Foi assim que a Uber convenceu os primeiros investidores

Há nove anos, a ideia por detrás da Uber era apresentada pela primeira vez aos investidores. "UberCab" era uma ideia "lucrativa by design" e prometia acabar com o "monopólio do táxi".

A Uber está a assinalar nove anos de existênciaUber

Todas as ideias começam por algum lado — e a da Uber também. Em agosto de 2008, era conhecido o projeto que agora, nove anos depois, vale qualquer coisa como 70 mil milhões de euros. Para a empresa, é tempo de assinalar mais um aniversário, o que motivou o cofundador Garret Camp a partilhar a primeira apresentação da Uber em PowerPoint.

Foi a primeira abordagem da equipa ao mercado e aos investidores, e merece ser vista com atenção. A empresa dava-se pelo nome “UberCab”, um “serviço automóvel da próxima geração”, e expunha vários problemas na indústria do táxi, os quais se propunha a resolver. Para a equipa, os táxis usavam “tecnologia antiga e ineficiente”, sem coordenação via GPS entre o motorista e o passageiro. Além do mais, para a equipa, os “monopólios dos taxistas” reduziam “a qualidade do serviço”.

A primeira página de uma ideia que viria a ter tanto de polémico como de revolucionárioD.R.

O que mudou (e o que se manteve)

Chegando aqui, dá para perceber que pouco terá mudado na visão e missão da empresa, embora a ideia estivesse afunilada e voltada para o mercado norte-americano. A UberCab propunha-se a ser uma alternativa de transporte “rápida e eficiente” dirigida a “profissionais nas cidades americanas”.

O facto de ser obrigatório o registo na aplicação permitiria à Uber angariar uma “clientela profissional e confiável”. Além do mais, a confiança aumentaria logo à partida, pois o cliente podia ver a fotografia do motorista e vice-versa, mesmo antes da recolha, algo que ainda hoje acontece.

A UberCab prometia, assim, mandar uma pedrada no charco e facilitar a mobilidade nas cidades, primeiro em São Francisco e, depois, em Manhattan (Nova Iorque). Garantia recolhas até um máximo de cinco minutos, em automóveis Mercedes Sedans, num “serviço de luxo” mais barato do que uma limusine mas melhor do que um táxi. Hoje, a variedade dos automóveis é bem maior, tal como acontece várias vezes com o tempo de espera.

Os táxis em 2008, na visão da Uber: desatualizados e ineficientesD.R.

Uma ideia “lucrativa by design

A apresentação garantia ainda que a ideia era “lucrativa by design“, algo que até agora ainda não se terá verificado. Atualmente, a Uber tem ramificações um pouco por todo o mundo, mas as despesas ainda são muito superiores às receitas. A empresa revelou um prejuízo de 2,8 mil milhões de dólares no ano de 2016, cerca de 2,6 mil milhões de euros, com um volume de negócios de 6,5 mil milhões de dólares.

A empresa está agora à procura de um presidente executivo, depois de uma sucessão de escândalos que culminou com a saída de Travis Kalanick do cargo de CEO.

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Fundos de investimento cortam avaliação da Uber em 15%

  • Juliana Nogueira Santos
  • 23 Agosto 2017

Quatro fundos de investimentos reviram em baixa o valor das suas participações no unicórnio. Na origem disto estará a instabilidade causada pelos múltiplos escândalos.

No seguimento dos escândalos que têm ameaçado a estabilidade do maior ‘unicórnio’ do mundo, quatro fundos de investimento baixaram a avaliação das suas posições na Uber em cerca de 15%. Atualmente, a empresa está avaliada em 68 mil milhões de dólares, com a maioria dos fundos a colocarem uma etiqueta de 48,77 dólares em cada ação.

Assim, o Vanguard Group, o Principal Funds e o Hartfund Funds — que se encontram na lista dos cinco maiores acionistas das empresa — cortaram a avaliação de cada ação em 15%, passando cada uma a valer 41,46 dólares. A T. Rowe Price Group não foi além de um corte de 12%, diminuindo o preço de cada ação para os 42,73 dólares.

A avaliação atual, calculada através das rondas de investimento fechadas, visto que a empresa — ainda — não está cotada em bolsa, poderá não estar de acordo com as condições da Uber. Esta medida preventiva permite aos fundos salvaguardar os seus acionistas de perdas de capital elevadas.

Em abril, ainda antes de Travis Kalanick abandonar a posição de presidente executivo, era noticiado que as acusações de sexismo, o processo judicial por roubo de propriedade intelectual e as alegadas fugas à lei, poderiam retirar 10 mil milhões de dólares à avaliação do unicórnio. Em junho, o CEO e fundador da empresa afastou-se a pedido de vários investidores, mas o substituto ainda não foi escolhido.

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Marketing e comunicação: “Um meio para atingir um fim”

Responsáveis da TAP, Science4you, Uber e Brisa estiveram com o ECO no banco Popular para falar de marketing e comunicação. Descubra como estas empresas fazem chegar mensagens ao público e clientes.

Tal como cada marca, cada cliente é diferente. Com a massificação da recolha de dados e emergência de novas tecnologias, todos nos habituámos a ter soluções e serviços desenhados automaticamente à nossa medida. Isso traduziu-se na necessidade de as empresas se adaptarem, e adaptarem também as suas estratégias de comunicação e marketing.

Foi o tema que esteve em cima da mesa esta quinta-feira, no Espaço Conversas Soltas, numa primeira edição promovida pelo ECO e pelo banco Popular. O mote foi a reinvenção das empresas. E no painel estiveram representantes de comunicação de quatro companhias muito distintas e conhecidas dos portugueses: Paula Canada pela TAP, Sebastião Lorena pela Science4you, Filipa Corrêa Mendes pela Uber e Luís D’Eça Pinheiro pela Brisa. O ECO reúne agora as ideias-chave deixadas pelos quatro oradores.

Da direita para a esquerda: António Costa (publisher do ECO), Paula Canada (TAP), Sebastião Lorena (Science4you), Filipa Corrêa Mendes (Uber) e Luís D’Eça Pinheiro (Brisa)Paula Nunes/ECO 27 julho, 2017

Paula Canada, diretora de marketing da TAP

A primeira a falar foi Paula Canada, responsável pelas estratégias de comunicação da companhia aérea TAP. “O primeiro desafio é fazer a segmentação bem feita para responder às necessidades do cliente”, começou por dizer.

