Bons resultados, mérito, antiguidade na empresa, promoção do bem-estar, atração e retenção de talento, são algumas das razões que motivam as empresas a partilhar os lucros com os trabalhadores.
Partilhar o sucesso — ou seja, os bons resultados da empresa — tem sido uma forma de as organizações premiarem os trabalhadores, ao mesmo tempo que os motivam e os fazem sentir-se parte da organização. Em Portugal, há já algumas empresas a distribuir os lucros e, na maior parte das vezes, o montante atribuído a cada profissional varia consoante o tempo de trabalho na empresa e o desempenho.
Jerónimo Martins, Auchan, Decathlon e o grupo José Pimenta Marques revelaram à Pessoas com que critérios distribuem os lucros pelos trabalhadores em Portugal.
Desempenho, o critério para o melhor prémio
Na Decathlon, já há mais uma década que a empresa celebra o sucesso com os trabalhadores através do programa “Partilhar”. Este ano, a Decathlon anunciou que vai partilhar com os trabalhadores 15% dos lucros obtidos pela empresa em 2019. Estes lucros serão distribuídos por todos os trabalhadores efetivos à data de 1 de janeiro de 2020, admitidos até 31 de março de 2019, esclarece fonte oficial da empresa.
Cada trabalhador vai receber, em média, 8,80% da sua remuneração bruta anual. Além de parte dos lucros anuais da empresa, os trabalhadores da Decathlon têm ainda oportunidade de beneficiar dos resultados económicos em cada trimestre, através do “bónus trimestral”.
Apesar de a distribuição de lucros poder estar relacionada, nem sempre está diretamente relacionada com o mérito. “Este valor não tem natureza remunerativa, porque a sua atribuição não é uma contrapartida direta do trabalho prestado, mas depende, tão-só, da vontade do acionista em partilhar e distribuir parte do sucesso económico com os colaboradores em Portugal que para ele contribuíram”, sublinha João Rodrigues, diretor de recursos humanos da Decathlon Portugal.
Na Auchan, cada trabalhador tem recebido anualmente, em média, nos últimos três anos, o equivalente a mais dois salários. Nos últimos onze anos, a retalhista distribuiu 110 milhões de euros aos trabalhadores. Por regra, a empresa partilha 10% dos lucros da empresa sempre que os resultados são positivos, e com a todas as pessoas que trabalhem na empresa há mais de seis meses.
Assim, todos os trabalhadores podem receber parte dos lucros distribuídos pela empresa, mas o valor final varia consoante os resultados dos objetivos fixos anuais. “Colocamos os colaboradores no centro do nosso projeto. Queremos cuidar dos nossos colaboradores e das suas famílias em cada momento da sua vida Auchan, dando a cada um condições para se sentirem bem, realizados e terem um trabalho com sentido“, sublinha Jorge Filipe, diretor de recursos humanos da Auchan.
Jerónimo Martins distribui 10 milhões de euros em Portugal
No início de fevereiro, o grupo Jerónimo Martins, dono do Pingo Doce, anunciou a distribuição de 30% dos lucros de 2019 pelos trabalhadores — o equivalente a 137 milhões de euros –, um aumento de 24% relativamente a 2018. Deste montante, cerca de 77% são atribuídos às equipas operacionais — lojas e centros de distribuição –, e aproximadamente 23% às equipas de gestão, adiantou o grupo. Para a distribuição destes prémios o critério será “a meritocracia, desempenho e contribuição – individual e coletiva – para o atingimento dos objetivos anuais“, explicou fonte oficial da Jerónimo Martins.
A retalhista anunciou ainda o aumento do prémio anual extraordinário, no seguimento dos resultados relativos a 2019, mais 5% do que em 2019. Este prémio deverá chegar a 80% dos colaboradores elegíveis em Portugal, ou seja, quase 21 mil pessoas, representando um investimento de 10 milhões de euros. Cada trabalhador vai receber 500 euros, o mesmo para quem trabalha na Polónia e na Colômbia.
“Este prémio pretende reconhecer o trabalho e partilhar a satisfação pelos resultados obtidos em 2019 e será atribuído a aproximadamente 71.500 colaboradores, no conjunto dos três países”, refere a empresa em comunicado.
No grupo bracarense José Pimenta Marques é o mérito que define o montante que cada trabalhador recebe. O valor de cada prémio é proporcional ao resultado da avaliação do desempenho individual e da assiduidade, explica fonte oficial da empresa. “Com este prémio, pretendemos agradecer e retribuir todo o esforço e dedicação dos nossos colaboradores, cujo trabalho permitiu ultrapassar os objetivos delineados e alcançar a rentabilidade das nossas empresas. Queremos que se sintam verdadeiramente como parte integrante de um todo”, sublinha Tiago Marques Pereira, membro da administração da empresa.
Em 2019, a empresa José Pimenta Marques distribuiu cerca de 50 mil euros pelos seus trabalhadores e já confirmou que, este ano, vai voltar a fazê-lo, mas ainda não tem valores definidos.
“No topo das nossas prioridades está sempre o bem-estar dos nossos colaboradores e a criação de melhores condições de trabalho. Temos a perfeita noção que só assim conseguiremos reter o capital humano da empresa, que é sem dúvida o nosso maior recurso, e atrair novos talentos”, acrescenta o grupo bracarense.
Já o fabricante automóvel francês PSA, que detém as marcas Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall — e que lucrou 3.200 milhões de euros em 2019 — avançou, no final do fevereiro, que vai dar um prémio de 4.100 euros aos trabalhadores que recebem o salário mais baixo.
Dinheiro em ações
Em algumas empresas, os lucros distribuídos podem converter-se em ações. Na Decathlon, a empresa dá um formato de prémio em ações DISP (Decathlon International Shareholding Plan) ou num plano poupança reforma.
O mesmo acontece na Auchan, através do Fundo ValPortugal. “No ano passado, parte do montante foi pago em dinheiro e a outra parte em ações. Constitui uma fonte de poupança para os colaboradores e que pode ser alimentada, quer pela subscrição voluntária, quer através da distribuição dos resultados da empresa. A nossa ambição é que todos os colaboradores criem uma poupança mínima, a médio/longo prazo, de um salário anual”, explica o diretor de RH da Auchan.
A tecnológica portuguesa Farfetch anunciou a distribuição de mais de 40 milhões de dólares em ações aos seus trabalhadores e, 2019, apesar de os prejuízos terem duplicado. Em 2019, a TAP viu-se envolvida numa polémica, por atribuir prémios milionários aos trabalhadores, em particular profissionais de altos cargos, apesar dos prejuízos da empresa.
No total, a companhia aérea pagou prémios de 1,171 milhões de euros a 80 pessoas, incluindo dois de 110 mil euros atribuídos a dois quadros superiores. Em resposta, a Comissão Executiva da TAP justificou estes prémios com o “programa de mérito”, que na altura referiu ter sido “foi fundamental” para os resultados atingidos em 2018.
*Notícia retificada a 20 de abril às 13h20 com informação sobre a Farfetch.
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Empresas partilham o sucesso. Qual é o critério para distribuir os lucros?
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