Empresa familiar. As explicações de Luís Montenegro, ditas pelo próprio

O primeiro-ministro vai fazer uma "avaliação de todo o contexto" pessoal e político, e anunciará ao país uma decisão este sábado. Leia as palavras de Montenegro, tal como foram ditas pelo próprio.

A notícia da avença mensal de 4.500 euros paga pela Solverde à empresa do primeiro-ministro, publicada esta sexta-feira pelo Expresso, reacendeu a polémica em torno da vida privada de Luís Montenegro. Principalmente à luz do facto das concessões dos casinos de Espinho e do Algarve, que Montenegro ajudou a renegociar como advogado em 2022, terminarem em dezembro, tendo de ser renegociadas.

A existência da Spinumvida já tinha motivado uma moção de censura na semana passada, apresentada pelo Chega, e que acabou chumbada, mas o assunto não morreu por ali. Uma semana depois, o primeiro-ministro confessou esta sexta-feira a sua “apreensão” com toda esta situação, tendo convocado um Conselho de Ministros extraordinário para o final da tarde deste sábado, 1 de março, seguido de uma declaração ao país marcada para as 20h00.

O ECO recuperou os esclarecimentos dados esta sexta-feira de manhã por Luís Montenegro, incluindo sobre a situação política interna, sobre a atividade da Spinumvida e o potencial conflito de interesses com a empresa de casinos da qual já assumiu a relação de amizade com os respetivos acionistas. Leia as palavras de Luís Montenegro, à margem de um evento no âmbito da visita de Estado do Presidente francês, Emmanuel Macron, a Portugal, tal como foram ditas pelo próprio.

Luís Montenegro está sob forte escrutínio e debaixo de fogo da oposição devido à sua empresa familiar, a SpinumvidaLusa

Sobre o Conselho de Ministros deste sábado:

Atenta a situação criada, que não é uma situação agradável, que é uma situação que causa apreensão, eu farei uma avaliação de todo o contexto, quer pessoal, quer político. Já tive a ocasião de convocar um Conselho de Ministros extraordinário para amanhã [sábado] ao final da tarde e amanhã às oito horas [da noite] comunicarei ao país as minhas decisões pessoais e políticas sobre esta matéria, para que o Governo possa governar, possa concentrar toda a sua atenção, toda a sua disponibilidade a servir o interesse do país e dos portugueses resolvendo os seus problemas.

Sobre a confiança dos portugueses:

O que está em causa é eu fazer uma avaliação profunda das condições da minha vida pessoal, da minha vida familiar e da minha vida política, para servir com total disponibilidade, com total desprendimento, com total convicção e com total paixão o meu país, e sem ter sobre mim nenhuma mácula, mas nenhuma mesmo. Porque só é possível servir o país se as pessoas acreditarem em quem está ao serviço. E eu quero garantir que só estarei a exercer a função de primeiro-ministro se sentir que essa confiança existe.

Sobre a empresa familiar Spinumvida:

É uma empresa que presta serviços, que tem colaboradores, que diariamente interage com os seus clientes, que presta serviços na base de documentos, na base de prestação de consultadoria, e que não haja dúvidas e equívocos sobre isso. Espero sinceramente que todas as especulações que haja sobre essa matéria possam ser absolutamente dissipadas.

Sobre a identidade dos clientes:

Eu não tenho nenhum problema em que sejam revelados os clientes dessa empresa. Devem ser os próprios a tomar essa iniciativa e espero mesmo que, dada toda esta situação mediática, isso possa acontecer nas próximas horas e que, ou por sua iniciativa ou com a sua autorização, o nome das empresas cujo perfil eu próprio anunciei na Assembleia da República possa ser conhecido.

[Depois de ter Montenegro apelado à divulgação dos nomes dos clientes da consultora, a própria Spinumvida emitiu um comunicado revelando as empresas que com ela “mantêm um vínculo permanente”, com avenças mensais entre 1.000 e 4.500 euros, incluindo os casinos Solverde, a metalomecânica Ferpinta e a cadeia de lojas Radio Popular.]

Sobre a avença mensal paga pela Solverde:

A empresa presta serviços, presta serviços desde a altura em que eu a criei, e esses serviços são naturalmente remunerados ao preço normal de mercado. Presta serviços na base da disponibilidade de trabalho das pessoas que colaboram na empresa e que prestam esses serviços com o conhecimento, com o know-how especializado, numa área específica, que é de resto muito sensível em várias áreas de atividade, nomeadamente naquelas que asseguram a recolha, o tratamento, o armazenamento de dados pessoais.

Sobre o possível conflito de interesses:

Enquanto primeiro-ministro, como de resto em todas as funções públicas que exerci, nunca decidi nada em conflito de interesses com qualquer atividade profissional e qualquer interesse particular que estivesse em causa no exercício das minhas funções profissionais. Nunca! Nunca aconteceu e nunca acontecerá.

Sobre eventuais conflitos futuros:

Sempre que acontecer alguma situação em que, da minha intervenção, ou que da minha possibilidade de decisão, houver alguma colisão com algum interesse particular, seja por via do exercício de funções profissionais, seja até por via do conhecimento pessoal com algumas pessoas que possam ter intervenção em algumas empresas, eu eximir-me-ei de intervir.

Evidentemente que todas aquelas decisões ou até perspetivas de decisões, processos decisórios que envolvam pessoas ou instituições com as quais eu tive relacionamentos profissionais ou até pessoais, eu devo ter o discernimento, eu tenho obrigação ética, de me excluir. E eu tenho de fazer isso, como todos os membros do Governo. É um controlo interno que nós temos e que está sempre também suscetível a contorno externo.

Sobre decisões que possam envolver a Solverde:

Eu prestei serviço de assistência jurídica a esse grupo numa altura em que não tinha nenhum cargo político. Evidentemente que, em função disso, eu não participarei em nenhuma decisão ou processo decisório que envolva essa empresa. Mas sinceramente eu acho que essa questão [do conflito de interesses] não se coloca. Eu já estaria inibido, como disse na Assembleia da República, pelo meu próprio conhecimento pessoal com os acionistas dessa empresa.

Sobre a possibilidade de encerrar a Spinumvida:

Eu vou fazer a minha avaliação da situação pessoal, familiar e política e anunciarei ao país a minha decisão para encerrar este assunto de vez.