“Temos formas de comunicar diferentes consoante os países em que estamos. Uma coisa é cá em Portugal, em que a marca tem uma notoriedade diferente, para o bem e para o mal. Cá, apostamos muito na comunicação de produtos, porque já não precisamos de notoriedade. Lá fora já fazemos quase tudo digital. No Brasil e EUA, a estratégia é vender a Europa. Não é vender o destino Portugal, é vender o destino Europa”, referiu.

Cerca de 80% da comunicação da TAP já é digital. “Mas as companhias aéreas têm muita dificuldade em saber quem são os clientes. Em termos digitais, o cliente não é obrigado a dar muitos dados. Tudo o que é com agentes de viagens, não conhecemos os dados do cliente”, apontou a diretora.

Paula Canada indicou também que o público em geral, no estrangeiro, não associa a TAP a uma companhia aérea se o logótipo não for acompanhado por uma imagem de um avião. A empresa vai agora contratar “dois atores portugueses que trabalham em Hollywood” para a próxima campanha nos Estados Unidos: Joaquim Almeida e Daniela Ruah. E avançou também: “Amanhã [sexta-feira] vai chegar aí um avião que vai criar um grande engagement. Vai voar esta noite.”

Segundo a diretora de marketing, a TAP tem feito “um upgrade muito grande nos voos de longo curso” e, na nova divisão de aviões por três cores (três níveis de conforto, por assim dizer), deverá fazer ajustes no tipo de refeição que é gratuitamente servida aos passageiros. “Neste momento, temos refeição em todos os voos. Isso é uma coisa que vai evoluir. Temos algo mais ajustado na zona low-cost, e algo para a outra zona”, avançou. E concluiu: “Tem de ser, as pessoas hoje em dia voam pelo preço. O driver da decisão é o preço. O impacto ao princípio é negativo, mas depois há uma habituação.”

Temos formas de comunicar diferentes consoante os países em que estamos. Uma coisa é cá em Portugal, em que a marca tem uma notoriedade diferente, para o bem e para o mal.

Paula Canada

Diretora de marketing da TAP

Sebastião Lorena, chefe de marketing e vendas da Science4you

Situação muito diferente é a da Science4you, a empresa portuguesa que vende brinquedos lúdicos e didáticos para crianças. Uma vez que as crianças não têm poder de compra, a comunicação faz-se em dois sentidos: chamar a atenção dos menores para convencerem depois os pais. “Nós comunicamos para dois conjuntos de pessoas: os pais das crianças, que são quem faz a compra, mas também para as crianças”, explicou Sebastião Lorena. A Science4you fá-lo “nas redes sociais, mas também em loja”: “Os nossos brinquedos estão sempre abertos, para a criança ver e tocar, mas para atrair também os pais”, indicou.

Sebastião Lorena garantiu que a administração “tem em conta a importância do marketing” como força motriz das vendas, e apontou que “pequenas coisas nas redes sociais, no momento certo, na hora certa, fazem muito a diferença”. O orçamento para comunicação, esse, estará a aumentar também. E, além disso, a Science4you tem vindo a ter uma componente exportadora forte e, aqui, “a comunicação é bastante diferente”, continuou Sebastião Lorena. “Se em Portugal fazemos comunicação para o cliente final, lá fora é B2B [business-to-business]. Temos de vender aos nossos parceiros, como a Target. Esse investimento de marketing é feito em feiras, em eventos lá fora”, revelou.

Sebastião Lorena referiu também que a Science4you tem um negócio “muito sazonal” e que “cerca de 60% das vendas são no último trimestre”, por causa do natal, havendo um esforço acrescido para equilibrar as vendas nos restantes trimestres do ano. Agora, a empresa tem na mente a possibilidade de apostar no mundo dos bloggers e dos youtubers. Ou melhor, no público que os acompanha.

Nós comunicamos para dois conjuntos de pessoas: os pais das crianças, que são quem faz a compra, mas também para as crianças.

Sebastião Lorena

Chefe de marketing e vendas da Science4you

Filipa Corrêa Mendes, diretora de marketing da Uber

A Uber é certamente das empresas mais mediáticas do país –e nem sequer está em Portugal há muitos anos. Porém, quando chegou a Portugal em 2014, “a questão do marketing e da comunicação já era muito presente”, recordou Filipa Corrêa Mendes, responsável pela comunicação da plataforma em Portugal.

“O nosso foco de marca e estratégia foi evoluindo à medida que a marca se foi instalando no mercado português. Agora, é mais focado em beber tudo aquilo que o utilizador nos pode dizer. Obter insights e ajustar àquilo que são os hábitos de consumo”, considerou Filipa Corrêa Mendes. “O marketing e a comunicação surgem como um meio para atingir um fim. O papel do marketing e da comunicação, para chegar lá, é muito importante porque vai usar todas as ferramentas para chegar às pessoas certas com a mensagem certa, mas também porque trabalha a identidade de uma marca”, adiantou.

A equipa de marketing da Uber tem somente “duas pessoas” ligadas à “estratégia e visão a longo prazo”. Questionada sobre a diferença de se fazer publicidade offline ou em meios digitais, Filipa Corrêa Mendes disse: Uma comunicação offline acaba por ser mais relevante quando o foco é criar awareness. “Aí é muito mais difícil segmentar. Quando recorremos a outdoors, estamos a falar para muitas pessoas. Essa mensagem tende a ser muito mais geral do que focada. O digital permite cada vez mais dizer o que queremos dizer, e a quem. A forma como pensamos na comunicação caminha para uma estratégia mais por canal do que por projeto. Com base em email, site, blogue, e que alavancamos depois com as redes sociais”, revelou.

Por fim, a profissional avançou que o orçamento da Uber também tem vindo a crescer para esta área da comunicação e, sobre tendências de marketing e comunicação, deixou um conselho: Bigger but few, isto é, escolher as batalhas que de facto vão causar impacto.”

