Inflação em Portugal terá abrandado para 7,4% em março, o quinto mês consecutivo de alívio na subida dos preços

Março terá sido o quinto mês de alívio na subida preços. Aumento dos preços dos alimentos atenuou este mês e preços da energia acabaram mesmo por descer, devido a "efeito de base".

A subida dos preços em Portugal terá abrandado de forma significativa em março. O Instituto Nacional de Estatística (INE) estimou esta sexta-feira que o Índice de Preços no Consumidor (IPC) este mês subiu 7,4% em comparação com o mesmo mês do ano passado.

A confirmarem-se estes dados preliminares, março foi o quinto mês consecutivo de alívio da inflação, com um abrandamento de 0,8 pontos percetuais. Em fevereiro, a variação homóloga do IPC tinha sido de 8,2%, um ritmo inferior a janeiro em 0,2 pontos percentuais, segundo o INE.

“Esta desaceleração é em parte explicada pelo efeito de base resultante do aumento de preços dos combustíveis e dos produtos alimentares, verificado em março de 2022″, justifica o instituto. Ou seja, a queda deve ser vista à luz da grande subida dos preços que ocorreu em março do ano passado, logo depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia a 24 de fevereiro. Ou seja, dito de outra forma, a inflação abrandou, em parte, porque a comparação é com um mês atípico do ano anterior.

Índice de Preços no Consumidor (taxas de variação)

Fonte: INE

Subida dos preços dos alimentos abranda

Analisando apenas o indicador de inflação subjacente, que é composto pelo índice total excluindo componentes voláteis como os produtos alimentares não transformados e energéticos, este terá subido 7% em março, um ritmo ligeiramente mais lento do que os 7,2% do mês prévio.

Já se a análise incidir apenas sobre essas mesmas componentes voláteis, as estimativas do INE mostram que, em março, em comparação com o mesmo mês do ano passado, os preços da energia caíram mesmo 4,4% (em comparação com a subida de 1,9% registada em fevereiro), enquanto os preços dos produtos alimentares não transformados desaceleraram, subindo 19,3% em março, face ao aumento de 20,1% em fevereiro. Em ambos os casos, são boas notícias para as famílias portuguesas.

Quanto ao índice harmonizado, o que permite as comparações europeias, o INE refere que a variação homóloga em março terá sido de 8%, um recuo face à taxa de 8,6% no mês precedente. O instituto publica os dados definitivos a 13 de abril, dia em que poderá confirmar, rever em alta ou rever em baixa a variação destes indicadores.

Fonte: INE

Inflação alivia nos países da Zona Euro

Estes dados são conhecidos um dia depois de o INE espanhol ter revelado que a inflação homóloga no país vizinho travou a fundo em março, para 3,3%, uma queda significativa de 2,7 pontos percentuais face ao primeiro mês do ano. Na Alemanha, o índice harmonizado também abrandou de forma expressiva, para 7,8%, de acordo com a estimativa revelada na quinta-feira.

Já esta sexta-feira, soube-se que o IPC em França abrandou pela primeira vez desde dezembro, com a variação homóloga de março a travar para 6,6%, em comparação com os 7,3% do mês anterior.

O alívio da inflação nos países da Zona Euro, apesar de estar relacionado com o efeito comparativo com o ano passado, surge numa altura em que o Banco Central Europeu (BCE) está particularmente atento ao comportamento dos preços na economia para decidir se vai continuar a política de aumento das taxas de juro.

(Notícia atualizada pela última vez às 9h51)

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Sonae vende 50% do Universo ao Bankinter por 19 milhões de euros

Operador de crédito ao consumo vai passar a ser detido a meias pela Sonae e pelo Bankinter, numa transação estimada em 19 milhões de euros, mais cinco milhões adicionais em cinco anos.

A Sonae SON 0,16% chegou a um acordo para vender 50% do Universo ao Bankinter Consumer Finance, formalizando, deste modo, uma parceria “para a criação de um operador líder em crédito ao consumo em Portugal“, anunciou o grupo num comunicado via Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Pela participação, o Bankinter vai pagar “um valor estimado de 19 milhões de euros” e ambas as instituições ficam com “partes iguais” no capital da empresa.

“A transação tem subjacente um valor de capitais próprios do Universo de cerca de 45 milhões de euros”, acrescenta o grupo liderado por Cláudia Azevedo numa nota de imprensa, notando que o Universo tem “mais de um milhão de clientes e uma carteira de crédito de, aproximadamente, 400 milhões de euros”. No ano passado, o volume de negócios ascendeu a 30 milhões, sublinha.

Além dos 19 milhões de euros que o Bankinter vai pagar por metade do Universo, a Sonae indica que “o acordo prevê ainda o pagamento de até cinco milhões de euros adicionais, contingente e diferido por cinco anos após a conclusão da transação”. “A criação desta joint-venture enquadra-se na estratégia de gestão ativa de portefólio da Sonae e permite alavancar o negócio de serviços financeiros do grupo, beneficiando de um parceiro com competências complementares que vão contribuir para acelerar o seu plano de desenvolvimento”, considera a Sonae.

