores que adquiriram os tokens no pico. Pouco mais de três anos depois, as AppCoins voltaram ao patamar inicial e estão a cotar a 0,11 dólares, havendo pouco mais de 245 milhões de unidades em circulação. A moeda ocupa agora o 649.º lugar entre as criptomoedas acompanhadas pelo site CoinMarketCap.
“Estas flutuações de mercado não são um exclusivo das AppCoins. É um fenómeno das criptomoedas em geral. Foi um fenómeno [em 2018] e hoje estamos a assistir outra vez a uma nova vaga”, justifica Álvaro Pinto ao ECO, salientando que o preço atual está, aproximadamente, em linha com o preço a que as moedas foram vendidas aos participantes do Web Summit em 2017. No entanto, reforça: “A nossa expectativa é a de valorização.”
Evolução da cotação das AppCoins desde 2018:
Fonte: CoinMarketCap
Propósito é utilidade, não a especulação
Álvaro Pinto repete a mensagem de 2017 e 2018: o projeto das AppCoins tem utilidade e não foi feito a pensar na especulação típica do mercado das criptomoedas. Ainda assim, assume que o instrumento pode ser usado por quem procura ganhos rápidos, ou perdas inesperadas.
“Uma coisa é a especulação do mercado e, sobre isso, fazer um prognóstico é impossível. Mas não lançámos para especulação, mas como utility token. Esse é o propósito”, salienta. E, após três anos de desenvolvimento, Álvaro Pinto faz um balanço positivo do projeto AppCoins e das plataformas que as usam como meio de pagamento. “O projeto tem crescido e a evolução tem sido muito boa”, assegura.
“Em 2018, metemos mãos à obra para desenvolver a tecnologia, o protocolo. Demorou algum tempo a ser desenvolvido. É a plataforma Catappult, um marketplace que liga os programadores às múltiplas lojas”, desde a própria Aptoide à chinesa Xiaomi, passando pela Softonic e Meizu. “Esse projeto foi lançado em finais de 2018, início de 2019”, explica Álvaro Pinto.
Atualmente, a Catappult conta com cerca de 155 mil programadores e 12 lojas de aplicações. Estes programadores usam a plataforma para distribuir as suas aplicações e possibilitam, em simultâneo, a utilização das AppCoins para compras dentro das suas apps, recorrendo ao protocolo desenvolvido pela equipa de Álvaro Pinto.
Inicialmente, a ideia era que as AppCoins viessem encarar outras problemáticas no mundo das aplicações, como dar mais eficiência à publicidade. Mas a empresa decidiu, entretanto, focar os esforços na criação de um protocolo que trouxesse mais transparência às compras no interior das apps.
Na calha estão agora outras novidades, como a possibilidade de os programadores usarem as AppCoins para desenvolver modelos de negócio com base em subscrições, assim como o lançamento de um sistema de e-vouchers que Álvaro Pinto acredita ter potencial para atrair o interesse dos mais jovens.
Estas flutuações do mercado não são exclusivas das AppCoins. É um fenómeno das criptomoedas em geral.
Aptoide detém 4,7 milhões em AppCoins
Questionado sobre quantas unidades da criptomoeda detém a Aptoide, Álvaro Pinto afirmou serem cerca de 40 milhões de tokens. A preços de mercado, a posição equivale a um montante na ordem dos 4,7 milhões de dólares, segundo cálculos do ECO.
Porém, há o reverso da medalha quando se fala em blockchain. O protocolo das AppCoins corre na rede Ethereum (outra criptomoeda) e Álvaro Pinto diz que há “dores de crescimento”. “A blockchain e a rede Ethereum continuam a ter alguns problemas, quer do ponto de vista da velocidade, quer do custo”, afirma.
Por isso, a empresa desenvolveu um novo tipo de moedas que circulam fora da blockchain, para permitir compras mais rápidas nas aplicações, diretamente com cartão de crédito. À medida que vai criando essa nova moeda eletrónica, que tem o mesmo valor unitário das AppCoins “reais”, a Aptoide vai “queimando” criptomoedas, reduzindo a oferta disponível.
Essas moedas alternativas, que funcionam em paralelo às AppCoins, chamam-se AppCoins Credits. E a empresa já eliminou de circulação mais de 820 mil moedas, segundo estatísticas do site APPC Explorer.
Quanto ao impacto nas AppCoins da nova euforia em torno das criptomoedas, Álvaro Pinto afirma que o fenómeno é positivo para o projeto, pois fomenta o investimento no desenvolvimento de tecnologia. É o caso da aposta de 1,5 mil milhões de dólares da Tesla em bitcoin, a criptomoeda mais popular do mundo, operação conhecida em fevereiro. A fabricante automóvel de Elon Musk também planeia começar a aceitar pagamentos em bitcoin pelos seus veículos.
“O que queremos e gostaríamos que acontecesse era que surgissem novas startups“, diz Álvaro Pinto. Notícias como a do envolvimento da Tesla no mundo das criptomoedas “permite que o mercado mecha” e ajuda o conhecimento a chegar a mais pessoas e a mais projetos. “Só nos valoriza e ajuda-nos”, garante.
Entre AppCoins e AppCoins Credits, Álvaro Pinto estima existirem cerca de 170 mil pessoas com estas moedas na “carteira”.
AppCoins são valores mobiliários?
Uma das notícias que marcaram a atualidade recente em torno das criptomoedas foi a acusação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) à Ripple, uma criptomoeda que ganhou popularidade em 2017, mas que assenta numa blockchain privada e centralizada, ao contrário da maioria.
A SEC considerou que as criptomoedas lançadas pela empresa com o mesmo nome constituem valores mobiliários (como se fossem ações) e processou a empresa, acusando-a de ter realizado uma Oferta Pública Inicial (IPO) não autorizada. As IPO são reguladas no mercado de capitais.
Instado a comentar o caso, à luz da situação da Aptoide e das AppCoins, Álvaro Pinto recorda que, quando promoveu o ICO das AppCoins, houve “essa preocupação” para garantir que tudo ia ao encontro da lei. “Lançámos em Singapura porque, na altura, havia vários ICO a serem lançados em Singapura. Do ponto de vista regulatório, era mais transparente e mais seguro para nós”, diz.
“Tivemos o cuidado de consultar pessoas no Governo de Singapura, que até avaliou o projeto”, afirma. A conclusão, segundo Álvaro Pinto, é a de que as AppCoins são um utility token usado para transações, e não um valor mobiliário. “Quem compra AppCoins não tem expectativa em relação aos resultados da AppCoins ou da Catappult”, conclui.
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