Com a “ajuda” da autarquia de Oeiras o cartaz sobre abusos na Igreja originou 291 notícias

Foram publicadas 291 notícias sobre os cartazes a lembrar vítimas de abuso. Ao tirar o cartaz, Oeiras fez "um total disparate" em termos de comunicação e amplificou a mensagem, dizem os especialistas.

Duzentas e noventa e uma notícias. Entre televisão, Imprensa, rádio e online, são 291 as notícias que referem os três outdoors sobre as vítimas de abusos sexuais na igreja católica em Portugal colocados no madrugada de quarta-feira em Lisboa, Loures e Algés. Enquanto o da Alameda, em Lisboa, e o de Loures permaneceram nos locais nos quais foram colocados, a autarquia de Oeiras mandou retirar o outdoor na tarde de quarta-feira. Estava criada a polémica, nas redes sociais e nos media, com a Câmara de Oeiras e erguer novamente a lona, agora numa estrutura da autarquia, na noite de quinta-feira.

Até ao momento encontrámos 291 notícias (Imprensa, tv, rádio e online) que referem os outdoors das JMJ. Estas notícias representam um AAV (Advertising Automatic Value) de aproximadamente sete milhões de euros“, avança Pedro Ladeira, senior vice president Portugal & Mediterranean Region da Cision, que a pedido do +M analisou o número de notícias publicadas sobre o tema. Estas notícias, 291, são as publicadas entre o dia 2 de agosto e as 11h de sexta-feira, 4 de agosto.

“Todas mencionam os outdoors, no entanto, algumas delas, mencionam em simultâneo outros tópicos relacionados com a JMJ/visita do Papa. Este facto é ainda mais notório na informação de TV”, esclarece o responsável. “É importante realçar que, embora as notícias tenham referências ao assunto, não significa que estas são exclusivamente relacionadas com este. Este facto é ainda mais importante nas notícias de TV, já que existem blocos de vários minutos sobre a visita do Papa em que o assunto foi mencionado apenas numa parte da notícia“, reforça Pedro Ladeira.

Os sete milhões de euros – a preços de tabela – são apenas um valor de referência e não foi aplicada a advertising equivalent value, métrica utilizada pela multinacional que mede exatamente o valor da referência ao assunto em análise, esclarece o responsável. Mas não deixa de ser um número impressionante.

“É um disparate total do ponto de vista de comunicação e contrário ao espírito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)”

José Bourbon-Ribeiro

CEO Portugal da Hill+Knowlton Strategie

Não tenho qualquer dúvida de que a Câmara Municipal de Oeiras [CMO] deu uma grande ajuda à amplificação da mensagem“, assegura Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom. O comentário é feito já na noite de quinta-feira, depois de +M ter avançado que a autarquia ia novamente colocar a lona a lembrar as “mais de 4800 crianças abusadas pela Igreja Católica em Portugal”, como se lê no memorial escrito em inglês, desta vez visível numa estrutura da autarquia, situada na rotunda de Algés.

A estrutura na qual a lona começou por ser aplicada terá sido retirada pela autarquia, que perto desta colocou um novo outdoor, agora com uma mensagem de boas-vindas ao Papa Francisco. A CMO diz ao +M desconhecer os donos da estrutura, ilegal, retirada esta madrugada e os membros do movimento cívico que criaram o memorial, e que terão pago pelo espaço, também optaram por não dizer qual foi a empresa à qual contrataram o aluguer do espaço.

O tema dos outdoors ilegais é sério, mas a oportunidade é absolutamente contraditória com o espírito de inclusão, liberdade e abertura da JMJ e do próprio Papa Francisco“, começa por afirmar José Bourbon-Ribeiro sobre a retirada do outdoor em Algés. “A Câmara de Oeiras tentou ser mais papista do que o próprio Papa”, afirma o CEO da Hill+Knowlton Strategies Portugal, fazendo uso da expressão popular que neste caso pode ser interpretada à letra.

É um disparate total do ponto de vista de comunicação e contrário ao espírito da Jornada Mundial da Juventude [JMJ]“, prossegue em conversa com o +M, acrescentando que a “JMJ respira tolerância, representa uma Igreja aberta e que quer sarar as feridas. Sarar as feridas não é escondê-las”, diz dando como exemplo o próprio Papa Francisco, que já se referiu e recebeu vítimas de abusos da Igreja em Portugal.

É um atropelo da liberdade de expressão. A estrutura até podia ser ilegal, mas não era o momento para tratar disso. Num momento em que a JMJ, o Papa e a Igreja apelam à tolerância, retiraram (a lona) porque acharam que não fica bem?“, questiona.

