Surf Summit. Fazer negócios na crista da onda
Nos dois dias que antecedem o Web Summit, duas centenas de pessoas aproveitaram para surfar na Ericeira. As ondas são boas conselheiras de negócios?
Muitos conhecem-se enquanto vestem os fatos de surf sob um céu cinzento de início de novembro. Na praia da Foz do Lizendro, na Ericeira, está tudo preparado para o que aí vem e só falta chegar a caravana oficial do Web Summit. O evento, que arranca esta segunda-feira, traz a Lisboa mais de 50.000 pessoas de mais de 145 países do mundo.
Dois dias antes, hão de chegar — e equipar-se a preceito — os cerca de 200 ‘surfistas’, entre CEOs, investidores e empreendedores do Web Summit, que aproveitam os dias de fim de semana que antecedem o evento para ir adiantando trabalho: qualquer minuto conta quando se trata de fazer negócio.
“Tenho a certeza que vai acontecer gente fechar negócios enquanto faz surf. Tenham cuidado com a prancha”, diz Paddy Cosgrave, CEO e cofundador da maior conferência de tecnologia e empreendedorismo do mundo, nas declarações à chegada da praia da Ericeira.
O irlandês chega à Foz do Lizandro na autocaravana que percorreu a Europa até chegar a Lisboa, o último destino antes do MEO Arena. “Espero que as pessoas aproveitem, se divirtam, apanhem boas ondas. O tempo não é o que mais importa: o que importa é apanhar boas ondas e conhecer gente de todo o mundo”, simplifica.
Este ano, o primeiro em que o Web Summit decorre em Portugal, a organização do evento decidiu antecipar os dois dias de ondas e surf para uma parte dos participantes. A ideia, entre fatos térmicos e pranchas de surf, é tratar de negócios. E pensar no impacto que um evento desta dimensão terá aos olhos do mundo, sobretudo depois de terminar.
“Temos de pensar no impacto a médio e longo prazo. É natural que as pessoas pensem que isto é ótimo para os hotéis, é bom para os restaurantes, para os taxistas. Mas acho que é preciso pensar a longo prazo: de que maneira é que o Web Summit pode mudar a perceção de Portugal no mundo?”, remata.
“Se olharmos para o que o The Guardian escreveu há dias, e para o que outros meios como a Reuters ou a France Press também publicaram na última semana, há qualquer coisa a fazer brilhar Portugal que parece que nunca existiu até agora. É muito positivo. E depois também falando do impacto que o Web Summit pode ter nas pessoas mais novas — integradas no Inspire Portugal — que podem encontrar-se com alguns dos CEOs mais inovadores do mundo, e ver o quanto são normais. Talvez tenham estudado muito, talvez não, mas essa proximidade pode fazê-los acreditar que também são capazes. Se não estamos expostos a estas pessoas, é muito difícil imaginarmo-nos engenheiros no Facebook ou a construir uma empresa como a Uber”, explica Cosgrave.
Mais do que apanhar ondas
João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria, aproveitou a boleia da autocaravana do Web Summit para, ao lado de Paddy Cosgrave, apresentar a nova campanha “This is Portugal”, criada especificamente para os dias do evento.
“O Web Summit é uma boa demonstração de que temos uma identidade própria. Vimos na semana passada a Reuters, a France Press, o Guardian, a dizer que Portugal e Lisboa são a próxima Silicon Valley, a próxima Berlim ou a próxima qualquer coisa. Nós queremos dizer que não somos melhores nem piores do que Berlim ou do que Silicon Valley, mas somos diferentes, temos a nossa identidade. E uma das coisas que nos caracteriza é esta: estarmos a meia hora do aeroporto internacional, a meia hora da capital do país e podermos estar numa praia deserta a fazer surf em novembro. E isto não é possível em mais país nenhum: isto é Portugal“, diz Vasconcelos.
Na opinião do secretário de Estado da Indústria, Portugal deve apresentar-se ao mundo a partir de todas as coisas boas que tem. “Isto é muito importante nas empresas, isto atrai e retém talento. A coisa mais importante que uma empresa com base tecnológica e científica tem é o seu talento, os seus recursos humanos. Isto permite atrair estrangeiros de todo o mundo para viverem e para usufruírem disto. Da natureza, de parques naturais. Isto faz parte da nossa identidade. É muito estranho um secretário de Estado da Indústria estar numa praia, na areia, a dizer que o surf é importante para atrair investimento para Portugal. Mas garanto-vos que isto é fundamental para reter e atrair talento. E a única coisa que estas indústrias tecnológicas e científicas querem é atrair talento: e isto serve para atrair engenheiros da Suécia, da Dinamarca, da Holanda, a vir viver para Portugal”, detalha.
Há qualquer coisa a fazer brilhar Portugal que parece que nunca existiu até agora.
O Governo apresenta esta segunda-feira a criação de um novo fundo de cofinanciamento — 200M — no valor de 200 milhões de euros para investir em startups, em conjunto com privados. O valor eleva para 400 milhões o investimento do Governo em empreendedorismo no próximo ano. Esta, assegura João Vasconcelos, é onde o Estado pode “ajudar e participar”.
“O resto faz parte da nossa história e da nossa identidade. Qualquer pessoa de qualquer país ou religião sente-se bem em Portugal. É a nossa cultura, nossa maneira de ser. E isso hoje é muito valorizado neste género de economia e de empresas. Queremos aproveitar o palco do Web Summit — 2.000 jornalistas, 50.000 pessoas — para mostrar o que é Portugal. E Portugal está a apresentar-se ao mundo com orgulho na sua história, com vontade de participar no futuro e com a geração mais qualificada de sempre a querer participar no futuro”, acrescenta.
“Para quase todas as empresas que têm tecnologia como base, Portugal é um ótimo local porque a matéria-prima está nos recursos humanos, está na segurança, no ambiente, na natureza, na estrutura tecnológica. E nós aí somos muito competitivos com outros países: começou a acontecer com multinacionais, depois com médias empresas e startups. Mas nós queremos mais. É algo em que Portugal e realmente diferente de outros países, algo que Portugal sabe que faz parte da nossa identidade. E há muitos países que, por muito que promovam isso, não faz parte da identidade deles. Temos que ter orgulho no que é nosso e é assim que vamos apresentar-nos no Web Summit, com muito orgulho e a divulgar”, acrescenta Vasconcelos.
A linha de 400 milhões será cofinanciada pelo Governo e por investidores privados, ou seja, 200 milhões serão dinheiro públicos e outros 200 milhões virão dos privados. Em entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1, também este sábado, João Vasconcelos explica que este financiamento irá privilegiar gestoras de capital de risco com experiência em áreas específicas.
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