Uma esperança para os disruptores
Começou finalmente a era do julgamento final para o Facebook – e para os outros monopólios digitais. Talvez seja possível voltar a inovar.
Quarenta e oito estados americanos, junto com o regulador da concorrência, decidiram finalmente avançar com um processo contra o Facebook pelas suas práticas monopolistas. O primeiro objetivo é reverter a aquisição do Instagram e do WhastApp, mas a lógica que pretende impôr é o fim da lógica monopolista que tem dominado a postura das empresas digitais.
É óbvio que este processo não vai matar o Facebook – mas vai impedir o seu crescimento descontrolado e efetivamente limitar a influência sobre o futuro da internet. Uma coisa é certa: abriu a caça aos monopólios digitais. A Google já entrou na mira dos reguladores há dois meses, mas ainda vai sofrer mais. Os próximos na lista são a Amazon (que desenvolve produtos em função dos dados angariados a vender os produtos dos outros), a Apple (que faz essencialmente o mesmo na sua app store) e outra vez a Google (que tem uma posição dominante no motor de pesquisa e no display publicitário). Esta mentalidade chega com cinco anos de atraso e parte do mal já está feito, mas ainda não é tarde demais para evitar que estes gigantes matem a onda criativa que moldará a próxima fase da internet.
A principal atividade que os reguladores devem ter num mercado capitalista saudável é impedir o excesso de poder de uma empresa – porque isso mata a concorrência e prejudica objetivamente os consumidores. Por isso a esperança é que, no final de todos estes processos, o campo esteja outra vez nivelado e os disruptores possam cumprir a sua função.
Precisamos todos de pessoas como Page, Brin, Bezos e até Zuckerberg — mas das suas versões jovens e idealistas, não das suas versões gananciosas e conformistas. E definitivamente dispensamos personagens como Sheryl Sandberg, Eric Schmidt ou Peter Thiel, que são horríveis subprodutos desta cultura anti-empreendedora que domina Silicon Valley. Essa foi a perspetiva que dominou a última década e é triste que se tenha tornado o mantra de tantas start-ups nos EUA e na Europa.
O impacto positivo do empreendedorismo vem da inovação, e esta morre quando o único objetivo é ser comprado por um gigante. Por isso é que é anedótico ver críticas ao modelo europeu, mais protecionista, argumentando com as virtudes do olhar americano – que nesta década se tem entretido objetivamente a matar qualquer lógica inovadora e/ou subversiva no digital.
E há objetivamente espaço para inovar. Basta fazer o mesmo que fizeram estes empreendedores há vinte anos e pensar para lá das limitações do modelo atual. Com aplicações de inteligência artificial, realidade virtual/aumentada, blockchain e outras prestes a dominar o mercado, o campo está aberto para explorar caminhos radicais de inovação em muitas áreas. Para tal acontecer é preciso voltar a mudar o paradigma, algo que o sistema económico americano irá demorar a perceber – tendo criado oportunidades para modelos como o chinês e alguns países da União Europeia. Basta ver que o índice de Inovação da Bloomberg deste ano atirou os EUA para o nono lugar, numa lista liderada pela Alemanha.
Ler mais: Fica uma sugestão de audição, não de leitura. Tim Wu é um dos académicos que mais tem lutado pelo reavivar das práticas anti-monopolistas e é um dos pais deste processo que agora tomou forma. Por isso é tão interessante ouvir este episódio do podcast do Literary Hub em que ele participa.
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