A comunicação tem que ter em atenção todas as dimensões da ação. Foi um erro monumental“, reforça o responsável da agência de comunicação. “Ainda bem o município de Oeiras não representa nem a Igreja nem o Papa”, resume José Bourbon-Ribeiro. ”

Maria Domingas Carvalhosa recua uns dias. “A ideia da produção e colocação e até o próprio financiamento destes três cartazes nasceu no âmbito de um grupo de algumas centenas de pessoas que, na rede social X (antigo Twitter), se colocaram numa posição de grande contestação à Jornada Mundial da Juventude. Na realidade, diariamente, contestam as JMJ nas mais variadas vertentes. Tomaram, entretanto, a iniciativa de assinalar essa contestação publicamente através da colocação de um cartaz/memorial, com os números de abusos apresentados no Relatório da Comissão Independente, em três outdoors”, recorda.

Estamos perante um estudo de caso de comunicação conhecido como ‘Efeito Streisand’ e que consiste num fenómeno em que a supressão de um conteúdo ou informação faz com que eles se tornem mais visíveis.

Maria Domingas Carvalhosa

CEO da Wisdom

Estão no seu direito e não me parece possível bloquear esse direito sem violar a liberdade de expressão. Aliás, a própria Igreja, pelas palavras do Cardeal Patriarca, em conferência de imprensa, quando questionado, também referiu a importância do respeito pela liberdade de expressão”, acrescenta a também presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas (APECOM).

Ora, a reação da autarquia, ao retirar o cartaz, só amplificou a polémica. “Estamos perante um estudo de caso de comunicação conhecido como ‘Efeito Streisand’ e que consiste num fenómeno em que a supressão de um conteúdo ou informação faz com que eles se tornem mais visíveis. Este efeito nasceu de uma ação judicial colocada, em 2003, por Barbara Streisand ao fotógrafo Kenneth Adelman pela captura e publicação no seu site de uma foto que integrava a sua casa. Até à interposição da ação pela atriz, apenas seis pessoas tinham consultado o site, depois, em apenas um mês, 420 mil pessoas já conheciam a sua habitação”, enquadra Maria Domingas Carvalhosa.

Este tema estava a ser discutido numa rede social, divulgado por meia dúzia de meios de comunicação social, os outdoors teriam um impacto relativo e a remoção do cartaz, por questões jurídicas, catapultou o tema para a agenda mediática nacional, para as televisões e até para o comentário político. Passou a ser o tema“, resume a especialista em comunicação que, tal como José Bourbon Ribeiro, defende não ser a altura certa para a autarquia se preocupar com a irregularidade ou ilegalidade relativamente ao suporte do outdoor.

“O cartaz é péssimo, a ideia é péssima, a decisão política é péssima e voltar atrás é péssimo. É uma história demonstrativa de como vai o mundo”

Vítor Cunha

Administrador da JLM&Associados

A Câmara Municipal de Oeiras “deveria ter resolvido a questão logo na primeira fase oferecendo um suporte alternativo, como o faz agora, evitando toda esta mediatização da sua ação”, defende.

O cartaz é péssimo, a ideia é péssima, a decisão política é péssima e voltar atrás é péssimo“, caracteriza por seu turno Vítor Cunha, administrador da JLM&Associados.

Dizendo não querer “contribuir para a silly season“, época tradicionalmente com poucas notícias, pelo que pode ser dado maior destaque a temas que em outras ocasiões não o teriam, o administrador da agência não deixa de caracterizar esta como uma “história demonstrativa de como vai o mundo“. “Meteram logo os pés pelas mãos [a CMO]. O poder político está completamente volátil à pequena pressão da opinião pública. Formulação de decisão e a opinião política são pura gelatina“, constata.

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Decisão sobre petróleo em frente ao Amazonas no Brasil será técnica

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

A Petrobras planeia abrir 16 poços em cinco anos, com investimento de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros), na área do Atlântico conhecida como margem equatorial.

A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, afirmou sábado que a decisão final sobre as autorizações para a petrolífera estatal Petrobras explorar um jazigo em frente à foz do rio Amazonas será “técnica”.

Citada pela agência Efe, Marina Silva reconheceu que a Petrobras tinha voltado a apresentar um pedido corrigido depois da resposta negativa dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), mas sustentou que serão os funcionários públicos a ter a última palavra.

“Os técnicos têm liberdade de dar a sua opinião e as autoridades devem olhar para aquilo que os técnicos estão a dizer”, assegurou Marina Silva numa conferência de imprensa em Belém (no estado do Pará, nordeste), cidade onde na próxima semana se celebrará uma cimeira de países amazónicos.

A ministra recordou que o Ibama deu, ao longo dos anos, mais de 2.000 autorizações à Petrobras para explorações petrolíferas, e afirmou que as licenças ambientais não se negam por motivos ideológicos.

Na sexta-feira, a Petrobras afirmou-se “muito confiante” em superar as dúvidas do Ibama com a nova apresentação do pedido de exploração, para poder começar a atividade no polémico jazigo petrolífero.

