Sindicato pede ao Governo que influencie compra da Altice Portugal por portugueses

  • Lusa
  • 4 Junho 2024

O STPT expressou ao Ministério das Infraestruturas e Habitação que o Governo "pode e deve exercer a sua influência" para reunir investidores portugueses que comprem a dona da Meo.

O Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice (STPT) expressou esta terça-feira, ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, que o Governo “pode e deve exercer a sua influência” para reunir investidores portugueses que comprem a dona da Meo.

Em comunicado, o STPT refere que manifestou as suas preocupações sobre a eventual venda da Altice Portugal a Hélder Amaral e Clara Guerra Santos, do gabinete do ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz.

Entre os vários pontos, o sindicato defendeu que o Governo, “ainda que no cumprimento das diretrizes a que está obrigado pela União Europeia, pode e deve exercer a sua influência para reunir um conjunto de investidores portugueses que assumam, com capitais próprios e financiamento adequado, a aquisição da Altice Portugal”.

E que, numa segunda fase, adianta o STPT, “possam voltar a colocar a empresa na bolsa de Lisboa, fomentado desta forma a participação de pequenos investidores, nomeadamente dos trabalhadores”.

O sindicato sublinhou que a “Altice Portugal é um ativo estratégico para os interesses portugueses no âmbito das comunicações estratégicas e para as Defesa e Segurança nacionais”, pelo que “é imperativo que o Governo cumpra, e faça cumprir, o disposto no decreto-lei n.º 138/14 de 15 de setembro, não apenas através de um acompanhamento exigente da transação, como também, que não abdique do seu direito de análise e de oposição à transação, se for entendido que os adquirentes não dão garantias da salvaguarda dos interesses estratégicos portugueses e dos direitos dos trabalhadores”.

Defendeu também que o Governo “deve usar de todos os meios ao seu dispor para se opor a uma venda segmentada da Altice em Portugal” e recordou que “os representantes dos trabalhadores, face às alterações ao Código de Trabalho de 2013, têm o direito à informação prévia à transmissão, nomeadamente, sobre o contrato entre o transmitente e o adquirente da Altice Portugal, bem como das consequências jurídicas, económicas e sociais para os trabalhadores”, resultantes da transmissão.

“Os representantes […] do ministro das Infraestruturas e Habitação acolheram, com genuíno interesse, as informações e posições do STPT, tendo ficado de ainda hoje as transmitirem ao governante, e confirmaram que o Governo ainda não teve qualquer contacto formal com a Altice Portugal, no que respeita à venda”, acrescenta o STPT.

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Receitas da Altice Portugal sobem menos de 1% até março. Serviços empresariais caem 1,4%

A Altice Portugal melhorou receitas e EBITDA e cresceu no segmento de consumo, mas o pior desempenho da Altice Labs fez cair as receitas dos serviços empresariais. Investimento cai 11%.

As receitas da Altice Portugal no primeiro trimestre cresceram 0,6%, face aos mesmos três meses do ano passado, para 704 milhões de euros, revelou esta terça-feira a empresa liderada por Ana Figueiredo. O segmento de consumo registou crescimentos, mas o negócio dos serviços empresariais sofreu uma quebra nas receitas, devido à redução das vendas da Altice Labs.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) melhorou 5,6%. A Altice Portugal não publica o resultado líquido.

Estes dados são revelados numa altura em que o principal acionista, Patrick Drahi, está há vários meses a estudar a venda da operação portuguesa, onde se inclui a operadora Meo e uma posição de controlo na empresa de fibra ótica Fastfiber. Não se conhecem desenvolvimentos neste processo, sobre o qual Ana Figueiredo tem recusado fazer qualquer comentário.

No segmento de consumo, a Altice Portugal gerou 345 milhões de euros entre janeiro e março, um crescimento homólogo de 2,8%. “As receitas de serviço aumentaram 3,6% em resultado do crescimento da base de clientes e RGUs [unidades geradoras de receita] e do aumento do ARPU [receita média por utilizador], potenciado pelo melhor mix de portefólio através da convergência e aumento de preços”, assume a companhia.

Os clientes únicos neste segmento cresceram 0,5% face ao período homólogo, o equivalente a 9.000 adições líquidas, para um total de 1,7 milhões de clientes. Nos serviços fixos e móveis, o número de serviços atingiu 11 milhões, tendo aumentado 132 mil em termos líquidos face ao período homólogo.

“Nestes primeiros três meses do ano, o total de serviços fixos incrementou 0,3%, totalizando seis milhões, e a base de clientes do serviço de televisão por subscrição e conectividade cresceram 0,5% e 0,6%, respetivamente, fixando-se ambos em 1,9 milhões. A base de clientes móveis pós-pago já ultrapassou a marca dos cinco milhões e, impulsionada pela convergência, cresceu 1,5% (77 mil clientes) no primeiro trimestre de 2024″, refere a empresa.

“Os resultados do primeiro trimestre evidenciaram crescimento nos principais indicadores operacionais, quer face ao trimestre anterior quer ao período homólogo. A empresa reforçou a posição de mercado e continuou a expandir a base de clientes únicos”, refere a Altice Portugal.

Em contrapartida, o segmento dos serviços empresariais teve um desempenho negativo. As receitas de 359 milhões de euros nos três meses até março representam uma quebra de 1,4%, que a Altice Portugal atribui à descida das vendas da Altice Labs, o ramo de investigação e desenvolvimento da Altice em Aveiro (antiga PT Inovação).

