Operação Babel: Ministério Público diz que arguidos obtiveram vantagens económicas de quase 40 milhões de euros

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

Para o Ministério Público, os 16 arguidos acusados na Operação Babel conseguiram vantagens económicas de quase 40 milhões de euros. Em causa estão dezenas de crimes, como corrupção e branqueamento.

Os 16 arguidos acusados na Operação Babel conseguiram vantagens económicas de quase 40 milhões de euros, obtidas através da alegada prática de crimes envolvendo vários projetos imobiliários para Vila Nova de Gaia, concluiu o Ministério Público (MP). Segundo a acusação do MP, a que a agência Lusa teve acesso na segunda-feira, em causa estão os projetos Hotel Azul, Hotel Riverview, Escarpa de General Torres, Garden Place/Hills, Riverside – Quinta de Santo António e o projeto Skyline – Centro Cultural e de Congressos (CCC) de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.

O MP acusou os 16 arguidos (seis pessoas singulares e 10 sociedades) de dezenas de crimes económicos, nomeadamente de corrupção, de prevaricação e de branqueamento, incluindo o antigo vice-presidente da câmara de Gaia Patrocínio Azevedo, os empresários Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, e uma dezena de sociedades ligadas ao setor imobiliário, pertencentes aos arguidos.

A acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional do Porto considera o antigo vice-presidente da câmara de Gaia Patrocínio Azevedo, acusado de 17 crimes, incluindo corrupção passiva, mercantilizou e instrumentalizou o cargo ao serviço de interesses imobiliários dos arguidos e das sociedades por estes detidas, a troco de contrapartidas financeiras e bens materiais.

De acordo com as contas feitas pelo MP, Patrocínio Azevedo, que vai continuar em prisão preventiva, e que também foi presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Vila Nova de Gaia, terá obtido vantagens económicas de quase oito milhões de euros, ao favorecer os projetos imobiliários dos arguidos, em detrimento do interesse do município.

Paulo Malafaia, promotor imobiliário, igualmente em prisão preventiva, é acusado de obter uma vantagem patrimonial de quase sete milhões e 400 mil euros, o mesmo valor atribuído ao advogado João Lopes, que, de acordo com a acusação, é amigo de Patrocínio Azevedo, e o intermediário entre os empresários do ramo imobiliário e o antigo autarca de Gaia.

Quanto a Elad Dror, fundador do grupo Frotera, com capitais israelitas, obteve uma vantagem económica de quase sete milhões e 100 mil euros.

Elad Dror, CEO do grupo Fortera

Luísa Aparício, que dirigiu a Direção Municipal de Urbanismo e Ambiente de Gaia entre 8 de junho de 2015 e 3 de outubro de 2022, terá conseguido vantagem patrimonial de 471 mil euros, o mesmo valor que o MP avaliou para Jordi Vilanova Busquets, economista, de nacionalidade espanhola e com interesses imobiliários comuns aos restantes arguidos.

As sociedades Ribaltcelabration, Mercan Property Panoramic, Mercan Property River, Semana Soberana, Attic, Fortera Proprieties, Basic Connetion, Warrior Shadow, Noble Faces e NewBox, pertencentes aos arguidos, a maioria a Elad Dror, terão obtido vantagens patrimoniais de quase nove milhões de euros.

“Em suma, estas quantias [valor global de quase 40 milhões de euros] constituem a vantagem da atividade criminosa, obtida pelos arguidos com a prática dos crimes, isto é, traduzem a vantagem económica direta ou indiretamente resultante desse facto, para si e para terceiros”, explica o MP.

Na acusação, o MP pede que os arguidos sejam condenados a pagar, solidariamente, ao Estado os valores em causa, pois “correspondem às vantagens da atividade criminosa por estes desenvolvida”.

A Operação Babel centra-se na suposta viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário.

Ex-vice de Gaia mercantilizou o cargo ao serviço de privados

O Ministério Público considera que o antigo vice-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia Patrocínio Azevedo mercantilizou e instrumentalizou o cargo ao serviço de interesses imobiliários privados.

Mercantilizando o seu cargo e instrumentalizando-o ao serviço de interesses privados, este arguido produziu um forte reflexo e uma imagem social reveladores de indignidade para o exercício da função pública”, sustenta a acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional do Porto, a que a agência Lusa teve acesso, acrescentando que os arguidos assumiram entre si um “pacto corruptivo”.

O MP acusou 16 arguidos (seis pessoas singulares e 10 sociedades) de dezenas de crimes económicos, nomeadamente corrupção ativa e passiva, prevaricação, participação económica em negócio, tráfico de influência, abuso de poderes, branqueamento e recebimento ou oferta indevidos de vantagem.

Neste processo estão também acusados o promotor imobiliário Paulo Malafaia, Elad Dror, fundador do grupo Fortera, o advogado João Lopes, Luísa Aparício, então diretora municipal de Urbanismo e Ambiente de Gaia, Jordi Busquets, economista, promotor e investidor no ramo imobiliário, e dez sociedades pertencentes aos arguidos e quase todas ligadas ao setor imobiliário.

Segundo o MP, Patrocínio Azevedo, engenheiro civil e vice-presidente presidente da câmara de Gaia desde 2013 até 16 de maio de 2023, dia em que foi detido, recebeu quatro relógios de luxo (avaliados em 12 mil euros) e mais de 100 mil euros para favorecer os interesses imobiliários dos arguidos Elad Dror e Paulo Malafaia.

A acusação sustenta que Patrocínio Azevedo, em 2019, 2020, 2021 e 2022 recebeu os quatro relógios, “dados pelos arguidos Paulo Malafaia e Elad Dror, por intermédio do arguido João Lopes, ciente de que tais vantagens se destinavam exclusivamente a gerar um clima de permeabilidade e simpatia na sua atuação nos procedimentos urbanísticos em curso” na autarquia e na empresa municipal de habitação.

“Em benefício destes arguidos e das sociedades (arguidas) Attic/Fortera Properties/Basic Connection/Warrior Shadow, Semana Soberana, Noble Faces e Ribaltcelebration, que desenvolviam os projetos Skyline/CCC [Centro Cultural e de Congressos], The Hills, Riverside, Hotel Azul e Urban 68”, frisa o MP.

O MP defende que o advogado João Lopes, amigo de Patrocínio, fazia a ponte entre Elad Dror e Paulo Malafaia com o ex-autarca, acrescentando que foi ele quem recebeu, em 23 de junho de 2021, quase 100 mil euros dos dois arguidos, no Centro Comercial NorteShopping, e os entregou posteriormente a Patrocínio Azevedo, como contrapartida pela sua intervenção em favor dos interesses imobiliários dos dois empresários.