O negócio ainda está sujeito à “satisfação das condições usuais para uma transação desta natureza”, incluindo aprovação da Comissão Europeia. A Sonae espera concluir a operação no segundo semestre de 2023. “Os termos da transação visam a desconsolidação da atual participação de 100% da Sonae no Universo, passando a nova participação de 50% a ser registada pelo método de equivalência patrimonial. Da conclusão da transação resultará ainda o registo de uma mais-valia estimada de 12 milhões de euros”, contabiliza o grupo Sonae.

Citado em comunicado, João Dolores, administrador financeiro (CFO) da Sonae, explica que a parceria pretende alavancar “o trajeto de crescente sucesso do Universo com as competências complementares do Bankinter”. “Acreditamos que a aposta do Universo na inovação e digitalização do negócio, bem como o valor que acrescenta ao seu ecossistema de parceiros, vai ser potenciada no âmbito desta parceria e permitir ao Universo acelerar o seu desenvolvimento”, avança. Por sua vez, Alfonso Saez, diretor-geral do Bankinter Consumer Finance, afirma que o negócio permite reforçar o posicionamento no mercado português de crédito ao consumo.

O negócio com o Bankinter foi anunciado já depois da abertura das bolsas. Pelas 9h00, os títulos da Sonae na bolsa de Lisboa caíam 0,50%, para 1,001 euros por ação.

(Notícia atualizada pela última vez às 9h01)

Cotação das ações da Sonae na bolsa de Lisboa

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Salários da Função Pública perdem até 8,6% em dois anos

  • ECO
  • 31 Março 2023

Dois anos de inflação elevada podem chegar a tirar 500 euros mensais em termos reais aos salários de alguns funcionários públicos, mesmo com os aumentos que já foram anunciados, calculou o Expresso.

O Governo anunciou uma atualização dos salários da Função Pública em 1%, que ainda não se sabe se terá ou não retroativos. Mesmo assim, os funcionários públicos perdem poder de compra nestes dois anos de inflação elevada, numa dimensão que depende das carreiras e do nível remuneratório de cada um. Só os assistentes operacionais, que recebiam salário mínimo e, por isso, beneficiaram da sua atualização nos últimos anos, e os assistentes técnicos no início de carreira, escapam às perdas no salário base.

Segundo os cálculos do Expresso, em termos cumulativos e considerando os anos de 2022 e 2023 (desde o aumento da inflação), a queda dos salários dos trabalhadores do Estado, em termos reais, pode ir até aos 8,6%. Em valores absolutos, trata-se de uma perda que pode ser superior a 500 euros por mês em alguns casos.

As contas do semanário baseiam-se nas tabelas da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, que incluem a atualização em janeiro entre 2% e 8%, e considerando a atualização extra de 1% anunciada na semana passada, cujo período de abrangência ainda não é conhecido (o Governo anunciou que seria a partir de abril, mas já mostrou abertura para o aplicar com retroativos a janeiro). Mas não têm em conta o impacto do aumento do subsídio de refeição nem os efeitos das progressões nas carreiras.

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Hoje nas notícias: Salários no Estado, eletricidade e Efacec

  • ECO
  • 31 Março 2023

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

Os salários dos funcionários públicos podem acumular uma perda real de até 8,6% em dois anos. O custo da eletricidade para os consumidores domésticos tocou mínimos de dezembro de 2013. A Parpública, empresa do Estado, está a injetar, em média, 14 milhões de euros por mês na Efacec. Conheça estas e outras notícias em destaque nos jornais nacionais.

Salários no Estado perdem até 8,6% em dois anos

Considerando os anos de 2022 e 2023, os salários dos funcionários públicos podem perder, em termos acumulados, até 8,6% em termos reais, apesar do aumento extraordinário de 1% anunciado pelo Governo e da atualização que já foi feita em janeiro. De acordo com as contas do Expresso, há casos onde as perdas podem ultrapassar os 500 mensais euros mensais, sendo que apenas os assistentes operacionais que ganhavam o salário mínimo e os assistentes técnicos em início da carreira terão este ano ganhos salariais reais face a 2021.

Leia a notícia completa no Expresso (acesso pago).

Estado está a injetar 14 milhões de euros por mês na Efacec

A situação económica e financeira da Efacec degradou-se no exercício de 2022 e a Parpública tem vindo a injetar, em média, 14 milhões de euros por mês na empresa comandada por Ângelo Ramalho, segundo fontes ouvidas pelo Jornal Económico. Em janeiro, o ECO tinha noticiado que o ritmo mensal das injeções era de dez milhões naquela altura. A empresa fechou o ano com um prejuízo operacional de 90,6 milhões de euros e um resultado líquido consolidado negativo de cerca de 52 milhões, enquanto os capitais próprios revelam também uma situação líquida negativa de 50 milhões de euros (e ainda assim ajudada por 66 milhões de crédito fiscal por impostos diferidos).

Leia a notícia completa no Jornal Económico (acesso pago).