“A performance positiva e crescente da receita core de telecomunicações dos segmentos B2B e Wholesale foi impactada por uma redução nas vendas de hardware e equipamentos da Altice Labs”, lê-se no comunicado dos resultados. Excluindo o impacto das vendas da Altice Labs, os serviços empresariais teriam tido um crescimento de 4,6%. França, EUA e América Latina são os principais mercados deste polo exportador da empresa. Apesar da descida das vendas no primeiro trimestre, a Altice Labs registou duas novas patentes em Portugal.

Ao nível do investimento, a Altice Portugal investiu menos 11% do que no mesmo trimestre de 2023, num total de 99 milhões de euros dedicados ao reforço e otimização de recursos, “capacidade da sua infraestrutura e disponibilização de serviços inovadores”. A descida está relacionada com o “menor ritmo na expansão da rede de fibra ótica”, que tem 6,4 milhões de casas passadas.

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“Anacom e Governo têm de incentivar a consolidação”, defende CEO da Nos

Miguel Almeida, da Nos, acredita que o caminho "inevitável" das telecom é a consolidação. Mas o CEO da Vodafone discorda e diz que o caso da Nowo criou um precedente negativo.

A entrada da Digi no mercado de telecomunicações em Portugal marcou em grande parte esta quarta-feira o painel ‘Estado da Nação da Comunicações’ no 33ª Congresso da APDC. As reações das três principais operadoras existentes aos comentários da presidente da Anacom sobre a chegada da empresa romena passaram pelo tema do equilíbrio entre concorrência e investimento, mas também pelo da consolidação como solução.

“O caminho é simples e é inevitável, na minha perspetiva e tenho confiança que vai naturalmente acontecer”, disse Miguel Almeida, CEO da Nos. “Portugal costuma ser mais demorado, é uma tradição, mas vai acontecer, e por mim passa pela consolidação“, explicou. “Podem achar estranho estar a falar de consolidação quando comercialmente o tal novo operador ainda não entrou”, admitiu.

Miguel Almeida, CEO da NosHugo Amaral/ECO

Miguel Almeida adiantou que aquilo que vai ter que acontecer em Portugal e aquilo que será a medida de sucesso deste mandato do regulador e também responsabilidade do Governo é de facto criar as condições para a consolidação“.

“E vou mais longe, incentivar e impulsionar que isso aconteça, sob pena, de quando chegarem as novas atualizações de tecnologia, de ter consequências dramáticas para o país, senão ficamos para trás“, vincou.

Luís Lopes, CEO da Vodafone Portugal, não vê o futuro do setor, pelo menos em Portugal, a seguir o caminho das fusões e aquisições, especialmente tendo em conta as dificuldades que a empresa enfrenta na tentativa de comprar a Nowo, uma operadora com uma quota de mercado de 2%.

“Estou em desacordo com o Miguel, não vejo consolidação possível neste mercado porque há aqui um precedente que se está a abrir nesta matéria, bastante surpreendente”, referiu.

Luís Lopes, CEO da Vodafone PortugalHugo Amaral/ECO

“Por isso temo que se calhar um plano de negócio que passaria por consolidação futura possa ser um plano de negócios que de repente vê aqui algumas dificuldades relativamente a esse pressuposto” vincou.

Instado – pelo moderador do painel, António Costa, diretor do ECO – a explicar o que aconteceu nessa operação, Luís Lopes respondeu: “Não tem explicação, começo por essa frase”.

Recordou que há um ano, precisamente no congresso da APDC já tinha ficado surpreendido pelo processo ir para investigação aprofundada, o que quer dizer que existiam algumas dúvidas por parte da Autoridade da Concorrência sobre a operação. “Passou um ano, a operação ainda não está concluída, sendo que existe um sentido provável de decisão há cerca de um mês, no sentido de não aprovar”, vincou.

A Vodafone, sendo uma empresa que tem um acionista estrangeiro, vê esta situação em Portugal com uma perplexidade enorme, uma incompreensão muito grande

Luís Lopes

CEO da Vodafone Portugal

“A Vodafone, sendo uma empresa que tem um acionista estrangeiro, vê esta situação em Portugal com uma perplexidade enorme, uma incompreensão muito grande”, frisou.

Luís Lopes recordou que essa “incompreensão” já aconteceu no passado em relação a matérias como o leilão do 5G, “portanto existe sempre um risco muito grande que um investidor estrangeiro não consiga perceber o que se passa no país e com isso retire investimento”.

A Digi e o equilíbrio

A discussão sobre o caminho a percorrer pelo setor veio no seguimento do keynote speech da sessão, na qual Sandra Maximiano, presidente da Anacom há precisamente cinco meses, explicou que, com vista à promoção da concorrência, o regulador tem promovido medidas do lado da oferta.

“Destaco primeiro o reforço das condições para que as empresas possam entrar e competir ativamente no mercado”, disse. “Em breve um novo operador, a Digi, entrará no mercado português, o que levará, esperemos, a uma reação criativa e saudavelmente competitiva dos operadores”, vincou.

Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, reagiu de forma direta. “Relativamente à criatividade, na nossa empresa provamos ao longo dos tempos que fomos criativos, porque soubemos inverter o curso das coisas e continuamos a manter a liderança, e talvez fomos o operador que mais foi desafiado por novos entrantes pela liberalização,“ referiu.

“Respeitamos todos os novos entrantes. Não sabemos qual vai ser o posicionamento deste novo entrante, embora podemos ter uma ideia consoante o que faz noutros mercados”, adiantou.