“Procurando sempre alcançar benefícios patrimoniais ilegítimos, para si e para terceiros, o arguido Patrocínio Azevedo no âmbito das suas funções e poderes de facto, de forma reiterada e durante um significativo período temporal, atuou com manifesto e intenso abuso da função pública, violando de forma expressiva e grave os deveres relativos a um correto exercício daquela função e colocaram severamente em causa o respeito e a confiança exigidos para o exercício daqueles cargos”, diz a acusação.

O MP refere que “à custa dos interesses patrimoniais públicos, a atuação conjugada dos arguidos Paulo Malafaia, Elad Dror, João Lopes e Patrocínio Azevedo foi sucessiva e reiteradamente orientada para composição dos seus interesses no processo de determinação das escolhas” nos vários projetos apresentados pelos arguidos e sociedades que detinham.

“Que vincularam, irremediavelmente, o município de Vila Nova de Gaia, colocando em causa, assim, a confiança dos cidadãos nas instituições e a credibilidade destas, assim como a autonomia intencional do Estado, resultante de uma atuação desconforme à lei e ao direito no exercício de funções públicas”, lê-se na acusação.

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30 startups nacionais rumam à South Summit em Madrid

Dez destas startups participam na conferência através do Business Abroad. Já levantaram um total de cerca de oito milhões de euros, empregando mais de 120 pessoas.

Trinta startups nacionais rumam esta semana a Madrid para participar na South Summit, uma das principais conferências de empreendedorismo na Europa, entre 7 a 8 de junho. Destas, dez fazem parte do programa Business Abroad, da Startup Portugal, tendo já levantado um total de cerca de oito milhões de euros e empregando mais de 120 pessoas.

“A presença na South Summit através do nosso programa Business Abroad é uma oportunidade única para as startups portuguesas apresentarem as suas soluções inovadoras e estabelecerem parcerias estratégicas num dos mercados mais importantes para Portugal”, refere António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, citado em comunicado.

“Após a nossa primeira participação na conferência 4YFN em Barcelona, no início do ano, com 20 startups, o regresso com mais esta missão a Madrid, evidencia a consolidação deste mercado como um dos mais importantes destinos de internacionalização das startups portuguesas, atraindo uma participação recorde de 50 startups nas nossas missões a Espanha”, destaca o responsável.

BrainR, Bridge In, Follow Inspiration, Greenmetrics.ai, Growappy, InAppStory, Indie Seguros, Mighty, Nevaro e SheerMe são as startups que participam na conferência através do Business Abroad, programa que, desde o seu arranque, já apoiou mais de 270 startups em eventos tecnológicos.

“A sheerME iniciou recentemente a sua expansão para Espanha e, por isso, faz todo o sentido para nós participar neste encontro de inovação que é o South Summit“, diz Miguel Alves Ribeiro, CEO da sheerMe, em declaração enviada ao ECO.

“Espanha é frequentemente um mercado estratégico para startups e negócios portugueses, pela proximidade e pelas semelhanças de mercado. De acordo com o Índice de Inovação da Comissão Europeia, publicado no ano passado, Espanha está claramente à frente da UE no que diz respeito ao número de trabalhadores com competências digitais avançadas, o que é uma mais-valia para os negócios tecnológicos que se querem lançar ali“, refere ainda.

“O South Summit é um evento global que oferece às startups uma oportunidade para construir uma rede de contactos valiosa, essencial para o seu crescimento e desenvolvimento. Além disso, com a presença de numerosos investidores, este evento cria um ambiente oportuno para as startups apresentarem os seus projetos, obterem financiamento e facilita o desenvolvimento de parcerias estratégicas”, diz ainda. “À boleia da Startup Portugal, esperamos aumentar a nossa visibilidade no mercado espanhol e adquirir conhecimento sobre as últimas tendências e inovações, que podem ser aplicadas na sheerME, principalmente no nosso processo de internacionalização.”

Estas dez startups já levantaram cerca de oito milhões de euros, dando emprego a mais de 100 pessoas. Além destas, outras 20 startps nacionais marcam presença nesta 13.ª edição da conferência em Madrid: Ambi Careers; Boost Express; Chrono Health; Duma; enline; Fluks; Followup Global; GovWise; Granter; Intuitivo; iT Recruiter; Kardz; LockEM; Luggit; Moviinn; Mystic; Purrmi; SentiVue; Visible Sports e WiseWorld.

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Ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira já é economista-chefe da OCDE

Novo economista-chefe anuncia novidades. OCDE está a preparar novas investigações na área da inteligência artificial ou sobre os impactos macroeconómicos da adaptação às mudanças climáticas.

O antigo ministro da Economia Álvaro Santos Pereira já iniciou funções como economista-chefe da OCDE, uma promoção depois de Clare Lombardelli ter sido nomeada vice-governadora de política monetária do Banco de Inglaterra, em fevereiro.

Álvaro Santos Pereira já tinha exercido interinamente por duas vezes o cargo de economista-chefe. Agora volta a assumi-lo e anuncia algumas novidades na área da inteligência artificial, entre outras. “Estamos a preparar uma nova investigação sobre inteligência artificial e concorrência; inteligência artificial e o envelhecimento; mitigação das alterações climáticas; os impactos macroeconómicos da adaptação às mudanças climáticas; sobre envelhecimento e a longevidade; sobre produtividade; comércio; política industrial e segurança económica; concorrência e regulação; crescimento inclusivo; assim como das fundações do crescimentos e competitividade”, escreve Álvaro Santos Pereira nas redes sociais.

O responsável sublinha ainda que a OCDE vai continuar os estudos temáticos, com “análises macroeconómicas e substantivas e com recomendações à medida para cada país”, além disso, o antigo ministro português passará a ser o responsável pelas previsões económicas dos vários países e análises económicas, assim como pela publicação dos indicadores de insolvência.

A carreira de Álvaro Santos Pereira a OCDE já é longa. O antigo ministro da Economia de Pedro Passos Coelho foi nomeado pela primeira vez diretor de estudos de país no Departamento de Economia a 1 de março de 2014.

No processo de seleção do economista-chefe, em 2022-23, Santos Pereira chegou a ser o candidato final em consideração para nomeação para o cargo. Mas a escolha acabou por recair em Clare Lombardelli, que deixou a OCDE no final de maio para assumir o cargo de vice-governadora do BoE – após a reunião do conselho ministerial e a reunião plenária do Fórum Inclusivo sobre Abordagens de Mitigação de Carbono.

O mesmo se passou em 2018, quando Santos Pereira foi preterido por Laurence Boone no cargo de economista-chefe da OCDE. Exerceu o cargo interinamente desde o início desse ano (chegou a assinar o Economic Outlook de maio), em substituição de Catherine Mann, que saiu da OCDE no final de 2017 para liderar o departamento de research do Citi, mas depois regressou ao Departamento de Economia.

Antes de ingressar na OCDE, Álvaro Santos Pereira foi ministro da Economia, Emprego, Obras Públicas e Energia no Executivo de Passos Coelho. Ficou conhecido pelo repto que lançou de internacionalização do papel de nata, uma iguaria que na sua opinião merecia ter a mesma dimensão internacional dos hambúrgueres do McDonalds, o que na altura gerou grande polémica.