Sobre outras atividades além do Governo:

Eu não sou empresário. Eu neste momento estou exclusivamente dedicado à minha função de primeiro-ministro. O que não significa que eu tenha que abandonar tudo aquilo que foi a minha vida profissional.

Sobre a empresa de advogados de que foi sócio:

Eu, no dia 30 de junho de 2022, aqui nesta cidade do Porto, abandonei a minha atividade profissional como advogado e cedi a minha quota numa sociedade de advogados que fundei pelo preço nominal da quota. Ora, a minha participação nessa sociedade tinha um valor muito maior do que o valor nominal da quota, que eram 2.500 euros. Tinha o valor da clientela, tinha o valor de todo o trabalho que eu tinha acumulado em anos e anos de trabalho. Eu abdiquei de tudo isso para me dedicar à função na altura de presidente do PSD e nem sequer era seguro e certo. Aliás, muita gente vaticinou que era altamente improvável que viesse a ser primeiro-ministro.

Sobre os políticos sem vida além da política:

Houve uma outra atividade que eu desenvolvi em paralelo, nesta empresa de consultadoria (que era mais do que isso, era também uma empresa com um projeto familiar), que nessa mesma altura eu deleguei nos outros membros da minha família. Exigirem-me que eu deixasse de ter completamente vida própria apenas para ser primeiro-ministro, sinceramente, eu coloco essa questão aos portugueses: se é este tipo de políticos que nós queremos ter, que não tenham mais nada. Eu não estou com isto a dizer que não tenha de prestar contas nem estou com isto a dizer que não tenha de saber distinguir a linha limite na qual eu tenha de me autoexcluir de participar em decisões.

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Luís Montenegro sai do Parlamento. “Esta legislatura não vai deixar saudades”

O ex-líder parlamentar do PSD deixa o Parlamento esta quinta-feira. Na despedida, Luís Montenegro promete continuar a fazer oposição ao Governo e diz que "esta legislatura não vai deixar saudades".

Luís Montenegro vai abandonar a Assembleia da República esta quinta-feira, tal como tinha anunciado no 37.º Congresso do PSD que aclamou Rui Rio como líder dos social-democratas. 16 anos depois de ter tomado posse enquanto deputado, Montenegro vai abandonar o Parlamento, mas à saída garantiu que continuará a intervir publicamente para criticar o Governo. E já começou: “Esta é uma legislatura que não vai deixar saudades”.

Tirando este caráter insólito de se ter formado esta geringonça, creio que no fim destes quatro anos o país não vai ter nenhuma transformação, nenhuma reforma que se possa projetar em mais progresso e prosperidade no futuro”, argumenta Luís Montenegro no Parlamento, em declarações transmitidas pela RTP3. O agora ex-deputado considera que a atual solução governativa “não vai ficar para a história senão por juntar três partidos, não por mais nada”.

Para o deputado social-democrata a melhoria económica registada nos últimos anos deve-se em grande parte à governação anterior. “Os portugueses hoje estão melhor e o país também está melhor porque houve um trabalho” na legislatura passada, diz Montenegro, referindo que no futuro vai concentrar-se em “denunciar as omissões e os erros” do Governo. “O meu papel de intervenção será sempre de fiscalizar e escrutinar a ação governativa, apontar os erros e as omissões deste Governo, que são muitos”, concretiza.

Questionado sobre a estabilidade interna do PSD, Luís Montenegro diz que Rui Rio é um “presidente legitimado”, mas lembra que o próximo ciclo eleitoral é “muito exigente e complexo”. “Só mesmo no PCP e no BE é que toda a gente pensa a mesma coisa em todo o tempo e de igual maneira“, comentou para defender a ideia de que é positivo existirem opiniões diferentes no PSD.

Ainda assim, Montenegro considera que Rio “está obrigado a manter esta ambição muito viva e a construir uma alternativa política que possa gerar essa confiança”. Uma ambição que passa pelo PSD ser “um partido que luta sempre para ganhar”. “Queremos governar o país”, conclui.

Esta quinta-feira será o último dia de Luís Montenegro enquanto deputado do PSD, 16 anos depois da sua entrada no Parlamento para a bancada social-democrata. Foi no 37.º Congresso do partido, a 17 de fevereiro, que o deputado anunciou a sua decisão de sair, após ter sido líder parlamentar durante o mandato de Pedro Passos Coelho.

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Cativações juntam esquerda e direita na pressão a Centeno

  • Margarida Peixoto
  • 7 Julho 2017

Da esquerda à direita, o ministro das Finanças foi criticado pelas cativações aplicadas no OE2016, embora as críticas sejam diferentes. O ECO selecionou os principais argumentos e descodificou-os.

FotomontagemLouise Frias/ECO

O ditado diz que é difícil agradar a gregos e a troianos. Mário Centeno, ministro das Finanças, conseguiu desagradar aos dois: as cativações aplicadas no Orçamento de 2016, que deixaram 942,7 milhões de euros de despesa aprovada por executar, estão a dar gás à oposição — da direita, à esquerda parlamentar.

Depois de uma audição na comissão de orçamento e finanças em que Centeno foi pouco claro sobre as cativações aplicadas em 2016, o PSD encontrou argumentos para exigir um debate no plenário sobre transparência na gestão da despesa pública. Mas não foi só a direita política que pressionou o ministro. Também o Bloco de Esquerda e o PCP criticaram Centeno, embora com argumentos quase opostos.

Perante a pressão, o ministro das Finanças explicou o funcionamento das cativações e apresentou argumentos para contestar a ideia de falta de transparência. Mas quando um debate político fica tomado por termos como “cativações” ou “receitas próprias”, com um lado a argumentar que cativações são cortes e o outro a ripostar que não há cortes quando a despesa cresce, a confusão instala-se. O ECO selecionou alguns argumentos deixados durante o debate de sexta-feira e explica-os.

1 – As cativações são cortes?

“Pode abanar a cabeça, mas os números falam por cima da vossa propaganda”, acusou o deputado António Leitão Amaro, do PSD. “Os portugueses sentiram [as cativações] nas suas vidas,” defendeu, “pagaram com as suas vidas,” acusou, numa referência implícita ao incêndio de Pedrógão Grande, onde 64 pessoas morreram.