Ana Figueiredo, CEO da Altice PortugalHugo Amaral/ECO

Para Ana Figueiredo, “muitas vezes no nosso setor debate-se muito o tema do preço, competitividade e trazer competividade é trazer um entrante, e dois entrantes e três entrantes”.

Vincou que num setor que é capital intensivo, não é, no entanto, “suposto termos uma multiplicidade de players porque não existe capacidade, nem sequer existe espetro disponível para todos se tivermos uma fragmentação do mercado”.

Miguel Almeida referiu que teve pena de não ter ouvido a presidente da Anacom falar de um ponto essencial que vê como central à missão da Anacom. “Neste setor, que tem características específicas, a função de utilidade, a forma de maximizar o valor para a sociedade, passa por encontrar um ponto de equilíbrio muito importante entre por um lado a concorrência e, por outro, o investimento“.

“É absolutamente crítico e qualquer perspetiva de médio longo prazo tem de encontrar este equilíbrio”, disse. “Agora é evidente se à data de hoje, e basta olhar para os números e a rentabilidade dos operadores, a Nos é cotada, olhando para os números mais recentes não cobre sequer o custo de capital“.

Num mercado como o português, “tão pequeno, com um quarto operador, essa situação só se vai agravar e provavelmente vai se agravar de forma dramática“.

Ignorar o “facto inequívoco, reconhecido pela UE e por todas entidades, que o futuro passa por garantir o investimento, um novo ponto de equilíbrio, estar a realçar pela positiva a entrada de um novo entrante e não referir em nenhum momento do discurso a sustentabilidade dos operadores que existem, dizendo que eles vão ter oportunidade de buscar receitas que me parecem um bocado ficcionadas é desviar a atenção do essencial e parece uma visão de curto prazo”, concluiu.

(Notícia atualizada às 19h59)

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Altice Portugal lança inquérito para medir satisfação dos trabalhadores

Posta à venda pelo seu acionista, a Altice Portugal acaba de lançar um inquérito anónimo aos trabalhadores para ver como está o "clima" na empresa. O anterior foi em 2022, antes da Operação Picoas.

A Altice Portugal lançou na segunda-feira um inquérito interno para medir o pulso aos seus 6.300 trabalhadores, numa altura em que o acionista pondera a venda da empresa e que está em curso a investigação criminal da Operação Picoas. São cerca de 100 perguntas relacionadas com várias áreas, desde o grau de compromisso e satisfação com a empresa à sustentabilidade.

Este “Inquérito de Clima Organizacional” já tinha sido feito em 2022, tendo registado uma taxa de participação em torno dos 85%. O preenchimento é facultativo e a participação é anónima, tendo a Altice Portugal contratado para este trabalho a consultora Willis Towers Watson, como confirmou ao ECO fonte oficial desta última.

A Comissão de Trabalhadores (CT) está a incentivar a participação por entender que a edição anterior resultou em melhorias internas, incluindo na situação de muitos colaboradores, apurou o ECO. Mais trabalhadores passaram a receber prémios de desempenho.

“Nos corredores, ouve-se falar de um novo Inquérito de Clima. Uma chamada para a participação de todos, a que ninguém pode faltar”, lê-se na newsletter interna enviada pela CT a 23 de abril, antes de o inquérito ter chegado esta segunda-feira aos funcionários via email, à qual o ECO teve acesso. O prazo para responder termina no dia 10 de maio.

Fonte próxima da administração da Altice Portugal disse ao ECO que já em 2022 a intenção era repetir o inquérito anualmente. Porém, o surgimento da Operação Picoas no verão de 2023, com todas as mudanças que ocorreram na empresa, levou a que não se tenha realizado no ano passado.

“Procurando compreender a perceção dos colaboradores sobre as diversas áreas de relevância para a Altice Portugal e as suas expectativas para o futuro, em 2022 a Altice Portugal desenvolveu um Inquérito de Clima Organizacional, através do qual consultou os seus colaboradores de forma confidencial”, lê-se no Relatório de Sustentabilidade 2022 disponibilizado pela companhia. Os resultados desse estudo não foram publicados.

A Altice Portugal está a consultar os trabalhadores numa altura em que o dono do grupo, Patrick Drahi, se encontra a avaliar a venda de ativos para reduzir a avultada dívida da empresa, incluindo a operação no mercado português, composta principalmente pela Meo.

Além disso, no verão do ano passado, a sede da Altice Portugal foi alvo de buscas num processo que investiga como figuras da cúpula da empresa terão promovido negócios em benefício próprio, lesando o Estado e a própria Altice. O caso, que conduziu à detenção para interrogatório do cofundador Armando Pereira, abanou o grupo a nível internacional e ainda está em curso, com vários arguidos constituídos.

Contactada, a Altice Portugal não tinha respondido até à publicação desta notícia.

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Credores da Altice France organizam-se para enfrentar Drahi

Dois grupos de credores estão a posicionar-se para eventuais negociações em torno da reestruturação da dívida da Altice France. Processo pode influenciar dossiê da venda em Portugal.

Os credores da Altice France estão a posicionar-se para enfrentar Patrick Drahi, o dono do grupo. Em março, a administração sugeriu que os investidores também terão de participar no esforço de redução da dívida da empresa que, no final do ano passado, ascendia 24.315 milhões de euros nesta geografia. O novo posicionamento apanhou-os de surpresa e há dois grupos que se estão a organizar.

