Web Summit 2018: conheça aqui o programa completo

A pouco mais de um mês do maior evento de tecnologia e empreendedorismo, já há programa. Na lista de oradores estão nomes como António Guterres, Tim Berners-Lee e Darren Aronofsky.

Numa altura em que falta pouco mais de um mês para o Web Summit, já pode decidir os painéis que quer ver e ouvir: a organização do evento divulgou esta terça-feira o horário e a agenda completos do Web Summit para os dias 5, 6, 7 e 8 de novembro.

Os trabalhos arrancam na tarde de segunda-feira, 5 de novembro, com a sessão de abertura liderada por Paddy Cosgrave, cofundador e CEO da empresa, e alguns convidados. No dia seguinte, terça-feira, arrancam os painéis de debate e com speakers, divididos por onze palcos, como a Startup University ou a Panda Conf.

A Web Summit realiza-se na Altice Arena e na FIL, no Parque das Nações, mas a seguir às palestras convida os participantes a explorar algumas zonas de Lisboa. O objetivo é dar a conhecer a noite da capital, por exemplo através de um pub crawl pelos bares da cidade, que cria oportunidades para um networking mais descontraído.

Esta é a última edição que tem localização garantida em Lisboa, e ainda não se sabe onde vai realizar-se o Web Summit em 2019. No ano passado o evento contou com mais de 59 mil pessoas e, este ano, a organização espera chegar às 70 mil.

Quem ver na Web Summit?

Vão marcar presença executivos de grandes empresas como as vice-presidentes da Apple e da Google, e o presidente da Samsung, Young Sohn, que vai falar sobre inteligência artificial, na terça-feira. O responsável pelo produto na Netflix discute como a plataforma pode ligar o mundo com histórias através da tecnologia, e o presidente da Microsoft, Brad Smith, debruça-se sobre a diplomacia cibernética e como esta pode salvar o mundo de uma guerra, na quarta-feira, dia 7.

Entre os speakers destaca-se Tim Berners-Lee, fundador da World Wide Web, Devin Wenig, o CEO do eBay, e Darren Aronofsky, o realizador e produtor de filmes como “Cisne Negro” e “Mãe!”. Entre os que também participaram na última edição da Web Summit está a robô Sophia, que regressa a Lisboa um ano depois.

A comissária europeia Margrethe Vestager também volta a fazer parte da lista de oradores. Tem estado na linha da frente da regulação às grandes tecnológicas, como para a Google, que foi multada em 4,34 mil milhões de euros, e a Amazon, que é o foco da última investigação. O painel da comissária vai debruçar-se sobre a economia digital.

Cartaz da edição de 2018 do Web Summit.Web Summit

As startups terão várias conversas por onde escolher, como uma liderada por David Slok da norte-americana Matrix Partners, que promete revelar nove segredos para o sucesso. Na quarta-feira à tarde são as semifinais da competição das startups, Pitch e, na quinta-feira, último dia do evento, o fundador Paddy Cosgrove vai revelar quem venceu.

Mas a conferência não é apenas tecnologia, e há espaço para, por exemplo, o treinador André Villas-Boas entrevistar o futebolista Ronaldinho, que vai também participar noutras conversas.

Bilhetes para todos os gostos

Se quer ir mas não tem bilhete, ainda pode comprar os regulares. Quanto mais próximo o evento, mais caros ficam os passes, e os de “super early bird” e “early bird” já esgotaram, bem como aqueles que davam acesso apenas ao piso das exposições. Agora o bilhete geral normal são 850 euros, para executivo são 4.995 euros, e uma chairperson paga 24.995 euros.

Já para as startups, existe o pacote Alpha, no valor de 995 euros, que inclui três bilhetes para a equipa. E, se estiver a planear ir em grupo, pode conseguir bilhetes mais baratos. Se forem entre 5 a 9 pessoas são 808 euros, 10 a 14 pagam 765 euros, e 15 a 19 conseguem entradas por 723 euros, no que é um desconto de 15%. A seguir a esta “leva” ainda serão postos à venda os bilhetes Late e Late Late.

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Final do G7: “Faremos todos os possíveis para reduzir barreiras alfandegárias”

  • Lusa
  • 10 Junho 2018

Os países do G7 assinaram o documento final onde assumem um compromisso de fazer "todos os possíveis" por reduzir barreiras alfandegárias e abrir comércio internacional.

Os líderes do grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) assinaram este sábado um texto no qual defendem um comércio internacional com “regras” e se comprometem a tentar “reduzir as barreiras alfandegárias, barreiras não alfandegárias e subsídios”.

Apesar de persistir a disputa sobre taxas alfandegárias com os Estados Unidos, os sete países mais industrializados do mundo conseguiram assinar um “texto comum” depois de dois dias de cimeira em La Malbaie, no Canadá. Apenas as questões ambientais não contaram com a assinatura do presidente norte-americano, Donald Trump.

“Faremos todos os possíveis para reduzir as barreiras alfandegárias, barreiras não alfandegárias e subsídios”, diz o comunicado final de 28 pontos e oito páginas assinado pelos Estados Unidos da América, Alemanha, Canada, França, Reino Unido, Itália e Japão. “Nós enfatizamos o papel crucial de um sistema de comércio internacional baseado em regras e continuamos a lutar contra o protecionismo”, refere o documento, que menciona a importância de existirem “regras” coletivas tal como vinha sendo defendido pelos europeus, que têm denunciado constantemente as ameaças da guerra comercial levada a cabo por Donald Trump.