Custo da eletricidade das famílias em mínimos de nove anos

O índice de preços da eletricidade para consumidores domésticos estava, em fevereiro, 6% abaixo do registado em igual período de 2022, isto é, abaixo do valor da inflação registada nesse mês, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). É o valor mais baixo desde dezembro de 2013, isto é, em nove anos.

Leia a notícia completa no Expresso (acesso pago).

Portugal falha meta na Saúde mas evita suspensão do PRR

Não foi concluída a descentralização na saúde no prazo definido pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Portugal tinha de transferir competências para 201 municípios até ao último dia de 2022, mas o pedido de pagamento podia ser feito até 31 de março (o que significa, na prática, mais três meses). Dos 201, apenas 92 assinaram o auto de aceitação de transferência, impedindo o cumprimento do prazo. No entanto, Portugal vai evitar uma suspensão parcial do terceiro desembolso, usada em dois países até agora (Itália, depois de ser questionado o cumprimento de três objetivos, e Lituânia, que falhou dois). Isto porque vai negociar, em maio ou junho, a reprogramação do PRR e Bruxelas aceitou que o Governo só entregue o pedido no fim da negociação.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

Aumentos anuais da negociação coletiva abaixo da meta do acordo

Em janeiro e fevereiro foram potencialmente abrangidos, por instrumentos de regulamentação coletiva 192 mil trabalhadores (um aumento de 122% face a 2022). Além disso, os aumentos médios anuais que constam das convenções coletivas publicadas neste período foi de 4,8%, refere o relatório da Direção-Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT). Este valor encontra-se abaixo do referencial da “valorização anual” previsto no acordo de rendimentos e competitividade, que é de 5,1%.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (ligação indisponível).

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O dia em direto nos mercados e na economia – 31 de março

  • ECO
  • 31 Março 2023

Ao longo desta sexta-feira, 31 de março, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Donald Trump alvo de acusação criminal em Nova Iorque

  • ECO
  • 31 Março 2023

Alegado pagamento à atriz pornográfica Stormy Daniels para esconder caso faz de Donald Trump o primeiro ex-Presidente norte-americano a enfrentar uma acusação criminal.

Donald Trump foi formalmente acusado por um grande júri em Nova Iorque, tornando-se no primeiro ex-Presidente dos Estados Unidos da América a enfrentar uma acusação criminal. A notícia foi avançada pela imprensa norte-americana e o teor da acusação deverá ser conhecido em breve.

O caso está relacionado com o alegado pagamento à antiga atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels para esconder uma relação extraconjugal. Segundo a Reuters, Donald Trump diz-se “completamente inocente” e sinalizou que a acusação não o deverá levar a desistir de concorrer às eleições Presidenciais de 2024.

“Isto é perseguição política e interferência eleitoral ao mais alto nível na história”, reagiu o republicano em comunicado. Donald Trump aproveitou ainda a ocasião para apelar a donativos para ajudar a financiar a defesa.

A 18 de março, Donald Trump disse que seria detido dentro de quatro dias, algo que não aconteceu. Desde esse dia, segundo a agência noticiosa, que cita dados da campanha do republicano à Casa Branca, Trump já angariou mais de dois milhões de dólares em donativos.

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Lei das startups vai a votos no Parlamento entre críticas dos empreendedores

Assembleia da República vota esta sexta-feira a proposta final da Lei das Startups, que mantém a exclusão parcial dos founders dos benefícios fiscais previstos no novo regime das stock options.

A proposta de Lei das Startups vai ser votada esta sexta-feira em plenário no Parlamento. O documento, que engloba as propostas de alteração do PS, mantém a exclusão parcial dos founders dos benefícios previstos no novo regime fiscal aplicado aos planos de stock options para colaboradores. “Uma oportunidade perdida”, reage o ecossistema.

“Esta Lei das Startups é uma oportunidade perdida e uma inconsistência de um Governo que defende e promete uma lei focada no aumento da competitividade das suas startups e da sua economia, para depois desincentivar os fundadores a manterem em Portugal as suas empresas. Esta lei em nada contribui para que o nosso país deixe de ser, no contexto do ecossistema tech, ‘apenas’ um país que recebe a Web Summit”, reage Miguel Santo Amaro, CEO da Coverflex.

Esta lei em nada contribui para que o nosso país deixe de ser, no contexto do ecossistema tech, “apenas” um país que recebe a Web Summit.

Miguel Santo Amaro

CEO da Coverflex

A proposta que vai a votação final no hemiciclo já engloba as propostas do grupo parlamentar do PS, aprovadas na quarta-feira na Comissão de Orçamento e Finanças. Mantém-se a exclusão dos fundadores e dos gestores, que tenham mais de 20% do capital social ou direitos de voto, dos benefícios fiscais dos planos de stock options para trabalhadores.

“Estão excluídos do presente benefício: os sujeitos passivos que detenham direta ou indiretamente uma participação não inferior a 20 % do capital social ou dos direitos de voto da entidade atribuidora do plano; os membros de órgãos sociais da entidade atribuidora do plano”, pode ler-se no texto final da proposta que emergiu da votação na especialidade, a que o ECO teve acesso. Na proposta inicial do Governo, esse patamar era de mais de 10%.