O nosso foco de marca e estratégia foi evoluindo à medida que a marca se foi instalando no mercado português. Agora, é mais focado em beber tudo aquilo que o utilizador nos pode dizer. Obter insights e ajustar àquilo que são os hábitos de consumo.

Filipa Corrêa Mendes

Diretora de marketing da Uber

Luís D’Eça Pinheiro, diretor de marketing da Brisa

“A Brisa tem o maior outdoor de Portugal. São 1.500 quilómetros de outdoor.” É assim que começa Luís D’Eça Pinheiro, o responsável pelo marketing da Brisa. Explicou que Portugal ainda tem algumas diferenças em relação a outros países. “Em Portugal, tipicamente a seguir ao CEO está o CFO. Lá fora, o CMO já está acima do CFO. É uma tendência que vai chegar cá”, defendeu. “Hoje em dia, quem tem o poder de despedir o CEO é o cliente. É o sucesso ou insucesso das vendas, é a cotação, etc. Na Brisa ainda não chegámos lá”, admitiu também.

O responsável da Brisa indicou que “claramente” o digital já supera o offline ao nível da comunicação e que “à medida que as empresas têm mais produtos digitais, a comunicação digital também ganha relevância”. “Hoje em dia, a segmentação é pessoa a pessoa, já não é tanto o segmento. O marketing de hoje já não é o marketing do Power Point, é o marketing do Excel”, atirou.

Na Brisa, o orçamento para a comunicação tem também crescido com os produtos e, em alguns dos casos, a comunicação digital ascende a 80% do total. Além do mais, permite “maior capacidade de avaliar o custo por retorno”.

Luís D’Eça Pinheiro está em linha com o pensamento que indica que as parcerias são uma tendência de futuro. É o caso da Waze, uma aplicação de dados de tráfego automóvel em tempo real à qual a Brisa se decidiu juntar, ao invés de tentar combater. “Nós damos informação real à Waze e eles dão-nos informação para nós trabalharmos. A informação nos painéis do tempo para chegar a Lisboa já vem da Waze”, concluiu.

Hoje em dia, a segmentação é pessoa a pessoa, já não é tanto o segmento. O marketing de hoje já não é o marketing do Power Point, é o marketing do Excel.

Luís D'Eça Pinheiro

Diretor de marketing da Brisa

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Travis Kalanick deixa presidência da Uber após polémicas

Uma carta de vários investidores a pedir a demissão de Travis Kalanick levou o presidente a abandonar o cargo. Mantém-se na administração. Ainda não foi anunciado um substituto.

Travis Kalanick renunciou o cargo de presidente executivo (CEO) da Uber nos Estados Unidos esta terça-feira, disseram fontes “com conhecimento da situação” ao jornal The New York Times. Com 40 anos, o californiano foi um dos fundadores da conhecida plataforma de transporte que veio revolucionar o setor em todo o mundo. A saída surge após uma sucessão de escândalos que manchou a imagem da empresa, outrora um dos exemplos de sucesso mais proeminentes de Silicon Valley.

De acordo com o jornal, os investidores da Uber entraram em rotura com o gestor. A pressão aumentou quando cinco grandes shareholders da empresa enviaram uma carta a Kalanick, intitulada “Levar a Uber para a frente” [Move Uber Forward], onde se exigia que abandonasse o cargo imediatamente. Entre os signatários terá estado a capital de risco Benchmark, um dos maiores investidores da companhia que conta com um responsável no conselho de administração da Uber.

"Amo a Uber mais do que tudo no mundo e neste momento difícil na minha vida pessoal decidi aceitar o pedido dos investidores para que me afastasse (…).”

Travis Kalanick

Ex-presidente executivo da Uber

A notícia foi também confirmada pela Bloomberg. Desconhece-se quem o irá substituir na liderança desta que é considerada uma das maiores empresas de capital privado do mundo, avaliada em cerca de 68 mil milhões de dólares. A saída não será total, na medida em que Travis Kalanick manterá assento na administração da companhia.

Num comunicado do agora ex-presidente, citado pela agência, Kalanick afirma: “Amo a Uber mais do que tudo no mundo e neste momento difícil na minha vida pessoal decidi aceitar o pedido dos investidores para que me afastasse, para permitir à Uber voltar a crescer em vez de estar distraída com outra luta.” Na semana passada, o norte-americano já tinha pedido licença, o que lhe permitiria afastar-se por tempo indeterminado, mas mantendo-se no cargo de CEO.

Travis Kalanick, CEO da Uber, fotografado no World Economic Forum em Tianjin, China, em junho de 2016.Photographer: Qilai Shen/Bloomberg

A notícia surge após uma sucessão de polémicas às quais já é difícil fazer a conta. Entre eles esteve um escândalo de assédio sexual que resultou numa hemorragia de talento da empresa, assim como o vir à tona de um vídeo em que Kalanick discute com um motorista e outras ações que lhe abalaram o nome. A alegada inércia da empresa face às denúncias de assédio na empresa também não ajudaram, tal como as acusações de roubo de propriedade à Waymo (empresa da Google/Alphabet) no projeto do carro sem condutor.

Mas esta foi só a ponta do icebergue. Um trágico acidente de barco tirou a vida à mãe do empresário, Bonnie Kalanick, deixando-lhe o pai em estado crítico. Terá sido esta última razão o principal motivo para o pedido de licença de Travis Kalanick que, agora, culmina com a saída definitiva do cargo por parte do conhecido empreendedor.

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Uber: Proposta do PSD aprovada, baixa à comissão

Após debate na generalidade e votação, o Parlamento fez baixar à especialidade a proposta de lei do PSD para regulamentar a atividade das plataformas como a Uber e a Cabify.

A proposta do PSD foi apresentada pelo deputado Paulo Neves.PAULA NUNES / ECO

A proposta de lei do PSD para regulamentar a atividade das plataformas eletrónicas como a Uber e a Cabify baixou à especialidade. Depois do debate na generalidade, em que os deputados trocaram pontos de vista sobre o setor, o PSD forçou a votação e a proposta baixou à Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, com votos contra do PCP e BE e abstenção do PS e do CDS.