Apesar de envolver uma subsidiária distinta, este processo pode ter repercussões em Portugal, disse ao ECO fonte próxima de um fundo que detém dívida da Altice, na medida em que também está em curso a possível venda da Altice Portugal, cujo desfecho poderá depender do que vier a acontecer em França. Mas a subsidiária portuguesa responde à Altice International, que fechou um ano com uma dívida bastante inferior, de 8.789 milhões de euros, pelo que, aqui, a pressão sobre Drahi é menor.

Nem toda a dívida é igual. Dos mais de 24 mil milhões de euros de dívida da Altice France, cerca de 20 mil milhões correspondem a dívida associada a garantias (secured) e pouco mais de quatro mil milhões a dívida sem colateral (unsecured), que, por estar associada a um risco maior — caso a empresa entre em dificuldades, só é reembolsada depois de toda a dívida sénior –, tem uma taxa de juro mais alta, de 6,3%, contra 5,9%, em termos médios.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para ver o gráfico.

As duas ‘fações’ e o acordo

Neste contexto há duas ‘fações’ que se estão a preparar para eventuais negociações com Patrick Drahi com vista à reestruturação da avultada dívida da Altice France, segundo a Bloomberg, o Financial Times e a Reuters. Um dos grupos é composto apenas por credores seniores e outro por detentores de dívida garantida e não garantida.

O grupo composto exclusivamente por detentores de dívida sénior é representado pela sociedade de advogados Gibson Dunn e pela consultora financeira Rothschild. Na semana passada, a Bloomberg noticiou um acordo atípico para alinhar os interesses de todos estes investidores, evitando que algum tente fechar individualmente um acordo melhor com Drahi em detrimento dos outros.

Segundo a agência, o “acordo de cooperação” em cima da mesa é válido por seis meses, um prazo bastante mais longo do que o habitual neste tipo de situações, e estipula que pode ser prolongado duas vezes por períodos sucessivos de 60 dias. Para se tornar efetivo, é preciso que mais de metade dos titulares da dívida mais sénior (first-lien) e mais de metade dos detentores de dívida garantida o assinem, estando previsto um período de 15 dias para que o possam fazer, escreve a agência.

O segundo grupo contempla credores com dívida garantida e não garantida e está a trabalhar com o banco de investimento Houlihan Lokey e com as sociedades de advogados Milbank e Willkie Farr & Gallagher. Segundo noticiou o Financial Times em março, este grupo já se estava a formar mesmo antes de a Altice ter sugerido um perdão de dívida, mas, depois disso, ganhou um “novo ímpeto”.

A Altice France terminou o ano com um rácio de dívida face ao EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 6,4. A administração ambiciona agora chegar a um rácio de 4 e admite todos os cenários, incluindo forçar os credores a aceitarem um perdão de dívida (haircut), levando-os a que incorram em perdas. Segundo a Reuters, baixar o rácio para esse nível pressupõe abater quase dez mil milhões de euros na dívida da companhia.

Patrick Drahi, fundador e dono da AlticeJérémy Barande/École Polytechnique via Wikimedia Commons

Mudam-se os tempos…

Drahi é conhecido por ter erguido a Altice com recurso a financiamento, grupo que acumula agora, nas três subsidiárias (Altice France, Altice International e Altice USA), um passivo de mais de 56 mil milhões de euros. A era dos juros baixos ou mesmo negativos terminou e agora os tempos são outros. O aperto das condições nos mercados financeiros voltou a pressionar Drahi a reduzir este passivo, e, até agora, a única hipótese em cima da mesa era a da venda de ativos de vários tipos, em diversas geografias.

O caso mais recente foi o da alienação da Altice Media em França, a unidade que detinha meios de comunicação social como a televisão BFM, por 1,5 mil milhões de euros, embora a administração da Altice também tenha sugerido aos credores que o produto da venda poderia não ser usado para abater na dívida da Altice France — o que se somou à estupefação dos detentores de dívida da empresa.

Ademais, em novembro de 2023, a Altice France constituiu uma nova empresa, a UltraEdge, para a qual transferiu os 257 data centers da operadora SFR e respetivos ativos imobiliários, vendendo de seguida uma posição de 70% ao Morgan Stanley Infrastructure Partners, num negócio que avaliou a UltraEdge em 764 milhões.

A eventual venda da Altice Portugal deve igualmente ser vista à luz do esforço de redução da dívida do grupo, embora o processo tenha derrapado recentemente, o que também está relacionado com as eleições antecipadas e a tomada de posse de um novo Governo. Na corrida já estiveram três candidatos: a operadora saudita STC (Saudi Telecom), o grupo francês Iliad e um consórcio de fundos com ligações ao ex-banqueiro António Horta Osório. Estes dois últimos terão desistido, de acordo com rumores que circulam no mercado, sendo que Drahi estará a pedir entre 8.000 milhões e 10.000 milhões de euros, o que já foi considerado “irrealista” por uma fonte ouvida pelo ECO.

Não se conhecem detalhes de fundo sobre as intenções da Altice quanto à reestruturação da dívida em França. Segundo a Bloomberg, num evento de despedida da Altice Media, em março, Drahi assumiu estar vendedor porque os seus quatro filhos lhe pediram para que invista noutras áreas. Disse ainda estar a pensar na sucessão. O magnata vai fazer 61 anos no próximo mês de agosto. Entretanto, a Altice enfrenta turbulência nos mercados de dívida e as peças vão-se posicionando no tabuleiro do xadrez.

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Moody’s corta rating da Altice France com perspetiva negativa

Agência de notação financeira prevê que o rácio de endividamento da Altice France suba em 2024, apesar das intenções da administração de o fazer descer com o patrocínio dos credores.