“O disposto no número anterior não é aplicável relativamente a entidades que, no ano anterior à aprovação do plano, qualifiquem reconhecida como startup, nos termos da legislação em vigor, ou qualificadas como micro ou pequena empresa, de acordo com os critérios previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de novembro, na sua redação atual”, ressalva ainda o diploma. Ou seja, não estão excluídos do benefício fiscal fundadores ou gestores de startups que empreguem “menos de 250 trabalhadores” e tenham “um volume de negócios anual que não exceda os 50 milhões de euros”.

O benefício aplica-se ainda a entidades que “desenvolvam a sua atividade no âmbito da inovação”, ou seja, entidades que “tenham incorrido em despesas com investimento em investigação e desenvolvimento (I&D), patentes, desenhos ou modelos industriais ou programas de computador equivalentes a pelo menos 10% dos seus gastos ou volume de negócios.”

O que diz o ecossistema?

As alterações à lei sabem a pouco, já tinham lamentado os fundadores dos unicórnios Feedzai e Sword Health. Não são os únicos a dizê-lo. E explicam porquê.

“Sinto que o governo português desvalorizou founders que têm a coragem de montar o seu próprio negócio, em condições adversas, num país pequeno. Investem o que têm e não têm para montar um negócio, inovar indústrias, criar postos de trabalho. Criam empresas à escala internacional, levando o nome de Portugal lá para fora, e atraem milhões de euros de investimento externo para o país, que acha que não merecemos ter algum benefício em termos de Employee Stock Ownership Plan (ESOP). É por estas razões que sentimos a necessidade de montar as nossas startups fora do país para termos condições mais competitivas”, atira Miguel Alves Ribeiro, founder da sheerMe.

Sinto que o governo português desvalorizou founders que têm a coragem de montar o seu próprio negócio, em condições adversas, num país pequeno.

Miguel Alves Ribeiro

Founder da sheerMe

Há aqui uma falta de visão de futuro e o potencial que algumas destas startups podem ter. Acima de tudo, uma desvalorização de pessoas (founders nacionais) incríveis que temos no nosso país, que têm a coragem de ser disruptivos todos os dias e que correm riscos tremendos”, conclui o também CEO da sheerMe, que está a dar passos no sentido da internacionalização.

Humberto Ayres Pereira, cofundador da spreadsheet Rows.com, e anteriormente da AirCourts.com e Skin.pt, mostra-se igualmente desiludido. “A lei das startups resolve uma parte do problema das startups, mas na minha visão fica aquém do que é justo, benéfico e prático para Portugal“, começa por referir. Apesar de a proposta, no que toca ao tema das stock options, “ser positiva para os trabalhadores, coloca um entrave aos fundadores. Que além das ações normais (já taxadas em regime vantajoso de mais-valias), recebem também vários incentivos em stock options — e frequentemente têm mais de 20% do capital”.

“Prevejo que continuem a haver muitos empreendedores que montam empresas no estrangeiro em vez de Portugal, pois terão regimes muito mais simples e vantajosos. Adicionalmente, considero que a distinção entre ganhos de capital e trabalho é antiquada e injusta, penalizando quem trabalha, pelo que espero mais reformas para o futuro, que deem incentivos a todos os trabalhadores”, considera o cofundador da Rows.com.

Daniela Simões também se mostra descontente. “A atual proposta do Governo para a Lei das Startups vem reforçar a ideia de que não existe um reconhecimento do trabalho que muitas empresas nacionais fazem para trazer valor ao mercado português, inovando e arriscando em setores essenciais para o futuro e riqueza do país”, diz a cofundadora e CEO da Miio.

“Todos sabemos que, à data de hoje, estar sediado em Portugal representa uma carga fiscal muito elevada e um esforço gigante por parte das empresas. Desta forma, parece-nos de bom tom que os fundadores não sejam excluídos dos benefícios fiscais, na medida em que, por vezes, pode acontecer em rondas de financiamento dar-se a possibilidade de os fundadores negociarem também com stock options“, reforça.

Será mais uma lei cartaz sem utilidade relevante para aumentar a competitividade do nosso ecossistema de inovação, com a agravante de que cria incentivos para que os projetos que correm melhor se mudem para outros ecossistemas mais amigos dos empreendedores.

Pedro Ramalho Carlos

Partner da Shilling

Apesar de considerar a proposta positiva, na “globalidade”, José Sacadura também ficou “espantado” com o facto de a medida “não abranger fundadores e membros de órgãos sociais”. “Quem toma o primeiro risco de investimento e reputacional, aos olhos desta lei, não é para se ter em conta. Parece que não temos nada a aprender com países como Alemanha, EUA ou Israel, onde este ponto é considerado como um dos fatores principais do sucesso do empreendedorismo nestes países”, argumenta o cofundador e general manager da Power Dot.