Na mesma linha, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, afirmou esta semana que o estudo do Ibama “não é definitivo”, e que a Petrobras “tem direito a corrigir” as falhas técnicas apontadas pela autoridade.

A petrolífera assegura que o poço mais próximo à foz do rio Amazonas, uma zona de extrema sensibilidade pela sua proximidade a manguezais e por ser ‘habitat’ de espécies em perigo de extinção, se situa a 500 quilómetros do local e a 2.800 metros de profundidade.

No entanto, o Ibama argumentou que existiam “inconsistências preocupantes de alta vulnerabilidade socioambiental para a operação segura na nova fronteira exploratória”.

A Petrobras planeia abrir 16 poços em cinco anos, com investimento de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros), na área do Atlântico conhecida como margem equatorial, uma longa faixa de 2.200 quilómetros ao largo da costa norte do país.

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Serra de Sintra e monumentos encerram devido ao calor

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

O Palácio Nacional da Vila de Sintra e o Palácio Nacional de Queluz permanecem abertos durante este período, sem qualquer alteração ao seu funcionamento habitual.

O acesso ao perímetro florestal da serra de Sintra, Lisboa, e aos monumentos locais estará encerrado no domingo, devido às condições meteorológicas que apontam para temperaturas altas e elevado risco de incêndio, anunciou hoje a autarquia.

Numa nota hoje enviada à agência Lusa, a Câmara Municipal de Sintra alerta que “em consequência das condições meteorológicas adversas e risco de incêndio florestal muito elevado, e por forma a garantir a salvaguarda do património natural e cultural e a segurança de pessoas e bens, o perímetro florestal da serra de Sintra estará encerrado entre as 00:00 e as 23:59 de domingo (06 de agosto)”.

Estarão também “encerrados os monumentos localizados em zonas florestais“, acrescenta.

Face a esta decisão do município, até às 23:59 de domingo, está proibido o acesso, a circulação e permanência no interior dos espaços florestais (pessoas e veículos), bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessem.

“Excetuam-se desta proibição os veículos de moradores e de empresas aí sediadas, veículos de socorro, veículos de emergência e das entidades integrantes do Sistema Municipal de Proteção Civil”, explica a câmara.

Os monumentos de Sintra situados na área interdita permanecerão também encerrados, designadamente o Parque e Palácio Nacional da Pena, Castelo dos Mouros, Santuário da Peninha, Convento dos Capuchos, Chalet da Condessa D’Edla, parque e Palácio de Monserrate e a Quinta da Regaleira.

O Palácio Nacional da Vila de Sintra e o Palácio Nacional de Queluz permanecem abertos durante este período, sem qualquer alteração ao seu funcionamento habitual, informa o município de Sintra.

A autarquia lembra que a serra de Sintra “integra uma região de proteção classificada sensível ao risco de incêndio florestal, caracterizada por um elevado número de visitantes” e que, por este motivo, “torna-se fundamental acautelar a sua proteção, manutenção e conservação, considerados objetivos do interesse público, de âmbito mundial, nacional e municipal”.

Adicionalmente, a autarquia informa que “não é permitida a realização de trabalhos em espaço rural e na envolvente de áreas edificadas com recurso a motorroçadoras, corta-matos e destroçadores, todos os equipamentos com escape sem dispositivo tapa-chamas, equipamentos de corte, como motosserras ou rebarbadoras, ou a operação de métodos mecânicos que, na sua ação com os elementos minerais ou artificiais, gerem faíscas ou calor“.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou hoje em aviso vermelho o distrito de Lisboa entre as 10:00 e as 18:00 de domingo devido ao calor, prevendo-se temperaturas entre 39 e 41 graus celsius.

Segundo o IPMA, no domingo e na segunda-feira, as temperaturas na cidade de Lisboa podem atingir valores entre 39 e 41 graus, enquanto a temperatura mínima irá variar entre 20 e 22 graus.

No comunicado, o IPMA indica que as condições meteorológicas em Portugal continente “deverão alterar-se significativamente” a partir de hoje, sendo esperado tempo quente e seco.

Assim, entre domingo e quinta-feira, a temperatura máxima deverá variar entre 35 e 40 graus na maior parte do território, “podendo atingir pontualmente 44 no interior“.

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Medvedev acusa Ucrânia de querer provocar “catástrofe ambiental” com ataque a petroleiro

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

O ataque, um dia depois de outro contra um navio de guerra numa base militar russa no Mar Negro, adensa a tensão na região entre russos e ucranianos.

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dimitri Medvedev, acusou este sábado a Ucrânia de querer provocar uma “catástrofe ambiental” no Mar Negro com o ataque a um petrolífero russo ao fim da noite de sexta-feira.

“Os bastardos e os degenerados só entendem a crueldade e a força. Aparentemente, não é suficiente para eles atacarem Odessa ou Izmail”, disse o também antigo presidente da Rússia e delfim de Vladimir Putin no seu canal na rede social Telgram.