Os sinais de tensões comerciais foram sendo percetíveis ao longo da cimeira em várias declarações de governantes, tais como a feita este sábado no final do encontro pelo primeiro-ministro do Canada e anfitrião da cimeira, Justin Trudeau, que disse que a partir do dia 1 de julho o Canadá começará a impor represálias comerciais aos Estados Unidos.

Também o presidente francês Emmanuel Macron confirmou que as taxas decididas pela União Europeia contra os Estados Unidos vão começar a ser aplicadas no próximo mês. Já ausente da cimeira, Donald Trump afirmou no Twitter que “os Estados Unidos não permitirão que outros países imponham tarifas e tarifas massivas aos seus agricultores, seus trabalhadores e suas empresas”.

Faremos todos os possíveis para reduzir as barreiras alfandegárias, barreiras não alfandegárias e subsídios.

No comunicado divulgado, os líderes do G7 dizem-se ainda “comprometidos com a modernização da Organização Mundial de Comércio, de forma a torná-la mais justa o mais rapidamente possível”. Segundo o documento final, comprometeram-se ainda a defender o papel das “regras comerciais coletivas” e a denunciar situações de protecionismo. Outro dos pontos em que os líderes conseguiram chegar a acordo diz respeito à questão do Irão: os países do G7 comprometem-se a impedir que o Irão consiga obter armas nucleares.

Tal como a chanceler alemã Angela Merkel já havia anunciado anteriormente, também o presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou que a reunião no Canadá “conseguiu uma declaração conjunta sobre o comércio”, mas “não resolve tudo”: “O nosso desejo é continuar a trabalhar nos próximos meses”, disse o presidente francês. Entre as questões mais fraturantes destaca-se a última medida comercial imposta unilateralmente pelos norte-americanos, que veio impor taxas alfandegárias às importações de aço e alumínio da União Europeia, Canadá e México.

Ainda durante a cimeira, Trump anunciou o desejo de ver o G7 “remover as taxas, remover as barreiras não tarifárias e remover outros mecanismos”, tendo ainda enaltecido a qualidade das relações com os outros dirigentes que integram o G7, nomeadamente com o primeiro ministro canadiano, o presidente francês e a chanceler alemã.

Mundo está a perder batalha contra poluição dos oceanos, diz Guterres na cimeira do G7

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, disse, num evento no âmbito da cimeira do G7, que o mundo está a perder a batalha contra a poluição dos oceanos em todas as frentes. António Guterres falava numa sessão subordinada ao tema “Oceanos, mares, costas e comunidades saudáveis, produtivas e resistentes”, realizada durante a cimeira do G7.

Nesta sessão em que participaram os líderes do G7, países convidados e organizações internacionais, o chefe da ONU, num discurso divulgado pelo jornal da organização, lembrou que todos os anos são lançadas aos oceanos oito milhões de toneladas de plástico e sublinhou que, se nada for feito, até 2050 os oceanos terão mais plástico do que peixes. Guterres acrescentou que atualmente são encontrados plásticos “nas áreas mais remotas do planeta” e que, no oceano Pacífico, já existe uma massa de plástico “maior do que a França”. “Todos precisam de fazer mais, não apenas em relação aos plásticos, mas em todos os assuntos sobre oceanos”, alertou.

Pesca em excesso, descargas de água sem tratamento, acidificação dos oceanos e mudanças climáticas foram outros dos temas abordados pelo secretário-geral da ONU na sua intervenção. Referiu ainda o facto de 40% da população mundial residir a menos de 100 quilómetros da costa, o que faz com que “muitas dessas pessoas sejam vulneráveis não apenas a tempestades, mas também à subida dos oceanos e erosão da costa”.

Todavia, o chefe da ONU afirmou que o mundo tem um plano para melhorar esta situação, exemplificando com a Agenda 2030, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. “Nenhuma destas iniciativas e declarações tem valor se não se admitir que esta é uma emergência global”, sustentou, justificando a sua presença no encontro com a necessidade de “fazer soar o alarme” e “injetar um sentimento de urgência nas deliberações e processos de decisão”. No final do discurso, Guterres apelou aos líderes presentes na cimeira do G7 para encararem estas “ameaças com seriedade e percebam que o futuro coletivo está em risco”.

 

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António Guterres lança alerta ao mundo após um ano de “caminho inverso” à paz

  • Lusa
  • 31 Dezembro 2017

Guterres destacou ainda que “as alterações climáticas avançam mais rapidamente” do que os esforços para as enfrentar, assim como “as desigualdades [se] acentuam”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, considerou hoje, na sua mensagem de Ano Novo, que em 2017 se observou um “caminho inverso” à paz e deixou um “alerta ao mundo” no sentido da união.

“Há um ano, quando iniciei o meu mandato, lancei um apelo à paz para 2017. Infelizmente o mundo seguiu, em grande medida, o caminho inverso. No primeiro dia do ano de 2018, não vou lançar um novo apelo. Vou emitir um alerta ao mundo”, declarou Guterres.

Na sua curta mensagem, o líder das Nações Unidas e antigo primeiro-ministro português afirmou que, em 2017, “os conflitos aprofundaram-se e novos perigos emergiram, a ansiedade global relacionada com as armas nucleares atingiu o seu pico desde a guerra fria”.

Pela negativa, Guterres assinalou que “as alterações climáticas avançam mais rapidamente” do que os esforços para as enfrentar, tal como “as desigualdades, acentuam-se”, persistem “violações horríveis” de direitos humanos e “estão a aumentar” os nacionalismos e a xenofobia.