“Lamentavelmente, acredito que será mais uma lei cartaz sem utilidade relevante para aumentar a competitividade do nosso ecossistema de inovação, com a agravante de que cria incentivos para que os projetos que correm melhor se mudem para outros ecossistemas mais amigos dos empreendedores”, refere, por seu turno, Pedro Ramalho Carlos, partner da Shilling.

O que traz de novo a lei?

Mas nem todos são críticos da futura lei que, depois da votação final e promulgação em Belém, irá reger o ecossistema nacional. É o caso de David Salgado Areias, administrador da sociedade Areias Advogados, que aponta a evolução positiva introduzida pela lei, mesmo no que toca ao tema das stock options. “O regime introduzido pode não ser perfeito, mas é um avanço significativo”, diz.

“A alteração das regras aplicáveis às stock options era devida há muito tempo. O regime atual não se mostrava ajustado à realidade e gerava tributação num momento em que não era justo que ela acontecesse, sem reconhecer o risco associado a estes instrumentos. Na realidade, deixava as empresas portuguesas mais limitadas do que as de muitos outros países, colocando dificuldades práticas à criação deste tipo de incentivos para os seus trabalhadores”, considera.

Esta lei é muito importante para o setor em Portugal e creio que os efeitos positivos se farão sentir. Não só porque havia áreas em que era preciso introduzir correções, como a das stock options, mas também para manter Portugal na linha da frente da atratividade de investimento.

David Salgado Areias

Administrador da sociedade Areias Advogados

O novo regime propõe que os beneficiários sejam apenas tributados no momento da alienação das participações ou pela perda da qualidade de residente em Portugal, por exemplo, sendo a taxa de IRS aplicada a 50% dos ganhos, resultando numa taxa efetiva de 14%.

Alterações fiscais a este mecanismo — visto como uma forma de atrair talento num momento em que as empresas podem não ter capacidade financeira para pagar elevados salários, compensando o talento com ações — eram há muito defendidas pelo mercado.

“Esta lei é muito importante para o setor em Portugal e creio que os efeitos positivos se farão sentir. Não só porque havia áreas em que era preciso introduzir correções, como a das stock options, mas também para manter Portugal na linha da frente da atratividade de investimento. Por exemplo, Espanha aprovou já este ano a sua própria lei para as startups (a que chamaram lei de fomento do ecossistema das empresas emergentes), o que mostra bem a competição que existe entre territórios“, diz David Salgado Areias.

O advogado, Lawyer of the Year Startup 2020, no Iberian Lawyer Awards Under 40, destaca ainda o papel que a futura lei vai desempenhar. “Com esta nova lei, Portugal passará a ter uma definição legal de startup e de scaleup e uma forma de reconhecimento desse estatuto. O que esta lei tem de mais importante, porém, é o conjunto de alterações fiscais que visam tornar Portugal num território mais atrativo para este tipo de empresas e para o investimento em Investigação & Desenvolvimento. Trata-se de um instrumento importante por resolver algumas questões que estavam desajustadas da realidade deste tipo de empresas e por introduzir incentivos adicionais ao investimento”, conclui.

(notícia atualizada às 9h12)

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Quais são os imóveis que o Estado pode arrendar coercivamente?

A definição de imóvel devoluto está identificado na Lei desde 2006, mas para o Governo levar avante a sua medida de arrendamento coercivo destas casas terá de contar com a colaboração dos municípios.

O Governo aprovou esta quinta-feira em Conselho de Ministros o arrendamento coercivo de imóveis devolutos, como forma de mitigar a crise habitacional que se faz sentir no país.

Em conferência de imprensa, o primeiro-ministro lembrou que o “conceito de prédio devoluto existe desde 2006 e o de arrendamento forçado existe desde 2014“, mostrando-se por isso “perplexo com o entusiasmo com que se tem debatido o tema”.

O conceito de imóvel devoluto está inscrito num decreto-lei, publicado a 8 de agosto de 2006, após promulgação pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva e referendado pelo então primeiro-ministro José Sócrates.

Segundo o diploma, “considera-se devoluto o prédio urbano ou a fração autónoma que durante um ano se encontre desocupada, sendo indícios de desocupação a inexistência de contratos em vigor com empresas de telecomunicações, de fornecimento de água, gás e eletricidade e a inexistência de faturação relativa a consumos de água, gás, eletricidade e telecomunicações.”

De fora do conceito de imóvel devoluto estão as casas que, apesar de estarem desocupadas durante um ano, “se destinem a habitação por curtos períodos em praias, campo, termas e quaisquer outros lugares de vilegiatura, para arrendamento temporário ou para uso próprio”, e os imóveis adquiridos para revenda por particulares ou empresas.

"Os municípios têm sido bastante parcimoniosos a verificar os imóveis devolutos.”

António Costa

Primeiro-ministro

Além disso, estão também excluídos do conceito de imóveis devolutos os fogos que estejam a ser alvo de obras de reabilitação, as residências em território nacional de emigrantes portugueses ou a residência em Portugal dos portugueses que desempenhem no estrangeiro funções ou comissões de caráter público ao serviço do Estado, de organizações internacionais, ou funções de reconhecido interesse público, e os respetivos acompanhantes autorizados, entre outras situações previstas neste decreto-lei.