O político acrescentou que “se a escória de Kiev quer organizar uma catástrofe ambiental no Mar Negro, deve fazê-lo na parte do seu território [sudoeste] que logo cairá nas mãos da Polónia”.

A Ucrânia atacou na sexta-feira ao fim da noite (hora local) um petroleiro russo no Estreito de Kerch, disse à AFP uma fonte dos serviços de segurança ucranianos (SBU).

O ataque, um dia depois de outro contra um navio de guerra numa base militar russa no Mar Negro, adensa a tensão na região entre russos e ucranianos.

Segundo as informações, o navio sofreu um buraco na linha de água na zona da casa das máquinas. O barco tinha 11 pessoas a bordo e vários membros da tripulação ficaram feridos por estilhaços de vidro durante o ataque.

O número de ataques na região aumentou de ambos os lados desde que Moscovo se recusou, em meados de julho, a renovar o acordo negociado pela ONU que permitia a exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, apesar da guerra iniciada com a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.

Tanto Kiev como Moscovo anunciaram, após a rutura do acordo, alcançado pela primeira vez em julho de 2022, que todos os navios que navegam nas águas do Mar Negro serão considerados transportes de carga militar.

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Consolidar já investiu em sete empresas. Só 5% do programa chegou aos beneficiários finais

Terminado o período da primeira subscrição de fundos de capital de risco para investimento na capitalização de PME e Mid Caps, três capitais de risco ficaram pelo caminho. Dinheiro foi redistribuído.

Quase um ano depois de ter sido lançado, são sete as empresas que receberam fundos dos Programa Consolidar. Em causa estão 43 milhões de euros. Este programa arrancou com 14 capitais de risco, mas agora está reduzido a 11, anunciou o Banco de Fomento.

A primeira beneficiária final do Programa Consolidar foi, em abril, a Campicarn, através de um investimento de mais de 6,4 milhões de euros por parte da sociedade de capital de risco Growth Partners Capital. Agora que o terminou o período da primeira subscrição (first closing) de fundos de capital de risco para investimento na capitalização de PME e Mid Caps, no âmbito do Consolidar, há já sete empresas que receberam fundos das capitais de riscos.

Crest Capital Partners, Growth Partners Capital e Touro Capital Partners reportaram investimentos em sete empresas (beneficiários finais), que totalizaram mais de 43 milhões, dos quais 25 milhões respeitantes ao Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR)”, revela o Banco de Fomento em comunicado na sexta-feira. Ou seja, apenas 5% da dotação do Consolidar chegou aos beneficiários finais.

A Growth Partners Capital investiu mais 50 mil euros nas Carnes Campicarn e 4,99 milhões no ID Energy Group, um grupo empresarial dedicado às energias renováveis e especializado na energia solar fotovoltaica. A empresa espanhola fez um aumento de capital de 19 milhões há cerca de uma semana, com a entrada da Growth Partners Capital e da Pangram Capital e pretende vir a ser cotada em bolsa.

a Crest Capital Partners investiu 26,06 milhões de euros em três empresas: Aquacria Piscícolas, Safiestela e AC Nazaré. A Aquacria Piscícolas foi criada em 1982 na Murtosa, mas desde 2012 integra o grupo espanhol SEA8, e dedica-se à piscicultura em águas salgadas, em especial linguado. A Safiestela é também uma empresa de aquacultura, criada em 2011, na Póvoa do Varzim, especializada em linguado, também integra o grupo espanhol SEA8, e já recebeu 92 milhões do Mar2020 para o investimento de 244 milhões que fez para aumentar a produção. Há apenas três produtores europeus de linguado em aquacultura.

Já a Touro Capital Partners investiu seis milhões de euros na S317 Consulting, uma empresa de serviços de consultoria e engenharia de gestão na área da sustentabilidade, que também já recebeu 42,35 mil euros de apoio do Programa Operacional Regional de Lisboa (Lisboa 2020) para reforçar a capacidade empresarial para a internacionalização e desenvolvimento de modelos de valorização do impacto ambiental na América Latina.

As regras do Consolidar determinam que as capitais de risco assegurem a subscrição de fundos com uma dotação mínima de 40 milhões de euros cada um, sendo que 30% desse valor tem de ser assegurado por privados. A comparticipação do FdCR, financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode oscilar entre dez e 50 milhões de euros. As 14 capitais de risco selecionadas tinham seis meses para levantar o capital privado necessário. Um prazo que terminou a 31 de julho.

Mas apenas 11 conseguiram reunir todas as condições para permanecer no programa. “Das 14 Sociedades de Capital de Risco selecionadas para investimento, 11 asseguraram condições para, até à passada data de 31 de julho, realizarem a primeira subscrição com envolvimento do FdCR”, revela o mesmo comunicado da instituição liderada por Ana Carvalho e Celeste Hagatong. “Totalizam uma subscrição do FdCR no valor de 478,3 milhões de euros”, acrescenta a mesma nota.