“O máximo que podem dizer é que [as despesas] não aumentaram o suficiente,” respondeu João Galamba, deputado socialista, criticando a utilização do incêndio como “arma de arremesso político.” As cativações incidem sobre a parte da despesa que excede um determinado crescimento, por isso “nunca poderiam estar associadas à redução da despesa efetiva em 2016,” disse o ministro Mário Centeno.

Quem tem razão? Depende do ponto de vista. As cativações correspondem à retenção de uma parte da despesa orçamentada, que fica nas mãos do ministro das Finanças e dependente da sua aprovação para ser executada. Ora, quando não são totalmente libertadas, as cativações representam cortes efetivos face aos gastos que estavam previstos e já previamente aprovados pela Assembleia da República.

[As cativações] têm vindo a limitar a despesa pública desde ‘o dia um’. Apesar de controlarem diretamente a despesa, podem também ser apertadas para compensar uma coleta fiscal mais baixa.

Relatório de Medidas Efetivas -- Ministério das Finanças

Outubro de 2016

Foi por isso que foram usadas como medida de contingência para convencer a troika de que, apesar de a receita fiscal estar muito abaixo do projetado, o orçamento não iria derrapar. Vale a pena reler um excerto do relatório sobre medidas efetivas enviado à Comissão Europeia, em outubro de 2016, em que Centeno mostrava como iria usar as cativações para reduzir a despesa prevista:

“[As cativações] são o instrumento considerado apropriado para monitorar a execução orçamental. (…) Têm vindo a limitar a despesa pública desde ‘o dia um’. Apesar de controlarem diretamente a despesa, podem também ser apertadas para compensar uma coleta fiscal mais baixa,” explicou Centeno.

E frisou que “podem ser entendidas como medidas de contingência” e que “os serviços públicos estavam claramente alertados para elas desde que o Orçamento foi desenhado e o impacto que iriam gerar no perfil de despesa.” Depois, adiantou que do valor de cativações inicialmente previsto no Orçamento, que à data identificou como cerca de 1.500 milhões de euros (a Conta Geral do Estado apontou agora para 1.733 milhões), “445 milhões foram congelados permanentemente.”

Contudo, estes factos não invalidam que, ainda assim, a despesa executada em 2016 tenha acabado por ser superior à de 2015 — o que fundamenta o argumento socialista de que as cativações não resultaram em cortes efetivos de despesa, face ao executado. Sob este ponto de vista, as cativações serviram para conter o crescimento da despesa, ajustando-a ao nível de receita arrecadada e impedindo uma derrapagem orçamental — o risco para o qual a Comissão estava a alertar.

2 – O Governo foi além do necessário no défice?

“O Orçamento executado em 2016 não é o Orçamento que nós aprovámos”, acusou Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda. A bloquista reconheceu que a despesa cresceu, mas queixou-se que devia ter crescido mais e que o Governo apertou a despesa para agradar à Comissão Europeia.

Verdade? É certo que o défice acabou por ficar abaixo da meta autorizada por Bruxelas. O défice de 2016 foi de 2,06%, quando a Comissão, perante o ritmo fraco de crescimento da economia no primeiro semestre de 2016, chegou a flexibilizar a meta para 2,5% do PIB. Por isso é correto dizer que o Governo superou o objetivo e que poderia ter libertado mais despesa, mesmo sem ter receita para pagá-la — teria assumido um défice mais elevado.

Mas também é verdade que só no final do ano, quando a atividade económica recuperou acima das expectativas, é que ficou claro que o défice seria cumprido. E que até os indicadores económicos melhorarem a pressão da Comissão para apertar a despesa era intensa. Mais: face à meta inicial do próprio Governo (2,2%, o objetivo do Orçamento que a esquerda validou no Parlamento), o resultado do défice não foi assim tão diferente.

3 – Dois terços dos cativos finais dependiam de receitas próprias. Isso faz diferença?

“Dois terços [dos cativos finais] resultam da evolução de receitas próprias,” argumentou Mário Centeno. “Nunca esta operação teria impacto no défice porque a receita está associada à despesa,” somou ainda o ministro.

Traduzindo, o ministro das Finanças revelou que a maior parte das cativações que ficaram por libertar correspondiam a despesa que seria paga por receitas próprias dos serviços — e não pelas receitas gerais do Estado, isto é, pelos impostos. Ou seja: os serviços conseguiram menos receita do que a que tinham estimado e, por isso mesmo, não tiveram autorização para executar o valor de despesa inicialmente planeado.

Este argumento tem duas consequências. Primeiro, transfere, em parte, a responsabilidade da decisão de permitir menos despesa para os próprios dirigentes dos serviços, retirando-a dos ombros do ministro das Finanças. Segundo, mostra que a despesa em causa só seria autorizada se houvesse receita e que, nesse caso, o défice seria precisamente o mesmo porque uma anularia a outra.

Contudo, vale a pena notar que o Governo não controla a receita da mesma forma que controla a despesa: ter menos receita do que o projetado foi um facto. Depois, coube a Centeno decidir se a despesa prevista seria inviabilizada — para respeitar a meta do défice — ou se seria, ainda assim, executada. Se o ministro tivesse decidido libertar mais despesa, o debate desta sexta-feira não teria sido sobre cativações, mas antes sobre derrapagem orçamental.

4 – Partidos querem saber que gastos foram cancelados. É possível?

Foi também uma pergunta repetida da esquerda à direita: “Importa saber quais os gastos que não se fizeram,” frisou José Luís Ferreira, deputado dos Verdes. Mas também Luís Montenegro, do PSD, pediu ao Governo que clarificasse os cortes que fez, tal como Mariana Mortágua, do BE, pediu a Centeno que mostrasse como é que os cortes aplicados no Ministério da Saúde ou da Educação não afetaram os serviços.

A pergunta é pertinente: trata-se de saber, com exatidão, quais foram os pedidos de libertação de cativos que chegaram à mesa do ministro das Finanças, mas que foram recusados. Contudo, esta informação não está sistematizada — nem é obrigatório que esteja.

A Conta Geral do Estado mostra os valores do Orçamento do Estado de 2016 que foram aprovados pela Assembleia da República e que foram libertados e a respetiva justificação. Também mostra os valores que ficaram definitivamente retidos. Mas, por lei, não tem de apresentar os pedidos não autorizados.

5 – É possível saber os cativos já libertados este ano?