O diploma de 2006 estabelece também que a identificação dos “prédios urbanos ou frações autónomas que se encontrem devolutos” é da competência dos municípios, cabendo também às câmara municipais notificar os proprietários desses imóveis para que estes possam “exercer o direito de audição prévia e da decisão, nos termos e prazos previstos no Código do Procedimento Administrativo.”

Segundo António Costa, em Lisboa existem 6.444 imóveis identificados como devolutos. Notando que nos últimos anos foram apenas sinalizados pelos municípios 10.998 imóveis devolutos, o primeiro-ministro notou que “os municípios têm sido bastante parcimoniosos a verificar os imóveis devolutos.”

A decisão de declaração de prédio ou fração autónoma devoluta é sempre suscetível de impugnação judicial, mas caso sejam classificados como imóveis devolutos ficam sujeitos a um agravamento da taxa de IMI de acordo com o artigo 112.º B do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI).

Na proposta de arrendamento coercivo para rendas acessíveis do Governo estão explanados todos estes princípios de imóveis devolutos. No entanto, a medida aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros torna a aplicabilidade desta medida mais limitada e sobre uma amostra de fogos menor.

Segundo a proposta do Executivo de António Costa, o arrendamento coercivo de imóveis devolutos só se aplica a apartamentos classificados como devolutos há dois ou mais anos (a proposta inicial do Governo apontava para um ano) e que não estejam localizados em zonas de baixa densidade populacional.

Findos estes dois anos, o município deve notificar o proprietário para este proceder à realização das obras de conservação necessárias do imóvel – e caso não o faça o município pode recorrer ao instrumento que já existe na lei para as obras coercivas.

Em alternativa, o município pode então concretizar o dever de uso do imóvel no prazo de 90 dias ou propor o seu arrendamento ou, em última instância, proceder ao arrendamento coercivo.

A utilização do instrumento do arrendamento forçado, consagrado na lei desde 2014, pretende dar um incentivo para que sejam efetivamente disponibilizadas no mercado habitacional casas que atualmente estão sem uso, podendo o próprio IHRU, sempre que o município não pretenda proceder ao arrendamento do imóvel e o mesmo não careça de obras de conservação, exercer esse direito”, refere o Governo na proposta apresentada esta quinta-feira.

Perfil de um imóvel sujeito a arrendamento coercivo

  • Tipo de imóvel: Apartamento localizado numa zona com pressão urbanística.
  • Condição para ser devoluto: Classificado como imóvel devoluto pelo município há dois ou mais anos. Significa que se encontra desocupado há dois anos e não tem qualquer contrato em vigor com empresas de telecomunicações, de fornecimento de água, gás e eletricidade.
  • Exclusão: Estão excluídos do arrendamento coercivo as casas de férias, as casas de emigrantes ou de pessoas deslocadas por razões de saúde e razões profissionais ou formativas, ou casas cujos proprietários estão num estabelecimento social como um lar, ou estão a prestar cuidados permanentes como cuidadores informais.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • Joana Abrantes Gomes
  • 31 Março 2023

No dia em que é apresentada uma agenda mobilizadora, há dados da inflação de março e da execução orçamental até fevereiro.

O último dia de março é marcado pelo fim do prazo para os partidos apresentarem propostas de alteração à medida do IVA Zero, mas traz ainda dados da inflação, bem como da execução orçamental até fevereiro. No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, decorre a apresentação de uma das mais de 50 agendas mobilizadoras. Além disso, há nova ronda de negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dos médicos.

Apresentação da agenda mobilizadora liderada pela Stellantis Mangualde

Esta sexta-feira é apresentada a GreenAuto, uma das mais de 50 agendas mobilizadoras financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Liderada pela fábrica de Mangualde da Stellantis, a agenda GreenAuto pretende produzir um novo veículo comercial elétrico em Portugal. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, marcam presença no evento.

Fim do prazo para partidos apresentarem propostas de alteração ao IVA zero

Os partidos têm até ao final da tarde desta sexta-feira para proporem alterações à proposta de lei que reduz para 0% a taxa de IVA aplicada em 44 alimentos do cabaz de bens essenciais, depois de terem debatido a proposta na passada quarta-feira. A votação na generalidade decorrerá na sexta-feira, no período de votações regimentais.

DGO divulga execução orçamental até fevereiro

A Direção-Geral do Orçamento (DGO) publica esta sexta-feira a síntese da execução orçamental até fevereiro. As administrações públicas registaram um excedente de 2.013 milhões de euros em contabilidade pública no primeiro mês deste ano, valor que representa uma melhoria de 184 milhões de euros em relação ao período homólogo.

Como evolui a inflação?

O Instituto Nacional de Estatística (INE) lança a estimativa rápida referente ao Índice de Preços no Consumidor (IPC) no mês de março. O gabinete estatístico confirmou um abrandamento da inflação em fevereiro, para 8,2%. Foi o quarto mês consecutivo de desaceleração, mas os preços dos alimentos voltaram a aumentar.