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Defesas defendem que arguidos do processo BESA não devem ir a julgamento

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

As defesas dos arguidos do processo BESA contestaram a tese do Ministério Público e consideraram que o tribunal não deve levá-los a julgamento.

As defesas dos arguidos do processo BESA contestaram na segunda-feira a tese do Ministério Público (MP) e consideraram que o tribunal não deve levá-los a julgamento num caso que envolve os crimes de abuso de confiança, branqueamento e burla.

Após o MP defender durante a manhã de segunda-feira que o ex-presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA) Álvaro Sobrinho, o antigo presidente do BES Ricardo Salgado e os ex-administradores Morais Pires, Rui Silveira e Helder Bataglia devem ser julgados “nos exatos termos da acusação”, coube à defesa do ex-banqueiro angolano abrir as alegações, refutando em pouco mais de cinco minutos a competência dos tribunais portugueses para julgar o seu cliente.

“Qualquer atuação alegadamente ruinosa que tenha ocorrido, ocorreu em Angola. Álvaro Sobrinho esteve sempre em Angola. Já foi confrontado com os factos em Angola e na Suíça e os mesmos foram arquivados”, invocou o advogado Miguel Esperança Martins.

O mandatário do ex-presidente do BESA, acusado de 18 crimes de abuso de confiança agravado (cinco dos quais em coautoria) e cinco de branqueamento, acrescentou ainda que “Álvaro Sobrinho entende que a lei portuguesa não se aplica e que não são os tribunais portugueses competentes”.

Já a defesa de Ricardo Salgado lembrou o processo BES/GES, o principal caso do colapso do Grupo Espírito Santo, para invocar o princípio legal de que um arguido não pode ser julgado duas vezes pelo mesmo crime.

Defendeu que o tribunal deve reconhecer que o objeto do processo já foi analisado e apontou uma violação do princípio de especialidade pelo uso de prova remetida pelas autoridades suíças para o caso BES/GES sem autorização no processo BESA.

O advogado Adriano Squilacce reiterou também a necessidade de uma perícia neurológica ao seu cliente, a quem foram imputados cinco crimes de abuso de confiança agravado e um de burla qualificada (todos em coautoria) neste processo.

Perante o diagnóstico de doença de Alzheimer (já apontado numa perícia efetuada noutro processo), argumentou que “a única razão pela qual se continua a ignorar a doença de Alzheimer do arguido tem unicamente a ver com o nome deste arguido, Ricardo Salgado“, manifestando ainda a expectativa de uma decisão de não-pronúncia do tribunal.

O mandatário de Morais Pires, visado por um crime de abuso de confiança e outro de burla, começou por apontar uma aparente “contradição insanável” ao MP, por entender que o mesmo dinheiro pode ser num processo objeto de corrupção e noutro constituir crime de abuso de confiança.

“Morais Pires não era administrador do BESA, nem houve dinheiro que lhe foi emprestado. E só assumiu o pelouro do BESA em 2012… Se há responsabilidade de alguém, não é certamente de Morais Pires, que lutou para que houvesse garantia soberana de Angola e teve muitas reuniões“, disse o advogado Raul Soares da Veiga.

Acrescentou ainda que, se o tribunal verificar os dados da acusação, “verá que lhe assiste razão e proferirá despacho de não-pronúncia”.

O advogado Rui Patrício, que representa o antigo administrador Helder Bataglia, acusado de um crime de abuso de confiança, defendeu a incompetência dos tribunais portugueses, entendendo que “não há nenhuma conexão com o território português” ou atos praticados pelo seu cliente que constituam o crime que lhe é imputado.

“Os tribunais portugueses não são competentes. E o que está narrado na acusação não consubstancia crime de abuso de confiança em relação a Helder Bataglia… ‘simple as that’ [tão simples como isso, em inglês]. Eram quantias que Helder Bataglia recebeu, às quais tinha direito no âmbito do GES. O que diz respeito ao meu cliente é muito curto e não permite que seja produzida uma pronúncia”, referiu.

Por último, a defesa de Rui Silveira — o único arguido que não pediu a abertura de instrução e que é acusado de um crime de burla — criticou a acusação, considerando-a “profundamente injusta” em relação ao seu cliente.

O advogado Luís Pires de Lima disse que a tese do MP assenta em “especulações e deduções” não apoiadas em factos, pelo que, no seu entender, Rui Silveira não devia ter sido acusado.

A leitura da decisão instrutória foi marcada pela juíza Gabriela Assunção para 15 de julho, às 15h00, no Tribunal Central de Instrução Criminal.

A acusação do processo BESA foi conhecida em julho de 2022 e respeita à concessão de financiamento pelo BES ao BESA, em linhas de crédito de Mercado Monetário Interbancário (MMI) e em descoberto bancário. Por força desta atividade criminosa, a 31 de julho de 2014, o BES encontrava-se exposto ao BESA no montante de perto de 4,8 mil milhões de euros.

As vantagens decorrentes da prática dos crimes indiciados, neste inquérito, contabilizam-se nos montantes globais de 5.048.178.856,09 euros e de 210.263.978,84 dólares norte-americanos, segundo a acusação do MP.

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Cura Mariano toma posse esta terça-feira como presidente do Supremo Tribunal de Justiça

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

O juiz conselheiro João Cura Mariano toma posse esta terça-feira como presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), sucedendo a Henrique Araújo.

O juiz conselheiro João Cura Mariano toma posse esta terça-feira como presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), sucedendo a Henrique Araújo que termina o mandato à frente do STJ por atingir o limite de idade, os 70 anos.

Nas eleições interpares do STJ em 15 de maio passado, Cura Mariano foi eleito, com 36 votos, vencendo na segunda volta a vice-presidente deste tribunal, Graça Amaral, que recebeu 23 votos. Cura Mariano já tinha sido o mais votado na primeira volta do sufrágio no lote de cinco candidatos, que inclua os conselheiros José Sousa Lameira, Leonor Furtado e Nuno Gonçalves.

Na carta aos seus pares em que manifestou disponibilidade para concorrer ao cargo, Cura Mariano lembrou os alertas deixados pelo atual presidente, o juiz conselheiro Henrique Araújo, salientando a necessidade de “estabelecer um diálogo intenso e construtivo com os demais órgãos de soberania”.

“Numa sociedade complexa, em crise crónica e vivendo ao ritmo da incerteza, impõe-se ao sistema judicial que procure manter a sua credibilidade, funcionando como uma força tranquila no necessário equilíbrio dos poderes de um Estado de direito democrático. E o STJ ocupa uma posição liderante na justiça portuguesa”, frisou.