“Ao começarmos 2018, apelo à união. Acredito verdadeiramente que podemos tornar o mundo mais seguro, podemos solucionar os conflitos, solucionar os ódios e defender os valores que temos em comum, mas só poderemos fazê-lo em conjunto”, afirmou.

O secretário-geral das Nações Unidas deixou ainda um apelo aos líderes de todo o mundo para que assumam um compromisso: “Estreitem laços, lancem pontes, reconstruam a confiança, reunindo as pessoas em torno de objetivos comuns”. A união, referiu ainda, “é o caminho e o nosso futuro depende dela”, deixando, no final da mensagem dirigida aos “queridos amigos em todo o mundo”, os desejos de “paz e saúde em 2018”.

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Guterres: “Dizem bem de mim, mas só porque saí de Portugal”

  • ECO
  • 19 Novembro 2017

O secretário-geral da ONU foi almoçar com o Financial Times para uma longa entrevista onde faz comentários sobre Portugal, a chegada ao cargo que ocupa e o relacionamento com Trump.

António Guterres considera que atualmente, em Portugal, o seu nome vem acompanhado de comentários positivos, mas apenas porque saiu do país. Quase um ano depois de estar num dos cargos mais importantes do mundo, o ex-primeiro-ministro português faz um balanço das conquistas e problemas que enfrentou numa entrevista com o jornal britânico.

Quando sai do Governo em Lisboa, era atacado por muitas pessoas, mas eu não dizia nada“, revela, em entrevista ao Financial Times (acesso pago). “Agora, claro, toda a gente diz coisas boas sobre mim, mas só porque eu saí de Portugal”, atira o atual secretário-geral das Nações Unidas.

Questionado sobre qual foi a sua maior conquista nos primeiros 11 meses de trabalho, Guterres é direto: “Termos evitado um disrupção com os Estados Unidos”, responde, referindo-se à também nova presidência liderada por Donald Trump, que entrou em funções na mesma altura que António Guterres. Em causa esteve o financiamento dado pelos EUA à ONU quando a Casa Branca queria cortar o dinheiro que entrega a várias entidades.

Contudo, o tom de Trump mudou após o encontro com Guterres em Washington. “O meu truque é simples: ser autêntico. Dizer a verdade às pessoas numa forma em que elas vão perceber“, explica, assinalando também o papel da embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley. “Eu não sou um profissional do Twitter”, comenta a certa altura, reconhecendo que “Trump é um homem muito prático”.

No entanto, ainda existem muitos problemas por resolver. Por exemplo, a situação na Coreia do Norte continua a ser “extremamente imprevisível atualmente”, classifica o português. Além disso, continua a haver uma diferença de opinião relativamente às alterações climáticas entre a maior parte dos países e a atual presidência norte-americana.

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Desde Durão que ninguém cumpre a promessa para a dívida

Guterres e Durão foram os únicos a cumprir a promessa no PEC para a dívida. Mas foi no último ano de Durão que furámos o teto de Maastricht e desde então o peso da dívida no PIB mais do que duplicou.

Não é uma promessa feita em comícios ou arruadas, mas todos os anos, desde 1999, os sucessivos governos enviam para Bruxelas um documento — chamado Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) — em que se comprometem com metas para os valores da dívida pública para o próprio ano e para os quatro anos seguintes.

Olhando para as promessas feitas a Bruxelas, quase sempre no sentido de baixar a dívida, chega-se rapidamente à conclusão que Durão Barroso foi o último, no Governo de incidência parlamentar PSD/CDS–PP em 2003, a cumprir aquilo que prometeu. Logo no ano seguinte, em que Barroso sai e entra Pedro Santana Lopes, Portugal furou pela primeira vez o limite dos 60% do PIB impostos pelos critérios de Maastricht e a dívida pública entrou numa escalada, tendo já superado a fasquia dos 130%.

Vale a pena uma viagem no tempo pelo gráfico da dívida pública, numa altura em que o tema entrou definitivamente na agenda. O PS e o Bloco, juntamente com o Governo, já apresentaram um documento para restruturar a dívida portuguesa. A resposta mais à direita chegou esta semana com o estudo sobre o mesmo tema da Plataforma para o Crescimento Sustentável, um think tank presidido por Jorge Moreira da Silva.

António Guterres prometeu e cumpriu

Vamos por partes. O PEC inscreve-se no contexto da terceira fase da União Económica e Monetária, que teve início em 1 de janeiro de 1999, com o objetivo de garantir o prosseguimento do esforço de disciplina orçamental dos Estados-Membros da União Europeia após o lançamento da moeda única.

Nele, os governos comprometem-se com valores para colocar a dívida numa rota sustentável e em Portugal António Guterres foi o primeiro a fazer um PEC. Não só conseguiu atingir os objetivos a que se propôs, como os superou. Em 2000 compromete-se a baixar a dívida para 57,1% do PIB e termina o ano com um registo melhor, de 50,3%. Conseguiu o mesmo brilharete em 2001, ano em que a economia cresceu 1,9%, depois de já em 2000 ter crescido quase 4%.

Barroso, o país de tanga e lá se foi o limite de Maastricht

António Guterres acabaria por sair em 2002, na sequência dos resultados obtidos pelos socialistas nas autárquicas de dezembro de 2001. O país virou à direita e seguiu-se Durão Barroso que não gostou do que encontrou nas contas públicas, tendo em abril desse ano proferido a famosa frase: “Os senhores [do PS] deixaram Portugal de tanga”.