A agência de notação financeira Moody’s cortou esta quarta-feira o rating atribuído à holding da Altice France, dias depois de a gestão ter sugerido aos credores que será necessário um perdão de dívida para ajudar a empresa a cumprir uma meta de descida do endividamento mais ambiciosa.

Segundo a Reuters, o rating da dívida da Altice France Holding foi cortado de “B3” para “Caa2”, uma descida de dois patamares que coloca a empresa apenas três degraus acima do fundo da tabela de notações da Moody’s. O outlook é negativo, um sinal de que a agência vai manter a Altice debaixo de olho e pode não ficar por aqui nas descidas da notação.

“A descida para Caa2 reflete a nossa expectativa de que o desempenho operacional da empresa e as métricas de crédito serão mais fracas do que o inicialmente esperado, com endividamento a subir para 7,4x em 2024″, explica Ernesto Bisagno, vice-presidente da Moody’s, citado pela Reuters.

Como o ECO explicou este fim de semana, a Altice France apresentou resultados do ano completo de 2023, que encerrou com um rácio de dívida/EBITDA de 6,4x (o EBITDA corresponde ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Mas a empresa propõe reduzir a sua dívida de quase 25 mil milhões de euros para um rácio de endividamento “bem abaixo de 4x”.

No entanto, numa chamada telefónica com os credores, um executivo da Altice France sugeriu que, para lá chegar, poderá ser exigida a participação dos obrigacionistas. As declarações assustaram os investidores, fizeram disparar os juros das obrigações da Altice France no mercado secundário, e até aceleraram os planos de alguns dos detentores de dívida da Altice France, que já se posicionavam para tentar discutir um plano de dívida com o dono do grupo, Patrick Drahi.

A Altice France é um dos três grandes ramos do grupo internacional. Os outros dois são a Altice International (à qual responde a Altice Portugal) e a Altice USA, que é cotada em Wall Street. Mas tanto a Altice France como a Altice International já não negoceiam na bolsa.

Também importa referir que, em meados deste mês, dias antes de apresentar os resultados anuais, a Altice France desfez-se da Altice Media, através da qual detinha meios de comunicação social como BFM e RMC, por 1,55 mil milhões de euros, mas não é certo que este valor seja usado para abater no passivo da Altice France, que detém a operadora SFR em França. O comprador foi o grupo CMA CGM, da família Saadé, e a Merit France.

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Estalou o verniz entre Drahi e os credores. O que se passa na Altice France?

Subsidiária francesa da Altice tem uma meta de redução da alavancagem mais ambiciosa e não exclui forçar os credores a aceitarem um perdão de dívida para a alcançar.

Patrick Drahi, dono da Altice, quer que os credores participem na redução do endividamento da subsidiária em FrançaHenrique Casinhas/ECO

O dono da Altice e os credores da Altice France entraram esta semana “em rota de colisão”. O braço de ferro instalou-se depois de a empresa de Patrick Drahi ter suscitado a hipótese de um perdão de dívida para permitir que a dona da operadora SFR em França atinja um rácio de alavancagem mais baixo do que o anteriormente proposto, explica esta sexta-feira o Financial Times.

A Altice France apresentou resultados anuais na quarta-feira, uma semana depois de ter anunciado a venda dos ativos de media no país por 1,55 mil milhões de euros. A ocasião serviu para a Altice France definir também uma meta mais ambiciosa de redução do endividamento, de um rácio dívida/EBITDA de 5x para “bem abaixo de 4x” (terminou 2023 nos 6,4x).

Mas a forma de lá chegar surpreendeu os investidores, como escreveu o ECO esta semana. Numa chamada telefónica com os obrigacionistas na quarta-feira, Dennis Okhuijsen, um dos executivos mais antigos da empresa, deixou claro que a Altice conta com a “participação dos credores” para que essa meta seja atingida.

Um dos presentes na chamada perguntou, de seguida, se estava posta de parte a possibilidade de a Altice vir a forçar os credores a participarem nesse perdão de dívida. Citado pelo Financial Times, Okhuijsen respondeu: “Penso que não podemos excluir nada.” E salientou que, “se fizermos as contas”, parte da redução do endividamento vai ter de ser assumida pelos investidores.

Se o caldo não estava já entornado, o cenário piorou para os credores quando a gestão da Altice insinuou que o produto da venda da Altice Media pode não ser usado para abater a avultada dívida da empresa, escreve o jornal britânico. No final de 2023, a dívida líquida da Altice France aproximava-se dos 25 mil milhões de euros, montante que exclui a dívida da Altice International e da Altice USA.

Segundo o FT, durante a chamada, as obrigações unsecured da Altice France afundaram mais de 20 pontos percentuais e negociaram por menos de metade do seu valor nominal. Um sinal claro do nervosismo provocado nos investidores que lhe emprestaram dinheiro, ainda que, ao jornal, alguns especulem que a gestão da Altice quis baixar o preço das obrigações propositadamente, para tentar impor haircuts mais elevados.

Acontece que, como noticiou a Bloomberg na quinta-feira, e escreveu também o ECO, alguns credores da Altice France, detentores de cerca de 1,5 mil milhões de euros em obrigações da empresa, incluindo os fundos Attestor Capital e Arini, já estavam a preparar-se, mesmo antes desse incidente, para iniciarem conversações com Drahi em torno de um novo plano de dívida. Para tal, contrataram o banco de investimento Houlihan Lokey e a sociedade de advogados Milbank.

