Presidente da Anivec elogia as medidas contra a Covid-19 adotadas pelo Governo, mas critica o novo lay-off. E alerta que há empresas a aproveitar-se do Estado, devendo ser "fortemente punidas".
César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (Anivec), defende que o Governo está a responder bem a esta crise, mas alerta que existem muitas empresas que estão a “aproveitar-se das ajudas do Estado e isso está a prejudicar a economia”.
“Os prevaricadores têm de ser denunciados, porque não têm sentido de obrigação e estão a aproveitar-se do esforço que está a ser feito pelo país. O Estado deve punir fortemente essas empresas”, defende o presidente da Anivec, em entrevista ao ECO.
Em relação às medidas anunciados pelo Governo de António Costa, César Araújo destaca a importância do lay-off simplificado, diz que foi um mecanismo que “salvou e economia e muitos postos de trabalho”, mas mostra-se completamente contra o novo lay-off. “Este novo mecanismo implica que as empresas trabalhem no mínimo metade do tempo. Se as empresas não tiverem trabalho, o que vão fazer?”, questiona o presidente da Anivec.
No que respeita à resposta europeia à crise provocada pela pandemia, o presidente da associação revela-se satisfeito, mas ao mesmo tempo “desapontado”. Diz que “foi uma confusão salvar a Europa”. “A Europa teve a oportunidade de se afirmar perante o mundo e ser um modelo para outros blocos, no entanto representou uma fragilidade enorme e só faltou os líderes andarem à bofetada”, destaca César Araújo.
O Governo está a responder bem a esta crise?
O Governo, até agora, está a responder bem. As medidas que foram tomadas até julho em relação ao lay-off simplificado foi um mecanismo que salvou a economia, mas se o Estado alterar o lay-off como está previsto vai pôr em causa muitas empresas que vão enfrentar muitas dificuldades, estando até em causa a sua sobrevivência pelo facto de não terem trabalho. O novo lay-off implica que as empresas trabalhem no mínimo metade do tempo. Se as empresas não tiverem trabalho que vão fazer? O novo lay-off devia ter a mesma construção do lay-off simplificado. Neste momento o Estado deve estar focado na manutenção de postos de trabalho. Fica mais caro ao país atirar estas pessoas para o desemprego.
Existem muitas empresas que estão a aproveitar-se das ajudas do Estado e isso está a prejudicar a economia. Há empresas que não estão a cumprir as regras e devem ser rapidamente fiscalizadas. O Estado deve punir fortemente essas pessoas e não penalizar as que cumprem criteriosamente. Os prevaricadores têm de ser denunciados, porque não têm sentido de obrigação e estão a aproveitar-se do esforço que está a ser feito pelo país. Não se admite concorrência desleal e é inadmissível existir esse tipo de comportamentos. Temos que salvar as empresas cumpridoras porque o país vai precisar desses empresários e dessas empresas para sair desta crise.
Das medidas anticrise, qual tem sido a mais eficaz para amenizar a recessão?
O lay-off simplificado foi, sem dúvida a melhor medida, seguido das moratórias e das linhas de financiamento.
Quantos anos demorará a recuperar desta crise?
Se existir uma vacina no próximo ano, vamos demorar no mínimo dois anos. Vai ser muito difícil e tem que existir muita resiliência por parte dos empresários. Devia existir um pacto entre o Estado, os empresários e a sociedade civil, porque isto vai ser muito duro.
Portugal receberá muitos milhões de euros do Fundo de Recuperação. Ficou satisfeito com o acordo alcançado?
Fiquei satisfeito com este acordo europeu porque era uma necessidade para a Europa afirmar-se, mas fiquei muito desapontado porque existem muitas diferenças [entre os diferentes líderes]. A Europa teve a oportunidade de se afirmar perante o mundo e ser um modelo para outros blocos, no entanto representou uma fragilidade enorme e só faltou os líderes andarem à bofetada. Os países que estavam fortemente contra o montante inicial de 500 mil milhões de euros em subsídios são aqueles que mais beneficiam da Europa. A Holanda é o maior interposto de importação de países fora da Europa. Têm um regime fiscal totalmente diferente que já nem devia existir, sendo dos países que mais beneficia com a união da Europa. Como os ingleses optarem por sair da UE, a Holanda quer afirmar-se na primeira linha de liderança, quando devia afirmar-se como uma união. Nesta crise percebeu-se que cada país europeu estava a olhar para o seu umbigo. Foi uma confusão salvar a Europa.
Portugal perdeu alguns milhões e para o nosso país esse dinheiro era uma necessidade. Portugal, sabendo aplicar estes recursos, vai tornar-se num país de excelência.
Nesta crise percebeu-se que cada país europeu estava a olhar para o seu umbigo. Foi uma confusão salvar a Europa.
O acordo europeu é uma forma de evitar a austeridade num futuro próximo?
Vai ser difícil evitar a austeridade, apesar de agora termos esta oportunidade, que são os estímulos europeus. Se usarmos o dinheiro com responsabilidade, Portugal pode rapidamente reerguer-se e tornar-se um país moderno e inovador, mas têm que existir muita transparência nos recursos financeiros. Deve ser fiscalizada diariamente a aplicação desses recursos.
A produção de máscaras foi uma oportunidade para o setor têxtil. O mercado está saturado? Exportação é uma tarefa difícil devido às certificações?
O mercado ficou saturado não foi das máscaras que a nossa indústria fez, mas sim do stock brutal que comprou à Ásia. Depois temos outro problema, temos em Portugal, Câmaras Municipais, que compraram máquinas para produzir máscaras descartáveis, utilizando os recursos públicos. Isso é concorrência desleal. As máscaras já não são uma oportunidade para o setor.
Em relação às certificações, em Portugal já temos várias empresas a certificar, mas as nossas certificações não são válidas na Europa. Temos muita dificuldade em exportar porque temos que certificar em cada país. A grande maioria das empresas de vestuário não têm essas certificações e tem falta de conhecimento para as obter. É mais fácil uma empresa ir a um laboratório na China certificar a sua máscara, o certificado tem maior validade na Europa do que um certificado de um país europeu para outro país europeu.
Infelizmente nesta indústria de têxtil e vestuário 80% dos produtos consumidos na Europa têm proveniência da Ásia. Isso não pode acontecer e esse é o problema. Nós vamos lutar para que haja maior transparência e que essa concorrência desleal não venha pôr em causa a sustentabilidade da nossa indústria.
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“Muitas empresas estão a aproveitar-se do Estado e isso prejudica a economia”, denuncia presidente da Anivec
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