Ministério da Saúde e sindicatos voltam a reunir

Pelas 11 horas, decorre mais uma ronda de negociações entre o Ministério da Saúde e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Em declarações ao ECO, a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, adiantou que foi solicitada a presença do ministro da tutela, Manuel Pizarro, na reunião, tendo como objetivo iniciar a discussão das grelhas salariais e do regime de dedicação de exclusividade dos médicos.

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Novo fundo de cibersegurança 33N estreia-se com investimento em Israel

Criado por dois ex-quadros da Sonae, Carlos Alberto Silva e Carlos Moreira da Silva, em parceria com a Alantra, fundo 33N lidera ronda de investimento na empresa israelita de cibersegurança Panorays.

O fundo 33N, criado pelos ex-quadros da Sonae Carlos Alberto Silva e Carlos Moreira da Silva, em parceria com a Alantra, acaba de fechar a sua primeira operação, ao liderar a ronda de investimento na empresa israelita de cibersegurança Panorays.

Anunciada em outubro, a sociedade de capital de risco 33N Ventures aposta em startups das áreas da cibersegurança e software de infraestruturas na Europa, em Israel e nos EUA. Fixou como objetivo arrecadar um total de 150 milhões de euros junto de outros investidores e, ao atingir esse patamar, colocar dez milhões em rondas de investimento das séries A e B.

A rapidez com que foi fechado este primeiro investimento, assinala em comunicado, é “demonstrativa do modus operandi da 33N, aliando o conhecimento de anos no espaço de gestão de risco de terceiros (TPRM, Third Party Risk Management) com a relação de confiança construída com a equipa fundadora da Panorays”.

Equipa da 33N Ventures: Margarida Correia, Gonçalo Borges, Carlos Moreira da Silva e Carlos Alberto Silva.

Permitindo a análise, monitorização contínua e remediação do risco proveniente de parceiros e fornecedores, a plataforma da Panorays “combina a simplificação e validação dos questionários de postura de de cibersegurança com a sua tecnologia de identificação de ataques externos”.

“Fiel à sua forma de atuação, segue-se agora a fase de estreita colaboração da 33N com a Panorays, desde a expansão comercial e estabelecimento de parcerias, especialmente na Europa, até ao suporte próximo da equipa fundadora”, acrescenta na mesma nota enviada pela empresa às redações.

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Prova dos 9: Governo devolveu toda a receita fiscal adicional, como diz Medina?

À boleia da inflação, a receita fiscal aumentou no ano passado. O Governo assegura ter devolvido o montante adicional, sendo que uma parte foi apenas contemplada nos apoios já em 2023.

O ministro das Finanças tem prometido várias vezes que vai devolver a receita fiscal adicional que o Estado está a ter devido à inflação. Depois de no ano passado referir que esse aumento estava a ser usado para pagar algumas medidas, Fernando Medina vem agora assegurar que foi finalmente tudo distribuído. Mas será mesmo assim?

Segundo Medina, a receita adicional foi de 8,8 mil milhões de euros, valor confirmado pela síntese de execução orçamental da Direção Geral do Orçamento. Enquanto em 2021 a receita fiscal e contributiva foi de 70.576,7 milhões de euros, no ano seguinte o montante subiu para 79.332 milhões, pelo que à boleia da inflação e do dinamismo do mercado de trabalho o Estado recebeu a mais 8.755,3 milhões de euros.

O Governo avançou com vários apoios para responder à subida dos preços, tendo também já este ano avançado com mais medidas, nomeadamente na habitação. Perante este cenário, o ministro mostra-se confiante nas suas contas e lança até um desafio à oposição: “Demonstrem que não distribuímos tudo aquilo que foi o acréscimo de receita que o Estado teve e que Portugal não foi o quarto país da Zona Euro que mais apoios deu, em percentagem do produto”, disse, em entrevista à RTP.

Medina sinalizou que a distribuição total do acréscimo de receita de 2022 apenas se fez este ano, o que explica a “diferença contabilística para o défice: nós só distribuímos depois de termos a certeza que temos essas receitas, porque não distribuímos o que não temos”. No ano passado, Portugal registou um défice de 0,4%, muito abaixo da previsão de 1,9% do PIB inscrita no Orçamento do Estado.

Assim, o ministro diz que as medidas adicionais este ano dizem respeito ao “último pacote de medidas que tem valor de 1.600 milhões de euros, que somam a 900 milhões que já tínhamos afetado no início do ano, parte deles, no novo apoio as rendas”. Com estas contas, dá um total de 2,5 mil milhões de euros, como já tinha sido anunciado.

A frase

Do ponto de vista dos instrumentos de apoio que atribuímos no ano passado e que atribuímos agora, com este programa de ajuda, o Estado devolveu integralmente todo o acréscimo de receita fiscal que teve durante o ano de 2022“, disse Fernando Medina, em entrevista à RTP.