Contudo, o Consolidar tem uma dotação de 500 milhões de euros, depois da duplicação da sua dotação, e de acordo com as regras o dinheiro que estava inicialmente alocado à Draycott (tal como avançou o Jornal Económico), ECS Capital e Portugal Capital Ventures (a capital de risco do Estado, tal como avançou o Público) tinha de ser distribuído pelas restantes 11. “Os valores alocados a estas três capitais de risco foram descativados e alocados aos restantes candidatos selecionados, pela ordem de preferência previamente aprovada pelo Banco Português de Fomento (começando pelas mais bem classificadas)”, explica o mesmo comunicado.

Será a Crest Capital Partners e a Touro Capital Partners que “por força das metas intercalares” poderão receber “uma percentagem expressiva dos 21,7 milhões de euros”, explica o Banco de Fomento, precisando que “à data de hoje” [sexta-feira] ainda não foram alocados.

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Mais de mil operacionais combatem incêndios em Castelo Branco e Proença-a-Nova

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

"A estimativa, neste momento, é de seis mil hectares de área ardida", explica o Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Centro.

Mais de 1.000 operacionais combatiam, às 13:45, o incêndio que deflagrou na sexta-feira, em Castelo Branco, e que progride também em Proença-a-Nova, de acordo com a página da Proteção Civil.

O incêndio mobilizava, às 13:45, 1.038 operacionais, apoiados por 345 veículos e 12 meios aéreos, refere a página da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, consultada pela agência Lusa.

O fogo deflagrou pelas 15:00, na sexta-feira, na localidade do Carrascal, em Castelo Branco, estando também a progredir no concelho vizinho de Proença-a-Nova.

Segundo o ‘briefing’ realizado às 13:15, pelo segundo Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Centro, Jody Rato, os operacionais contam também com dez máquinas de rasto no terreno, estando a aguardar a chegada de outras cinco.

O combate no terreno tem-se revelado difícil, face à orografia e dificuldade de acesso, referiu.

O incêndio que deflagrou na sexta-feira, em Castelo Branco, regista uma área ardida de 6.000 hectares naquele concelho e em Proença-a-Nova, afirmou hoje o Comando Regional de Proteção Civil do Centro.

A estimativa, neste momento, é de seis mil hectares de área ardida, o que é uma área reduzida para aquilo que é o potencial deste incêndio”, afirmou o segundo Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Centro, Jody Rato, que falava aos jornalistas num ‘briefing’ sobre o ponto de situação daquele fogo.

De momento, o incêndio tem “vários pontos quentes” e duas frentes ativas que causam “preocupação” aos operacionais, devido “às dificuldades de acesso e orografia, num território difícil para aplicar técnicas de combate eficazes”, explicou.

Desde o início da manhã, tem sido possível manter “meios aéreos” de forma permanente, acrescentou, salientando que, até ao momento, não houve qualquer aldeia evacuada, apenas “retirada temporária de pessoas” de algumas localidades por onde as chamas estiveram próximas.

“Nós temos uma estratégia definida, estamos a posicionar meios humanos e máquinas de rasto, que estão a ter um papel muito importante na consolidação do perímetro do incêndio, que será um trabalho feito durante o dia e durante a noite, e esperamos resolver rapidamente uma situação que é complicada”, vincou Jody Rato.

Questionado sobre a possibilidade de alguma das frentes avançar para concelhos vizinhos, o responsável realçou que os operacionais estão a fazer “todos os esforços para que isso não aconteça”, admitindo, porém, o risco de isso surgir.

 

(notícia atualizada como mais informação às 14h44)

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Cerca de 11 milhões de crianças precisam de ajuda urgente devido aos sismos na Turquia e Síria

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

A Unicef lança um apelo para obter cerca de 424 milhões de euros para ajudar as crianças e as suas famílias nas zonas afetadas pelo terramoto.

A Unicef alertou que cerca de 11 milhões de crianças ainda precisam de ajuda humanitária urgente devido aos violentos terremotos no sudeste da Turquia e da Síria, que ocorreram há precisamente seis meses.

As crianças estão a enfrentar uma das crises humanitárias mais complexas do mundo na Síria, onde cerca de 8,8 milhões de pessoas, incluindo 3,7 milhões de crianças, foram afetadas pelos terramotos, agravando ainda mais uma situação que já era insustentável após 12 anos de conflito, afirma a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) Espanha num comunicado de imprensa.

Os terramotos causaram a morte de cerca de 6.000 pessoas e mais de 12.000 feridos, danificaram mais de 2.100 escolas e destruíram parcialmente 214 instalações de saúde.