“Vamos ver nesta assembleia quem está a favor da transparência,” desafiou o deputado João Almeida, do CDS-PP. Os deputados criticaram a falta de transparência da utilização dos cativos. É verdade que o valor inicial destes cativos resulta da lei do Orçamento do Estado que é aprovada na Assembleia da República, contudo, a gestão que é feita pelo ministro das Finanças, ao longo do ano, é pouco acompanhada.

Vamos ver nesta assembleia quem está a favor da transparência.

João Almeida

Deputado do CDS-PP

Os dados são publicados anualmente na Conta Geral do Estado, mas esta só está disponível cerca de seis meses depois de terminado o ano — para além de não ser um documento fácil de consultar, já que nem todas as óticas de análise desta informação estão igualmente trabalhadas no corpo do relatório.

Por isso, João Almeida apresentou durante o debate uma proposta para que a Direção-geral do Orçamento passe a disponibilizar, mensalmente, um ponto de situação dos cativos na síntese de execução orçamental.

6 – Retificativo ou cativações. Qual é a diferença?

“As cativações são o contrário dos Orçamentos Retificativos,” argumentou Mário Centeno. “Não há Orçamentos Retificativos mas há muitas retificações,” acusou o deputado do PSD, Luís Montenegro.

Qual é a diferença? As cativações são uma medida de gestão da execução orçamental que permitem, até determinado ponto, evitar Orçamentos Retificativos. Sempre que a receita fica abaixo da despesa, se o ministro das Finanças não tiver o controlo sobre nenhuma parte do Orçamento distribuído aos serviços, dificilmente consegue evitar que os gastos continuem a ser feitos como se existisse receita para pagá-los.

No caso de 2016, o Governo garantiu em outubro à Comissão Europeia que as cativações foram desenhadas precisamente com este objetivo: a meta do défice estava calculada assumindo que seriam libertadas as verbas. Mas se faltasse receita, a despesa não seria autorizada na mesma medida, evitando-se a derrapagem orçamental.

É por isso que as cativações — até ao debate desta semana — eram vistas como uma boa medida de gestão orçamental. Retiram também o estímulo aos serviços, por exemplo, para empolarem as receitas próprias só para conseguirem viabilizar a aprovação de um orçamento de despesa superior.

Já os Orçamentos Retificativos servem precisamente para quando os tetos de despesa são furados. Não se trata aqui de gastar tanto quanto o inicialmente previsto (independentemente de haver ou não receita suficiente para fazer face à despesa) mas sim de ultrapassar os valores inicialmente orçamentados. É quando isso acontece que os governos têm de pedir autorização ao Parlamento para subir os limites da despesa e, por arrasto, o limite de endividamento adicional da República.

Quando isto acontece, o Governo fica dependente da maioria que encontrar na Assembleia da República e a carga política negativa é muito elevada — como demonstrou a polémica de 2009 sobre os Orçamentos Retificativos, Redistributivos e Suplementares do então ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos.

Claro que se um Orçamento for construído com uma margem de despesa maior — que depois se controla através dos cativos — fica mais bem defendido da eventualidade de furar os limites inicialmente aprovados pelos deputados.

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BE: “O Orçamento executado não é o que aprovámos”

  • Margarida Peixoto e Marta Santos Silva
  • 7 Julho 2017

Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, não deixou passar a crítica da bloquista. E perguntou: "Qual foi a consequência que tirou disso?"

“O Orçamento executado em 2016 não é o que aprovámos”, criticou Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, apontando diretamente para o ministro das Finanças. Mário Centeno esteve esta sexta-feira no Parlamento para explicar as cativações aplicadas na despesa em 2016. O debate foi convocado pelo PSD, mas o ministro não escapou às críticas da esquerda.

“Uma coisa é verdade, vamos criticar as coisas pelo que elas são e não pelo que nos dá jeito criticar. O Orçamento executado em 2016 não é o Orçamento que nós aprovámos,” assumiu Mariana Mortágua, afirmando que o défice ficou abaixo do previsto por maiores cativações do que o que tinha sido planeado.

No final do debate, Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD, não deixaria passar a crítica: “A deputada Mariana Mortágua veio dizer que o Orçamento executado não correspondeu ao que aprovou. E qual foi a consequência que tirou disso?”

A deputada defendeu que as cativações foram feitas de forma nada transparente e de acordo com o que era necessário para agradar à União Europeia. Mas “quem lhe dá [ao Governo] a maioria não é a União Europeia,” avisou Mortágua.

Mais: é preciso explicar. “A Conta Geral do Estado diz que há cativações na Saúde,” diz Mariana Mortágua, e na Educação. “O Governo deve descrever de que forma essas cativações não afetaram as escolas nem o SNS,” argumentou. Além disso, “a despesa tem de aumentar. Porque é esse o compromisso, que a despesa nos serviços públicos aumente,” lembrou.

Ainda assim, a bloquista fez questão de sublinhar, dirigindo-se ao PSD e ao CDS, que o que se viu entre 2012 e 2015 foram cortes, enquanto em 2016, quando se olha para o valor executado do Orçamento vê-se “reforço de verbas.”

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“Este Governo é mais manhoso”, acusa PSD

  • Margarida Peixoto
  • 6 Julho 2017

O líder parlamentar dos social-democratas defendeu que os Orçamentos Retificativos do anterior Governo eram "exercícios de transparência". O PSD marcou debate sobre o assunto para sexta-feira.

O líder da bancada parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, acusou o Governo de ser “manhoso” na gestão orçamental que faz. O social-democrata criticou a opção do Executivo de aplicar um valor elevado de cativações sem clarificar exatamente onde é que o aperto orçamental está a ser aplicado. Montenegro anunciou também que o PSD pediu esta quinta-feira a marcação de um debate de atualidade para sexta-feira sobre este assunto.

Lembrando as medidas de reposição dos rendimentos decididas pelo Governo de António Costa — como a reversão dos cortes salariais dos funcionários públicos ou a atualização das pensões — Luís Montenegro criticou o Governo por “nunca” dizer “o que estava a fazer em contraponto.” E concluiu: “O que estava a fazer era cortar na saúde, educação, áreas de soberania,” disse aos jornalistas, em declarações transmitidas pela SIC Notícias.

Mas o deputado foi mais longe e defendeu que a apresentação de Orçamentos Retificativos — que marcou a governação do Executivo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho — não era mais que “exercícios de transparência política.” E acusa: “Este Governo é mais manhoso.”