Cura Mariano defendeu ainda na carta que as leis judiciárias e do processo não acompanharam as medidas exigidas por Henrique Araújo “como a consagração da autonomia financeira dos tribunais, a alteração das regras de acesso ao STJ, a revisão do sistema de recursos, ou o reforço dos serviços de assessoria aos juízes“, sublinhando ser essencial “uma intervenção dos poderes legislativo e executivo”.

O novo presidente do STJ — quarta figura do Estado – foi juiz do Tribunal Constitucional entre 2007 e 2016, passou pelos tribunais da Relação de Coimbra e do Porto e integrou ainda o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República.

Cura Mariano, de 67 anos, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e iniciou funções na magistratura judicial em 1986.

Com a vitória nesta eleição, o novo presidente do STJ assume também, por inerência de funções, a presidência do Conselho Superior da Magistratura (CSM).

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Estado português perdeu um terço do que investiu em startups

  • ECO
  • 4 Junho 2024

A Portugal Ventures acumula perdas de 123,7 milhões de euros em quase 300 desinvestimentos desde 2012. Pagou 375,4 milhões de euros para entrar e recebeu 251,7 milhões quando saiu das startups.

Desde que foi fundada, em 2012, e até ao ano passado, a Portugal Ventures perdeu 123,7 milhões de euros do investimento feito em startups. Este valor, segundo cálculos do Público, equivale a 32,95% do que a sociedade de capital de risco do Estado — atualmente parte do grupo do Banco Português de Fomento — investiu nas empresas das quais já saiu, num total de 264 — tendo ainda vendido parte da participação que detinha noutras 34.

Numa análise comparativa aos custos de aquisição e ao preço de venda das participações nestas quase 300 empresas, conclui-se que a Portugal Ventures pagou 375,4 milhões de euros para entrar e recebeu 251,7 milhões quando saiu, registando assim uma menos-valia de 123,7 milhões. Aliás, nos 12 anos analisados, apenas em 2016 o desinvestimento deu origem a uma mais-valia, de cerca de sete milhões de euros.

Estes dados mostram ainda a discrepância entre o resultado líquido da sociedade e o resultado dos fundos de investimento que gere. Por exemplo, no último ano, declarou lucros de 5,24 milhões de euros, mas a venda de participações sociais adquiridas no passado resultou num prejuízo de cerca de 4,4 milhões de euros. Antes, em 2014, nos desinvestimentos, os fundos registaram o maior prejuízo de sempre, mas a Portugal Ventures fechou esse ano com um lucro de 234 mil euros.

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Como as sociedades de advogados gerem as crises e o compliance?

O tema "Como as sociedades de advogados estão a lidar com a gestão de crise e o compliance” contou com a participação de José Luís Moreira da Silva, presidente da ASAP.

José Luís Moreira da Silva, presidente da Associação das Sociedades de Advogados de Portugal (ASAP) e sócio da SRS Legal, esteve presente na 7.ª edição da Advocatus Summit para abordar o tema “Como as sociedades de advogados estão a lidar com a gestão de crise e o compliance. A entrevista foi conduzida por Filipa Ambrósio de Sousa, diretora executiva da Advocatus.

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Investor Talks: Evento Literacia Financeira em Portugal

  • BRANDS' ECO
  • 4 Junho 2024

Na 3ª edição do Investor Talks, vários especialistas estarão presentes para discutir os desafios nos setores de Investimentos e Negócios. O evento ocorrerá nos dias 14 e 15 de setembro, no Algarve.

A 3ª edição da conferência Investor Talks terá lugar no Portimão Arena, no Algarve, nos dias 14 e 15 de setembro, e vai receber experts e investidores de vários setores, que irão ter como mote de discussão os temas “Finanças Pessoais”, “Investimentos” e o “Empreendedorismo”.

Este evento pretende, por isso, reunir os maiores influenciadores do país no campo financeiro, com o intuito de fornecerem orientações práticas para ajudar os portugueses a saírem do último lugar do ranking de literacia financeira da Europa.

Para isso, esta edição conta com investidores e empreendedores de vários setores, nomeadamente das áreas de finanças pessoais, dentro da qual se falará de poupança, gestão do dinheiro do indivíduo, e progressão de carreira; da bolsa de valores, onde se esclarecerão termos como ETF’s, ações, PPR’s, e criptomoedas; do imobiliário, na qual se abordará o Fix and Flip, o arrendamento, e os créditos à habitação; e, por fim, da área dos negócios, onde se falará do desenvolvimento de uma marca, de lojas online, lojas de retalho, e startups.

Entre os palestrantes confirmados do setor imobiliário está João Gonçalves, CEO da Home Buyers; Lucas Silva, embaixador da REMAX EUROPE; e Hugo Pinheiro, que falará dos créditos à habitação.

No setor das finanças pessoais, bolsa de valores e criptomoedas, estão confirmados Gustavo Araújo, educador financeiro certificado; Gonçalo Ribeirinho, analista financeiro; André Freitas, especialista em cashback; Inês Correia, investidora, empreendedora e autora; e Rita Piçarra, ex-diretora da Microsoft Portugal.

Já para falar dos setores startups, negócio, contabilidade e empreendedorismo, vão estar Miguel & Afonso, fundadores da Tabu CBD; Afonso Bento, fundador da ASBX; Raquel Esteves, especialista em fiscalidade; Celso Lascasas, Founder of Laskasas Group; Maria Costa Maia, CEO da White Deer; e Diogo Leal.

Ao todo, são esperados entre mil a 1200 participantes nesta 3ª edição, 15 palestrantes, oito stands e 15 parceiros. Haverá, ainda, a presença de quatro media partners (entre televisões e jornais), e estão, ainda, previstas mais de 2 milhões de impressões nas redes sociais sobre o evento, tendo em conta que vários palestrantes são influenciadores digitais.

Os patrocinadores do evento terão ainda mais vantagens, entre as quais uma maior visibilidade da marca, que estará presente nas redes sociais, no email marketing, na listagem do website, em campanhas promocionais, e terá destaque na livestream do evento e na APP Investor Talks.

Além disso, os patrocinadores também terão direito a um stand presencial no evento, acesso a um banco de imagens da marca no evento, apoio criativo nas atividades do stand e brand awareness, entrega de amostras de produtos, entrega de brindes, publicidade em palco (rollup, anúncio), publicidade em cartazes, panfletos, credenciais, e participação no after-movie do evento.

Entre os patrocinadores confirmados estão já a XTB, S.A., corretora de ações, ETF´s, etc; a GUDIS S.A., empresa de comércio alimentar; e a a Outlier, agência de anúncios, nos patrocinadores platina. Já nos patrocinadores gold estão a Wallstreeters, software sobre a bolsa de valores; e a Mussa Travel, agência de viagens. Por fim, nos patrocinadores diamante, está a Lympid, real world assets crypto platform.

