Multa dos EUA vale quase 80% do Deutsche Bank
O banco alemão poderá ter de fazer um aumento de capital mesmo que consiga rever em baixa os 12,5 mil milhões de euros exigidos pelas autoridades dos EUA para fechar processo ligado ao subprime.
As autoridades norte-americanas estão a exigir ao Deutsche Bank o pagamento de uma multa de 12,5 mil milhões de euros (14 mil milhões de dólares) para encerrar um processo que liga o banco ao escândalo da venda de créditos imobiliários de baixa qualidade que conduziu à crise do subprime, em 2008. Para além de tratar-se da multa mais elevada de sempre a ser exigida nos EUA a um banco estrangeiro, o mercado receia o impacto que esta poderá ter sobre a saúde financeira do Deutsche Bank.
Os temores dos investidores ditaram perdas de 8,5% para o título na sessão bolsista da passada sexta-feira e que se prolongaram para a sessão de hoje. As ações do banco fecharam a perder 2,42%, para os 11,99 euros, na bolsa alemã. O valor que está a ser exigido corresponde a quase 80% do preço a que o mercado avalia a instituição financeira germânica. A multa de 12,5 mil milhões de euros compara com a capitalização bolsista de 16,1 mil milhões do Deutsche Bank. Na esfera portuguesa, o impacto da aplicação de uma multa dessa ordem seria se como se, por exemplo, de um dia para o outro a EDP desaparecesse, tendo em conta que a capitalização bolsista da energética lusa ascende a 10,65 mil milhões de euros.
Os analistas avisam que o banco alemão pode ser obrigado a realizar um aumento de capital, mesmo considerando os 5,5 mil milhões de euros que reservou no final do primeiro semestre para fazer face aos custos do conflitos legais e a possibilidade de uma eventual revisão em baixa do valor da multa. Numa nota enviada esta segunda-feira a clientes, o Société Générale diz que o maior banco alemão ficaria “significativamente descapitalizado” mesmo que tivesse provisões suficientes para cobrir um eventual acordo com o Departamento de Justiça norte-americano. Andrew Lim, analista do banco de investimento francês, acredita que qualquer acordo superior a 5,4 mil milhões de euros já implicaria a necessidade de avançar com um aumento de capital. Já os analistas do JPMorgan acreditam que um acordo que exceda os 3,5 mil milhões levantaria questões relativamente à posição de capital do Deutsche Bank.
"Mesmo sem maus resultados de litigância, a posição de capital é precariamente estreita num cenário de falhanço da venda do Postbank.”
De salientar que o conflito nos EUA não é a única “pedra no sapato” do Deutsche Bank. A instituição financeira com sede em Frankfurt enfrenta um conflito na Rússia relacionado com o negócio de ações e dificuldades em conseguir alienar o Deutsche Postbank. “Mesmo sem maus resultados de litigância, a posição de capital é precariamente estreita num cenário de falhanço da venda do Postbank”, afirmou Piers Brown, analista da Macquarie, citado pela Bloomberg.
Os analistas do JPMorgan escreveram ainda que um acordo nos EUA que caísse no equivalente ao intervalo entre 2,7 mil milhões de euros (3 mil milhões de dólares) e 3,1 mil milhões de euros (3,5 mil milhões de dólares) deixaria margem de manobra para o Deutsche Bank conseguir fazer face a outros compromissos legais e que cada 900 milhões de euros (mil milhões de dólares) de despesas legais adicionais iriam fazer desaparecer 24 pontos base em capital.
Saúde financeira frágil
A notícia da multa nos EUA representa “mais um prego para o caixão” tendo em conta a já frágil situação financeira do Deutsche Bank. O banco fechou o ano passado com um prejuízo de quase 6,8 mil milhões de euros, e figurou entre as instituições financeiras menos capitalizadas nos testes de stress realizados à banca europeia este ano, depois de já ter angariado 31,7 mil milhões de euros através dos três aumentos de capital que realizou desde o rebentamento da crise financeira.
Olhando para o comportamento bolsista da instituição, as notícias não muito melhores. As ações do Deutsche Bank recuam mais de 48% em 2016, encabeçando as quedas do índice DAX nesse período.
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