Além disso, colocaram 6,5 milhões de crianças e respetivas famílias em risco de contrair doenças transmitidas pela água, como a cólera, aumentaram a insegurança alimentar em 10% nas zonas afetadas e exacerbaram os riscos de proteção das crianças (trabalho infantil, casamento precoce, riscos psicossociais, violência baseada no género).

Até à data, o Fundo das Nações Unidas para a Infância ajudou 2,5 milhões de crianças e respetivas famílias nas zonas da Síria afetadas pelo terramoto, mas as necessidades humanitárias continuam a ser “enormes” e o financiamento é muito limitado.

Por isso, a organização lança um apelo para obter 468,5 milhões de dólares (mais de 424 milhões de euros) para ajudar as crianças e as suas famílias nas zonas afetadas pelo terramoto.

Na Turquia, cerca de quatro milhões de crianças continuam a necessitar de assistência humanitária, depois de mais de 300.000 edifícios terem sido danificados ou destruídos por terramotos e 1.6 milhões de pessoas terem sido forçadas a viver em tendas ou abrigos improvisados.

Nos últimos seis meses, a Unicef, em colaboração com o Governo turco, os parceiros deste e outras ONG, forneceu vacinas e serviços de imunização a cerca de um milhão de crianças, entregou água, material de higiene e saneamento a 586.000 pessoas, prestou apoio psicológico a 518.000 crianças e aos seus prestadores de cuidados, levou água potável a 1,4 milhões de pessoas e proporcionou acesso à educação a cerca de 400.000 crianças, entre muitas outras realizações.

No entanto, as necessidades continuam a ser enormes e a Unicef diz que precisa de 64,7 milhões de dólares (quase 59 milhões de euros) para continuar a entregar à população material que salva-vidas, bem como para ajudar as famílias a fazer face à escassez económica e ajudar as crianças a regressar à escola em setembro.

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Quase 1,2 milhões de pessoas controladas nas fronteiras e recusada entrada a 172

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

O controlo documental nas fronteiras aéreas, marítimas e terrestres no âmbito da JMJ vai ser feito até à próxima segunda-feira.

Quase 1,2 milhões de pessoas foram controladas nas fronteiras portuguesas desde o início do controlo documental no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), tendo sido recusada a entrada a 172, segundo dados hoje divulgados.

O controlo documental nas fronteiras aéreas, marítimas e terrestres no âmbito da JMJ entrou em vigor em 22 de julho e está a ser feito de forma seletiva e direcionado com base em informações e análise de risco.

Um balanço feito pelo Sistema de Segurança Interna (SSI) indica que foram controladas, até sexta-feira, 17.715 viaturas nas fronteiras terrestres, 1.745 embarcações nas marítimas e 6.040 aviões nas aéreas.

Segundo o SSI, nas fronteiras terrestres foi recusada a entrada a 110 pessoas e nas aéreas 62, sendo a maioria por falta de visto válido, não comprovação dos objetivos da estada, interdição de entrada em espaço Schengen e ausência de visto adequado à finalidade pretendida.

O SSI indicou ainda que 63.137 pessoas foram controladas, desde 22 de julho, nas fronteiras terrestres e 80.699 passageiros nas fronteiras marítimas pelo SEF e GNR, enquanto nos aeroportos o SEF e a PSP controlaram 1.047.932 pessoas.

O controlo documental nas fronteiras aéreas, marítimas e terrestres no âmbito da JMJ vai ser feito até à próxima segunda-feira.

Lisboa está a ser palco da Jornada Mundial da Juventude, com a presença do Papa Francisco e que, até domingo, reúne milhares de peregrinos de todo o mundo.

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PRR atrasado em toda a Europa

  • ECO
  • 5 Agosto 2023

Bruxelas autorizou 47 pagamentos, mas 90% do dinheiro foi para apenas seis países: Itália, Espanha, França, Grécia, Roménia e Portugal.

Dois anos depois de ter começado a pagar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) dos 27 países da União Europeia (UE), foram transferidos apenas 153 mil milhões de euros.

A quantia representa 20% do montante disponível até 2026, que se situa nos a 750 mil milhões de euros. A Comissão Europeia está preocupada com o atraso generalizado e com os custos crescentes, avança o Público na edição deste sábado.

Ao fim de dois anos, Bruxelas autorizou 47 pagamentos, mas 90% do dinheiro foi para apenas seis países: Itália, Espanha, França, Grécia, Roménia e Portugal. Ainda há cinco Estados-membros a zero.

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Pedidos para Alojamento Local disparam 68% no semestre

  • ECO
  • 5 Agosto 2023

A Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) considera que o aumento do pedido de licenças foi uma resposta "ao ambiente de incerteza e irracionalidade" provocado pelo pacote Mais Habitação. 

O número de pedidos de licenças para Alojamento Local (AL) disparou 68% no primeiro semestre do ano. De janeiro a junho foram registadas 11.285 novas propriedades, o número mais elevado de que há registo.