O documento junta-se assim às restantes propostas que já se encontram na mãos dos deputados da comissão, nomeadamente as propostas do Governo, do BE e a proposta de alteração do PCP. O PS também estará a preparar também uma proposta de alteração, apurou o ECO. Após o debate na generalidade, sobrou tempo e faltaram perguntas, naquilo que o PSD considerou uma “situação completamente inédita na Assembleia da República”.

António Costa Silva, numa conferência de imprensa durante o intervalo do plenário, disse: “Apresentámos a nossa proposta. Seguidamente, não houve quaisquer iniciativas no âmbito daquilo que foram as intervenções dos deputados das diferentes bancadas parlamentares”, disse. E concluiu: “Os outros partidos simplesmente decidiram não vir a discussão. Isso entristece-nos. Não fica nada bem à nossa Assembleia da República.” Veja a intervenção completa, em vídeo:

PS: Proposta “esquece os direitos dos trabalhadores”

Na apresentação do documento no hemiciclo, o deputado Paulo Neves defendeu que “não é correto adiar esta questão mais tempo sem a legislar” e que “também não é correto fazer de conta que não existem plataformas eletrónicas”. Disse ainda: “Esta legislação não é feita contra ninguém. Nada impede que também os táxis estejam presentes em plataformas eletrónicas e nada impede que os atuais táxis não possam vir a ser descaracterizados e passarem a fazer parte das maiores plataformas de mobilidade urbana.”

Mas a visão das outras bancadas foi diferente. O CDS descartou-se da proposta desde logo, pela voz do deputado Hélder Amaral. Apesar de reconhecer que “o trabalho de casa foi bem feito” e sem “desvalorizar”, a posição do CDS foi a de que ficava “muita coisa por esclarecer” nas regras estabelecidas pelo PSD. “Está garantido que não há dependência económica? Estão garantidos os direitos dos trabalhadores?”, questionou, reafirmando que “tem muita zona cinzenta”.

A oposição mais dura veio das bancadas do PS e BE. Heitor de Sousa, do BE, criticou com ironia: “Os deputados viram alguma vez uma plataforma a circular na rua? Viram alguma vez alguma plataforma a circular? Vocês tomam este problema como e houvesse uma entidade que de repente começou a operar um serviço de transporte.”

O PS, na pessoa de Ricardo Bexiga, acrescentou: “A vossa proposta é uma proposta parcelar que se preocupa, sobretudo, com o modelo de negócio. Esquece as questões da mobilidade urbana. Esquece tudo o que diz respeito aos direitos dos trabalhadores.”

E sublinhou: “Como é que pretendem acautelar o interesse dos trabalhadores que estão ao serviço destas plataformas e que estão muitas vezes a trabalhar mais de 12 horas diárias para ganhar muitas vezes menos do que o salário mínimo?” Ao coro de críticas juntou-se ainda José Luís Ferreira, do PEV, que acusou o PSD de “pretender limitar pela via legislativa a concorrência desleal”.

E agora?

Agora, as várias propostas existentes estão na posse do grupo de trabalho constituído para as analisar, ao abrigo da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas. Recorde-se que a discussão tem estado parada há quase três meses, mas alguns deputados ouvidos pelo ECO garantiram que o tema é o próximo ponto na lista de prioridades, logo após a municipalização da Carris que deverá ficar fechada em breve.

(Notícia atualizada às 17h35 com mais informação.)

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Lei da Uber regressa hoje à Assembleia. Acordo não é para já

O Parlamento discute esta quinta-feira a proposta do PSD para regulamentar a Uber. "Está tudo em aberto", mas o documento deverá baixar à especialidade. Assunto está parado há mais de dois meses.

O transporte através de plataformas como a Uber é novamente tema de debate no Parlamento. Desta vez, porque o PSD apresentou um projeto de lei para regulamentar o setor, à semelhança do que fez o Governo, o BE e o PCP. Há quase três meses que o tema está parado na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas. Mas, esta quinta-feira, a regulamentação da atividade conhece uma nova página, com a discussão da proposta dos social-democratas na generalidade, numa reunião plenária que começa às 15h. Contudo, é difícil, senão pouco provável, que o debate culmine numa votação final, apurou o ECO.

Por um lado, o PS, o BE e o CDS têm esperança de que o projeto baixe à especialidade e que tudo possa ser discutido em conjunto. Por outro, em conversa, o deputado António Costa Silva reconhece que “está tudo em aberto” neste momento e que tudo dependerá da discussão e da predisposição dos deputados no debate em relação às regras propostas no documento. E explica: “Mesmo em relação à proposta apresentada pelo Governo, temos muitas dúvidas em relação a um conjunto de matérias que lá estão. Até no próprio entendimento que o Governo faz das plataformas. O Governo põe isso tudo muito na ótica de como se a plataforma não tivesse grande responsabilidade, como se fosse aqui um mero vendedor de perfumes ou outra coisa qualquer na internet.” O ECO sabe, no entanto, que há abertura da parte dos social-democratas para que o projeto baixe à comissão, tal como os restantes.

Do lado do PS, que está a preparar uma proposta de alteração ao projeto de lei apresentado pelo Governo, o deputado Luís Testa explica que o partido “não defenderá nem mais nem menos do que já defendeu” até aqui. Critica ainda o PSD por só agora apresentar uma proposta, não o tendo feito em março, em conjunto com as demais: “Esses projetos baixaram sem votação para se tentar, no quadro parlamentar, obter um consenso relativamente a este tipo de matérias. O PSD teve a oportunidade de, naquele tempo, também ter apresentado uma proposta.” E conclui: “Havendo intenção de regular o setor de atividade económica por parte agora também do PSD, depois das intenções quer do Governo quer do BE, que esses três projetos possam ser discutidos na especialidade em sede de comissão e ser objeto de um texto convergente conforme seja a vontade maioritária dos partidos.”