Drahi tem estado sob pressão para vender ativos e reduzir o passivo das subsidiárias do grupo. No mercado português, está em curso a venda dos ativos da Altice Portugal, num processo que, segundo a imprensa internacional, é liderado pela Saudi Telecom, com o grupo Iliad igualmente entre os interessados. A Altice International, holding que detém a Altice Portugal, fechou 2023 com uma dívida líquida de quase 8,8 mil milhões de euros.

Sob Drahi paira ainda o processo que em Portugal ficou conhecido por Operação Picoas, depois de, no verão passado, as autoridades terem feito buscas na sede da Altice Portugal e detido pessoas próximas da empresa, incluindo o antigo parceiro de negócios de Drahi, Armando Pereira. Entretanto, este mês, soube-se que foi iniciada uma investigação também em França.

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Credores da Altice France contratam consultora para negociar plano de dívida

Um grupo de investidores, com 1,5 mil milhões de dívida da Altice France, contratou a Houlihan e uma firma de advogados antes de iniciarem negociações para um plano de dívida com a empresa de Drahi.

Credores da Altice France, incluindo a Attestor Capital e Arini, começaram a trabalhar com os consultores Houlihan Lokey e a firma de advogados Milbank, com vista a iniciarem conversações sobre a dívida com a empresa detida por Patrick Drahi, avança a Bloomberg.

O grupo, que inclui um conjunto de fundos que detêm cerca de 1,5 mil milhões de euros de dívida da Altice France, tem-se estado a formar nas últimas semanas. Estes credores
estão a discutir um plano de dívida separado para a empresa, segundo adiantaram fontes próximas do processo à agência noticiosa.

Os preparativos para a criação deste grupo intensificaram-se depois da empresa controlada por Drahi ter adiantado aos investidores que estava a considerar avançar com um corte de dívida, o que irá implicar perdas para quem detém estes títulos.

Na quarta-feira, a administração anunciou um plano para acelerar a desalavancagem da empresa, depois de terem acordado vender a divisão de media na semana passada, por 1,55 mil milhões de euros. As obrigações não garantidas da Altice France afundaram e estão agora a negociar a menos de metade do seu valor nominal, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Em Portugal, Drahi está a negociar a venda da dona da Meo, sendo já conhecidos vários potenciais compradores para o negócio no país, como a Saudi Telecom, o grupo Iliad e um consórcio composto pela Warburg Pincus e Zeno Partners. As agências internacionais dizem que Patrick Drahi quer entre 8.000 milhões e 10.000 milhões de euros pelos ativos neste mercado.

Representantes da Houlihan, Altice e Arini não quiseram comentar o assunto à Bloomberg, enquanto os porta-vozes do Milbank e do Attestor não responderam imediatamente aos pedidos de comentário da agência de notícia.

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Drahi vende Altice Media em França por 1,55 mil milhões de euros

Unidade que detém órgãos de comunicação social como BFM e RMC e que emprega 1.700 pessoas, das quais 900 jornalistas, será vendida ao grupo da família Saadé e Merit France.

A Altice vai vender a Altice Media em França por 1,55 mil milhões de euros, a unidade que detém órgãos de comunicação social como BFM e a RMC, que emprega 1.700 pessoas, das quais 900 são jornalistas. A operação será comprada pelo grupo CMA CGM, da família Saadé, e pela Merit France, anunciou a Altice num comunicado.

Em causa está a assinatura de um “acordo de exclusividade” entre as partes com vista à concretização desta transação, que ainda depende de aprovação regulatória e do preenchimento das “condições habituais”. Mas a Altice prevê concluir a venda já neste verão.

Segundo um comunicado, Patrick Drahi, fundador e dono da Altice, “está muito confiante de que Rodolphe Saadé [CEO da CMA CGM], com quem tem um relacionamento próximo e de amizade há vários anos, a sua família, a CMA CGM e a Merit France continuarão a investir e a desenvolver a Altice Media para permitir que a BFM e a RMC, e respetivas equipas, persigam a sua missão essencial”.

O comunicado da Altice salienta o crescimento “incrível” da Altice Media na última década: as receitas cresceram de 195 milhões para 362 milhões de euros por ano, o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) anual aumentou de 40 milhões para 112 milhões de euros, o número de funcionários passou de 800 para 1.700 e o de jornalistas de 350 para 900.

Entre os meios geridos pela Altice Media estão cinco canais de televisão de âmbito nacional em França, dez canais locais de televisão, três rádios e 20 aplicações digitais, segundo dados da própria empresa.

“Desde a criação da BFM TV sob a liderança de Alain Weill e o seu fortalecimento enquanto propriedade da Altice desde 2015, a Altice Media, com a BFM e a RMC e todas as suas marcas, tornou-se num player muito forte e inovador, crítico para a França, os seus cidadãos, as suas regiões e com uma exigência constante de ética e pluralismo, e útil para elevar o debate público”, refere a Altice.

Grupo está vendedor

A saída da Altice do negócio de media em França acontece poucos meses depois de Drahi ter decidido, a 21 de novembro de 2023, constituir uma nova empresa, a UltraEdge, para a qual transferiu os 257 data centers da operadora SFR e respetivos ativos imobiliários, vendendo de seguida uma posição de 70% ao Morgan Stanley Infrastructure Partners, num negócio que avaliou a UltraEdge em 764 milhões de euros.

Assim, a venda da Altice Media em França representa mais um desinvestimento da Altice, numa altura em que Drahi está a estudar a alienação de vários ativos para fazer face à elevada dívida, num contexto de subida das taxas de juro. No final do terceiro trimestre, a Altice France tinha uma dívida líquida consolidada de mais de 24 mil milhões de euros, esperando-se a apresentação dos resultados do quarto trimestre no próximo dia 20.