Montenegro quer que o Governo “assuma suas escolhas, assuma onde cortou.” As críticas vêm na sequência de uma audição do ministro das Finanças, Mário Centeno, onde os deputados quiseram saber com detalhe em que áreas ou funções do Estado tinham sido feitas cativações em 2016. Mas Centeno frisou onde não tinham sido aplicadas cativações — Educação, Saúde e Lei de Programação Militar, remetendo os deputados para a Conta Geral do Estado. A informação consta, de facto, deste documento, mas não está sistematizada no corpo do relatório.

Montenegro deixa liderança parlamentar

O deputado aproveitou para confirmar que a 19 de julho serão realizadas eleições para escolher o novo líder parlamentar do PSD. “O meu mandato terminou com o final desta sessão legislativa”, explicou. O objetivo é permitir que a próxima liderança tenha tempo para preparar os trabalhos do próximo ano parlamentar.

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Montenegro fiel a Passos: está contra primárias no PSD

  • Lusa
  • 23 Abril 2017

O líder da bancada parlamentar do PSD defendeu este domingo que o partido não deve realizar eleições primárias e reafirmou o seu apoio ao atual líder, Pedro Passos Coelho.

O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, disse este domingo, em Leiria, ser contra a realização de eleições primárias no seu partido e reafirmou o seu apoio ao atual líder do PSD, Pedro Passos Coelho.

À margem da IX Academia de Jovens Autarcas, organizada pela JSD de Leiria, Luís Montenegro afirmou não concordar com “essa ideia”. “Nunca fui um grande adepto das eleições primárias. Creio que o PSD não precisa de legitimar as suas lideranças por essa via. Não há no panorama político e partidário português essa tradição e a experiência que houve no Partido Socialista foi um perfeito fracasso“, salientou.

O presidente do grupo parlamentar do PSD precisou que “se a ideia [do PS] era que houvesse uma mobilização muito grande e representativa de um sentir do povo português, isso caiu por terra, porque o dr. António Costa ganhou as eleições primárias e perdeu – e por muito – as eleições legislativas”. Ou seja, “não radicou na realização de eleições primárias nenhum movimento político especial dos eleitores”, defendeu.

Reconhecendo que o ex-governante do PSD Miguel Relvas não é a única pessoa do partido a defender as primárias, Luís Montenegro sublinhou: “Sou contra essa ideia”.

Para o líder parlamentar social-democrata, não são as eleições primárias que o sistema político e partidário português precisa de discutir. “É saber se nós queremos um sistema político eleitoral no qual as pessoas quando votam nas eleições legislativas, para além de escolherem deputados, escolhem também uma liderança governativa e um projeto base de governação. Isso aconteceu sempre nas eleições legislativas em Portugal, mas não nas últimas.”

Luís Montenegro defendeu que “o povo tem direito a escolher a liderança do Governo e a escolher a base do programa da governação”.

"A minha posição também é conhecida: apoio o Dr. Pedro Passos Coelho e quero com ele construir um caminho de afirmação política do PSD.”

Luís Montenegro

Líder parlamentar do PSD

Sobre o facto de alguns apontarem Luís Montenegro como o futuro líder do PSD, o próprio afirmou estar ao lado do presidente do partido, Pedro Passos Coelho. “O partido tem uma liderança e uma liderança muito estável. Terá congresso no próximo ano e se alguém quiser disputar essa liderança acho que deve fazê-lo, se sentir essas condições.”

“A minha posição também é conhecida: apoio o Dr. Pedro Passos Coelho e quero com ele construir um caminho de afirmação política do PSD, que tem como objetivo vencer as terceiras eleições legislativas consecutivas e podermos dar ao país uma governação bem mais ambiciosa do que aquela que temos hoje”, acrescentou.

Luís Montenegro considerou ainda que o “país e o governo contentam-se com pouco, quando é motivo de regozijo do primeiro-ministro poder dizer ao país que o ‘rating’ da República continua como está, em vez de ambicionar a melhoria desse ‘rating’, porque essa melhoria teria um impacto económico muito significativo e permitiria que o país se pudesse financiar a um custo menos oneroso”.

E lamentou que o primeiro-ministro se “circunscreva a ficar satisfeito com a situação atual, tal como ela está em vez de ambicionar mais crescimento, na esteira daquilo que tem sido a sua posição de ir alicerçando a sua governação, não naquilo que já foi capaz de acrescentar em valor ao país, mas naquilo que herdou do governo anterior”. “Este é um primeiro-ministro da herança, não é um primeiro-ministro da mudança e do crescimento”, rematou.

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Montenegro: Marcelo foi “deselegante” com Teodora Cardoso

  • ECO
  • 9 Março 2017

O líder do grupo parlamentar do PSD criticou o Presidente da República e mais ainda António Costa. Para Luís Montenegro, se a atual solução governativa cair não será preciso haver eleições.

Luís Montenegro considerou que Marcelo Rebelo de Sousa foi “deselegante” na sua resposta à economista à frente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso.

O líder parlamentar do PSD criticou o Presidente da República numa entrevista à Antena 1. “Devo dizer que a resposta a essa intervenção, e sobretudo àquilo que era o seu conteúdo (…), foi deselegante e a todos os níveis”, começou, especificando: “Foi deselegante por parte do Governo, foi deselegante por parte dos partidos que apoiam o Governo, e também do senhor Presidente da República”. Teodora Cardoso respondera a uma pergunta sobre se o cumprimento das metas do défice fora um milagre concordando, e explicando porquê, e o Presidente da República reagiu: milagre “só o de Fátima”.

No entanto, para Luís Montenegro o comportamento mais censurável é o do primeiro-ministro António Costa e do Partido Socialista que, afirma, vieram “apoucar e amesquinhar” as declarações de Teodora Cardoso. Distinguindo aquilo que é um momento infeliz do que é “um padrão”, o líder parlamentar do PSD esclareceu que o Governo e os partidos que o apoiam querem “condicionar, quase restringir, quer a atuação da oposição quer a atuação de instituições independentes”. “Isso é intolerável em democracia e eu não calarei a minha voz nunca nesse debate”, terminou.

As declarações de Montenegro surgem um dia depois de ter qualificado no Parlamento o primeiro-ministro de “mal educado”, no meio de um debate quinzenal crispado em que António Costa e Pedro Passos Coelho trocaram acusações: o primeiro acusava o segundo de “desfaçatez”, o segundo dizia que o primeiro tentava “enlamear as pessoas que estiveram no seu lugar”.