Na bancada do CDS-PP, Hélder Amaral reconhece que o partido ainda não decidiu o que fazer, mas que deverá estar em linha com a posição tomada em relação à proposta aprovada em conselho de ministros. “Ela também não é muito diferente da do Governo. Tem ligeiras nuances. Em termos de motoristas e veículos é praticamente a mesma coisa”, indica. Mas aponta também que o projeto “ignora completamente o setor do táxi”. Os centristas pedem, assim, um maior equilíbrio: “O que nós achamos e sempre dissemos é que não faz muito sentido dar tudo a uns e não dar nada aos outros”, diz ao ECO o deputado. E acrescenta: “Há uma componente de serviço público dos táxis que fica esquecida e que achamos que deve ser olhada com atenção. Há todo o setor do táxi que sofre com algo que é muito disruptivo para o setor. Não se pode, no fundo, ter uma lei do táxi exigente e trazer para o sistema as plataformas a quem se exige muito.”

Heitor de Sousa, deputado do BE, explicou que não se pode apenas traçar uma linha entre o que é o setor do táxi e o das plataformas eletrónicas de transporte, na medida em que operam no mesmo mercado. “A nossa oposição à proposta do Governo provavelmente será, basicamente, semelhante àquela que o PSD tem. Isto sem embargo de poder ver que alguns artigos aqui na proposta do PSD se distinguem dos do Governo e que, se calhar, merecem uma análise mais cuidada”, refere. Indica ainda que, “enquanto o Governo e aparentemente também o PSD” creem que “a utilização do táxi a partir de plataformas eletrónicas cria um novo mercado de transporte”, o BE acredita que que não: “Achamos que é o mesmo. E é um mercado segmentado, como é o do transporte aéreo com as low-cost e as companhias de valor regular, e como acontece em muitas outras áreas de atividade”, defende.

O ECO tentou ainda saber a posição do PCP, que já apresentou uma proposta de alteração ao projeto de lei do Governo, mas não obteve resposta em tempo útil.

É certo que o debate pode tomar um rumo totalmente diferente e que o PSD pode forçar a votação da proposta. É que, embora seja mais provável que haja um requerimento aprovado para fazer baixar o documento à especialidade, existe a possibilidade de o documento ser aprovado no Parlamento se, por exemplo, o PSD contar com o voto favorável do CDS e a abstenção do PS, ainda que a oposição do PCP e do BE seja garantida. Mas é só uma de muitas hipóteses.

Mesmo em relação à proposta apresentada pelo Governo, temos muitas dúvidas em relação a um conjunto de matérias que lá estão. Até no próprio entendimento que o Governo faz das plataformas. O Governo põe isso tudo muito na ótica de como se a plataforma não tivesse grande responsabilidade, como se fosse aqui um mero vendedor de perfumes ou outra coisa qualquer na internet.

António Costa Silva

Deputado do PSD

O que diz a proposta do PSD?

Em relação ao que propõem os social-democratas, o texto é semelhante em muitos aspetos com o do Governo. Mas há algumas diferenças. Desde logo, enquanto o Governo chama ao tema “transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma eletrónica” (sigla TVDE), o PSD opta pela designação “transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica” (sigla TIRPE).

O nome é, porém, o aspeto menos relevante em tudo isto. A proposta prevê as mesmas 50 horas de formação para motoristas que o Governo propôs, mas estabelece que nenhum motorista pode trabalhar mais do que dez horas por dia, independentemente do número de empresas do qual faça parte. Proíbe ainda os motoristas de rejeitarem corridas consoante a idade, género, orientação sexual, entre outros. Obriga à prova de idoneidade do motorista e responsabiliza também as plataformas na prestação do serviço, ao invés de apenas as empresas parceiras dessas plataformas.

O documento do PSD proíbe ainda os detentores de plataformas de serem proprietários de veículos ao serviço das mesmas, limitando também a comissão que cobram nos 25% do preço final pago pelo utilizador do serviço. Há ainda alguns detalhes no projeto, como a proibição de os carros terem publicidade no interior e no exterior, o estabelecimento de um pequeno dístico a colocar no para-brisas e a atribuição de um número de identificação único aos motoristas. E por falar em carros, estes não poderão ter mais do que nove lugares nem mais do que sete anos. Devem ainda estar sujeitos a inspeção anual e ter cobertura de um seguro de responsabilidade civil e acidentes pessoais que “inclua os passageiros transportados e respetivos prejuízos”.

"A economia de partilha coloca novas questões de natureza legal e regulatória de difícil resolução.”

Exposição de motivos do PSD

Projeto de lei nº 529/XIII/2ª

Motoristas queixam-se das multas, que não estão a ser pagas

Com o tema parado no Parlamento há quase três meses, os motoristas das principais plataformas queixam-se da demora e das coimas que estão a ser aplicadas pelas autoridades ao abrigo da lei atualmente em vigor. “Continua tudo na mesma, com uma agravante de que, nestes últimos dias, voltámos a ter uma carga de fiscalização ao nível das contraordenações. Uma carga forte. Aquilo que sinto é que sempre que se vai mexer neste assunto, a fiscalização aumenta e as contraordenações aumentam também”, desabafa ao ECO o presidente da Associação Nacional de Parceiros das Plataformas Alternativas de Transportes, que representa cerca de uma centena de empresas parceiras da Uber e da Cabify.

Vítor Conceição, motorista ao serviço da Uber, comenta a mesma coisa: “Continua a perseguição total às multas, a nosso ver cada vez mais discriminatória. A preocupação da PSP é multar, nomeadamente no aeroporto [de Lisboa], passando uma péssima imagem ao turismo, porque somos agentes de turismo. Há um entendimento qualquer da PSP de que somos taxistas”, defende.

O ECO contactou a PSP e o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), para atualizar o número de contraordenações levantado contra motoristas destas plataformas, bem como o montante total pago em multas. Não foi obtida resposta em tempo útil. Os últimos dados oficiais apontavam, que entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017, a PSP levantou 332 autos de notícia ao abrigo da alteração legislativa de novembro, proposta pelo PCP, que tornou ilegal o transporte de passageiros em veículos sem alvará.

"Aquilo que eu sinto é que sempre que se vai mexer neste assunto, a fiscalização aumenta e as contraordenações aumentam também.”