Barroso aplica o que chama de “segunda versão do Programa de Emergência da Economia” e o ano termina com a dívida pública a subir para os 56,2%, mesmo assim muito perto dos 55,7% inscritos no PEC. No ano seguinte, volta a cumprir à risca a promessa: no PEC inscreve 58,7% e a dívida queda-se milimetricamente nos 58,7%.

Em 2004, Durão ruma a Bruxelas para a presidência da Comissão Europeia e a cadeira de primeiro-ministro fica para Pedro Santana Lopes. Nesse ano, o país falha por dois pontos percentuais a meta com que se comprometeu com Bruxelas, e pela primeira vez fura o limite de Maastricht para a dívida que impõe um teto de 60% do PIB.

Da maioria absoluta às medidas anticrise de Sócrates

No início de 2005, o atual provedor da Santa Casa de Lisboa perdeu as eleições para José Sócrates que, com maioria absoluta conseguiu acelerar o crescimento, culminando com uma taxa de 2,5% em 2007. Aliás, nos seis anos de poder de Sócrates, 2007 foi o único em que conseguiu baixar ligeiramente a dívida pública, em 0,8 pontos percentuais, de 69,2% para 68,4%. Ainda assim longe dos 64,4% com que o próprio se comprometeu com Bruxelas.

O primeiro-ministro José Sócrates, ladeado por Fernando Medina, então secretário de Estado do Emprego e Segurança Social, e Vieira da Silva, o titular da pasta (à dirt).PEDRO PINA/LUSA

A crise bate à porta em 2008 e, no ano seguinte, a ordem vinda de Berlim é para políticas expansionistas para debelar a crise.

No PEC desse ano, lia-se o seguinte: “a execução orçamental de 2009, em Portugal, foi fortemente marcada pela crise económica e financeira. Os desenvolvimentos da conjuntura macroeconómica refletiram-se nas contas públicas quer via estabilizadores automáticos — com particular incidência na quebra da receita fiscal — quer através das medidas anticrise que implicaram, sobretudo, acréscimos na despesa pública. Deste modo, o processo de consolidação orçamental, iniciado em 2005, foi interrompido em 2008, estimando-se que o défice das Administrações Públicas se tenha agravado em 6,7 p.p. do PIB entre 2007 e 2009”.

O défice derrapou e a dívida pública deu um pulo, abrindo um grande hiato entre os 69,7% prometidos a Bruxelas e os 83,6% de dívida contabilizados no final desse ano. No ano seguinte, o cenário repetiu-se e a dívida quase rompia a barreira dos 100%. Mas as políticas expansionistas acabaram por ter algum impacto no crescimento na economia (1,9% em 2010). Foi sol de pouca dura.

Evolução do rácio da dívida sobre o PIB nos últimos anos 17 anos

Mais 78 mil milhões da troika em cima da dívida

No ano seguinte, Portugal regressou à recessão, a dívida pública ultrapassou a fasquia dos 100%, os investidores pediam taxas de juros perto dos 7% a dez anos e o país viu-se obrigado a pedir ajuda internacional.

Chegou a troika que negociou o programa de resgate ainda com Sócrates, mas foi Passos Coelho, em coligação com o CDS-PP, que o pôs em prática. Foram três anos de austeridade e as tranches que iam chegando do FMI e da Comissão Europeia (78 mil milhões no total) atiraram a dívida para valores superiores ao da fasquia de 130% do PIB.

Durante esses anos a dívida foi penalizada por várias vias: a recessão colocou um travão às receitas e fez aumentar as despesas do Estado; as empresas públicas entraram em rotura e passaram para o perímetro da Administração Pública; a troika orçamentou muita dívida e despesa que estavam desorçamentadas; e foram descobertos buracos nas contas públicas na Madeira. A fatura do BPN (nacionalizado ainda no tempo de Teixeira dos Santos) e o colapso do BES (que obrigou o Estado a emprestar 3,9 mil milhões ao Fundo de Resolução da banca) agravaram ainda mais o endividamento de Portugal.

Já no final da era da troika, a economia volta a crescer 0,9%, em 2014, e mais 1,6%, em 2015, o que permitiu a Passos Coelho no seu último ano de Governo baixar o rácio do endividamento público de 130,6% para 129% do PIB.

Pedro Passos Coelho (à esq) e António Costa (à dir)TIAGO PETINGA/LUSA 25 abril, 2016

CGD e almofada baralham contas de Costa

António Costa não ganha as eleições de 2015, mas consegue um entendimento parlamentar com o PCP e Bloco que o leva ao poder.

No primeiro PEC que fez para o período de 2016 a 2020 prometeu a Bruxelas uma redução da dívida para os 124,8%, mas terminou o ano com o rácio da dívida nos 130,4%.

Costa manteve pelo menos parcialmente a almofada de liquidez deixada por Passos Coelho (o que estatisticamente ajuda a empolar o valor da dívida bruta) e é obrigado a colocar dinheiro de parte para socorrer à Caixa Geral de Depósitos que levou uma injeção de dinheiros públicos de 2,7 mil milhões de euros.