As edições anteriores foram um grande sucesso, atraindo mais de 600 participantes. A última edição, realizada no Porto em outubro de 2023, destacou-se pelo seu impacto positivo, o que motivou os organizadores a aumentar o número de participantes e a trazer o evento para o Algarve. Ruben Rocha, o organizador, sente-se especialmente orgulhoso por realizar um evento de tão grande escala na sua terra natal, uma região que raramente acolhe eventos deste género.

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Empresa de óleos essenciais ajuda a limpar a floresta em Figueiró dos Vinhos

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

Scents from Nature iniciou laboração em outubro de 2022, num investimento de 3,7 milhões de euros. Autarcas das zonas afetas por incêndios reclamam melhores acessibilidades e telecomunicações.

Das folhas de eucalipto que povoam terrenos de Figueiró dos Vinhos e de concelhos limítrofes saem óleos essenciais para incorporar em produtos farmacêuticos, alimentares, cosmética ou detergentes, num trabalho que ajuda a manter limpa a floresta.

“Eu diria que não fomos nós que escolhemos, mas foi mais Figueiró dos Vinhos que nos escolheu”, disse à agência Lusa a responsável técnica e de produção da empresa Scents from Nature.

Maria Emília Marques recuou a 2017, ano dos incêndios de Pedrógão Grande, que atingiram também, entre outros concelhos, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, os três municípios onde decorrem as comemorações do Dia de Portugal, para explicar o caminho que a empresa fez.

“Depois de 2017, com os incêndios, verificou-se que talvez pudéssemos ser úteis aqui para limpar um pouco dos restos que ficam nas matas aquando do corte dos eucaliptos”, adiantou Maria Emília Marques, referindo que, dos três municípios que receberam o projeto, a Câmara de Figueiró dos Vinhos, no norte do distrito de Leiria, “respondeu com uma rapidez incrível”. A um domingo.

A região escolhida pela Scents from Nature era esta, “porque era uma zona em que o eucalipto é rei”, pelo que havia facilidade a aceder à matéria-prima. “Por outro lado, queríamos ajudar, de certa forma, na manutenção da floresta, não deixando nada ao abandono e recolhendo tudo o que era sobrantes que, normalmente, ficam e depois são uma fonte de incêndio”, adiantou.

Maria Emília Marques, responsável técnica e de produção da Scents from NatureLusa

E é na floresta que tudo começa, quando os madeireiros cortam os eucaliptos: a madeira vai para as celuloses; os ramos (pontas) que ficam no chão para a empresa. “Aqui, trituramos a folha agarrada ao pequeno ramo. Tudo o resto, a madeira e a folha que depois fica desidratada, vai para parceiros que utilizam para biomassa, pellets ou para produção de energia”, esclareceu Maria Emília Marques. Ou, por outras palavras, a aplicação da Lei de Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

No processo de extração/destilação, o óleo é extraído da folha através da passagem de vapor de água e separado no decantador. “O óleo tem uma composição química predefinida e, se o quisermos enriquecer, levamos a uma torre de destilação em que se pode destilar” de acordo com a especificação pedida pelo cliente.

A empresa começou a laborar em outubro de 2022, num investimento inicial de 3,7 milhões de euros, e vai avançar com a ampliação.

Em 2023, o ano zero da empresa, foram trabalhadas entre 600 e 700 toneladas de sobrantes de eucalipto, tendo resultado três mil quilogramas de óleo. “Dessas 600 toneladas, cerca de 40%, 30% é que é folha”, declarou, antecipando que este ano a empresa vai “mais do que duplicar a produção” de óleos essenciais.

Com 17 trabalhadores, sete dos quais estrangeiros (os nacionais são todos da região), a Scents from Nature reconheceu dificuldade em contratar mão-de-obra, qualificada ou não, o que é um constrangimento para aumentar a produção.

Produzindo essencialmente para exportação, Maria Emília Marques destacou as vantagens de a empresa estar em Figueiró dos Vinhos, onde “a matéria-prima está à mão”. Mas há coisas que limitam a atividade da empresa, instalada numa zona industrial pequena com casas próximas e com rede de Internet “muito má”.

Aqui, trituramos a folha agarrada ao pequeno ramo. Tudo o resto, a madeira e a folha que depois fica desidratada, vai para parceiros que utilizam para biomassa, pellets ou para produção de energia.

Maria Emília Marques

Responsável de produção da Scents from Nature

A empresa, que ajuda a floresta a manter-se limpa, notou que na região “são terrenos muito inclinados e pequeninos”. “E os custos dos nossos fornecedores de matéria-prima, para tirar de sítios difíceis é grande e lá ninguém vai ver, portanto, ficam lá em baixo. Quando é visível e quando o dono do terreno diz ‘não, ele tem de ser limpo, tem de tirar tudo’, para nós é uma vantagem, porque apesar de pagarmos, é uma forma de eles tirarem. Muitas vezes é fácil deixar lá, não se vê e o custo de tirar dessas zonas cá para cima é grande”, alertou esta responsável.

Nestas contas, há aspetos a considerar: “o gasóleo é caro, as máquinas também, a mão-de-obra não existe”, adiantou a engenheira. Reconhecendo que a empresa é “uma mais-valia” na região, pois “tem tirado, de facto, muitas toneladas de rama” de terrenos, Maria Emília Marques notou, contudo, que fica “lá muito ainda”.

As comemorações do Dia de Portugal centram-se este ano em Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, concelhos fustigados pelos incêndios de junho de 2017, de que resultaram 66 mortos e 253 feridos, além da destruição de casas, empresas e floresta.

Autarcas reclamam melhores acessibilidades, telecomunicações e serviços de saúde

Das acessibilidades às telecomunicações, da saúde à educação, são variadas as reclamações dos presidentes das Câmaras de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, concelhos onde este ano estão centradas as comemorações do Dia de Portugal.

“Depois dos acontecimentos de 2017, em que se verificaram falhas graves nas comunicações, surgiu a esperança de que algo seria feito para mitigar esta insuficiência”, afirmou à agência Lusa o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, António Lopes.

Segundo António Lopes, passados estes anos, “com a evolução das formas de trabalho para o teletrabalho, incentivando os profissionais a debandar para paragens” com “melhor qualidade de vida e diversificadoras do espetro tradicional das atividades económicas deste concelho”, verifica-se “as contínuas e mais agravadas falhas de comunicações”, prejudicando o município também na vertente da segurança.

Em junho de 2017, os incêndios que deflagraram neste concelho e atingiram outros, nomeadamente Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no norte do distrito de Leiria, provocaram 66 mortos e 253 feridos, além da destruição de casas, empresas e floresta.

Depois dos acontecimentos de 2017, em que se verificaram falhas graves nas comunicações, surgiu a esperança de que algo seria feito para mitigar esta insuficiência.

António Lopes

Presidente da Câmara de Pedrógão Grande

O presidente do Município de Castanheira de Pera, António Henriques, adiantou que o concelho está “cada vez mais abrangido por cobertura de rede”, mas persistem “algumas dificuldades em pontos muito específicos”, defendendo a sua resolução urgente.