João Pica

Presidente da ANPPAT

As coimas não estarão, no entanto, a ser pagas. “Até ao momento, a informação que tenho é que está a ser feita contestação a todas. É um direito legal que nos assiste: o direito de contestação de qualquer contraordenação que exista”, garante João Pica. Sobre esse assunto, o PSD reconhece a possibilidade de se terem de fazer ajustes ao atual quadro legislatório, no sentido de evitar contradições. Leite Ramos, deputado do PSD que coordenou a elaboração do projeto que vai ser discutido esta quinta-feira, deixa até algum conforto aos motoristas: “A partir do momento que a lei seja aprovada, o enquadramento legal passa a ser outro e não há razão para as multas que agora estão a ser aplicadas.”

"A partir do momento que a lei seja aprovada, o enquadramento legal passa a ser outro e não há razão para as multas que agora estão a ser aplicadas.”

Leite Ramos

Deputado do PSD

O que os motoristas agora pedem é que seja aprovada uma lei, independentemente dos pormenores. “Neste momento, qualquer lei que saia é melhor do que a forma como estamos. É isso que pensamos”, indica o presidente da associação. Ao que o ECO apurou, a discussão da regulamentação do setor deverá ser retomada no início deste mês pelo grupo de trabalho constituído no Parlamento para o efeito. A explicação pela demora está na definição das prioridades, uma vez que a Comissão de Economia, que se encarrega de um conjunto alargado de assuntos, esteve nestas últimas semanas, a trabalhar sobre a municipalização da Carris, entre outros assuntos que estão agora a ser fechados.

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Tribunal europeu: “Uber deve ser classificada como serviço de transporte”

Vitória parcial para os taxistas. A Uber deve ser regulada como um empresa de transporte, de acordo com a opinião não vinculativa do advogado-geral do Tribunal de Justiça da União Europeia.

É uma pequena vitória para o setor dos táxis. A Uber “deve ser classificada como um ‘serviço na indústria dos transportes'” e não uma empresa tecnológica, como alega a companhia norte-americana, segundo a opinião de um alto responsável do Tribunal de Justiça da União Europeia. Abre-se assim a porta ao aperto de regulação para estas plataformas eletrónicas de transporte na região caso a opinião seja seguida pelos juízes daquele tribunal europeu que vão decidir-se sobre o caso no final do ano.

A Uber sempre argumentou que fornecia um serviço tecnológico, o que à luz da lei europeia evitava que a sua atividade pudesse ser regulada pelas autoridades locais. Ao contrário do que acontece com as companhias de transportes.

Porém, de acordo com o advogado-geral do Tribunal de Justiça da União Europeia, Maciej Szpunar, a Uber deve ser tratada como uma empresa de transporte porque “o serviço que liga passageiros e condutores entre si através de uma aplicação de smartphone é um componente secundário”.

A opinião de Maciej Szpunar não é vinculativa. Ou seja, não é decisiva e os juízes podem ignorar aquilo que é a avaliação do advogado-geral, tal como já fizeram no passado. Ainda assim, a opinião é geralmente respeitada pelo tribunal na sua decisão final — dois de cada três, segundo os dados históricos daquele tribunal. A decisão final será tomada no final do ano.

Em reação, a Uber diz que o facto de ser considerada uma empresa de transporte não vai mudar a forma como já é regulada na maioria dos países do espaço comunitário europeu. “Mas vai minar a reforma necessária das leis antiquadas que impede que milhões de europeus tenham acesso a transporte fiável à distância de um clique”, argumenta a empresa norte-americana.

A Uber tem enfrentado bastantes obstáculos desde que começou atividade na União Europeia, sobretudo ao nível regulatório. Em Portugal, o Governo tem tentado criar um enquadramento que permita legalizar estas plataformas eletrónicas de transporte, embora com forte oposição dos sindicatos dos taxistas.

"Decisão do tribunal vai minar a reforma necessária das leis antiquadas que impede que milhões de europeus tenham acesso a transporte fiável à distância de um clique.”

Uber

Uber Portugal: “Aguardamos uma decisão final”

Já ao final da tarde desta quinta-feira, a Uber Portugal emitiu um comunicado onde se assume “a par da opinião” emitida pelo advogado-geral do Tribunal Europeu. “Aguardamos por uma decisão final que deverá ser tomada no decorrer deste ano”, acrescetou fonte oficial da empresa portuguesa.

“Esta recomendação confirma a necessidade de reformar leis desatualizadas no setor da mobilidade, pelo que continuaremos a aguardar a breve aprovação de um quadro regulatório moderno e transparente também para as cidades portuguesas”, concluiu a mesma fonte.

(Notícia atualizada às 19h37 com comunicado da Uber Portugal)

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Justiça dá razão aos taxistas. Uber pondera recorrer

  • ECO
  • 2 Maio 2017

A Justiça portuguesa deu razão aos taxistas no âmbito da providência cautelar contra a Uber. Mas a decisão abrange a empresa norte-americana ao invés da holandesa, a que opera em Portugal.

O Tribunal da Relação deu razão à associação de taxistas Antral no âmbito da providência cautelar contra a Uber. A decisão surge no âmbito do recurso interposto pela empresa de transporte que alega que a decisão judicial não se aplica à atividade a plataforma em Portugal, pois o processo envolve a Uber norte-americana e é a holandesa Uber BV que opera nas diversas cidades portuguesas.

A notícia foi avançada esta terça-feira pelo Jornal Económico, que recorda que a Justiça deu razão à Uber na primeira instância, por considerar que faltava fundamentação para a ação judicial da Antral. Desta vez, o tribunal decide a favor da associação de taxistas, uma das maiores do setor. O mesmo jornal refere que a os advogados da Uber estão a avaliar recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça, sendo que a decisão final do processo deverá surgir já depois da aprovação de regulamentação para o setor.

O Jornal Económico cita fonte da plataforma de transporte, que indicou que a decisão “evidencia ainda mais a necessidade de uma modernização regulatória”. “Iremos analisar em maior detalhe a sentença para avaliarmos próximos passos. Ao mesmo tempo, esperamos que a nova legislação proposta pelo Governo seja aprovada muito em breve pelo Parlamento, tal como é desejado pela grande maioria dos portugueses”, defende a empresa.

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Uber teve prejuízos de 2,8 mil milhões em 2016

Uber tem passado maus momentos. Acusações de assédio sexual, CEO em discussões com condutor por causa das baixas tarifas e agora prejuízos. Cerca de 2,8 mil milhões de dólares no ano passado.