Para este ano, António Costa e Mário Centeno comprometeram-se com um rácio 127,9%, o que a acontecer representaria uma redução de 2,5 pontos percentuais. Para chegar a este valor, o Governo conta com um excedente primário (défice sem os juros pagos no serviço da dívida) de 2,7 pontos. E conta que o crescimento da economia (o PIB é o denominador do rácio da dívida e o seu crescimento faz baixar o rácio) tenha um impacto favorável de 4,1 pontos na dívida, o que anulará na quase totalidade o valor de 4,2 pontos que o país prevê gastar com o pagamento de juros.

É uma meta ambiciosa já que o Banco de Portugal veio anunciar, na semana passada, que a dívida pública bruta atingiu em abril deste ano um novo recorde de 247 mil milhões de euros. A história dos seus antecessores não joga a favor de Mário Centeno. Nem da dívida pública.

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Guterres quer encontrar-se com Macron “num futuro muito próximo”

  • Lusa
  • 8 Maio 2017

António Guterres, secretário-geral da ONU quer encontrar-se com o vencedor das eleições francesas, Emmanuel Macron "num futuro muito próximo".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, felicitou esta segunda-feira o vencedor das eleições presidenciais francesas, Emmanuel Macron, e disse querer reunir-se “num futuro muito próximo” com o próximo Presidente de França.

“Felicitamos o povo de França por uma eleição presidencial bem-sucedida e o Presidente eleito, Emmanuel Macron, pela sua vitória”, disse o porta-voz de Guterres aos jornalistas num ‘briefing’ nas Nações Unidas.

Stephane Dujarric disse que Guterres vai escrever uma carta a Macron convidando-o para um encontro “num futuro muito próximo” e lembrou que França “é um parceiro muito valioso” da ONU. “Esperamos um envolvimento rápido”, disse o porta-voz.

No encontro, disse Dujarric, os dois responsáveis deverão discutir temas como as mudanças climáticas, a luta contra o terrorismo e operações de manutenção de paz.

A eleição de Macron é uma boa notícia para Guterres e para a ONU, numa altura em que o Presidente dos EUA, Donald Trump, deve anunciar se mantém a promessa de campanha de retirar os EUA do Acordo do Clima de Paris, um acordo assinado por 175 país na ONU no ano passado. Já Macron, que prometeu durante a campanha manter França neste compromisso, convidou hoje os cientistas dos EUA que investigam alterações climáticas a desenvolver pesquisa no seu país.

Macron, um candidato centrista, venceu no domingo a segunda volta das presidenciais francesas, com 66%, derrotando a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen (34%).

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Quem vai a Davos 2017, a começar pela Shakira

A cantora colombiana Shakira vai a Davos. É a personalidade menos comum num leque de intervenientes que vai de Costa a Lagarde, de Guterres a Schäuble.

Shakira vai a Davos entre 17 e 20 de janeiro. Pode parecer um nome estranho para um encontro do Fórum Económico Mundial, mas há uma razão: a cantora vai receber um prémio entregue a personalidades, de vários quadrantes, consideradas exemplares na liderança a nível global.

A biografia no site dos speakers de Davos refere o papel de Shakira enquanto embaixadora da boa vontade pelo Governo colombiano, trabalho que lhe vale um prémio no encontro de 2017. Mas há outra ida inédita à cidade da Suíça: o Presidente chinês, Xi Jinping, vai com uma delegação chinesa sem precedentes.

Ao todo, Davos 2017 vai ter uma participação recorde de cerca de três mil dirigentes económicos e políticos mundiais. Entre eles vão estar, pelo menos, três portugueses: António Guterres enquanto secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Costa enquanto primeiro-ministro de Portugal e Pedro Rodrigues de Almeida enquanto membro do Comité Executivo do Fórum Económico Mundial. Mas há muito, muitos mais. Ora veja:

Editado por Mónica Silvares

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Novo secretário-geral da ONU quer “nova abordagem” para prevenir conflitos

  • ECO
  • 10 Janeiro 2017

Na primeira intervenção perante o Conselho de Segurança, o novo secretário-geral da ONU diz que é preciso prestar mais atenção à prevenção de conflitos e à mediação.

O novo secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu hoje “uma nova abordagem” para prevenir as guerras, na primeira intervenção perante o Conselho de Segurança, depois de assumido o cargo no passado dia 1.

Guterres sucedeu ao sul-coreano Ban Ki-moon prometendo fazer evoluir a organização internacional e redobrar os esforços para resolver as crises mundiais.

A ONU deve prestar muito mais atenção à prevenção de conflitos e à mediação, disse Guterres, adiantando ter começado já a estimular reformas nesse sentido, a começar pelo processo de tomada de decisões na secretaria-geral, com a criação de uma nova comissão executiva e uma assessora especial para assuntos políticos.

"Devemos reequilibrar o nosso foco sobre a paz e segurança. Durante décadas esteve dominado pela resposta ao conflito. Para o futuro, devemos fazer muito mais para prevenir a guerra e manter a paz.”

António Guterres

Secretário-geral da ONU

Para o secretário-geral, a prevenção de conflitos deve ser a prioridade máxima da ONU e pediu que 2017 seja um ano “para a paz”.

“Perderam-se demasiadas oportunidades de prevenção porque os Estados-membros desconfiam dos motivos dos outros e por preocupações relacionadas com a soberania nacional”, garantiu Guterres, que disse compreender estes receios devido ao desequilíbrio de poder no mundo e o “uso seletivo” feito no passado de certos princípios.

A prevenção de conflitos nunca pode ser usada para fins políticos, nem com “dois pesos e duas medidas”, insistiu o diplomata português.

“Mas isso não significa que não existam regras. A ação preventiva é essencial para evitar atrocidades em massa ou violações graves dos direitos humanos“, sublinhou.