Por outro lado, o autarca criticou a incapacidade de resposta por parte dos CTT na entrega de cartas e encomendas dentro do prazo. Em outubro de 2023, a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, de que fazem parte estes três concelhos, alertou para o mau funcionamento generalizado dos CTT, com consequências graves no recebimento de pensões ou na receção atempada de faturas de serviços essenciais.

Já em matéria de acessibilidades, o presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, realçou a necessidade de obras no Itinerário Complementar 8. “Ao longo de vários anos temos vindo sempre com alguma intensidade a focar esta preocupação e gostaríamos que isto fosse de uma vez por todas concluído”, declarou Jorge Abreu, referindo-se ao troço entre Pombal e Avelar (Ansião).

No âmbito da saúde, Jorge Abreu preconizou para o concelho, que tem um programa de incentivos à fixação de médicos de família, um reforço do investimento, extensível à educação.

O autarca de Castanheira de Pera, que também lançou benefícios para atrair clínicos, assinalou que a população sente “falta de cuidados médicos em grande parte do tempo”, enquanto o de Pedrógão Grande classificou a delegação de competências do Estado central no âmbito destas duas áreas e da ação social como uma “transferência de encargos”.

António Lopes designou a floresta como a primeira preocupação, recordando que aquela representa 90% do concelho, que tem 123 quilómetros quadrados, e é “essencialmente particular”.

“Vemo-nos a braços com uma tarefa hercúlea”, destacou a propósito da limpeza das faixas de gestão de combustível, explicando que o custo deste trabalho sai do erário municipal quando outras entidades têm financiamento a 100% para o concretizar, o que é um “tratamento desigual”.

Vamos reunindo as condições através de áreas empresariais, condomínios empresariais, reabilitação de edifícios para a instalação de empresas (…) e depois acaba por ser também um bocadinho inglório, porque as empresas continuam a não olhar para estes territórios como uma oportunidade.

António Henriques

Presidente da Câmara de Castanheira de Pera

Jorge Abreu sugeriu a criação de um mecanismo de cofinanciamento na área das florestas e ambiente, que “permita dar seguimento às intervenções” em curso de programas como os Condomínios de Aldeia ou as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem.

Nestes três concelhos, que estão nos quatro do distrito de Leiria que mais população perderam em termos percentuais entre os censos de 2011 e 2021 (de 13,41% a 17,11%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística), insiste-se numa “discriminação positiva”. “O que é mais crucial é conseguir fixar os jovens”, sustentou Jorge Abreu, pedindo apoios à habitação, com reforço de política fiscal e de promoção de habitação condigna, mas também, acessível a jovens.

Sustentando que o “país se esqueceu de que havia um Interior”, António Henriques notou que economia e demografia estão diretamente relacionadas, desejando “um Portugal completo com uma estratégia abrangente”, foco que deve ser de autarcas e governantes.

“É um desafio para nós, enquanto autarcas, porque vamos reunindo as condições através de áreas empresariais, condomínios empresariais, reabilitação de edifícios para a instalação de empresas (…) e depois acaba por ser também um bocadinho inglório, porque as empresas continuam a não olhar para estes territórios como uma oportunidade”, lamentou o presidente de Castanheira de Pera.

Para o autarca de Figueiró dos Vinhos, é necessário um “reforço da política fiscal para pessoas e empresas que permita uma efetiva diferenciação de quem reside e labora no Interior, oferecendo vantagens competitivas que amenizem constrangimentos”, enquanto o de Pedrógão Grande rejeita novos obstáculos ao desenvolvimento do concelho, como a eventual instalação de uma central solar flutuante perto da Barragem do Cabril e mais uma linha de muito alta tensão.

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Hoje nas notícias: startups, Novobanco e IRS

  • ECO
  • 4 Junho 2024

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

Desde a fundação, a Portugal Ventures acumula perdas de 123,7 milhões de euros em quase 300 desinvestimentos. O Novobanco vendeu os 10% que ainda tinha no cabo-verdiano iiBCV ao grupo do Bahrein que detém os outros 90%. Conheça as notícias em destaque na imprensa nacional esta terça-feira.

Estado perdeu um terço do que investiu em startups

Desde que foi fundada, em 2012, e até ao ano passado, a Portugal Ventures perdeu 123,7 milhões de euros, o que equivale a 32,95% do que investiu nas empresas das quais já saiu: totalmente de 264 e vendeu parte da participação que detinha noutras 34. Numa análise comparativa aos custos de aquisição e ao preço de venda das participações nestas quase 300 empresas, conclui-se que a sociedade de capital de risco do Estado português — atualmente parte do grupo do Banco Português de Fomento — pagou 375,4 milhões de euros para entrar e recebeu 251,7 milhões quando saiu.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

Novobanco sai de Cabo Verde após venda a grupo do Bahrein

O Novobanco vendeu a participação de 10% que tinha no International Investment Bank Cabo Verde (iiBCV) ao IIB Group, do Bahrein, que já detém o restante capital da instituição financeira cabo-verdiana. “O Novobanco tinha o direito, que exerceu no final do ano passado, de vender-nos a participação”, revela o chairman do grupo do Golfo Pérsico, Sohail Sultan, assinalando que “a transação foi concluída há uma semana”, sem avançar o valor da operação. No entanto, o grupo — que tem bancos no Médio Oriente, África Ocidental e Oriental e nas Caraíbas, e que tem manifestado a intenção de comprar um banco em Portugal — não pretende ficar com a totalidade do capital do iiBCV permanentemente.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago).

Alívio do IRS avança sem avaliação prévia de impacto orçamental

As várias propostas de alívio do IRS, que vão a votos no Parlamento na quarta-feira e sem um desfecho previsível sobre qual delas será aprovada, não contam com a avaliação do impacto orçamental pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). Nos últimos dias, tem-se mantido o braço de ferro entre o PS e o PSD, que já se aproximou aos socialistas e ao Chega com maiores reduções nos escalões mais baixos, mas não abdica da redução intercalar do imposto nos escalões mais elevados.

Leia a notícia completa no Jornal Económico (acesso pago).

Subsídio de risco na GNR e PSP pode subir de 100 para 300 euros

Os polícias da PSP e da GNR podem ter, pelo menos, 200 euros de acréscimo mensal dos seus salários ainda neste ano, valor que será somado aos 100 euros da componente fixa do atual subsídio de risco, segundo revelou fonte do Governo que tem acompanhado as negociações com os sindicatos. Na tarde desta terça-feira há mais uma reunião entre as estruturas sindicais do setor e a nova ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.

Leia a notícia completa no Diário de Notícias (acesso pago).