As contas foram feitas pelo Dinheiro Vivo/Diário de Notícias, através dos dados disponíveis no Registo Nacional de Estabelecimentos de Alojamento Local (RNAL). O título comparou também com o primeiro semestre de 2018, que era até agora o ano com mais registos de AL, e as novas licenças subiram 6%.

A Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) considera que o aumento do pedido de licenças foi uma resposta “ao ambiente de incerteza e irracionalidade” provocado pelo pacote Mais Habitação.

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Trabalhadores da Portway de novo em greve no fim de semana

  • Lusa
  • 5 Agosto 2023

A Portway disse que não reconhece fundamentos para a greve, garantindo o cumprimento "rigoroso" do Acordo de Empresa (AE) no que diz respeito ao trabalho em dia feriado.

Os trabalhadores da Portway iniciam este sábado o segundo período de greve, também de dois dias, em protesto pela continuidade da negociação da contratação coletiva e pelo pagamento dos feriados em escala.

Os trabalhadores de assistência em terra em aeroportos (‘handling’) da Portway, que tem como principal cliente a easyJet, fizeram o primeiro período da greve no domingo e segunda-feira, com uma adesão de cerca de 30%, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava).

Hoje, os trabalhadores iniciam o segundo período da greve decretada pelo Sitava, Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagem, Transitário e Pesca (Simamevip), dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA) e o Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Aeroportos e Aviação (Sindav).

As estruturas representativas dos trabalhadores convocaram ainda greve aos dias de feriado por tempo indeterminado, para a qual os sindicatos esperam uma maior adesão, por ser um “ponto fulcral” do conflito entre trabalhadores e empresa.

Os sindicatos argumentam que, após oito meses de aplicação do Acordo de Empresa de (AE2020), que prevê que “o trabalho prestado em dia feriado, que seja dia normal de trabalho, dará direito a um acréscimo de 50% da retribuição correspondente”, a empresa decidiu, “unilateralmente, alterar a forma de cálculo do pagamento dos feriados em escala, ao arrepio do espírito que havia sido acordado (alteração do coeficiente 1,50 para 0,50)”.

Por outro lado, recordam que, entre março de 2022 e maio de 2023, decorreu um processo de prevenção de conflitos requerido pela Portway “alegadamente com o objetivo de ‘fazer convergir as estruturas sindicais na adoção de um instrumento único de regulamentação coletiva’ (um único AE), bem como ‘manter um clima de paz social'”, assegurando que “participaram sempre nesse processo de forma construtiva e de boa-fé, conforme já haviam estado no processo negocial de 2019/20”.

Contudo, após a 16.ª reunião de negociação realizada em 24 de maio passado na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), os sindicatos acusam a Portway de, “tanto pelas ações, como pelas omissões”, estar “a direcionar os seus trabalhadores a filiarem-se numa determinada organização”, numa atitude que considera ser “absolutamente inqualificável”.

A Portway disse que não reconhece fundamentos para a greve, garantindo o cumprimento “rigoroso” do Acordo de Empresa (AE) no que diz respeito ao trabalho em dia feriado, segundo um comunicado.

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Desde a ecologia à redistribuição de rendimentos, o que prega a economia de Francisco?

O Papa Francisco tem apelado à necessidade de uma nova visão para a economia, tendo em vista corrigir desequilíbrios económicos e preocupações com as questões ecológicas e ambientais.

Ecologia, pessoas e o bem comum. São estes os princípios defendidos pela Economia de Francisco, que é inspirada em São Francisco de Assis e encorajada pelo Papa. Ainda que tipicamente a economia não seja o cerne dos discursos do sumo pontífice, esta semana em Portugal, durante a Jornada Mundial da Juventude, tem existido um apelo a repensar algumas questões da sociedade e olhar para elas com outra visão, segundo um quadro que não se apresenta como um novo modelo ou teoria económica.

Esta chamada Economia de Francisco “trata-se de um movimento criado pelo Papa em 2019 junto dos jovens, apelando à criação de uma nova economia, mais justa, inclusiva e respeitosa da natureza”, explica o economista João César das Neves ao ECO. “Trata-se do segundo movimento económico criado pelo Papa Francisco, depois do Encontro dos Movimento Populares em 2014”, acrescenta. O objetivo é “mudar os critérios, colocando a pessoa e não o dinheiro no centro: trata-se de uma nova atitude de amor e caridade”, indica.

Para José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, “o Papa Francisco introduziu uma visão progressista e humanitária sobre a economia quando disse que há uma economia que mata e tem que haver outra economia que se dirige a questões como o bem comum, às questões da sustentabilidade, do bom uso de recursos, da integração das pessoas e sobretudo uma economia que seja justa do ponto de vista da inclusão das pessoas nessa economia e na repartição do rendimento”, indica ao ECO.