Nesse sentido, Guterres pediu ao Conselho de Segurança para atuar aos primeiros sinais de alarme de um possível conflito e lembrou os enormes custos de ignorar estes sinais.

O discurso do secretário-geral da ONU abriu um debate, no qual estão previstas mais de 90 intervenções, incluindo as de vários chefes de diplomacia.

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Guterres tomou iniciativa e já falou com Trump

Foi o português quem decidiu ligar a Donald Trump. A conversa, segundo o porta-voz da ONU, foi sobre as relações futuras das duas entidades.

A ONU revelou esta quarta-feira que António Guterres já falou com Donald Trump ao telefone, depois de a 28 de dezembro ter dito que já tinha existido contactos entre as duas equipas de transição. A conversa baseou-se nas possibilidades das relações entre os Estados Unidos da América e Organização das Nações Unidas nos próximos quatro anos de mandato da nova administração.

De acordo o porta-voz da ONU, Farhan Haq, a iniciativa da ligação telefónica partiu do secretário-geral que iniciou as suas funções esta segunda-feira, dia 2 de janeiro de 2017. Haq afirmou ainda aos jornalistas, em Nova Iorque, na sede da organização, que Guterres e Trump mantiveram um diálogo positivo sobre as relações entre a ONU e os EUA, não revelando mais pormenores sobre no que concordam ou não.

Em discussão estiveram as “várias hipóteses de participação e cooperação entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América”. O porta-voz afirmou ainda que é a vontade de António Guterres manter um contacto próximo com o próximo presidente norte-americano. “Terei o maior interesse em visitar Trump assim que for possível”, afirmou em entrevista à SIC, na última semana do ano, garantindo que tudo fará “para trabalhar de forma construtiva com a nova Administração norte-americana”. Donald Trump toma posse a 20 de janeiro.

Editado por Paulo Moutinho

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E a personalidade do ano foi…

  • Ana Luísa Alves
  • 29 Dezembro 2016

Quem marcou o ano que esta semana se encerra? E porquê? O ECO foi tentar saber junto de uma reformada, uma desempregada, um estudante, uma professora e uma criança quem foi a personalidade de 2016.

Para uns é mais fácil, para outros pode levar uns minutos. Quando questionados sobre o nome que mais marcou o ano, as respostas dividem-se. Há dois portugueses na lista, e nenhuma mulher a destacar. Pelo menos para as cinco pessoas entrevistadas pelo ECO.

Donald Trump

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Margarida Silva tem apenas 11 anos, mas tinha na ponta da língua o nome da pessoa que, para ela, marcou o ano: Donald Trump.

Margarida está no sexto ano de escolaridade e acompanha as notícias na internet e com a mãe, jornalista e editora da secção de política no Diário de Notícias. Para ela, o mais recente Presidente eleito nos Estados Unidos tornou-se “famoso por discriminar as pessoas, por serem gays ou de raça negra”.

É já em janeiro que Donald Trump toma posse e Margarida considera que, no próximo ano, ainda vai dar que falar por bons e maus motivos. “Os maus é por poder continuar a discriminar as pessoas, os bons é por poder aprovar alguma lei que venha a ser boa para os norte-americanos”, explicou ao ECO.

Mas Margarida vai mais longe e revela aquele que, para ela, vai ser o maior desafio do Chefe de Estado eleito: “Tentar agradar às pessoas”.

Papa Francisco

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O Papa Francisco é a pessoa que ainda mantém alguma esperança na humanidade, quando até nós mesmos já desistimos, de certa forma, da ideia de que algo pode mudar”, explicou Inês Carvalho ao ECO.

Inês tem 22 anos, é licenciada em Gestão de Lazer e Animação Turística, mas neste momento está desempregada. Para ela a personalidade do ano foi o representante máximo da Igreja Católica por ser aquele que “pensa nas pessoas, em cada uma delas na sua individualidade, como seres humanos, e não apenas como trabalhadores, ou qualquer outra etiqueta que se possa colocar em alguém“.

“É isso que faz falta a todos nós, olharmo-nos uns aos outros para além da nossa profissão ou estatuto, mas sim como pessoas. As pessoas estão muito preocupadas com os rendimentos e com os bens que possuem, e não dão valor a atitudes e gestos que só por si podem fazer a diferença na vida de qualquer pessoa”, acrescentou.

Para Inês, aquilo que o Papa Francisco tem feito leva quem não é crente a acreditar no que diz. Para o ano, e à semelhança do que tem acontecido desde que foi eleito, em 2013, Inês espera que o Papa Francisco se continue “a destacar e a dar que falar por tudo aquilo que defende, e pela força com que acredita nos seus ideais“.

Marcelo Rebelo de Sousa

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Tiago Paiva tem 22 anos, e é estudante de História, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Para ele, a personalidade do ano foi Marcelo Rebelo de Sousa, eleito Presidente da República em março. E porquê?

“Pela forma como uniu em torno de si um povo que precisava de uma figura na qual se centrar e na qual encontrar a sua força para sair da miséria geral”, explicou Tiago ao ECO. “O Presidente destaca-se pela sua popularidade, de um lado ‘bom’ pela sintonia com o Governo, de um lado ‘mau’ pelo mau estar que cria, por vezes, no seio do partido”, acrescentou o estudante.