A empresa norte-americana de transporte de passageiros Uber revelou esta sexta-feira prejuízos de 2,8 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros) em 2016, tendo apresentado um volume de negócios de 6,5 mil milhões de dólares.

O grupo de San Francisco, que opera em vários países incluindo em Portugal, adiantou que o número de viagens realizadas mais do que duplicou no ano passado, totalizando os 20 mil milhões de dólares, excluindo as operações na China, onde a Uber vendeu a sua atividade.

“Estamos felizes por ter uma atividade sã e em expansão que nos dá a larga margem de manobra que é precisa para realizar as mudanças que sabemos que são necessárias”, afirmou a responsável pelas operações da Uber na América do Norte, Rachel Holt.

A Uber está avaliada em 68 mil milhões de dólares. E, porque não está cotada em bolsa, não está obrigada a apresentar as suas contas publicamente.

 

"Estamos felizes por ter uma atividade sã e em expansão que nos dá a larga margem de manobra que é precisa para realizar as mudanças que sabemos que são necessárias.”

Rachel Holt

Diretor regional da Uber

A empresa tem estado debaixo de fogo nas últimas semanas, incluindo acusações de assédio sexual e um vídeo mostrando o presidente executivo Travis Kalanick a discutir com um condutor da Uber acerca das tarifas que estavam a ser cobradas.

Neste momento, a Uber está à procura de um diretor operacional para ajudar na gestão de Kalanick, reparar a imagem da companhia e melhorar a sua cultura interna.

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Crise na Uber. Agora demitiu-se o nº2

  • ECO
  • 20 Março 2017

"Agora é bastante claro para mim que os valores e forma de atuar que têm guiado a minha carreira não estão de acordo com o que vi e vivi na Uber, e não posso continuar como presidente do negócio".

Jeff Jones, até agora presidente da Uber, apresentou a demissão menos de um ano depois de ter entrado na empresa. Em causa estão as várias polémicas em que tem estado envolvido e que têm denegrido a imagem da companhia, não só nos Estados Unidos, de onde é originária, como no resto do mundo.

Além das polémicas e da má fama que começava a ganhar, a decisão de Jeff Jones, que era presidente desde setembro do ano passado, de sair da Uber foi alimentada pelas declarações mais recentes de Kalanick, o atual presidente executivo, que disse que ia procurar “ajuda para a liderança” da empresa através da contratação de um Chief Operating Officer (COO).

“Depois de anunciarmos a nossa intenção de contratarmos um COO, o Jeff chegou à dura conclusão de que não via o seu futuro na Uber“, esclareceu o CEO num email enviado aos funcionários, e citado pela Bloomberg (conteúdo em inglês) onde também referia que Jones “deixou uma importante marca na companhia”.

De recordar que algumas das polémicas em que a empresa se viu envolvida incluem acusações de assédio sexual e um “ambiente de trabalho tóxico”. E depois de a Bloomberg ter publicado, a 28 de fevereiro deste ano, um vídeo em que se via Kalanick a repreender um dos seus motoristas, o CEO prometeu que procuraria “ajuda para a liderança” e que estava a planear contratar um COO.

Em declarações ao site Recode (conteúdo em inglês) Jones, que já tinha sido diretor de marketing na Target Corp., antes de chegar à Uber, justificou a demissão: “Agora é bastante claro para mim que os valores e forma de atuar que têm guiado a minha carreira não estão de acordo com o que vi e vivi na Uber, e não posso continuar como presidente do negócio”.

E Jones não sai sozinho: Brian McClendon, o vice-presidente responsável pelos mapas utilizados pelos condutores da empresa, anunciou num comunicado que também vai deixar a companhia.

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Regulamentação da Uber? Não vai ser para já

Estava tudo alinhado para que a proposta do Governo fosse votada esta sexta-feira na Assembleia da República, mas o Executivo decidiu baixar à especialidade. Regulamentação pode demorar mais 90 dias.

A votação da proposta de lei que cria o regime jurídico do transporte em veículo a partir de plataforma eletrónica, tal como a Uber e a Cabify, não vai acontecer esta sexta-feira, tal como indicava a agenda parlamentar. O Governo vai pedir que a proposta baixe à comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, confirmou o ECO junto de fonte governamental. A oposição do PCP e BE, assim como as críticas do PSD — apesar de não haver a garantia de que iam votar contra como na TSU — levaram o Executivo a tentar encontrar um consenso à esquerda nos trabalhos da comissão parlamentar. A notícia foi avançada pelo Observador esta quarta-feira.

As negociações, segundo a fonte contactada pelo ECO, vão ser à esquerda e não à direita. O Bloco de Esquerda tinha duas propostas no âmbito deste assunto: um projeto de lei que estabelecia um novo regime jurídico, onde propunha a existência de contingentes, e também um projeto de resolução onde recomendava ao Governo a adoção de medidas que modernizem e introduzam transparência no setor do táxi. O PCP, apesar de não ter apresentado nenhuma proposta para esta votação em plenário, também já demonstrou a sua oposição aos planos do Governo.

 

O objetivo é tentar melhorar a proposta na especialidade até que haja mais consenso entre os partidos que sustentam o Executivo, evitando assim a maioria negativa que ocorreu no chumbo da baixa da Taxa Social Única. Este processo pode demorar no máximo 90 dias. Ou seja, os deputados da comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas têm três meses para trabalhar o projeto, com votação a ocorrer também em especialidade, até que haja nova votação final em plenário.

Contactado pelo ECO, o deputado social-democrata Luís Leite Ramos diz não ter existido nenhuma negociação com o PSD. “Só posso interpretar esta decisão da seguinte forma: o Governo não garantiu o apoio parlamentar para esta proposta de lei”, afirmou. Os sociais-democratas concordam que o setor deve ser regulamentado, mas argumentam que existem falhas na legislação preparada pelo Governo. Leite Ramos garantiu que vão apresentar propostas de alteração tanto para a situação da Uber e Cabify como para os táxis.

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Crises nos EUA mancham imagem da Uber. E em Portugal?