Na mesma entrevista, Montenegro considerou ainda que, se a atual solução governativa caísse, não seria necessário realizar eleições antecipadas. Para o social-democrata, o Partido Socialista é que deveria suportar um novo Governo “liderado por quem ganhou as eleições”, ou seja, o PSD e o CDS-PP. “O quadro parlamentar permite outros ajustamentos”, propôs, “desde que haja vontade política dos partidos”.

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CGD: PSD e CDS querem conhecer negociações

A direita une-se esta sexta-feira numa conferência de imprensa para explicar sobre o que vai incidir a nova comissão parlamentar de inquérito sobre a nomeação e demissão da ex-administração da CGD.

Uma semana depois de terem anunciado que iam requerer uma nova comissão, PSD e CDS explicaram esta sexta-feira em que vai consistir o novo inquérito. O âmbito incidirá sobre o período entre as negociações para a nomeação da ex-administração da Caixa Geral de Depósitos até à demissão de António Domingues. Falta saber, no entanto, que documentos é que a direita vai pedir assim que audições irá solicitar. Luís Montenegro diz que o requerimento já foi formalizado junto do Presidente da Assembleia da República.

Eis o objeto da nova comissão:

a) Apreciar as negociações, direta ou indiretamente conduzidas pelo Governo, as condições e os termos de contratação da administração do Dr. António Domingues para a CGD;

b) Apreciar a intervenção e responsabilidade do XXI Governo pela gestão da administração liderada pelo Dr. António Domingues;

c) Apreciar os factos que conduziram à demissão do Dr. António Domingues e à saída efetiva da administração por si liderada.

No preâmbulo deste requerimento para se constituir a “comissão eventual de inquérito parlamento à atuação do XXI Governo Constitucional no que se relaciona com a nomeação e a demissão da Administração do Dr. António Domingues“, PSD e CDS atacam a esquerda que se uniu para impedir que a comissão em vigor tivesse estas questões no seu âmbito. Esta comissão assume também um “caráter potestativo”.

Sobre a comissão já existente que incide sobre a gestão da CGD, a direita escreve que “a esmagadora maioria da informação que se considerava essencial acabaria por não chegar aos deputados, alegando as instituições remetentes o dever de segredo bancários e/ou profissional”. O líder parlamentar do PSD avisa que esta é “uma boa oportunidade para salvarmos as comissões parlamentares de inquérito”, referindo que este tipo de documentos têm de ser conhecidos.

Luís Montenegro continuou as suas duras críticas a Ferro Rodrigues, reforçando que existe “prepotência” na atitude do Presidente da Assembleia da República, algo que o deputado social-democrata “há 15 anos” nunca tinha visto, disse. “Todos falam dos SMS. Menos os deputados que são inibidos” por outros deputados, afirmou Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, reforçando que esta “não é uma comissão sobre a Caixa Geral de Depósitos”. “Não vamos ultrapassar os limites da lei nem da Constituição”, garante Montenegro.

“No entanto, mesmo tendo um membro do Governo [ministro das Finanças] admitido a existência desses factos [o acordo com Domingues], a maioria de esquerda impediu a referida comissão de os fiscalizar”, acusa a direita no documento que distribuiu aos jornalistas. “É verdade ou não que o ministro negociou a dispensa da apresentação da declaração de rendimentos?”, questionam, reforçando novamente “tudo foi feito para impedir a descoberta da verdade”.

PSD e CDS não dizem quais vão ser as “diligências necessárias para se encontrar a verdade”, mas não excluem a hipótese de chamar António Costa. “Era bom que não fosse preciso interpelar o primeiro-ministro para responder às questões da comissão, mas se houver falta de esclarecimento, isso pode acontecer”, admite Luís Montenegro. Quanto à admissão e constituição da próxima comissão de inquérito, o líder parlamentar nem admite “a hipótese” de haver problema, referindo que não há “nenhum tipo de cobertura legal ou constitucional” para Ferro Rodrigues impedir a CPI.

O CDS admite que a questão do acesso aos SMS pode ser remetida para a auditora jurídica da Assembleia da República algo que, diz Nuno Magalhães, a esquerda nem sequer deixou. “Não se trata de matéria privada”, refere, dizendo que na sua opinião “é constitucional”. No entanto, reconhece que possam haver dúvidas. Nuno Magalhães brincou até: “Onde há 3 juristas há pelo menos 4 opiniões”. Confrontado sobre se entregaria as SMS sobre o período em que esteve como secretário de Estado, Magalhães respondeu que “qualquer SMS que possa ter trocado sobre contratação pública e funções públicas, não tinha nenhum problema em revelar”.

Existem, neste momento, dúvidas sobre se os SMS trocados entre Mário Centeno e António Domingues possam ser admitidos na nova comissão de inquérito. A esquerda já alertou para eventuais problemas de constitucionalidade e legalidade e mesmo os especialistas na área têm dúvidas sobre essa possibilidade. O líder parlamentar do PSD já admitiu que poderá chamar o primeiro-ministro, mas exclui a hipótese de Marcelo Rebelo de Sousa ser chamado.

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Estatuto CGD: PSD já avançou para o Tribunal Constitucional

O Constitucional recebeu o pedido de fiscalização de uma alteração ao Estatuto do Gestor Público que afeta a CGD. Caso a exceção seja inconstitucional, o salário de Paulo Macedo está em causa.

O PSD já fez um pedido de fiscalização constitucional do decreto-lei que retirou os gestores da CGD do Estatuto de Gestor Público. A informação foi confirmada ao ECO pelo Tribunal Constitucional (TC) e pelo deputado social-democrata Luís Marques Guedes, ex-ministro da Presidência do Governo de Pedro Passos Coelho. O pedido chegou ao TC no final de janeiro, quase dois meses depois de o PSD ter anunciado que o ia fazer.

O pedido de fiscalização sucessiva das alterações introduzidas ao Estatuto de Gestor Público por um decreto-lei do Governo já chegou ao Palácio Ratton. Estas mudanças foram negociadas com António Domingues, como mostrou a correspondência divulgada esta quarta-feira pelo ECO, e traduziram-se numa exceção da aplicação do Estatuto “a quem seja designado para órgão de administração de instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado e qualificadas como ‘entidades supervisionadas significativas’”, lê-se no decreto-lei de 28 de julho de 2016. Ou seja, a Caixa Geral de Depósitos.

