O ECO já experimentou o UberPool, o serviço que, durante o Web Summit, vai permitir que partilhe um Uber com desconhecidos em Lisboa. Pelo caminho, viajámos com o diretor da empresa.
Pouco antes das 15 horas, à hora marcada, estávamos à porta do ECO. Objetivo: experimentar o novo serviço UberPool que, a partir desta sexta-feira e durante toda a conferência Web Summit, permitirá aos passageiros cortarem no custo das viagens, partilhando um automóvel com desconhecidos. À hora combinada, apareceu o Volkswagen Golf preto. No interior, Filipa Corrêa Mendes, diretora de marketing da Uber, e Gonçalo Leite, um dos mais antigos motoristas da aplicação na cidade de Lisboa.
É fácil de entender a ideia. Em grandes cidades como Londres ou Nova Iorque, muitos trajetos cruzam-se ou são relativamente paralelos. Por isso, e numa tentativa de reduzir o número de carros nas estradas, criaram-se plataformas de partilha de boleias, um fenómeno conhecido por carpool. É algo deste género que a Uber quer testar numa “cidade mais pequena” como Lisboa, num projeto-piloto a decorrer entre as 10h de sexta-feira, 2 de novembro, e a meia-noite de domingo, dia 13, explica Filipa Corrêa Marques.
No telemóvel, a opção UberPool surge selecionada de forma predefinida. Indicámos o destino — o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia — e, no ecrã, vimos o preço da viagem. Ao contrário do que acontece nos outros serviços da Uber, este é mesmo um preço fixo: pouco mais de três euros e meio, “menos 20%” do que nos custaria uma viagem normal de UberX. Também foi preciso informar a aplicação de que seríamos duas pessoas a viajar, que é o máximo de passageiros permitidos. Como era um teste, o nosso carro estava mesmo ali ao lado. Gonçalo Leite aceitou a viagem, entrámos e seguimos.
Pouco depois, a aplicação informou-nos de que encontrou outro passageiro com quem iríamos partilhar a viagem. Também nos indicou o primeiro nome: um tal “Rui”. Foi pouco mais à frente que o encontrámos. Gonçalo Leite encostou o carro à berma para deixar entrar Rui Bento, o diretor-geral da Uber em Portugal. Não foi surpresa, até porque já estávamos a par do que iria acontecer. O ponto de destino de Rui Bento ficava a caminho e, além disso, éramos as únicas pessoas em Lisboa a usar este serviço específico — ainda não disponível ao público.
Apresentações feitas, aproveitámos para lhe colocar algumas questões pelo caminho. Justifica-se lançar este serviço em Lisboa? “Vamos fazer este piloto, em primeiro lugar, porque Lisboa também merece ter o benefício de uma alternativa de mobilidade partilhada como o UberPool, que já temos em 33 das maiores cidades onde operamos em todo o mundo“, começou por explicar. “Depois, uma viagem mais económica e partilhada é boa para os utilizadores e, em última análise, para a cidade”, acrescentou.
Não quer isto dizer que o serviço seja introduzido definitivamente na cidade, até porque, primeiro, há que olhar para os dados. “Vamos usar os resultados como um barómetro para perceber qual é a adesão das pessoas em Lisboa a uma alternativa de mobilidade como o UberPool e, eventualmente no futuro, decidirmos avançar para um lançamento mais definitivo do serviço”, disse Rui Bento. Para já, a ideia é garantir uma “alternativa às pessoas para se deslocarem durante estes dias”.
"“Lisboa está servida por uma boa rede de transportes públicos, mas que, naturalmente, não chega a todo o lado.”
Lisboa enfrenta grandes desafios no campo da mobilidade urbana, assunto que não ficou alheio à conversa: “Acho que Lisboa está servida por uma boa rede de transportes públicos”, mas essa rede “não chega a todo o lado”, disse. Por isso, a Uber propõe-se a ter um novo papel: o de “ligar as pessoas, não só do ponto de partida até ao destino final, mas, muitas vezes, do ponto de partida à estação de metro mais próxima”, defendeu Rui Bento. Por outras palavras, a empresa quer ligar os passageiros “à infraestrutura de transporte da cidade, para que tenham uma mobilidade mais eficiente”, acrescentou.
Mas nem tudo é colorido. Num artigo publicado no site Motherboard — intitulado Porque é que todos odeiam o UberPool —, o repórter Jason Koebler conta como ele e um motorista andaram 40 minutos em círculos, sem conseguirem encontrar o segundo passageiro. Sim, é uma situação excecional. Mas não é tudo: tendo em conta que nem sempre a aplicação encontra outras pessoas para partilhar o serviço, muitos passageiros veem no UberPool uma forma de pagar menos pelas viagens. E ficam irritados quando a modalidade, de facto, funciona.
Estaremos perante um problema? Rui Bento acredita que não: “Eu não diria que é um problema. [Mas] é possível que nem todas as viagens sejam 100% perfeitas”, rematou. Além disso, há ainda relatos de casos em que a aplicação não encontra percursos correspondentes. Nesse caso, é suposto os motoristas serem reembolsados da diferença entre o valor de uma viagem normal e o preço efetivamente pago pelo cliente. Mas, por vezes, isso não acontece, indica o mesmo artigo.
É possível que nem todas as viagens sejam 100% perfeitas.
Deixámos os pontos mais sensíveis para a reta final da viagem, a chegar ao MAAT. Primeiro, a possível reação negativa dos taxistas portugueses a mais este serviço. Sobre isso, Rui Bento disse esperar “que corra tudo pelo melhor”. Depois, a incerteza em torno do estatuto dos motoristas que usam a plataforma. São as empresas parceiras da Uber que fornecem os trabalhadores e as viaturas mas, este mês, dois motoristas venceram um processo num tribunal londrino, pelo qual passaram a ser considerados empregados da própria Uber, ao invés de trabalhadores por conta própria ou de uma outra empresa. Rui Bento contrapôs que esses “operadores de mobilidade” já existiam “muito antes de a Uber chegar”. Por isso, para o diretor-geral, a plataforma só pode ser considerada uma ferramenta que veio “aproximar” esses mesmos operadores.
Chegámos, enfim, ao destino. A viagem foi curta — e encenada. Mas nem podia ser de outra forma, pois o serviço ainda nem sequer está disponível. Com 50 mil novas pessoas em Lisboa, o Web Summit será a oportunidade ideal para experimentar o UberPool em ambiente real. Mas esta experiência serviu, acima de tudo, para nos recordar que cada passageiro é único e diferente. Cada pessoa tem a sua personalidade e feitio. E numa viagem partilhada, todos estes fatores vão estar em jogo. Nem todas as viagens vão ser perfeitas, como admitiu o próprio Rui Bento. Por isso mesmo, é preciso testar. Resta agora saber se os lisboetas estão disponíveis para partilhar o mesmo carro com alguém que não conhecem de lado nenhum. Em suma, cada viagem será tão única quanto os passageiros que nela participarem.
Fotografia por Paula Nunes.
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Partilhámos um Uber com… o diretor da Uber
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