O espaço está delimitado com uma pequena cerca. Em cima das dez mesas altas, um pouco acima das cinturas dos jogadores nervosos, estão dez tabuleiros de madeira de xadrez com peças beges e castanhas escuras. À hora marcada, ninguém aparece. Garry Kasparov está atrasado e isso mexe com os nervos dos adversários.
Pouco a pouco, um a um, chegam os candidatos escolhidos para defrontar aquele que é considerado o melhor jogador do mundo de xadrez. Os nervos adensam-se. Onde está o campeão?
O Web Summit anunciou um mês antes do evento que Garry Kasparov iria defrontar, no decorrer do evento em Lisboa, dez adversários ao mesmo tempo. A novidade, anunciada por email e através das redes sociais, contou com alta participação, garantiu a organização. Foram escolhidos dez — os primeiros a entrarem no espaço delimitado pela cerca — e ficaram outros tantos numa lista de espera que foram entrando em jogo, à medida que os primeiros eram derrotados.
“Nervoso, eu? É certo que vou perder”, garante um dos participantes, enquanto folheia um dos pequenos livros guardados na mesa preparados para autografar a seguir à partida.
O jogo arranca pouco antes das 13h30 de quinta-feira, último dia de Web Summit. Garry Kasparov chega e coloca-se a meio das duas filas de mesas altas, cinco de cada lado. Entre os dez, há três mulheres e sete homens. Os participantes foram escolhidos aleatoriamente entre os candidatos.
Como num palco, Kasparov cumprimenta todos os participantes mas mal sorri. Depois, aproxima-se da primeira mesa à esquerda. O adversário olha para o campeão e sorri de nervoso. Kasparov estende a mão. Começa o jogo.
A cena repete-se mais doze vezes. Depois de serem derrotados os primeiros três, entram mais três a jogo sem pestanejar: ninguém quer perder a oportunidade de jogar com a lenda do xadrez mundial.
“São momentos irrepetíveis jogar com um jogador assim. Quando começou o jogo estava muito tenso. Eu costumava jogar quando era miúdo mas é coisa que já não fazia há algum tempo”, descreve o sueco Per Modin, o jogador que mais tempo aguentou frente ao campeão.
Kasparov tornou-se o jogador mais novo a ser campeão do mundo: foi em 1985, tinha 22 anos. É esse dia que recorda, no final do jogo. “Faz hoje anos que fui campeão mundial: 9 de novembro. E costumo dizer, meio a brincar, que a 9 de novembro sou invencível”, conta Kasparov, depois de ganhar aos 13 adversários. “Para mim é sempre bom sentir as pessoas a aproveitarem estes momentos porque, para a maioria delas, são momentos que guardam até ao fim da vida delas”, acrescenta o jogador russo.
No final, venceu o melhor: o campeão. Mas os adversários também tiveram direito a prémio: levaram para casa um tabuleiro de xadrez assinado pelo ídolo.
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? Kasparov jogou contra dez ao mesmo tempo. Adivinhe quem ganhou
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