Será inevitável que Marcelo Rebelo de Sousa continue a dar que falar no próximo ano. Mas, para Tiago, será a “irreverência presidencial e quebras de protocolos” do atual Presidente da República que o vão distinguir em 2017. Além disto, o grande desafio que Marcelo Rebelo de Sousa pode vir a enfrentar será a “coesão social e política”, explico Tiago ao ECO.

António Guterres

Uma das pessoas que mais deu que falar em 2016 foi António Guterres, eleito em outubro para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas. É o nono representante da organização e para a professora Ana Paula Oliveira, foi a personalidade do ano.

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A escolha de Paula prende-se com a “capacidade de confrontar os interesses económicos, políticos e geoestratégicos das grandes potências mundiais na forma como têm vindo a lidar com o esmagador movimento de pessoas fugidas da guerra, da fome, da perseguição política, da tortura e da morte” do atual secretário-geral. “António Guterres destaca-se com a “denúncia discreta, mas contundente, das situações de injustiça que grassam pelo mundo das quais são vítimas seres humanos como nós, com direito à vida e a um futuro melhor”, acrescenta a professora.

E ao que tudo indica, António Guterres vai ser novamente uma das personalidades do ano que vem, devido à posição com que assumiu o cargo. “Guterres conseguiu, por si só e rompendo os esquemas de manipulação da escolha que sempre caracterizaram e desacreditaram a ONU, ser nomeado por aclamação secretário-geral, batendo rivais muito fortes politicamente, alguns escolhidos em último momento, por motivos políticos”, explicou Ana Paula ao ECO.

Para a professora, o grande desafio que Guterres enfrenta daqui para a frente passa por “dignificar a ONU enquanto organização que deve servir interesses supranacionais em nome da defesa dos direitos humanos, da paz e da autodeterminação dos povos”.

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Leonor Marmelo tem 67 anos e não foi preciso pensar muito para escolher Guterres como a personalidade do ano. A razão é só uma, “ter sido eleito como o novo secretário-geral das Nações Unidas de entre tantos países, e esse cargo é muito importante na vida daqueles que sofrem”.

Para o futuro, Leonor considera que o maior feito de Guterres pode passar por “negociar certas coisas, acabar com a guerra na Síria e dar apoio a todas as vítimas e todos os países envolvidos”, acrescentou.

Editado por Mónica Silvares

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Guterres: já houve contacto com a equipa de Trump

António Guterres deu esta quarta-feira a sua última entrevista em Portugal antes de chegar a secretário-geral da ONU. O português assume oficialmente o cargo este domingo, dia 1 de janeiro de 2017.

Terei o maior interesse em visitar Trump assim que for possível“, afirmou, em entrevista à Sic, o português que no próximo domingo passa a ser o secretário-geral da ONU. António Guterres referiu que já existiram contactos entre as equipas de transição e garantiu que tudo fará “para trabalhar de forma construtiva com a nova Administração norte-americana”.

O próximo secretário-geral da Organização das Nações Unidas vincou o papel “fundamental” dos Estados Unidos no funcionamento da ONU, recusando especular, em entrevista, se as relações com Donald Trump serão mais difíceis, assim como com Putin. Guterres defendeu-se dizendo que está habituado a dialogar e que até já teve uma reunião produtiva com o Presidente russo.

É entre a Rússia e os EUA que existe falta de consenso em relação à Síria. Na entrevista, o próximo secretário-geral da ONU alertou que é o Conselho de Segurança que cria as soluções e que cabe ao líder da organização administrar os recursos: “Não haverá verdadeiramente uma reforma da ONU se não for possível reformar o Conselho de Segurança para ser mais adaptado ao mundo de hoje, mas é difícil haver condições políticas para tal“, explicou António Guterres.

Colocando-se na posição de um sírio, Guterres afirmou que “estaria zangado com os atores que não encontraram uma solução”. O português diz existir “uma consciência crescente de que isto [guerra na Síria] se transformou num cancro à escala global“, referindo o impacto do conflito nos atos terroristas, transformando-se numa “ameaça global”.

Esta globalização da ameaça “deveria fazer os principais atores com influência no conflito perceber que uma solução será mais favorável para todos”, declarou, ressalvando que, na verdade, “sem apoios externos o conflito não seria possível”. Como solução à vista, Guterres fala em diplomacia discreta, tal como aconteceu em situações anteriores, para resolver este problema. “É mais difícil ter esta diplomacia discreta, mas é mais necessária do que nunca”, afirmou, referindo a diplomacia criativa. “A ação humanitária só por si não basta, é preciso fazer tudo para resolver politicamente as crises”, sentenciou.

É com o mesmo mote em mente que fala sobre o drama dos refugiados na Europa, desvalorizando o peso da fatura nos Estados europeus. “Na Europa há dois imigrantes ou refugiados por cada mil europeus. No Líbano há um refugiado por cada três libaneses“, relembrou o próximo secretário-geral da ONU. António Guterres falou da “pura ilusão” dos países europeus: “As sociedades europeias não são demograficamente sustentáveis, só com acesso à migração. As migrações são uma necessidade. Têm é de ser organizadas por cooperação entre os Estados”.

Guterres argumentou que o problema foi o alerta que passou nos media. “As opiniões públicas viram uma multidão avançar pelas fronteiras com a ideia de que ninguém controlava nada. A incapacidade política da Europa se unir criou movimento caótico que acabou por ser visto ameaçadoramente”, explicou o ex-primeiro-ministro.