Com a demissão da administração da CGD, quem pode agora vir a ser afetado caso o Tribunal Constitucional apure a inconstitucionalidade do diploma é a nova administração de Paulo Macedo, o atual presidente executivo do banco público e ex-ministro da Saúde do Governo PSD/CDS. Em causa está a remuneração de Macedo, um salário anual de 423 mil euros, acrescido de uma remuneração variável que pode ir até 50% da componente salarial fixa e que depende dos resultados alcançados.

Este valor foi justificado por António Costa com o argumento da CGD estar num mercado concorrencial: “Fizemos uma remuneração para que a CGD tenha uma gestão profissional”. Também Mário Centeno tinha dada uma justificação no Parlamento, em outubro, referindo que “a política remuneratória dos administradores da Caixa corresponde à mediana no setor em Portugal”, uma forma de, argumenta, não ser influenciada pelo mercado “nem no sentido de o inflacionar nem no de [estes salários] estarem fora do mercado”.

No entanto, caso a exceção criada pelo atual Governo seja eliminada, o salário poderá ser revisto. Na circunstância de voltar-se a aplicar o Estatuto do Gestor Público, a administração da CGD terá de ser remunerada consoante o que define o artigo 28º, que se refere às remunerações. O ponto 9 desse artigo é explícito: quando se trate de empresas cuja principal função seja fornecer serviços financeiros, “e relativamente à qual se encontrem em regime de concorrência no mercado, mediante autorização expressa do membro do Governo responsável pela área das finanças, os gestores podem optar por valor com o limite da remuneração média dos últimos três anos do lugar de origem”.

Está assim em causa o salário não só de Paulo Macedo como da sua administração. O ex-ministro da Saúde esteve, em 2014 e 2015, no Governo e durante o ano de 2016 voltou ao BCP para gerir a Ocidental Vida. Caso se volte a aplicar o Estatuto do Gestor Público em vigor, isso pode significar uma alteração da remuneração do presidente executivo da CGD.

Contudo, falta conhecer o documento que o PSD entregou no Tribunal Constitucional e qual a argumentação dos sociais-democratas. No início de dezembro, quando o partido anunciou que ia avançar para o TC, o deputado Marques Guedes explicou ao ECO que existe um artigo do Regime Jurídico do Setor Público Empresarial sobre o qual o Governo não pode legislar por cima.

Segundo o deputado do PSD, a responsabilidade da lei de bases gerais do setor empresarial do Estado é do Parlamento, uma vez que existe reserva de competência desta matéria para a Assembleia da República. O artigo 21º, relativo ao “gestor público”, do Regime Jurídico do Setor Público Empresarial refere que é “aplicável o disposto no Estatuto do Gestor Público” a todos os gestores públicos. O deputado social-democrata explicou ao ECO que, “pela ordem jurídica”, o Governo não pode fazer este decreto-lei, pois “tem de se subordinar” à lei de bases.

Mas poderá haver ainda outra linha de argumentação. Quando o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, anunciou que o partido ia avançar explicou que estavam “a aprofundar o requerimento, mas está centrado em não haver um tratamento igual em todo o setor público e no setor empresarial do Estado”. “Demos três oportunidades aos partidos que suportam o governo para revogar o regime que está hoje em vigor e que resultou do compromisso entre a atual administração e o Governo”, justificou na altura, referindo que “esgotadas que estão as possibilidades de o legislador resolver o problema, vamos suscitar a questão ao Tribunal Constitucional”.

Os juízes do Tribunal Constitucional vão analisar se as normas em concreto são ou não inconstitucionais, não tendo prazo para o fazer. Se o Tribunal Constitucional chumbar as normas enviadas, a decisão tem força obrigatória geral, o que significa que tem de ser eliminada a ordem jurídica.

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Costa pede à direita que pare de “brincar com a dívida”

  • Margarida Peixoto
  • 8 Fevereiro 2017

O primeiro-ministro acusou o PSD e o CDS de brincarem com a dívida e de fazerem declarações que "perturbam os mercados". E defendeu que os leilões desta manhã foram bem-sucedidos.

Foi um misto de acusação com pedido de tréguas. António Costa foi confrontado esta tarde, na Assembleia da República, com os números da dívida. Trazia a lição estudada: respondeu com os valores do Executivo passado e com outras conquistas do atual Governo. Mas acabou por acusar os deputados da direita de ter intervenções que perturbam a confiança dos mercados e de “acender uma vela a rezar pelo aumento dos juros”.

“Não me lembro de nenhum país democrático onde a oposição tivesse brincado com a dívida pública. Nunca ninguém me ouviu dizer alguma palavra que perturbasse a confiança dos mercados. E nunca ninguém me viu a acender uma vela a rezar pelo aumento dos juros”, criticou António Costa. E frisou: “Quem não sabe ser Governo, continua a não saber ser oposição.”

O primeiro-ministro respondia a Assunção Cristas, líder do CDS-PP, que já no debate quinzenal anterior tinha pressionado o Executivo com os números da dívida. Nessa altura, Cristas criticou Costa por não revelar o valor do aumento da dívida pública bruta. Esta tarde, já com os números publicados pelo Banco de Portugal — e que dão conta de uma subida da dívida de nove mil milhões de euros, para os 241,1 mil milhões de euros — Costa não teve outro remédio se não assumir a subida do endividamento.

“No ano passado a dívida pública aumentou 0,7 pontos percentuais. Mas os 0,7 explicam-se unicamente pelo esforço que tivemos de fazer para resolver o problema do sistema bancário”, frisou o chefe do Executivo, lembrando os casos do Banif e da Caixa Geral de Depósitos.

Esta resposta foi dada tanto a Assunção Cristas, como a Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD. O deputado tinha deixado um aviso sério: “A gestão da dívida do seu Governo é um desastre. Tem de acordar para o problema porque isto vai-lhe rebentar nas mãos.”

Costa aproveitou a oportunidade para dizer que durante a legislatura do Governo PSD/CDS-PP a dívida pública bruta aumentou “32,2 pontos percentuais, de 96,9% do PIB, para 129% do PIB”. Já no seu Governo, defendeu o primeiro-ministro, o défice é “o que menos contribui para a subida da dívida e o saldo primário é o que mais contribui para a sua descida”.

