Operadoras aumentam preços até ao final do ano. Mas porquê?
As operadoras anteciparam a atualização dos preços de janeiro para este ano, com aumentos no custo dos serviços. As justificações são várias e vão do reforço das ofertas aos direitos do futebol.
É prática comum: no início do ano, as operadoras costumam ajustar os preços de acordo com o nível da inflação. Contudo, isso não deverá acontecer no início do próximo ano. As principais fornecedoras de serviços em Portugal já anteciparam ou vão antecipar os aumentos ainda durante o ano de 2016.
Porquê? Depende, pois cada caso é um caso. A justificação dada pela Meo é o acordo de partilha de direitos televisivos do futebol, celebrado em julho com os concorrentes Nos NOS 0,00% , Vodafone e Nowo (ex-Cabovisão). Este protocolo, que também prevê partilha de custos, surgiu após um complicado imbróglio no início do ano, em que a Meo chegou mesmo a remover o Porto Canal da grelha da Nos.
Aliás, o verdadeiro braço de ferro começou ainda em dezembro de 2015, quando a Nos adquiriu os direitos de transmissão televisiva dos jogos do Benfica na Luz, um contrato válido por três anos e com possibilidade de se estender por mais sete. O valor? 400 milhões de euros. Dias depois, a Meo chegava-se à frente, assinando um vínculo com o FC Porto para transmissão exclusiva dos jogos a partir de 2018 e por um período de dez épocas. O valor? 457,5 milhões de euros. Já perto do final do ano, a Nos voltou à ribalta, assinando dois contratos: um de 446 milhões de euros com o Sporting a partir de 2018 e também por dez anos; outro de 100 milhões de euros com o Sporting de Braga. Embora os valores não sejam diretamente comparáveis — cada contrato tem cláusulas próprias –, foram suficientes para pôr o setor a mexer.
O acordo de partilha, já este verão, veio acalmar as hostilidades e dividir o mal pelas aldeias (leia-se, o custo de tudo isto). Na altura, analistas alertaram que, em última instância, poderiam ser os clientes a pagar parte da fatura e o certo é que, na semana passada, durante a conferência telefónica de apresentação de resultados, Dennis Okhuijsen, diretor financeiro da Altice (dona da Meo), anunciou que, apesar dos custos ainda não se terem refletido nas contas do terceiro trimestre, a empresa “vai passar” o custo do acordo “para o cliente”.
"A partir do quarto trimestre, vamos passar esse custo [do acordo de partilha de direitos desportivos] para o cliente, para refletir o elevado custo do conteúdo e o serviço significativamente melhorado.”
E podíamos ter ficado por aqui, não fosse o diretor financeiro da Altice ir um pouco mais adiante: o aumento dos preços não terá impacto significativo na estabilidade das contas do grupo porque — disse — as operadoras concorrentes “vão fazer o mesmo”.
Os aumentos. E as justificações
O pontapé de saída foi dado pela Vodafone — e logo em agosto. Nesse mês, a oferta do serviço de internet, telefone fixo e televisão aumentou de 26,9 euros para 28,9 euros, mas só para novos clientes, ou seja, um aumento de 7,43%. Porém, nem a subida dos preços nem antecipação da atualização anual dos mesmos tiveram que ver com o futebol, segundo a empresa.
Ao ECO, fonte oficial da empresa indicou que o acordo de partilha de direitos desportivos “não teve qualquer reflexo” nesta atualização de preços. O aumento do custo do serviço é, pois, justificado com um “reforço da oferta”, nomeadamente o novo “Smart Router Wi-Fi” que “permite navegar a velocidades” mais rápidas. E chega: “Não está prevista a atualização anual de preços”, acrescenta.
"O acordo celebrado com os outros operadores para partilha de conteúdos desportivos não teve qualquer reflexo na última atualização do preço do serviço.”
Depois foi a Meo, em novembro. No início deste mês, os preços praticados pela operadora aumentaram, em média, 2,5%, indicou ao ECO fonte oficial da PT. A justificação? Já a indicámos mais acima: o futebol, mais propriamente o acordo de partilha de direitos de conteúdos desportivos.
E como não há duas sem três, a próxima será a Nos. A operadora encabeçada por Miguel Almeida aumentará os preços de algumas ofertas já no arranque do mês de dezembro. Os novos valores dos serviços estão descriminados aqui. Oficialmente, a empresa não avança com uma justificação concreta para a antecipação da atualização anual, indicando apenas que esta reflete a “aposta continuada em manter a qualidade dos serviços disponibilizados”.
Um dos pacotes aumentados é o de televisão Iris, com internet e telefone fixo. Aos preços praticados hoje e com uma fidelização de dois anos, a mensalidade custa 42,99 euros nos 24 primeiros meses, ficando a 52,99 após o fim do contrato, a partir de dezembro o mesmo serviço custará mensalmente 44,99 euros, ficando a 54,99 euros após o fim do contrato de fidelização. Neste caso, trata-se de um aumento de 4,65% que, como no caso da Vodafone, é muito acima da taxa de inflação atual.
Porém, explicou uma fonte da Nos ao ECO, o futebol não justifica tudo, há outras explicações: as receitas do setor estão em queda “há oito anos”, embora haja mais serviços e mais tráfego. Isto acontece até “há mais tempo que os preços por serviço estão em queda”. Ora, a “necessidade” de estancar essa queda “nada tem a ver com futebol”, garante.
“Taxas de espetro”, “a contribuição para a Anacom, “taxas municipais” e “licenças 4G” são quatro despesas que, refere a mesma fonte, “têm muitíssimo maior impacto” do que o futebol. E, se houver espaço para ajustes de preços em alta mantendo a competitividade, é espectável que as operadoras os aproveitem. Incluindo a Nos.
"A partir de 1 de dezembro de 2016, a NOS atualizará os seus preços. O aumento varia com a tipologia do serviço ou pacote subscrito, não havendo um valor de referência para toda a base.”
O ECO contactou a Nowo no sentido de apurar se há a intenção de antecipar também a atualização anual dos preços. No entanto, a assessoria da operadora entendeu não fazer “comentários sobre este tema em particular”.
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