Sabe-se que o multimilionário franco-israelita também está a explorar a venda da Altice Portugal, dona da Meo, encontrando-se a negociar com pelo menos três interessados: o grupo Iliad de Xavier Niel, a operadora estatal saudita STC e um consórcio composto pelos fundos Warburg Pincus e Zeno Partners, no qual está envolvido o ex-banqueiro português António Horta Osório.

(Notícia atualizada pela última vez às 12h13)

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Altice já pagou multa de 124 milhões por irregularidades na compra da PT

Altice já liquidou as duas coimas impostas em 2018 pela Comissão Europeia por ter violado a lei na compra da PT. Apesar das reduções, montante foi agravado pelos juros.

O grupo Altice confirmou esta quarta-feira que já pagou a multa aplicada pela Comissão Europeia em 2018 por irregularidades na compra da PT Portugal três anos antes. O montante total pago no quarto trimestre foi de 124,1 milhões de euros.

“A 24 de abril de 2018, a Comissão Europeia impôs duas multas à Altice Europe num montante total de 124,5 milhões de euros por gun jumping na aquisição da PT Portugal em 2015. O montante total de 124,1 milhões de euros foi pago no quarto trimestre de 2023″, lê-se num comunicado da Altice International.

O ECO apurou que este montante pago pela Altice International inclui juros, visto que a Justiça europeia reduziu por duas vezes a multa da Comissão Europeia para pouco mais de 115 milhões de euros. Ou seja, quase dez milhões de euros correspondem a juros.

Em 2018, a Comissão Europeia tinha aplicado duas coimas à Altice Europe de 62,25 milhões de euros cada uma: a primeira por ter violado a obrigação de notificação da concentração e a segunda por ter violado a proibição de realizar a concentração antes da sua notificação à Comissão e antes da sua autorização por parte desta.

No âmbito de um primeiro recurso da Altice, o Tribunal Geral negou parcialmente provimento, mas reduziu a primeira das coimas em 6,22 milhões de euros, para 56,03 milhões. A Altice voltou a recorrer dessa decisão e, em novembro de 2023, o Tribunal de Justiça decidiu anular parcialmente o acórdão do Tribunal Geral, ao mesmo tempo que reduziu essa coima para 52.912.500 euros.

Feitas as contas, a Altice continuou exposta a penalizações no montante total superior a 115 milhões de euros, o que compara com os 124,5 milhões iniciais. Ora, com a notícia avançada pela Altice esta quarta-feira, confirma-se que a empresa acabou por ter de pagar praticamente o mesmo valor, por causa dos juros.

Esta não era a expectativa de Patrick Drahi. Em maio de 2018, instado pelo ECO a reagir à multa da Comissão à margem de um evento, o dono da Altice respondeu que a empresa iria “fazer tudo o que estiver ao seu alcance para não pagar” a penalização.

A compra da PT Portugal pela Altice à brasileira Oi em 2015 esteve na base do que é, atualmente, a Altice Portugal. Um ativo que, aliás, Drahi colocou à venda no ano passado, estando a negociar com três potenciais compradores.

À semelhança da Altice International, a Altice Portugal apresentou resultados trimestrais esta quarta-feira. Num ano conturbado, também marcado por uma investigação judicial em Portugal, a empresa que controla a Meo ficou perto dos três mil milhões de euros em receitas em 2023. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) ultrapassou, pela primeira vez desde 2016, os mil milhões de euros.

(Notícia atualizada pela última vez às 13h41)

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Receitas da Altice Portugal crescem 11% para perto de três mil milhões

Em pleno processo de venda, a Altice Portugal fechou o ano passado com receitas de 2.906 mil milhões de euros, com o EBITDA a superar os mil milhões de euros pela primeira vez desde 2016.

A Altice Portugal apresentou resultados trimestrais esta quarta-feiraMIGUEL A. LOPES/LUSA

Num ano conturbado, marcado por uma investigação judicial em Portugal e pelo arranque de um processo de venda pelo seu principal acionista, a Altice Portugal ficou perto dos três mil milhões de euros em receitas em 2023. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) ultrapassou, pela primeira vez desde 2016, os mil milhões de euros.

Foram, mais concretamente, 2.906 milhões de euros em receitas em 2023, um crescimento de 10,5% face a 2022, que contribuiu para o EBITDA atingir 1.038 milhões de euros no total dos 12 meses, aumentando 14,5% em comparação com o ano anterior. A informação foi divulgada esta quarta-feira num comunicado. A empresa não é cotada na bolsa e não revela o resultado líquido.

Ao olhar para as contas, a empresa que detém a operadora Meo em Portugal destaca o “excelente desempenho financeiro” no ano passado. Justifica-o com a “diversificação do portefólio de serviços”, o “reforço do investimento em infraestruturas e em redes de nova geração” e a “qualidade de serviço”. Mas também houve um aumento da receita média gerada com cada cliente, o que pode ser explicado pelo aumento de preços de até 7,8% promovido a 1 de fevereiro de 2023, para ajustá-los à inflação.

A empresa liderada por Ana Figueiredo explica ainda o crescimento do EBITDA com o “incremento da receita dos serviços core de telecomunicações e de novos negócios”, com a “disciplina de custos operacionais” e outros “ganhos de eficiência”.

Analisando apenas o quarto trimestre de 2023, as receitas subiram 7,5% em termos homólogos, para 747 milhões de euros, e o EBITDA disparou 17,9%, para 258 milhões de euros, segundo números avançados pela empresa.