Sobre o aumento dos juros no financiamento da República, verificado nos leilões de Obrigações do Tesouro realizados esta manhã, Costa recorreu à presidente do IGCP, Cristina Casalinho, para defender que as operações de colocação de dívida foram, apesar de tudo, bem-sucedidas. “Sem quebrar nenhuma confidência, a presidente do IGCP estava bastante satisfeita”, disse o primeiro-ministro, replicando os argumentos que a responsável pelo Tesouro lhe terá dado: a emissão foi a cinco anos, “que é um prazo difícil” e na sequência dos leilões já se verificou uma “redução da taxa de juro que já baixou sete pontos base”.

No final, o primeiro-ministro disse apenas: “faremos tudo para continuar a contribuir para uma redução da taxa de juro”.

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Dois meses depois, PSD ainda não avançou para o Tribunal Constitucional

Ainda se lembra do PSD dizer que ia enviar para o Tribunal Constitucional o decreto-lei do Governo relativo ao Estatuto do Gestor Público? Dois meses depois, o partido ainda não avançou.

A 6 de novembro o PSD ameaçou. Um dia depois, Luís Montenegro anunciou: o PSD ia avançar com o pedido de fiscalização sucessiva das alterações introduzidas ao Estatuto de Gestor Público por um decreto-lei do Governo. Estávamos no auge da polémica com António Domingues, ex-presidente da CGD, com a proposta dos sociais-democratas para reverter as mudanças a ser chumbada no Parlamento. A vontade, no entanto, não se efetivou. Dois meses depois, o PSD ainda não avançou até ao momento.

As mudanças envolvem os salários dos administradores das instituições financeiras do Estado, como é o caso da Caixa Geral de Depósitos, mas não só. O Estatuto do Gestor Público envolve ainda questões como a entrega da declaração de rendimento e património ou regras de conduta, por exemplo, a que os gestores públicos estão sujeitos. A exceção a este regime foi criada pelo Governo, em julho de 2016, através de um decreto-lei que o PSD afirma que é inconstitucional.

Esgotadas que estão as possibilidades de o legislador resolver o problema, vamos suscitar a questão ao Tribunal Constitucional.

Luís Montenegro

7 de dezembro de 2016

Porquê? Quando o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, anunciou que o partido ia avançar explicou que estavam “a aprofundar o requerimento, mas está centrado em não haver um tratamento igual em todo o setor público e no setor empresarial do Estado”. “Demos três oportunidades aos partidos que suportam o governo para revogar o regime que está hoje em vigor e que resultou do compromisso entre a atual administração e o Governo”, justificou na altura, referindo que “esgotadas que estão as possibilidades de o legislador resolver o problema, vamos suscitar a questão ao Tribunal Constitucional”.

No dia anterior, o deputado Luís Marques Guedes tinha explicado ao ECO outra linha de argumentação, diferente do tratamento desigual. O que está em causa para o ex-ministro da Presidência? Há um artigo do Regime Jurídico do Setor Público Empresarial sobre o qual o Governo não pode legislar por cima.

Segundo o deputado do PSD, a responsabilidade da lei de bases gerais do setor empresarial do Estado é do Parlamento, uma vez que existe reserva de competência desta matéria para a Assembleia da República. O artigo 21º, relativo ao “gestor público”, do Regime Jurídico do Setor Público Empresarial refere que é “aplicável o disposto no Estatuto do Gestor Público” a todos os gestores públicos. O deputado social-democrata explicou ao ECO que, “pela ordem jurídica”, o Governo não pode fazer este decreto-lei, pois “tem de se subordinar” à lei de bases.

Se o partido realmente enviar o pedido para o Palácio Ratton, os juízes vão analisar se as normas em concreto são ou não inconstitucionais, não tendo prazo para o fazer. Se o Tribunal Constitucional chumbar as normas enviadas, a decisão tem força obrigatória geral, o que significa que tem de ser eliminada a ordem jurídica.

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PSD: “Responsabilidade” da TSU é do BE e PCP

O PSD atira as responsabilidades sobre a Taxa Social Única para o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português. Na próxima quarta-feira, os partidos unem-se para acabar com a redução.

O líder parlamentar social-democrata avisa que a responsabilidade da redução da TSU cair no Parlamento é do PCP e do BE, por “tirarem o tapete ao Governo”. Luís Montenegro, em entrevista à SIC Notícias, reforçou que “não há dúvida nenhuma” que o PSD vai votar a favor da cessação de vigência do decreto-lei, ou seja, na prática, na revogação. Na semana passada, ao ECO, Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, tinha avisado que “cada um assume as suas responsabilidades”.

“A responsabilidade da decisão que o Parlamento vai tomar é sobretudo devido ao PCP e o BE tirarem o tapete ao Governo”, afirmou Montenegro, atacando os partidos à esquerda de “puro malabarismo político” e brincarem à democracia por “quererem estar de um lado e do outro”. O social-democrata diz ser “legítimo” ter opiniões diferentes, mas considera que “é de um grande cinismo virarem-se para o PSD por afinal votar com eles, produzindo um efeito que na verdade não criam”.

 

O líder parlamentar do PSD garantiu que o partido “não é a moleta do Governo”: “Não contem com o PSD para fazer jogos políticos para marcar diferenças dentro da maioria do Governo”, disse. Mas o ataque não se limitou aos partidos à esquerda do PS. António Costa mereceu também críticas: “Este primeiro-ministro sabe desde o início que não foi escolhido pelo povo e que o seu programa não foi sufragado”. Por isso, a sua legitimidade política está no Parlamento onde agora falha.

 

Sobre os parceiros sociais, o social-democrata considera que estes “não estão mais satisfeitos com o acordo do que o PSD”. Para Montenegro, o Governo “simulou uma negociação na concertação social”, dado que já era certo o aumento de 27 euros no salário mínimo. É, por isso, normal que os parceiros sociais quisessem, pelo menos, aproveitar as contrapartidas para minorar o efeito, “tentando proteger os seus interesses”, argumenta o líder parlamentar do PSD.

“A política sem risco, era uma chatice. Sem ética, era uma vergonha”, afirmou Luís Montenegro, citando Sá Carneiro, para atacar António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins pela “falta de ética”.

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