Falhas na Internet bloqueiam provas de aferição a milhares de alunos

Os milhares de alunos que realizaram na segunda-feira as provas de aferição do 8.º ano de Português, em formato digital, foram afetados por problemas na rede de Internet das escolas. Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, refere tratar-se de “um problema com anos”, apontando que os constrangimentos também se deveram ao facto de “as escolas terem sido informadas em maio de que, a partir de junho, só os alunos com ação social escolar (ASE) teriam o router para acesso à Internet do kit digital, deixando a maioria de fora”. Ministério tutelado por Fernando Alexandre responsabiliza o anterior governo socialista, pois “teve a possibilidade de autorizar a aquisição de conectividade para disponibilizar durante todo o ano de 2024”, mas “decidiu não o fazer”.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago).

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Rede social X passa a permitir oficialmente publicação de conteúdo pornográfico

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

Com as receitas publicitárias em queda, a empresa comprada por Elon Musk, anteriormente conhecida como Twitter, voltou a atualizar as regras de atualização. Conheça as alterações.

A rede social X atualizou na segunda-feira as suas regras, para permitir que utilizadores publiquem “nudez ou comportamento sexual adulto produzido e distribuído com consentimento”, desde que não esteja num local de destaque, como uma imagem de perfil.

“Acreditamos na autonomia dos adultos para interagir e criar conteúdos que reflitam suas próprias crenças, desejos e experiências, inclusive aquelas relacionadas à sexualidade”, realçou, em comunicado, a empresa de Elon Musk, anteriormente conhecida como Twitter.

Uma das novas medidas que surgiu com Musk foi o Twitter Blue (agora X Premium), que permite aos utilizadores vender conteúdo extra para seguidores que estejam disponíveis para pagar.

Este tipo de subscrições permite proporcionar outra forma de rendimento para o X, que viu as suas receitas publicitárias caírem após a aquisição de Musk e as suas medidas controversas.

A plataforma passa agora a exigir que os utilizadores que “publicam regularmente” conteúdo adulto ajustem as suas configurações para marcar as imagens e vídeos que publicam como conteúdo sensível.

A empresa indicou ainda, no comunicado, que este “conteúdo adulto” também se aplica a conteúdos fotográficos ou animados gerados por Inteligência Artificial (IA), “como desenhos animados, hentai ou anime”.

Os utilizadores menores de 18 anos ou que não tenham inserido a data de nascimento no perfil não poderão clicar em conteúdo pornográfico.

As novas regras também proíbem conteúdos “que promovam a exploração, a falta de consentimento, a objetificação, a sexualização ou danos a menores e comportamento obsceno”.

Após a divulgação do comunicado, a conta X dedicada à segurança publicou: “Lançamos políticas de conteúdo adulto e conteúdo violento para fornecer mais clareza às nossas regras e transparência na aplicação nessas áreas. Essas políticas substituem as nossas políticas anteriores sobre media sensível e discurso violento, mas o que aplicamos não mudou”.

“O conteúdo violento abrange o discurso violento e a media violenta para permitir uma abordagem mais holística no combate à violência em todas as suas formas”, detalhou ainda.

Desde a chegada de Musk, após comprar a rede social por 44 mil milhões de dólares em 2022, as regras do X foram suavizadas e o magnata retirou o veto a diversas contas, como a do ex-presidente norte-americano, o republicano Donald Trump.

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“O Sistema Nacional de Saúde não incentiva a inovação em Portugal”

  • ECO
  • 4 Junho 2024

O ECO juntou a Fundação Champalimaud, a Sword Health, a Johnson&Johnson Innovative Medicine e o Health Cluster Portugal para debater a inovação na saúde.

Portugal tem recursos humanos e instituições competentes para a investigação e desenvolvimento na área da saúde, mas também vários entraves. O Serviço Nacional de Saúde não incentiva através das suas compras a inovação e o tempo de decisão e execução das autoridades é demasiado longo, dificultando a atração de investimento das multinacionais e de ensaios clínicos.

São algumas das mensagens deixadas na 2.ª Conferência ECO Saúde e Economia, que decorreu no dia 28 de maio, e contou com a presença de Guy Villax, presidente do Health Cluster Portugal; Fabíola Costa, diretor of clinical research da Sword Health; Pedro Garcia da Silva, scientific coordinator da Fundação Champalimaud, e Filipa Mota e Costa, diretora-geral da Johnson&Johnson Innovative Medicine.

A inovação está a revolucionar a prestação de cuidados de saúde, não só porque consegue quebrar as barreiras geográficas e de tempo e de falta de profissionais de saúde, mas também porque aparece como uma alternativa, utilizando a tecnologia para fazer a expansão daquilo que é o cuidado e chegar mais cedo, de forma mais atempada, idealmente de forma mais personalizada a cada um dos utentes.

Fabíola Costa

Diretor of Clinical Research da Sword Health

A inovação está a revolucionar a prestação de cuidados de saúde, não só porque consegue quebrar as barreiras geográficas e de tempo e de falta de profissionais de saúde, mas também porque aparece como uma alternativa, utilizando a tecnologia para fazer a expansão daquilo que é o cuidado e chegar mais cedo, de forma mais atempada, idealmente de forma mais personalizada a cada um dos utentes“, começou por dizer Fabíola Costa, diretor of clinical research da Sword Health.

A responsável pela Sword Health enalteceu ainda como benefícios da inovação “uma maior equidade no acesso à saúde; a redução de tempo de resposta, desde a referência até ao início do tratamento; e a satisfação de conseguirmos ver resultados tão bons ou melhores do que tínhamos visto seguindo os trâmites de tratamento mais tradicionais“.

O terceiro vertical [da inovação na Fundação Champalimaud] é perceber como escoamos a descoberta que é feita no laboratório para o quarto do doente. Ou seja, perceber como é que capitalizamos as descobertas que fazemos e as pomos ao uso da sociedade, e aí está para nascer um novo programa de terapias digitais na fundação.

Pedro Garcia da Silva

Scientific coordinator da Fundação Champalimaud

Pedro Garcia da Silva, scientific coordinator da Fundação Champalimaud, partilhou o que tem sido feito na instituição. “Nós dividimos as inovações dentro da fundação em três verticais: um nas novas terapias e na medicina personalizada, que pretende fornecer ao nosso doente chances de sobrevida melhores; outro na utilização de novas tecnologias para gestão de processo, no qual se inclui a IA para fazer onboarding de doentes; e o terceiro vertical é perceber como escoamos a descoberta que é feita no laboratório para o quarto do doente. Ou seja, perceber como é que capitalizamos as descobertas que fazemos e as pomos ao uso da sociedade, e aí está para nascer um novo programa de terapias digitais na fundação“.

“Eu acho que Portugal tem as capacidades, tem pessoas com conhecimento, tem instituições muito bem equipadas, portanto, eu diria que o difícil está feito. Falta, depois, capital ao país para alavancar a inovação. Mas, para não estarmos à espera e só daqui a 20/30 anos darmos esse salto e ficarmos alinhados ao nível do que melhor se faz na Europa, há algo que é o quick win, usando a presença de multinacionais, em Portugal, com capacidade de investimento forte, que usam o mundo como laboratório. É importante alavancar e acarinhar essas empresas que já estão em Portugal e permitir condições para que, em vez dessas empresas investirem noutros países, invistam cá”, defende, por sua vez, Filipa Mota e Costa, diretora-geral da Johnson&Johnson Innovative Medicine.

