Uma vitória nas europeias pode ser "um elemento importante para que o partido ganhe balanço para ser um alternativa real e efetiva ao PS", defende o cabeça de lista social-democrata.
Paulo Rangel é claro ao traçar o objetivo do PSD para as próximas eleições: “ganhar as europeias” e por arrasto as legislativas de outubro. Um bom resultado em maio, deixará o partido “alavancado para ser a verdadeira alternativa ao PS e poder vir a ganhar as legislativas. Acusa Pedro Marques, cabeça de lista do PS às europeias, de ser o ministro com o pior investimento público de sempre, e gostava que os eurodeputados do PS tivessem a performance dos do PSD. Quanto à polémica proposta dos deputados-advogados, o cabeça do lista do social-democrata garante preferir “políticos com profissões a políticos profissionais”, ainda assim, admite não ter “nenhum problema em aceitar um modelo” que exija a exclusividade parlamentar.
As eleições europeias são a primeira volta das legislativas de outubro?
Devo dizer o seguinte: não concordo com a estrita nacionalização das eleições europeias. Aliás eu não compreendo António Costa quando diz que estas eleições são uma moção de confiança ao Governo. É curioso que ele e Pedro Marques nos atacam dizendo – no que é uma verdadeira fake news -, que nós não temos propostas europeias. Mas depois o que dizem é que isto é uma moção de confiança ao Governo. Então não percebo porque andamos a discutir assuntos europeus se do que se trata é do Governo.
Agora, é evidente que em todas as eleições europeias há uma dimensão nacional. E portanto, há assuntos europeus para discutir, há assuntos nacionais para discutir. E, verdade seja dita, grande parte dos assuntos hoje tem uma componente nacional e uma europeia. Portanto, com certeza que vai também haver no voto dos portugueses uma leitura nacional.
Tendo esse bom resultado nas europeias o PSD fica alavancado para se mostrar como a única e verdadeira alternativa ao PS e portanto poder vir a ganhar as eleições legislativas.
Por exemplo, os cortes gravíssimos no Serviço Nacional de Saúde, a tal austeridade que Centeno confessou que continua e que é feita nas cativações, resulta por se ter que atingir um défice. E o Governo ao optar, optou por dar um golpe rude nos serviços de saúde portugueses para atingir o défice. Cá está, esta é uma crítica nacional mas que tem um impacto europeu, e por isso ela entrará nas eleições europeias.
Tendo em conta esse contexto, o PSD pode ganhar as legislativas?
O que lhe digo é o seguinte : neste momento o que está em causa são as europeias. O objetivo do PSD é ganhar as europeias. Acho difícil, mas nós temos condições para isso. Naturalmente, tendo esse bom resultado nas europeias o PSD fica alavancado para se mostrar como a única e verdadeira alternativa ao PS e portanto poder vir a ganhar as eleições legislativas.
Acho que isso é um processo. E, naturalmente, como há essa dimensão nacional nas eleições europeias, esse bom resultado, que eu acho que pode ser claramente uma vitória do PSD nas europeias, será um elemento importante para que o partido ganhe balanço para ser uma alternativa real e efetiva ao PS nas eleições legislativas de outubro.
O cabeça de lista do PS acusa-o de não ter feito trabalho no Parlamento Europeu e de fazer uma campanha vazia de propostas.
O que eu digo é o seguinte : quanto ao meu trabalho para o Parlamento Europeu, acho que quer os jornalistas que estão em Bruxelas quer o ranking que ele próprio invoca, falam por si. Eu sou vice-presidente do grupo parlamentar do PPE, quer dizer que tenho 216 deputados a meu cargo. Coordeno o think tank das políticas europeias do PPE. Coordenei o grupo para o futuro da Europa. Sou vice-presidente do Partido Popular Europeu. Desenvolvi um trabalho quase gigantesco num conjunto enorme de áreas. Estou a pensar nas relações com o exterior – o Cáucaso, o Médio Oriente, o Norte de África e os Balcãs. Estou a pensar na questão das listas transnacionais, em tudo o que fizemos na área dos fundos europeus e o que fizemos para evitar as sanções.
Ninguém é eleito vice presidente do PPE, e especialmente do grupo [parlamentar do PPE], se não for alguém que trabalhe. Agora, o meu trabalho, como é evidente, não é um trabalho para as estatísticas. Mas se for ver ao ranking, o meu lugar é o sexto, à frente de todos os candidatos socialistas. Portanto, não sei de onde vem essa acusação. O ministro que tem o pior investimento público de sempre, que deixou a ferrovia como deixou, que não foi capaz de resolver o problema do aeroporto, vir falar do trabalho dos outros até chega a ser irónico. É uma acusação que não tem sentido nenhum.
Se há coisa que não me preocupa é essa acusação. Pelo contrário, julgo que revela da parte do PS que não tem nada para dizer sobre o nosso trabalho. O PSD marca a diferença na Europa. Gostaria era que houvesse mais candidatos do PS que pudessem estar com a mesma performance dos deputados do PSD, e em particular a que tenho eu.
Uma última pergunta sobre a questão da incompatibilidade deputados-advogados. Qual é realmente a sua posição?
Quanto a isso, já disse e torno a dizer: é uma questão levantada por um comentador socialista, acho que faz parte do folclore eleitoral. Primeiro, quando foi feito esse artigo, já há 25 anos, eu não digo exatamente aquilo que se diz. O artigo não versa essa questão. Mas não tenho problema nenhum. Toda a vida refleti sobre as questões do estatuto dos deputados. Fi-lo em conferências e colóquios, muitos deles com atas, nas quais mostrei a minha posição, a qual foi sempre aberta, nunca dogmática e que evoluiu com o tempo. Isso está claro no artigo que acabo de escrever para o Expresso.
O que acho é que devemos manter um sistema claro: ou em que é permitido ou então em que há um sistema de exclusividade para todos. Não sou necessariamente contra um sistema de exclusividade, embora ache uma má solução para órgãos legislativos. O que estou é contra um sistema em que há discriminações quanto a profissões. Essa é a minha posição mais global.
Mas, como digo, estou totalmente à vontade. Tudo o que fiz, fiz sempre dentro da lei com completo respeito pelas normas deontológicas e de transparência. E a minha posição definiu-se desde há muitos anos, muito antes de entrar na política — a de que prefiro políticos com profissões a políticos profissionais. Mas estou totalmente aberto, sempre estive e não exerço advocacia há mais de três anos, para discutir um modelo de exclusividade. Acho que é mau para a política, mas não tenho nenhum problema em aceitar um modelo desses.
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Paulo Rangel: “PSD pode vir a ganhar as eleições legislativas”
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