O caminho até à ONU

“A questão central na minha vida tem muito a ver com a parábola dos talentos”, afirmou António Guterres relembrando as suas origens familiares, a sua formação e a revolução que assistiu quando era estudante de Engenharia Eletrotécnica. Nessa altura foi o “choque” com a realidade dos bairros de lata de Lisboa que fomentou a “intervenção política”.

A candidatura à ONU foi fruto de um “impulso moral muito forte de estar disponível”. O ex-primeiro-ministro acreditava que só teria 10 a 20% de hipóteses de chegar à liderança da organização. Num Conselho de Segurança dividido, Guterres conseguiu o consenso, mesmo entre Rússia e EUA numa altura em que o conflito sírio afetou as relações diplomáticas. Antes de assumir o cargo, o português já foi a Paris, Londres, Pequim, Washington e Moscovo auscultar os líderes dos países com poder de veto.

Chegado ao cargo, falta ainda muito trabalho. A começar pela equipa de Guterres que ainda não está formada. “Leva tempo”, disse, porque tem de ouvir os Estados-membros. No entanto, já se sabe que terá três mulheres na sua equipa para “dar um sinal claro” que a igualdade de género e a representação geográfica serão duas preocupações centrais do seu mandato de cinco anos à frente da ONU.

O orgulho em ser português

Questionado sobre o caso português onde os populismos não têm expressão, Guterres falou em orgulho. “Tivemos recentemente duas campanhas eleitorais que foram muito fortes quer para a Assembleia da República quer para a Assembleia da República, num clima bastante tenso, e ninguém levantou a questão dos imigrantes ou dos refugiados“, afirmou.

“E temos cerca de 400 mil imigrantes em Portugal e é possível aos demagogos dizer que é por causa deles que há desemprego, sabendo que isso não é verdade. A demagogia não se baseia na verdade, baseia-se nas perceções erradas que as pessoas podem ter sobre as situações. A atitude geral dos portugueses tem sido de aceitação da diversidade. Em Portugal ninguém ganhou votos com o ódio ou com a intolerância. Isso, para mim, enquanto português, enche-me de orgulho”, rematou o próximo secretário-geral da ONU.

Apesar de referir que enquanto secretário-geral das Nações Unidas não pode interferir na vida política de nenhum país, Guterres disse ter ficado “sensibilizado por todas as forças políticas em Portugal, o Parlamento e todos os órgãos de soberania, o Presidente da República e o Governo, se terem unido” na candidatura. “Isso teve uma influência grande. Ajudou muito à imagem do nosso país como um país em que se pode confiar“, afirmou.

Editado por Mónica Silvares

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Guterres na ONU: “Desejo expressar profunda gratidão para com o meu país”

  • Lusa
  • 13 Dezembro 2016

No final do dia em que prestou juramento na sede das Nações Unidas como secretário-geral da instituição, o português mostrou-se grato pelos valores que recebeu ao longo da vida.

O secretário-geral designado das Nações Unidas, António Guterres, agradeceu na segunda-feira aos portugueses as lições de “solidariedade, tolerância e diálogo” que recebeu ao longo da vida, destacando a unidade política nacional à volta da sua campanha.

No final de um dia em que prestou juramento na sede das Nações Unidas como secretário-geral, e numa receção oferecida pelo Presidente da República português para cerca de 800 pessoas, António Guterres fez questão de fazer um discurso mais pessoal. “Este é o momento em que desejo expressar a minha profunda gratidão para com o meu país”, afirmou.

Referindo-se ao primeiro-ministro, António Costa, como seu “querido amigo” e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como “velho amigo”, Guterres classificou-os como “os seus mais entusiasmados apoiantes” e agradeceu o apoio de todos os partidos políticos. “Esta unidade, dos portugueses e do seu sistema político, é simbólica do tipo de unidade que gostava de ver na comunidade internacional”, disse.

O antigo primeiro-ministro socialista agradeceu ainda ao povo português pelo que aprendeu ao longo da vida sobre “os valores da solidariedade, tolerância e dialogo” e exemplificou com a relação entre o chefe de Estado e chefe de Governo, que segunda-feira estiveram presentes em Nova Iorque na cerimónia de juramento e, à noite, na receção. “O primeiro-ministro e o Presidente da República pertencem a partidos diferentes, mas estão ambos aqui: mais do que as palavras, a sua linguagem corporal mostra como estão unidos”, destacou.

O futuro secretário-geral das Nações Unidas, que iniciará funções em 01 de janeiro, deixou ainda um elogio ao sistema político português, lembrando as eleições legislativas e presidenciais em que estes dois atores políticos foram eleitos. “Ambos foram eleitos em eleições ferozes e muito disputadas. Mas nessas eleições, nenhuma força política, da esquerda ou direita, usou o medo ou o ódio para ganhar votos”, afirmou.

António Guterres expressou ainda o seu orgulho de que em Portugal “todos os partidos políticos, direita ou esquerda, tenham sido sempre capazes de expressar as suas opiniões sem usar como bodes expiatórios” os imigrantes.

“Seria muito fácil para qualquer partido político dizer: vote em nós, porque vamos livrar-nos dos imigrantes e, com base nisso, criar trabalhos para os portugueses (…). Temos visto este tipo de discurso em todo o lado. Tenho muito orgulho de vir de um pais que não usa este tipo de discurso para ganhar votos”, acrescentou. “São estes valores de solidariedade, diálogo e tolerância, que agradeço muito ao meu povo me ter ensinado e que consegui preservar em todos estes anos que me trouxeram até este dia, aqui, convosco”, concluiu.

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