“É uma economia justa na forma como se organiza, mas também uma economia que seja justa relativamente às pessoas e isso tem a ver com o modo como as pessoas são integradas, o tipo de empregos e forma como são remuneradas”, explica. As ideias têm assim, na base, “a forma como inclui as pessoas e como reparte rendimentos”.

A boa política (…) é chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos.

Papa Francisco

Nas palavras do Papa Francisco, a “boa política” pode “gerar esperança” e “não é chamada a conservar o poder, mas a dar às pessoas a possibilidade de esperar”. “É chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos. É chamada a voltar a descobrir-se como geradora de vida e de cuidado da criação, a investir com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado mas se favoreçam os laços entre jovens e idosos”, defendeu, num discurso no Centro Cultural de Belém.

Para o sumo pontífice, a educação tem uma importância “que não pode limitar-se a fornecer noções técnicas para se progredir economicamente, mas destina-se a introduzir numa história, transmitir uma tradição, valorizar a necessidade religiosa do homem e favorecer a amizade social”.

Papa Francisco defende ainda que “temos necessidade duma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta juntamente com o dos pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação, em paralelo com o dos refugiados; o tema das migrações, juntamente com o da queda da natalidade; necessidade de nos ocuparmos da dimensão material da vida no âmbito duma dimensão espiritual. Não queremos polarizações, mas visões de conjunto“, como disse esta quinta-feira, num discurso na Universidade Católica Portuguesa (UCP).

Esta universidade anunciou no mesmo dia que iria avançar com o lançamento da nova cátedra “Economia de Francisco e de Clara” – Clara de Assis, fundadora do ramo feminino da ordem Franciscana –, “dedicada a acolher iniciativas transversais em todas as áreas de saber da universidade, destinadas a promover os princípios da Economia de Francisco [São Francisco de Assis] e desenvolver um modelo social dignificador das pessoas e do ambiente”, como anunciou a reitora Isabel Capeloa Gil. Terá como base o novo “Campus Veritati” da universidade, situado na zona norte do atual campus em Lisboa.

Isabel Capeloa Gil explica ao ECO que a Cátedra Economia de Francisco e de Clara “consiste num conjunto de iniciativas de caráter pedagógico, investigação e traslação, coordenadas e orientadas por um professor cuja investigação esteja particularmente vocacionada para o desenvolvimento dos temas associados ao Movimento da Economia de Francisco”. Vai tratar temas como economia para a sustentabilidade; ecologia integral, combate à pobreza e crescimento económico; cultura e ambiente e equidade intergeracional, contemplando palestras, seminários e projetos de investigação.

Mas afinal, quais são estes princípios? Segundo o hub Economia de Francisco, criado em Portugal, existem três pontos centrais: pessoa humana, tendo como base uma “nova economia com centro na pessoa, uma economia mais humana e inclusiva que dê voz aos mais frágeis“; ecologia integral, onde se defende a necessidade de “trabalhar em conjunto para desenhar soluções e produzir conhecimento que contribuam para uma sociedade mais justa e fraterna, onde haja lugar para todas as pessoas”; e finalmente o bem comum, que prevê “trabalhar em rede para desenhar soluções ou produzir conhecimento que contribuam para uma sociedade mais justa e fraterna”.

Para a reitora da UCP, “os princípios da Economia de Francisco e de Clara, relacionados com o pugnar por um desenvolvimento económico mais sustentável e que sirva as pessoas, não são apenas viáveis, como urgentes face aos enormes problemas da sociedade atual”. “A sua implementação exige consciencialização, aprofundamento científico e análise com base em evidência, uma estratégia educativa e decisão política, que poderá apenas ocorrer por vontade dos eleitores nas nossas sociedades democráticas”, diz. “Ou talvez não, se existir verdadeira coragem política e comprometimento com o horizonte de uma sociedade que potencie o desenvolvimento das pessoas e a proteção do planeta”, acrescenta.

O economista César das Neves também defende que esta filosofia é viável atualmente, tendo em conta quejá existe em muitas empresas, ONGs, fundações, ordens religiosas, e paróquias”. No entanto, há desafios como “lidar com a injustiça, o ambiente e a pobreza”, sendo que, para o economista, “todos compreendem a necessidade disso”.

A economia de Francisco não esteve presente na forma como foi concebida esta Jornada Mundial da Juventude.

José Reis

Economista

O sumo pontífice, na passagem por Lisboa, referiu ainda outras preocupações para os jovens, que acabam por abordar alguns problemas da economia atual, nomeadamente “a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo”, disse num discurso quarta-feira.

Apesar desta passagem por Portugal ter dado a oportunidade de expressar esta visão, para o economista José Reis, “a economia de Francisco não esteve presente na forma como foram concebidas estas JMJ“, sendo mais parecido com “capitalismo desenfreado” e uma posição “ostentatória”, nomeadamente na forma de gasto de recursos, argumenta.

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