Os factos

O Governo avançou assim com várias medidas em 2023 que, segundo Medina, perfazem o total do acréscimo fiscal registado no ano passado. Foram 2,5 mil milhões de euros, englobando por exemplo o pacote Mais Habitação (900 milhões de euros) e os apoios às famílias, o que significa que em 2022 tinham de ter sido devolvidos cerca de 6.300 euros de receita adicional.

Olhando para a síntese de execução orçamental de dezembro, as medidas para responder ao impacto do choque geopolítico perfizeram um total de 5.700 milhões de euros. “Até dezembro, a execução reportada das medidas adotadas no âmbito da mitigação do choque geopolítico, levou a uma diminuição da receita em 2.141,8 milhões de euros e a um acréscimo da despesa total em 3.579,8 milhões de euros”, aponta a DGO.

É de sinalizar que os mil milhões do apoio extraordinário ao gás, que o Governo disse que seriam apenas contabilizados em 2023 (para efeitos do saldo orçamental), já aparecem na contabilização da DGO referente a 2022.

Faltariam cerca de 570 milhões de euros, mas o Ministério das Finanças deverá estar também a contabilizar alguns desvios na despesa, como as medidas que ainda ficaram da Covid-19 e consumos intermédios. Se esses forem tidos em conta, a receita adicional acaba por ser de cerca de oito mil milhões. Desta forma, foi devolvida em apoios diretos a quase totalidade da receita fiscal adicional, ainda que tenham sido acomodados nessa receita outras rubricas de despesa.

Prova dos 9

A afirmação está quase certa, sendo que o valor que o ministro das Finanças referenciou como sendo a receita adicional (8,8 mil milhões) ainda acomodou algum aumento da despesa que não estava prevista mas que não esteve diretamente ligado com instrumentos de apoio. Ainda assim, é verdade que os apoios totalizaram mais de oito mil milhões de euros.

Prova dos nove classificação

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Montepio injeta 115 milhões na Lusitânia para “apagar” prejuízos

Seguradora do ramo não vida da mutualista lucrou mais de cinco milhões no ano passado. E acabou de realizar uma operação harmónio no valor de 115 milhões para eliminar perdas dos últimos anos.

A Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) injetou 115 milhões de euros no capital da Lusitânia Seguros, que foi reduzido em simultâneo no mesmo montante para “limpar” os prejuízos acumulados nos últimos anos. A operação visou reestruturar os capitais da seguradora do ramo não vida da mutualista, como o ECO já tinha avançado em primeira mão, ao mesmo tempo que abre a porta aos dividendos.

Nesta operação harmónio, a Lusitânia realizou um aumento de capital no montante de 114,95 milhões de euros, totalmente subscrito pelo acionista, com a utilização de prestações acessórias de capital sob a forma de prestações suplementares no mesmo montante, decorrendo em simultâneo a redução do capital com a eliminação dos resultados transitados negativos.

No final, a seguradora ficou com o mesmo capital de 12,5 milhões de euros, mas apresentando agora uma situação financeira mais equilibrada, deixando de contabilizar as perdas que acumulou nos últimos anos.

De acordo com a AMMG, a operação “insere-se numa reestruturação mais ampla dos capitais da empresa, no sentido de uma redefinição dos fundos próprios, bem como, em termos estatutários, na eliminação dos resultados transitados negativos, com o objetivo de eliminar os obstáculos que se colocavam à distribuição de dividendos”, confirmando a notícia avançada pelo ECO no final de novembro.

Além da “limpeza” dos prejuízos, esta operação de reestruturação previu ainda o reembolso antecipado de empréstimos subordinados de 2015 e 2019 no valor de 14,5 milhões de euros, com os capitais próprios da Lusitânia a serem reforçados simultaneamente no mesmo montante através de prestações acessórias de capital.

A AMMG avançou com esta intervenção na Lusitânia — também interveio na outra seguradora do grupo, a Lusitânia Vida — para “criar almofadas financeiras” para fazer face à forte instabilidade nos mercados financeiros no ano passado, na sequência da guerra na Ucrânia e das sanções a Moscovo, e do aumento abrupto das taxas de juro, que atingiu de forma particular todo o setor segurador. As dificuldades sentidas este ano refletiam também, em parte, as perdas de quase 16 milhões de euros da exposição à dívida da companhia de gás Gazprom e da metalomecânica Novolipetsk – perdas que o grupo já disse que espera recuperar, pelo menos, em parte.

A Lusitânia encerrou 2022 com lucros de cerca de 5,1 milhões de euros, segundo adiantou fonte oficial do grupo mutualista ao ECO, acrescentando que a seguradora cumpre o objetivo do rácio de capital de solvência da sua política de apetite ao risco, registando, no final de 31 de dezembro de 2022, um rácio superior a 125%.

A carteira de investimentos da Lusitânia está predominantemente afeta a obrigações governamentais (cerca 68%) e uma parte a obrigações de empresas (cerca 20%). O remanescente está aplicado em imobiliário e fundos de investimento.

O negócio segurador da AMMG está avaliado em cerca de 224 milhões de euros, respondendo por 6% do balanço da maior mutualista do país, com mais de 600 mil associados e que tem no Banco Montepio o maior ativo.

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