Os resultados apresentados esta quarta-feira pela Altice Portugal revestem-se de particular relevância, visto que Patrick Drahi, o multimilionário que controla o grupo, encontra-se a trabalhar na possível venda dos ativos nesta geografia. Entre os potenciais compradores na corrida encontra-se a operadora estatal saudita Saudi Telecom (STC), o grupo Iliad de Xavier Niel (dono da Free em França) e um consórcio composto pelos fundos de private equity Warburg Pincus e pela Zeno Partners, que conta com ADN português, incluindo o ex-banqueiro António Horta Osório. Drahi quer entre oito mil milhões e dez mil milhões de euros pela Altice Portugal, avançou a Bloomberg e confirmou o ECO.

Assim, com a venda como pano de fundo, a Altice Portugal apresenta um “crescimento operacional contínuo”, com a base de clientes fixos a subirem 2,2% e os clientes de TV por subscrição a aumentarem 3,3% em 2023, face ao ano prévio. A empresa enaltece a “contínua aquisição de clientes” e a “manutenção de níveis reduzidos de desligamentos”. O que a Altice Portugal não discrimina no comunicado é a variação da base de clientes móveis, depois de dois anos de intenso investimento no desenvolvimento da rede de quinta geração. No ano passado, a quota de mercado baixou ligeiramente, de 42,8 para 42,6%, segundo os últimos dados da Anacom, o regulador do setor.

Analisando por segmentos, e tendo em conta o período de outubro a dezembro do ano passado, o negócio do consumo gerou receitas de 354 milhões de euros, mais 4,5% face ao mesmo período de 2022. “Os clientes únicos do segmento de consumo continuaram a expandir-se e aumentaram 0,7% em relação ao último trimestre de 2022, mais 12 mil adições líquidas, elevando o total para 1,7 milhões, e o total de RGUS [número de serviços, ou unidades geradoras de receita] de serviços fixos e móveis atingiu os 10,7 milhões e aumentou 113,1 mil face ao último trimestre de 2022”, lê-se na nota da empresa.

Passando ao segmento empresarial, gerou 393 milhões de euros em receitas no quarto trimestre, um crescimento de 10,3% que a Altice Portugal atribui ao impulso dado pelos produtos e serviços não relacionados com telecomunicações. Outros fatores a contribuir foram as “novas linhas de negócio”, a “exportação tecnológica da Altice Labs para o mercado internacional” e o “contributo positivo do negócio de desenho, construção, operação e manutenção de uma rede de fibra ótica na Alemanha”. Este projeto está a ser comandado pela Geodésia Germany que, como o ECO já noticiou, responde à Altice Portugal na estrutura do grupo.

Por fim, o investimento: com a empresa a expandir o 5G depois de ter comprado licenças à Anacom no leilão de 2021, a Altice Portugal realizou um investimento total de 488 milhões de euros no ano passado, um crescimento marginal de 1%, dos quais 147 milhões (+2,8%) no último trimestre do ano.

Dívida do grupo aumenta

A Altice International, dona da Altice Portugal, também apresentou resultados esta quarta-feira, nomeadamente um incremento de 5,7% nas receitas, que atingiram 5.143 milhões de euros, enquanto o EBITDA somou 7,2%, para 1.855 euros em 2023. A empresa antecipa um impacto da guerra no Médio Oriente no negócio em Israel, onde detém a operadora Hot.

A Altice International é, de longe, o ramo menos endividado do grupo — os outros dois são a Altice France (SFR) e a Altice USA. Mesmo assim, importa notar o aumento da dívida líquida de 8.040 milhões de euros no final de 2022 para 8.786 milhões de euros a 31 de dezembro de 2023. O rácio da dívida face ao EBITDA é de 4,5x, sendo que a empresa propõe reduzir para um patamar entre 4 e 4,5x este ano.

A maturidade média da dívida da Altice International era, no final do ano, de 4,3 anos, com um juro médio de 5,8% e 80% do passivo com taxa fixa. A empresa não espera grandes reembolsos antes de 2027, pois tem conseguido refinanciar a sua dívida, contando com cerca de 800 milhões de euros de liquidez disponível, aponta no relatório com os resultados.

(Notícia atualizada às 14h11 com resultados da Altice International)

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Altice USA dispara 36% em bolsa perante rumor de potencial negócio

Subsidiária norte-americana do grupo Altice pode ser alvo de uma oferta da Charter. Ações dispararam 36% em Nova Iorque esta segunda-feira.

As ações da Altice USA estiveram a disparar 63% em bolsa na segunda-feira, perante rumores de que a operadora de comunicações Charter pode estar interessada em comprar a subsidiária norte-americana do grupo de Patrick Drahi.

Foi a maior subida percentual desde que a Altice realizou o spinoff da Altice USA em 2018. A empresa acabou por fechar com um ganho de 36%, para 2,49 dólares, atingindo um valor de mercado de 1,14 mil milhões de dólares, segundo a Bloomberg.

A agência noticiou que a Charter Communications está a explorar a possibilidade de avançar para a compra da Altice USA. A operadora está a trabalhar com assessores financeiros, mas a Bloomberg também escreve que pode até já ter abordado a Altice para um potencial negócio, mas acabado por desistir — algo que, diz, não ter conseguido apurar.

Segundo a agência noticiosa, a Altice USA tem quase cinco milhões de clientes residenciais e empresariais em 21 estados norte-americanos. A Charter, enquanto isso, tem vindo a perder clientes e valor de mercado ao longo do último ano.

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