A Uber já viu melhores dias. Vários problemas mancharam o prestígio da empresa e levaram muitos trabalhadores a procurarem novos empregos em Silicon Valley. Em Portugal, a situação é diferente.

“Anda tudo ansioso é pela chegada de novos operadores”, confidenciou um motorista ao ECO.PAULA NUNES/ECO

A casa-mãe da Uber, a mais valiosa de todas as companhias de Silicon Valley cujos títulos ainda não negoceiam na bolsa, tem atravessado diversas crises nas últimas semanas. São problemas atrás de problemas que muito abalaram a reputação da empresa perante passageiros, mas também os próprios trabalhadores. Com uma avaliação perto dos 70 mil milhões de dólares, a imagem da Uber já teve melhores dias.

Tudo começou quando cerca de 200.000 utilizadores decidiram, numa ação conjunta nas redes sociais, desinstalar definitivamente a aplicação. Aconteceu no final de janeiro. Em causa, a decisão da empresa de ignorar — e, consequentemente, boicotar — uma greve de taxistas que se recusavam a transportar passageiros no aeroporto internacional de Kennedy, em protesto contra as políticas de Donald Trump.

Depois disto, já em fevereiro, surgiu a denúncia de assédio sexual por parte de uma ex-trabalhadora. Susan Fowler, antiga programadora, alegou que por diversas vezes um superior hierárquico terá tentado ter relações sexuais com ela. Feita a queixa aos recursos humanos, o departamento terá decidido não fazer nada devido ao alto cargo ocupado pelo alegado agressor. O caso tornou-se mediático. A Uber, em resposta à polémica, ordenou a abertura de uma investigação interna.

Seria o ponto de partida para uma série de escândalos que se foram sucedendo ao longo das semanas recentes. Desde logo, a divulgação de um vídeo pela Bloomberg em que Travis Kalanick, presidente executivo da Uber, surge a discutir com um motorista da plataforma. Depois, o The New York Times relatou com pormenor o ambiente desenfreado que se vivia frequentemente no escritórios da companhia. A moral dos trabalhadores caiu e as polémicas não se ficaram por aqui.

A empresa foi ainda processada pela dona da Google por alegadas violações de patentes da Waymo, a unidade da Alphabet que está a desenvolver o carro sem condutor. A empresa foi ainda acusada de usar um programa para detetar e iludir as autoridades e as demissões foram aparecendo umas atrás das outras.

Esta sucessão de escândalos feriu fortemente a companhia. Agora, o Financial Times avança que um número anormal de trabalhadores tem procurado também abandonar os quadros da Uber nos Estados Unidos. O jornal falou com alguns responsáveis de recursos humanos de empresas sedeadas nas redondezas da Bay Area, que garantem estar a receber diversos currículos de trabalhadores da Uber. Um recrutador garantiu que “uma das principais razões” para o êxodo é a “falta de fé na liderança” dos destinos da companhia.

O caso ganha especial relevância, tendo em conta que existem boas razões para não se sair da Uber. Desde logo, enquanto trabalhadores da empresa, muitas pessoas acabam por deter valiosas ações ou opções de compra que, segundo o Financial Times, podem valer milhares (ou mesmo milhões) de dólares. “Historicamente, tem sido incrivelmente difícil recrutar pessoas da Uber, o que tem muito a ver com os trabalhadores não quererem abrir mão das opções de compra que têm”, resumiu ao jornal o líder da consultora SCGC Executive Search, Guillaume Champagne.

A próxima luta poderá começar em breve. Segundo a revista The Economist, a par de ter de descobrir como gerar (ainda) mais receitas, o Tribunal de Justiça da União Europeia vai finalmente declarar se a Uber é, afinal, uma empresa tecnológica ou uma firma de transportes. Se os juízes do mais soberano tribunal da União Europeia decidirem que a Uber é mesmo uma transportadora, a empresa ver-se-á automaticamente a braços com complexos regulamentos nas centenas de cidades europeias onde opera e que, até agora, sempre negou que se lhe apliquem.

E em Portugal?

Existem poucos indicadores de que a crise na casa-mãe esteja a ter efeitos significativos nas operações da plataforma em Portugal, nomeadamente ao nível do número de utilizadores. A Uber Portugal não prestou esclarecimentos nesse sentido até à publicação deste artigo e a concorrente Cabify preferiu não comentar. Para os motoristas com quem o ECO falou, abandonar a atividade parece também estar, para já, fora de questão, embora no meio já se fale de alternativas.

Um motorista da Uber, que não quis ser identificado, disse ao ECO que não notou qualquer redução óbvia no número de utilizadores do serviço em Portugal, salientando apenas o “excesso de viaturas” e denunciando a alegada saturação do mercado em algumas cidades. “Anda tudo ansioso é pela chegada de novos operadores”, desabafou porém, indicando que alguns passageiros têm colocado questões sobre plataformas alternativas.

Outro condutor comentou ao ECO que o período menos positivo da empresa nos Estados Unidos “cria algum desconforto e descredibiliza a empresa-mãe”: “As pessoas estão cada vez mais mentalizadas de que a empresa só vê números”, criticou. E os passageiros que transporta? “Têm perguntado por alternativas. A resposta que vou dando é que a lei [que deverá regular o setor] ainda não saiu”, explicou.

Assim, as principais queixas continuam a ser ao nível da precariedade no setor. A necessidade de regulamentação é apontada por praticamente todas as frentes, desde as empresas parceiras aos taxistas e, em último caso, a própria Uber Portugal, que já se está a preparar para um novo quadro regulamentar. A proposta de lei do Governo deverá ser discutida no Parlamento já no próximo dia 17 de março, pelas 10h.

Recorde-se que, no final desta segunda-feira, a unidade portuguesa da Uber divulgou um estudo realizado pelo centro de empreendedorismo do ISCTE onde mais de 80% do total de participantes pediu descontos e condições especiais em seguros para transporte de passageiros, combustíveis, tráfego nas redes móveis, entre outros. Face às conclusões do trabalho, a empresa decidiu lançar um programa de benefícios para permitir aos motoristas e empresas parceiras “potenciar” rendimentos, oferecendo “descontos e condições especiais em produtos e serviços importantes para as suas operações”.

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