Atrair mais ensaios clínicos para Portugal é uma forma de reter talento e de o desenvolver, para além do capital que entra no país e que vai contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde.

Filipa Mota e Costa

Diretora-geral da Johnson&Johnson Innovative Medicine

“É como se fosse uma exportação de serviços, mas, por outro lado, é fazer com que essa investigação/inovação seja feita cá, e isso não só traz entrada de capital, como desenvolve o capital humano e as capacidades de inovação que há no país. Melhorando esse ecossistema e expandindo, isso atrai mais profissionais, mais investigação e mais investimento”, sublinhou.

Filipa Mota e Costa salientou a importância da atração de ensaios clínicos do setor farmacêutico, “pelo acesso à inovação para os doentes e o benefício clínico e de esperança que pode trazer”, mas também por ser “uma forma de reter talento e de o desenvolver, além do capital que entra no país e que vai contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde“.

Em teoria, a indústria que está à volta do setor da saúde, encontra, em Portugal, um cliente gigante chamado SNS que, por diversas razões, conseguiu obter os preços mais baixos da Europa. Portanto, a indústria do setor de saúde que serve o SNS tem margens magrinhas. E o SNS não incentiva a inovação em Portugal.

Guy Villax

Presidente do Health Cluster Portugal

Guy Villax, presidente do Health Cluster Portugal, salientou que “Portugal consegue fazer coisas fantásticas quando o tema tem a ver com a inovação”, mas criticou a visão que existe no setor público: “Inovar é pegar em conhecimento e fazer dinheiro. Em teoria, a indústria que está à volta do setor da saúde, encontra, em Portugal, um cliente gigante chamado SNS que, por diversas razões, conseguiu obter os preços mais baixos da Europa. Portanto, a indústria do setor de saúde que serve o SNS tem margens magrinhas. E o SNS não incentiva a inovação em Portugal. Mas as empresas portuguesas encontram soluções e o setor da saúde, que já exporta mais de três mil milhões, onde as exportações têm crescido 20% ao ano, em cinco anos, e vencem no estrangeiro muitíssimo bem”.

O papel da IA e os entraves à inovação

A inteligência artificial generativa vem potenciar as possibilidades da tecnologia. “O salto da IA generativa tem tudo a ver com conseguir potenciar o fator humano e isso significa empoderar os nossos profissionais de saúde, de forma a conseguirem fazer mais e melhor, e com mais atenção no doente, diminuindo a carga de ter que estar a rever constantemente como está a ser o progresso de cada um. Isso permite identificar quais são os doentes que precisam de uma atenção mais cedo e uma maior alteração daquilo que está a ser o seu trajeto de recuperação”, afirmou Fabíola Costa.

A Diretor of Clinical Research da Sword Health, disse que a “IA está a ser desenvolvida, em primeiro lugar sempre nesta combinação do humano com a IA, portanto não tanto vendo a IA como um substituto, mas sim como uma ferramenta extra que vai potenciar, que vai acelerar o trabalho, de forma a garantir que estamos a conseguir ir ao encontro do que cada doente necessita, com mais tempo e com menos burnouts dos nossos profissionais“, referiu.

Pedro Garcia da Silva, da Fundação Champalimaud, apontou duas questões que estão a travar a inovação na saúde em Portugal. “A primeira é que eu acho que há um mau aproveitamento do conhecimento gerado em contexto académico por empresas”, referiu. Por outro lado, “a perceção do investigador sobre a utilidade pública da sua investigação ou o mercado em que se está a inserir são os competidores académicos. Portanto, muitas das vezes, a perceção de mercado é muito mais pequena do que o mercado real. Tem que haver aqui quase que um salto de fé“.

Nós temos quatro incubadoras a nível mundial. Não estão baseadas em Portugal porque há outros países onde há mais ecossistema de inovação a nível europeu. O nosso papel em Portugal é ajudar a pôr estas estruturas em contacto. Já conseguimos que duas empresas portuguesas fossem avaliadas para perceber se faria sentido irem para a incubadora.

Filipa Mota e Costa

Diretora-geral da Johnson&Johnson Innovative Medicine

Se nós virmos os requisitos que hoje em dia são necessários para o desenvolvimento de algo no setor da saúde, o que vemos a acontecer no mundo são pequenas empresas, spin-offs, empresas de biotecnologia, que, depois, mais à frente, são compradas por grandes multinacionais que já têm capacidade de agir à escala global porque se não, não há eficiências do ponto de vista, não só de escala, como também o braço financeiro de conseguir desenvolver ensaios clínicos. Isso é um risco brutal que, geralmente, só é valorizado quando chega à fase final, mas para cada um que chega à fase final há muitas estatísticas que mostram que há muito que falha”, acrescentou, por sua vez, Filipa Mota e Costa.

A responsável da Johnson&Johnson Innovative Medicine explicou o que a empresa tem feito nesse sentido: “Nós temos quatro incubadoras a nível mundial. Não estão baseadas em Portugal porque há outros países onde há mais ecossistema de inovação a nível europeu. O nosso papel em Portugal é ajudar a pôr estas estruturas em contacto. Já conseguimos que duas empresas portuguesas fossem avaliadas para perceber se faria sentido irem para a incubadora. Não passaram nessa fase, mas eu diria que já foi muito bom duas startups portuguesas terem estado em avaliação”.

É importante agilizar processos de maneira a que Portugal seja competitivo no tempo de execução, seja ao nível das autoridades, que tem havido já alguns pequenos passos nesse sentido, mas pouco consistentes, seja ao nível dos hospitais que executam. E, por outro lado, tem de haver um diálogo de confiança com as empresas que trazem a inovação”, reforçou.

O mais positivo que nós temos em Portugal é verificar que, nos últimos 30 anos, o ensino superior, as universidades, foram das raras áreas que souberam convergir com o resto da Europa.

Guy Villax

Presidente do Health Cluster Portugal

Por sua vez, Guy Villax, do Health Cluster Portugal, voltou a referir as universidades como fundamentais nesse processo e concluiu: “O mais positivo que nós temos em Portugal é verificar que, nos últimos 30 anos, o ensino superior, as universidades, foram das raras áreas que souberam convergir com o resto da Europa. As nossas universidades produzem, hoje em dia, ótimos jovens, superqualificados. Portanto, quem está de parabéns são as universidades, sem dúvida alguma, e quando nos dizem que cerca de 25% dos jovens, ao saírem da universidade, nem sequer procurem emprego em Portugal, o que está mal são as empresas”.

Assista ao debate neste vídeo:

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